Mais uma interessante "memória" que o nosso colaborador e Amigo transmite aos visitantes/leitores.Confesso que desconhecia completamente tal figura.
JV

Escreve
Gaspar Santos

Em garoto ouvia falar desta mulher, em surdina, mas só em adolescente compreendi do que falavam e fiz perguntas. Não a conheci pois ela tinha falecido poucos anos antes de eu ter nascido. A tia Alexandrina não vivera sozinha. Vivera com a tia Morte que era uma mulher mais velha. Moraram naquela rua estreita, paralela ao Guadiana que leva ao cemitério de Alcoutim. O que descrevo é o que ouvi falar. Não sei de ninguém da sua família que hoje more em Alcoutim. Constava que viera de Tavira.
A tia Morte dedicava-se aos trabalhos de casa, alimentação e vestuário. A tia Alexandrina do ganha-pão, recorrendo a trabalho braçal. Era uma mulher de grande estatura, muito trabalhadora e labutando ao lado dos homens com muita energia e sem desfalecimento. Era capaz de cavar, ceifar e fazer qualquer tarefa de campo como qualquer homem. Nas descargas dos barcos não se temia a “alancar” com um saco de farinha, de trigo ou de adubo com 80 ou 100 kg. E, à noite na taberna, ombreava com eles como no trabalho, bebendo uns copos. Conversava, ouvindo e dizendo a sua anedota, por vezes picante, ou dizia o seu palavrão sem se incomodar muito. Por vezes ficava um pouco toldada, ou mesmo bêbeda.

Dizia-se que ela vivia maritalmente com aquela companheira, um escândalo para esse tempo! Porém ela era mentalmente forte, e consta que sempre resistiu às conversas e insinuações de que seria alvo. Constava ainda de que ela transportava consigo uma malformação anatómica congénita. Mas isso foram conjecturas. O caso virou lenda. Nunca ninguém o confirmou.