quarta-feira, 30 de julho de 2008

O contacto telefónico

Dia 10 de Julho. 15 e 30.

Estava dormindo a tradicional “folga algarvia” num lugar cada vez mais ermo da serra, mais propriamente no concelho de Alcoutim, mas isto, depois de uma manhã de trabalho que fez gastar calorias.

O telemóvel tocou quando eu tinha acabado de adormecer. Voltei-me para a mesa-de-cabeceira onde se encontrava e meio cá, meio lá, accionei o mecanismo para atender a chamada que logo caiu pois por aqui ainda não existe um sinal suficiente para tal e possivelmente ainda terão de decorrer muitos anos para que isso aconteça.

Verifiquei que a chamada era originária de um número fixo que identificava uma das zonas telegráficas do sul do país.

Resolvi levantar-me interrompendo a “folga” e coloquei-me em sítio estratégico para ligar para o número que tinha tentado contactar-me.

Obtive êxito na minha ligação e depressa me apercebi de quem pretendia falar-me. Numa breve troca de impressões, verifiquei que se pretendia obter a minha colaboração para uma próxima edição de um trabalho sobre determinada época no Algarve e era conveniente informar da participação de Alcoutim.

Ainda meio ensonado, respondi que efectivamente tinha alguns pequenos apontamentos sobre o assunto mas não os tinha onde estava e que não sabia quando podia contactar com eles.

Quanto ao assunto tenho duas ou três reflexões a fazer e foi por isso que interrompi o meu sono para abrir o computador e escrever:

Pela consideração e amizade que me merece a minha interlocutora, não a remeti para a Câmara Municipal, entidade a que se recorre em qualquer parte do país pois além de ter um vereador para a “Cultura” tem, segundo penso, departamento nessa área.

Não sei se a minha interlocutora contactou a Câmara, e se o fez, qual o resultado que obteve.

Possivelmente só foi a amizade que a levou a contactar o José Varzeano.

COMO SE GASTA O DINHEIRO DOS IMPOSTOS AUTÁRQUICOS QUE PAGAMOS!

sábado, 26 de julho de 2008

Primeira Análise

Tendo-se desenrolado o “parto” em 19 de Junho último, pensamos, após um mês de vida real, ser a altura de fazermos o primeiro balanço e procurar tirar algumas conclusões.

Neste espaço de tempo mandámos para o MUNDO dezasseis escritos divididos em oito secções, tantas são as que já criámos.

A mais desenvolvida é, por motivos óbvios, a “Câmara Escura”com a publicação de seis fotografias acompanhadas de pequenas notas que julgamos pertinentes.

Os visitantes rondaram as duas centenas o que consideramos significativo para um concelho de reduzida população, onde o analfabetismo sempre grassou e a pobreza material um facto.

Além destes factores importantes, outros contam como a dificuldade de cobertura pela Internet e mesmo muita gente com escolaridade média ou acima da média, rejeitaram completamente as novas tecnologias nunca querendo a elas aderir, o que teriam feito com muita facilidade.

Todos conhecemos pessoas deste tipo e que por vezes a televisão tem mostrado, deixando os telespectadores de boca aberta. Não vou indicar factos pois todos nós os conhecemos!

Quem não se lembra de ouvir perguntar a um político de charneira o que significava este símbolo @?

A grande maioria dos concelhos, através de apoios comunitários, implementou gratuitamente o uso da Internet, dando e fomentando formação básica a todos que o desejassem, novos e terceira idade, incluindo todos os extractos sociais

Não me consta que Alcoutim tivesse aderido a este programa.

Um blogue, tem que ter algum dinamismo, criá-lo, deixando-o parado, é morte certa.
Deixa-se de o visitar dado que é sempre a mesma coisa. Por outro lado, não podemos exagerar na produção pois pode ultrapassar as necessidades dos visitantes e originar a falta da sua leitura, que é afinal, a nosso ver, o mais importante.

Como tudo na vida, e é bom que assim aconteça, não existe unanimidade de opinião. Uns acham bem a sua existência e até já se manifestaram quanto a isso, ora através do envio de e-mails, ora oralmente; outros, tenho absoluta certeza, detestam e verberam-no e que por absoluta cobardia e tacanhez, são incapazes de o dar a público.

