Escreve
Daniel Teixeira
JORNAL RAIZ ON LINE
COLUNA UM
COMEÇAR DE NOVO OU
MUDAR DE VIDA
Fiquei um pouco surpreso quando li no Blogue Alcoutim Livre,
dirigido pelo amigo José Varzeano, que este ia, pelo menos, suspender a
actividade do Blogue, por todo um conjunto de razões que aponta. O meu
conhecimento directo com o José Varzeano é praticamente nulo, e digo
praticamente porque na verdade acaba por haver sempre um conhecimento directo
através do conhecimento indirecto que a Internet faculta.
Entre as razões apontadas, para além das familiares que eu
conheço tão bem, há sempre aquela razão que como se costuma dizer «faz
transbordar o vaso». Embora não acredite muito que uma só razão seja a gota de
água, ou que essa razão possa funcionar como tal (é preciso não esquecer que
para o vaso transbordar é preciso que esteja cheio) pareceu-me entender que
havia da parte deste amigo alguma frustração pela quebra estatística de
leituras no Blogue.
Bem... gostaria de contar algumas partes da minha história
que se enquadram dentro deste discurso: no meu primeiro tempo de Internet havia
um site no Brasil, dirigido pelo Soares Feitosa, que era uma verdadeira
enciclopédia de poesia e de poetas. Havia ainda um outro Blogue que se dedicava
exclusivamente a divulgar poetisas que praticamente tinha tudo sobre a poesia
feminina ou feita pelo sexo feminino, havia...havia...havia, todo um conjunto
de sites, em plena pujança, que na altura, em páginas minhas que ainda vão
mexendo, eu colocava como referências.
De tempos a tempos faço uma volta por esses sites (que
durante estes anos todos juntaram milhões de visitas - 1.874.890 neste site, por
exemplo) isto apesar de eu não lhes mexer (já nem sei os códigos de acesso
e nem me tenho preocupado muito com isso) e verifico que daqueles links que eu
forneci na altura, há talvez 10 anos, muito poucos estão «vivos».
Por outro lado, em pesquisas sobre coisas antigas, sou
confrontado muitas vezes com sites informaticamente activos, mas sem actividade
há cinco anos, quatro, etc. O post de despedida encima muitos deles, com
explicações que normalmente se relacionam com o tempo de vida de cada site ou
blogue, ou seja, entende-se que os sites e os blogues, pelo menos na forma
expressa, têm um tempo de vida e que todas as coisas têm um fim.
Verdade, um dia também nós seremos confrontados com essa
ideia. As coisas cansam, e mesmo quando não cansam os leitores cansam quem as
faz. A sensação que se adquire ao ver que as coisas não correm bem (menos
leitores, menos visitas, menos comentários, etc.) são de facto frustrantes para
quem dá o corpo todo e a alma a um projecto que não vê correspondido. Mas não
vê correspondido como (?): segundo as nossa expectativas, é claro. Das
expectativas dos outros (aqueles que nos lêem, comentam ou colaboram) ninguém
sabe ou sabe muito pouco.
Eles estão para lá do ecrã, podem muito bem dar-nos
incentivos que funcionam do género do quase sempre inócuo «gosto» no Facebook,
outros vão mais longe e colaboram mesmo de forma mais activa, mas também
podemos perguntar-nos quando chegará (se chegar) a altura dessas pessoas mais
próximas serem confrontadas com a tal ideia que referimos acima, ou seja, que
todas as coisas têm um fim?
Não é propriamente um mundo complexo o mundo da internet nem
o mundo da nossa actividade na internet: a efemeridade pode ser mais
pronunciada ou menos pronunciada mas ela existe e faz parte do jogo. Como em
tudo, aliás...o belo tempo em que não havia machado que cortasse a raiz ao
nosso pensamento em muitos casos já foi, já foi mesmo e não volta aos sítios
donde partiu.
Por isso somos forçados, pelas circunstâncias, a ser ainda
mais efémeros que a efemeridade. No nosso caso contamos as semanas, semana a
semana e esta foi mais uma.