Escreve
Amílcar Felício
Anunciou o Amigo
Nunes no seu post de 19 de Junho a suspensão por
tempo indeterminado ou até possivelmente o fim do Alcoutim Livre, ao fim de 5 anos de existência de uma
invejável actividade quase diária o que é obra. Mas tenhamos esperança de que
se trate apenas de umas retemperadoras férias e de que o Amigo Nunes não irá
ter coragem de“matar” o filho que criou com tanto carinho!
Ao longo destes
últimos 5 anos, o Alcoutim Livre tem sido a maior parte
das vezes o veículo de um exaustivo e talentoso trabalho de décadas como
investigador e historiador da “nossa terra”, a que o Amigo Nunes deitou mãos praticamente desde que
chegou a Alcoutim em 1967 – e que tão pouco acarinhado tem sido pelos
alcoutenejos parece-me – dando-nos a conhecer quer no seu Blogue quer mais
profundamente na sua obra escrita, páginas da história de um Alcoutim
desconhecido para a maioria de todos nós alcoutenejos! Trata-se realmente de um
trabalho extraordinário e único de que todos os alcoutenejos se deveriam
orgulhar independentemente da sua cor clubística!
Por outro lado, o
conjunto de colaboradores que a ele se foi juntando e a que tive a honra de
pertencer, com as crónicas das suas vivências foram revelando a alma de uma
Vila e dos seus Montes nos seus tempos áureos das décadas de 30/40/50/60, com
relatos de acontecimentos da vida alcouteneja por si vividos ou presenciados
que vão desde a chegada provavelmente do primeiro Automóvel, Rádio e Cinema à
Vila ou o início da Guerra Civil Espanhola em Sanlucar nos anos trinta até aos grandes
êxodos, dos finais da década de cinquenta princípios da década de sessenta.
Eram tempos difíceis -- mas que tinham uma auréola muito especial -- para uma
comunidade fechada sobre si mesma e quase exclusivamente debruçada sobre o
Guadiana e que para sobreviver ia inventando no seu dia-a-dia a sua própria
vida, cultura e meios de diversão, constituindo uma sociedade muito sui generis cujo traço dominante era sem qualquer
dúvida a imaginação e a solidariedade, formando como que uma verdadeira tribo que
olhava com desconfiança para quem chegava de novo ao burgo.
Outros
colaboradores, embora sem participação activa na escrita, não deixaram contudo
de contribuir também com um importante espólio, fornecendo fotos que vão desde
1873 – uma delas provavelmente da formação da 1ª Banda de Música de Alcoutim –
até aos tempos mais recentes da década de sessenta, o que permitirá no conjunto
das três participações diversificadas a qualquer desconhecido que se interesse
por Alcoutim, ter para lá de uma visão histórica do desenvolvimento da Vila,
uma imagem quase cinematográfica do dinamismo de uma Vila e do seu Concelho ao
longo de todo o séc. XX e que vai definhando dolorosamente a olhos vistos.
No que me toca
pessoalmente, não tenho qualquer dúvida em afirmar: a mim, o AL deu-me incomparavelmente
muito mais do que eu lhe ofereci e na hora de despedida já sinto saudades! De
facto ao ler os seus textos ou ao escrever as minhas crónicas desde os finais
da década de 40, o AL proporcionou-me enquanto
o lia ou enquanto “pintava” o Alcoutim que me rodeava, reviver uma infância e
uma juventude felizes e enterradas há muito nas brumas da nossa memória e
esquecer por momentos as misérias de um Portugal à beira do afundanço completo!
É nestas alturas que eu gostaria de ser poeta para poder retribuir-lhe com
palavras simples e bonitas, aquilo que me ia na alma ao longo destes anos que
fui lendo ou escrevendo as vivências de uma infância e de uma juventude já
distantes. Mas nem tudo são azares. Felizmente tropecei num soneto que acaba
por traduzir aquilo que o AL me ia fazendo sentir
pessoalmente ao longo destes anos e recordar aquele menino, que conheceu um Alcoutim Dourado e que transportaremos toda a vida
dentro de nós num cantinho muito especial. Quem me dera que os belos versos
deste poema fossem meus para lhos poder dedicar! Ainda vai havendo coisas
bonitas na vida, neste mundo cada vez mais feio como dizia a Tia Ana Costa do
mundo de antigamente...
Recordo ainda...
Recordo ainda, e
nada mais me importa...
aqueles dias de uma
luz tão mansa
que me deixavam,
sempre de lembrança,
algum brinquedo
novo à minha porta...
Mas veio um vento
de Desesperança,
soprando cinzas
pela noite morta!
E eu pendurei na
galharia torta
todos os meus
brinquedos de criança...
Estrada afora após
segui... mas ai,
embora idade e
senso eu aparente,
não vos iluda o
velho que aqui vai:
Eu quero os meus
brinquedos novamente!
Sou um pobre
menino, acreditai...
que envelheceu um
dia, de repente!
(Mário Quintana,
poeta brasileiro. Morreu
em 1994 aos 88
anos)
Obrigado
Amigo Nunes por nos dar a conhecer melhor a nossa terra!
Obrigado Alcoutim Livre por tão belas
recordações que nos proporcionou ao longo destes 5 anos!