Até agora ainda não recebi qualquer e-mail nesse sentido mas se o vier a receber e se o seu autor estiver devidamente identificado, dá-lo-ei a público com as considerações que julgar oportunas.

Irei agora transmitir extractos de alguns dos e-mails que recebi, uns de pessoas plenamente identificadas como amigas ou conhecidas, outras, que nunca vi. Por estes recortes é possível verificar a opinião de quem pretendeu manifestá-la.

Comecemos por um alcoutenejo que não conheço, que saiu com poucos meses para outra zona do país e que, como bom filho, não foi bastante para esquecer a terra que o viu nascer.
Manifestou-se, nos seguintes termos. "Felicito-o pelo seu blogue que mão amiga de Alcoutim me fez chegar, tanto por ser uma voz dessa terra tão antiga e sempre tão pobre e esquecida, como pelo real prazer que retiro da sua escrita e do seu testemunho".
E continua: "Alcoutenejo (nascido em … … há 53 anos, daí saí com a idade de meses) lembro sempre esse “sertão” e vou tentando seguir, embora de longe, o seu dia a dia.
O seu blogue vai passar a ser, claro, meio precioso e privilegiado de saber novas de toda essa região.
Agradeço-lhe antecipadamente, por isso e faço votos para prosseguir no seu trabalho."

Um Amigo que a escrita criou, enviou e-mail do qual extraímos: "Acabo de visitar o seu blogue Alcoutim Livre. Está magnífico. Se tivesse um livro de assinaturas para visitantes, tinha-lhe escrito umas palavras de admiração, como aliás acontece com tudo o que … escreve.
… fiquei com inveja. Se um dia tiver coragem ainda tento imitá-lo. Espero que continue …"
Alguém que comigo aprendeu não só a profissão, teve a amabilidade de escrever: - "Tem aí um excelente Blog, denotando uma fácies jornalística, está muito bem organizado, esquematizado com um grafismo profissional. Acho no entanto, se me permite, que está a colocar os temas muito juntos. De qualquer maneira, um trabalho de excelência."

De outro dos e-mails emanados de Faro, extraímos:" …não deve deixar morrer o José Varzeano no jornal, porque muitos dos seus leitores não têm acesso à Globosfera nem sabem o que é isso.
… não pare de escrever que é um grande trabalho … o José Varzeano é do Povo e o Povo só lê os jornais …"

De um cariz especial é o extracto que fizemos de outra comunicação oportunamente recebida:-" … não é homem de gozar a reforma no banco do jardim, já sabíamos, tão pouco de se ficar pelas batatas da horta, os livros são aquela paixão.
… bem confesso que lhe coloco a bitola bem alto por precaução, mas esta apanhou-me completamente.
O meu amigo na globosfera?
Rendido às invenções dos noctívagos modernos?"

De Espanha, uma prezada amiga, comentou:-" … le comento que su blog es muy interessante y necesario: las nuevas tecnologias son el futuro."

De um casal amigo, de Alcoutim recebemos a seguinte mensagem:- "Acabámos de visitar o seu blogue e vimos saudá-lo pela iniciativa e pela confecção. O concelho de Alcoutim tem mais uma tribuna, fica mais rico. Parabéns."

Vou terminar a referência aos e-mails e certamente devido às Efemérides que publiquei, com um muito sucinto e que pergunta:-" No dia 7(de Julho), em 65, quem é que estava na recepção a sua Exª o Almirante Américo Thomaz?"

Meu amigo, vou aproveitar para lhe responder: - Não sei, pois ainda não conhecia Alcoutim. Certamente que foram as forças vivas da terra, encabeçadas pelo então Presidente da Câmara, e com certeza onde não teriam faltado o Presidente da União Nacional concelhia, que sempre existiu no concelho, militantes desse Partido, de que tenho dois ou três como referência e certamente os legionários que os havia em número considerável. Possivelmente mais alguém.
É a única coisa que lhe posso dizer, mas se ainda não fizeram desaparecer um célebre álbum de fotografias que existia na Câmara Municipal e que nunca me deram a possibilidade de ver, poderá um dia dizer-se quem fez a recepção, além das Entidades a isso “obrigadas”.

