A breve notícia, que aqui demos do falecimento do Prof. Galhardo Palmeira, não impede de maneira nenhuma esta recordação evocada por quem o conheceu e é bem demonstrativa do carácter do então padre Galhardo Palmeira.
Ao estilo que nos habituou, Gaspar Santos apresenta-nos algumas facetas curiosas do bom professor e pedagogo.
JV

Escreve
Gaspar Santos
No passado dia 30 de Abril ao abrir o Blogue Alcoutim Livre, como habitualmente faço, soube do falecimento do professor Galhardo Palmeira. Passados minutos. Também nessa manhã recebi o Jornal do Algarve onde igualmente era dada a notícia, com referências elogiosas ao professor e pedagogo.
Tinha 94 anos e eu conhecera-o e convivera com ele em Alcoutim nos anos 44, 45 e 46 do século passado. Era então o padre Galhardo. Foi meu professor de Catequese durante a instrução primária. Na Igreja de Nossa Senhora da Conceição, ensinava Catequese, com empenho e motivação, aos alunos da Instrução Primária e alguns alunos voluntários que já tinham acabado a escolaridade. Gostávamos dele pois já aí mostrava os seus dotes de bom pedagogo e abertura de espírito para aceitar a pluralidade religiosa.
Muitos miúdos como nós, não estavam baptizados. Então ele mandou recado aos nossos pais para nos baptizar. Meu pai, com o maior respeito para com o padre Galhardo disse-me: “Diz ao Senhor Prior que quando fores homem optarás pela religião que entenderes”. Levei o recado ao padre Galhardo com algum receio. Receio que afinal se revelou infundado, pois aceitou a decisão do meu pai e eu continuei com a mesma aplicação na catequese. Uma tolerância religiosa que não seria muito corrente na época.

Sempre me tratou bem. Mais tarde em 1948 quando já morava em Vila Real de Santo António deu-me mesmo uma prova de apreço que recordo com saudade.
O Lusitano em Junho de 1948 ia jogar com o Sporting Clube de Portugal, a lendária equipa dos 5 violinos (Jesus Correia, Vasques, Peyroteu, Travassos e Albano) de que ainda faziam parte Azevedo, Cardoso, Manuel Marques e Canário. Em Alcoutim organizaram uma excursão para assistir ao jogo no estádio Francisco Gomes Socorro. Integrei essa excursão e fui com algumas pessoas cumprimentar o padre Galhardo. Ele meteu a mão no bolso e disse-me: “Pega este bilhete para veres o jogo”. Foi a última vez que o vi.
Acompanhei interessadamente, sempre que se proporcionou, notícias do seu percurso humano, académico e profissional e li os artigos com que colaborou nos jornais locais.
Algumas vezes tive intenção de o visitar mas fui adiando até que hoje é impossível.
Aqui fica a minha recordação e a minha singela homenagem a esta figura do Baixo Guadiana. Outros, com certeza, não deixarão de escrever sobre esta personalidade que marcou os que com ele conviveram.