Para terminar este arrazoado direi que não estou nada desiludido com o meu trabalho, esperando continuar a receber as visitas de todos aqueles que continuam a interessar-se por este concelho, sendo ou não seus filhos.

A todos eles dedico estas palavras desejando que passem a mensagem a conterrâneos e amigos e que assim possam divulgar o que existe de bom em Alcoutim, mas nunca faltando à verdade e escamoteando o que é mau.

Obrigado VISITANTES. Um abraço do tamanho do MUNDO.

Veremos até quando resisto!

quinta-feira, 24 de julho de 2008

JORGE ANTÓNIO CARUÇO NUNES

Com oitenta e três anos de idade faleceu na cidade de Coimbra para onde foi na adolescência, Jorge António Caruço Nunes que ainda fez a instrução primária na cidade de Santarém, de onde era natural.

Aposentado como administrativo da Direcção Hidráulica do Mondego, quando nos encontrávamos não deixava de perguntar por alguns dos seus colegas da escola primária e ultimamente foi o Benquisto Cidadão do Mundo, João Moreira, dos mais antigos e competentes colaboradores do semanário, mais antigo do continente, “Correio do Ribatejo”, de Santarém que por ele perguntou.

Jorge Nunes era casado com D. Maria da Conceição Nunes, não tendo deixado geração e ficou sepultado na cidade de Coimbra.

Era presentemente o decano da Família Nunes, que se fixou em Santarém através do casamento de um santareno com uma arganilense, realizado em 26 de Outubro de 1900, tendo sido o neto mais velho deste casal.

sábado, 19 de julho de 2008

A VELHA CADEIA


A velha cadeia da vila de Alcoutim onde penso ter funcionado primitivamente o poder autárquico. Situava-se na Praça principal da Vila (hoje da República e antes desta, de D. Afonso IV) e tinha na sua frente, o pelourinho, o que era situação tipo na maioria dos concelhos. Depois de ser Casa da Câmara, passou a Cadeia e quando na primeira metade do século passado a Edilidade a vendeu, com determinadas condições que não vieram a ser cumpridas, foi curral, como sempre a conheci.
Foto J.V. – 1974

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Maria Eduarda de Freitas

Em 1987 quando procurávamos “figuras” para documentar uma rubrica que ainda mantemos num jornal regional, deparámos na Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira com esta Figura que desconhecíamos completamente.

Nome de família totalmente desconhecido no concelho, só podia ser, segundo a nossa opinião, proveniente de uma situação de passagem de funcionário pela vila.

Desde sempre isso aconteceu e foram poucos os que se mantiveram, ainda que alguns tivessem criado raízes.

Propusemo-nos, logo que nos fosse possível e em função dos elementos recolhidos, consultar o assento de baptismo o que acabámos por fazer nas instalações provisórias do Arquivo Distrital de Faro.

Não foi difícil encontrá-lo e por ele verificámos que não nasceu em 1883, como indica a Grande Enciclopédia, mas sim em 1882 e no dia 13 de Setembro, então dia de Feira Anual na Vila. O baptismo é que foi realizado no dia 29 de Março de 1883 e daí a confusão.

Era filha de Luís Francisco Lopes Alves, Chefe da Secção da Alfândega local e de D. Joana Augusta da Costa Brak Lamy Lopes Alves, ele natural de Faro e ela de Portimão.(1)

A minha suspeita veio a confirmar-se.

Não sabemos com que idade teria saído de Alcoutim e se alguma vez lá voltou, mas para o efeito isso pouco nos interessa. É natural que tivesse saído bem jovem, já que era norma os funcionários estarem ali o mínimo de tempo possível e que nunca mais tivesse voltado até porque os transportes eram complicados

Independentemente da relação que tivesse tido com o lugar em que nasceu, a verdade é que se trata de uma alcouteneja que se notabilizou pelo seu percurso de vida como veremos seguidamente, honrando assim o nome do concelho onde nasceu.

Foi enfermeira militar, reformando-se como tenente. Admitida por concurso é colocada no Hospital Militar do Porto.

O curso profissional de enfermagem e o da Cruz Vermelha, foram tirados na altura da Grande Guerra.

Foi condecorada com a medalha de LOUVOR, Nº 1, pelos serviços que prestou na Cruz Vermelha durante o movimento revolucionário de Sidónio Pais (Dez. de 1917).

Publicou o seu primeiro conto no Diário Ilustrado, quando tinha vinte anos. Aos vinte e sete vai para Lisboa onde colabora em diversos jornais e revistas, usando o pseudónimo de Maria Arade. Em 1911 assume a direcção do Jornal da Mulher, agora com o pseudónimo de Maria Luísa Aguiar.

Em 1914 fixa-se no Porto continuando contudo com a direcção do jornal. De 1915 a 1918 assina a secção “A Arte e o Lar” do jornal A Luta. Volta à direcção do “Jornal da Mulher” em 1928, mantendo-se nele até 31, passado depois a colaborar no jornal A Voz.

Colaborou igualmente nos seguintes jornais:- O Mundo, La Pensée (Bruxelas), La Libré Pensée (Lausana), La Razione e La Republicana (Roma), Le Rappel (Paris), O Rebate (Lisboa) e A Luz (Funchal).

Como escritora publicou O Leque (1932), Martírio (romance histórico) (1935), o Manual de Encadernador (1937) e o Manual de Dourador e Decorador (1941), Edições Sá da Costa, manuais que pensamos serem únicos da especialidade e conhecidos de todos os bons artistas daquelas artes em vias de extinção.

Dedicou-se também à investigação, tendo publicado Os Livreiros de Lisboa Quinhentista.

Foi sub-bibliotecária num arquivo dependente da Torre do Tombo. Em 1926 fundou uma biblioteca sistema Braille que ofereceu ao Asilo de Cegos de NªSª da Saúde.

Também fez parte do Sindicato da Pequena Imprensa.
Em Magdeburgo apresentou uma tese no Congresso Internacional Racionalista.

Introduziu entre nós vários trabalhos de arte aplicada, organizando exposições de trabalhos femininos. Realizou também exposições de fotominiatura, acompanhada de conferências.

Faleceu na cidade do Porto em 18 de Julho de 1952 esta Mulher plurifacetada que alcançou notoriedade.

Usava o nome de Maria Eduarda Brak-Lamy Lopes Alves Barjona de Freitas.



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Extraído de Alcoutim – Capital do Nordeste Algarvio, Subsídios para uma monografia,
José Varzeano, 2ª Edição (em preparação)

sábado, 12 de julho de 2008

A PALMEIRA

(Os seus filhos para descansar, arrancavam pedras!)

À memória de
Hilário Ventura


Começamos a abordar a temática deste monte, talvez por onde havíamos de terminar! Já assim o fizemos uma vez. (1)

Como havíamos de arranjar um título, e um título deve ser o mais significativo possível, escolhemos este.

Já lá vão umas dezenas de anos que o ouvimos pronunciar à boca fechada: “Os da Palmeira, para descansar, arrancam pedras!”

Eu penso que os palmeirenses se devem orgulhar deste dito popular, visto os classificar como pessoas excepcionalmente trabalhadoras. Há ditos, noutras terras, que os seus naturais não os gostam de ouvir, visto serem mais ou menos ofensivos e aos quais se prende sempre uma história real, deturpada ou fictícia.

Iremos agora como é nosso hábito indispensável, localizar a pequena povoação.

Quem percorrer a estrada nacional nº 122, no sentido norte-sul, depois de passar pelo Balurco de Baixo, encontrará, já próximo das conhecidas curvas da Ribeira da Foupana, um entroncamento, à direita, cuja placa toponímica nos indica que, seguindo por ali, iremos encontrar a povoação da Palmeira a 3 km.

A construção desta estrada de longo curso, teve lugar em meados do século passado e o seu traçado levantou várias questões localmente, chegando eu a ouvir, muitos anos depois e a nível de segredo, as razões porque a estrada não tinha passado por aqui ou por ali, conforme interessava aos homens do poder local. A estrada levava ladrões, a estrada partia e devassava as propriedades, ouvia-se dizer!

Isto foi assim em qualquer parte do País e se num ou noutro caso foi um facto, na maioria não teriam passado de suposições, transformadas em boatos.

O monte da Palmeira também passou por estas falácias.

Mas não foi sobre a E.N. 122 que nos propusemos escrever, mas agora que o IC 27 lhe irá roubar parte do seu tráfego, pode acontecer que venhamos a abordar, um dia, tal temática. (2)

Esta pequena estrada municipal, estreita e com declives pronunciados recebeu o nº 1059 e foi construída nos anos setenta, antes de 25 de Abril de 1974, e serve exclusivamente esta povoação. Foi recentemente repavimentada se tomarmos em consideração o que se informa em Alcoutim – Revista municipal. (3)

A Palmeira é composta por três pequenos agregados populacionais. O primeiro que encontramos é conhecido por Palheto ou Palma, o Barranco e o Cerro.

Sugere-nos que tivesse sido este o núcleo embrionário da povoação já que Palma é sinónimo de Palmeira, o topónimo que acabou por prevalecer, possivelmente por ser o mais antigo, já que os restantes, Barranco e Cerro têm a ver com o local da sua instalação.

As subdesignações que indicamos serão só conhecidas, quando muito, pelos locais, o que acontece igualmente com outros montes, como por exemplo as Cortes Pereiras. O caso de Balurcos já é diferente, as subdesignações, devido à distância que os separa, impõem-se com mais facilidade.

O topónimo é naturalmente de origem vegetal, devido a qualquer particularidade da espécie botânica, da família das palmáceas, que provocou o nome: o porte, a idade, a produção, o defeito, a escassez, etc. É esse o facto que desconhecemos.

Vou dar um exemplo, entre outros que conheço, de como nasce um topónimo de origem vegetal.

Entre as Cortes Pereiras e a vila de Alcoutim há um local que todos identificam como o sítio da alfarrobeira. Quem conhece a zona não tem qualquer dificuldade em identificar o local. Dizem-me os idosos com quem tenho falado que desde sempre conhecem naquele lugar uma única alfarrobeira que terá mais de um século – Se quando eu era moça pequena já ela era daquele tamanho, veja lá que idade não pode ter? Observavam-me

Nas suas redondezas não existe qualquer outra árvore.

Há poucos anos um incêndio no mato que a envolve, consumiu-a mas nem por isso o local deixou de ser conhecido por essa designação.

A velha raiz resistiu ao calor, já rebentou e vai por ali acima!

Se por qualquer motivo nas suas proximidades se viesse a construir, formando um aglomerado populacional, não era necessário arranjar-lhe nome. Aqui sabemos as razões, na Palmeira, as razões não chegaram aos nossos dias, perderam-se no decorrer dos anos.

Existem em Portugal treze povoações com este nome. (4)

Palmeira também é antropónimo, mas não o conheço no concelho de Alcoutim enquanto Palma, sendo-o também, é extremamente vulgar em todo o concelho, incluindo a própria Palmeira.

Os terrenos circunvizinhos constituíram, na sua maior parte, a herdade da Palmeira. Deve ter pertencido ao alcaide-mor de Alcoutim, João Freire de Andrade, aposentador-mor de D. Afonso V, cuja filha e herdeira, D. Maria Freire de Andrade, veio a ser 1ª Condessa de Alcoutim (1496) ao ter casado com D. Fernando de Meneses.

Estes bens vieram a ser confiscados ao 6º e último Conde de Alcoutim, D. Luís de Noronha e Meneses que foi decapitado no Rossio, em Lisboa, a 29 de Agosto de 1641, por ter entrado na conjura contra D. João IV e constituíram com outros de proveniência semelhante, a Casa do Infantado, criada a favor dos segundos filhos do rei.

Extinta esta Casa em 1834 pelo Liberalismo, os bens foram integrados na Fazenda Nacional e adquiridos pela burguesia local.

Neste caso, a herdade pagava um foro anual de seis alqueires de trigo que veio a ser remido em 1859 por José Mestre, das Soudes. (5)

Parece-me que teria sido esta herdade, e existem mais casos, que teria dado origem à pequena povoação.

A chegada da energia eléctrica dá-se em fins da década de setenta em data que não podemos precisar.

Para a fixação do homem, a existência de água é um factor fundamental.

Afirma-se que a fonte do Barranco foi fundada em 1874 e reedificada em 1920. (6) A nossa investigação, indica-nos que em 1887 os moradores da Palmeira requerem à Câmara Municipal que lhe fosse concedido um subsídio no montante de treze mil e quinhentos réis para procederem à reconstrução do poço público do monte, acabando por só lhe serem concedidos nove mil réis. (7)

Em 1989 o monte tinha distribuição de água por cinco fontanários, um furo artesiano e um poço público e quatro furos privados.

Em 2001 colocam-se mais fontanários (8) para dois anos depois serem eliminados devido ao fornecimento de água ao domicílio (9) esperando-se agora que seja feita a competente rede de esgotos.

Os arruamentos do monte foram pavimentados em 1993. (10)

A Palmeira é dada como tendo dezanove fogos em 1839, ao nível dos que tinham o S. Martinho (20), Laranjeiras (20), Guerreiros do Rio (22), Álamo (21) e Torneiro (17). (11)

Situa-se próximo da ribeira da Foupana, sendo por isso no limite do concelho, tendo como montes mais próximos os Balurcos, a que recorriam para o comércio e as crianças à escola, e as Cortes, Velha e Nova (antigas Cortes de S. Tomé), sendo vulgares os cruzamentos sanguíneos.

Em 1976 tinha oitenta e oito habitantes e no Censo de 1991 apresenta ainda quarenta, em vinte e oito edifícios. Em fins de 2004 devem rondar a dezena.

A pastorícia e a cerealicultura foram actividades fundamentais e temos conhecimento que a partir de 1771 os maiores manifestantes de gados eram Miguel Pereira e Manuel Vaz Colaço, que arrolavam gado bovino, caprino e ovino. (12)

Nos meados do século passado os palmeirenses começaram a arborização dos seus terrenos, principalmente com a plantação de amendoais e alfarrobais já que a oliveira por enxertia dos zambujeiros, é muitíssimo mais antiga.

Recentemente, Verão de 2004, um violento incêndio flagelou toda a zona, consumindo todo o arvoredo e mato, chegando mesmo a pôr em perigo a diminuta população.

O Presidente da Comissão Administrativa da Câmara Municipal de então (1932) propõe, que tendo sido aprovado pelo Governo da Ditadura Nacional, um decreto sobre o estabelecimento de postos (escolares) de ensino e sendo este concelho um dos de maior analfabetismo, que se requeresse ao Ministro da Instrução, a imediata criação de dez postos distribuídos por todo o concelho, devendo um deles situar-se neste monte. (13)
O pedido formulado não devia ter produzido os resultados desejados, já que idêntico é feito para este monte em 1935. (14)

O edifício escolar de uma só sala, veio a ser construído na década de setenta do século passado no monte Palma, em posição elevada e numa altura em que a desertificação já era um facto irreversível. Funcionou cerca de uma dezena de anos, se a memória não me falha

Em 1998 a Câmara Municipal manda-a pintar e electrificar, (10) desconhecendo eu a sua actual utilização.

Recuando mais no tempo, é-nos possível dizer que em sessão de Câmara realizada na Capela de Nª Sª da Conceição e que para o efeito foram convidados os principais cidadãos da freguesia, a Palmeira fez-se representar por Manuel Dias. Foi nesta reunião deliberado por unanimidade construir um cemitério na vila (o actual), obras que se iniciaram em 1844. (15)

A quando dos trabalhos de construção da primeira estrada do concelho que ligava a vila à aldeia de Pereiro, ocorreu pelas seis horas da manhã do dia 11 de Julho de 1878, próximo da eira do Garrocho, um desabamento de terras que soterrou nove trabalhadores, dos quais quatro foram retirados já sem vida, três mutilados e dois contusos.

Um dos feridos, era José Pereira, desta povoação que esteve internado no hospital de Mértola desde 14 até 23 do referido mês. (16)

Outro facto de curiosidade histórica é a circunstância do morador, Silvestre Madeira, de 1869 a 1878, ano em que foi abolida tal função, ter sido o rendeiro do ver (verde) do limite de cima, tendo sido a renda da última arrematação, de 143$500 réis. Esta função tinha a ver com a aplicação de coimas motivadas pelos estragos cometidos pelo gado e aplicadas em função das posturas municipais, sendo absolutamente proibido aos arrematantes contratar-se ou avençar-se com os senhorios dos gados ou deles receberem bolos. (17)

Acontecimento que apanhei na tradição oral e da boca de um descendente de palmeirenses, foi a circunstância da pneumónica ter ali causado muitas vítimas, fechando mesmo algumas casas.
Informações prestadas por tecedeiras a entrevistas orientadas pela professora e conduzidas por uma aluna da 4ª classe de então (1977) confirmavam a existência de teares de tipo artesanal e que ainda funcionavam esporadicamente. (18)

Ao longo dos anos, não me consta ter havido aqui qualquer estabelecimento comercial.

NOTAS:

(1)Alcoutim – Capital do Nordeste Algarvio (Subsídios para uma monografia) – 1985
(2)Já publicamos na imprensa regional, Jornal do Algarve (Magazine) de 1994.07.28 em “Coisas Alcoutenejas, A Estrada Real Alcoutim-Pereiro”.
(3)Nº 8 de Setembro de 2001.
(4)Novo Dicionário Corográfico de Portugal, e de A.C. Amaral Frazão, Editorial Domingos Barreira / Porto, 1981
(5)Livro de Registo de Rendas dos Prédios e Juros de Capitais pertencentes à Fazenda Nacional no concelho de Alcoutim, termo de abertura de 13.03.1867.
(6)Alcoutim – Revista Municipal nº 6, Janeiro de 1999, pág. 11
(7)Acta da Sessão da C.M.ª de 29 de Agosto.
(8)Alcoutim – Revista Municipal nº 8 – Setembro de 2001 – pág. 14
(9)Alcoutim – Revista Municipal, nº 10 de Dezembro de 2003.
(10)Boletim Municipal, nº 12 de Abril de 1993.
(11)Corografia ou Memória Económica, Estatística e Topográfica do reino do Algarve, João Baptista da Silva Lopes, 1841.
(12)Manifeztoz Arolam tozda Camera doz Gadoz , 1771 (?)
(13)Acta da Sessão da C.M.A. de 7 de Janeiro.
(14)Acta da Sessão da C.M.A de 29 de Fevereiro.
(15)Acta da Sessão da C.M.A. de 22.de Dezembro de.1843.
(16)Livro de Registo de Correspondência Expedida, ofício de 11 de Julho de 1878 do Administrador do Concelho ao Governador Civil.
(17)Da Arrematação de 27 de Junho de 1874.
(18)Professora Isabel Nunes, cujo um dos seus costado passa por este monte; aluna Ilda, actualmente responsável pela venda de artesanato no Castelo de Alcoutim.

quarta-feira, 9 de julho de 2008

As Irmãs Siamesas


Alcoutim e Sanlucar, as irmãs siamesas, como lhe chamou Luís Cunha. 1968. Foto J.V.

domingo, 6 de julho de 2008

2 h e 40 m para percorrer 600 metros!


Esta nova rubrica, hoje iniciada, tem o intuito de chamar a atenção para situações que consideramos menos correctas e que poderão causar complicações para o cidadão comum.

Fazemos votos para que venha a ter pouco desenvolvimento.

2 h e 40 m para percorrer 600 metros!

A notícia já está um pouco madura mas é preferível ser só agora conhecida do que ficar na gaveta.

Desde há doze anos que me desloco, mês sim, mês não, ao concelho de Alcoutim, mais propriamente a um monte designado por Afonso Vicente e onde procuro libertar o espírito em actividades muito variadas e que de uma maneira geral nunca tinha praticado.

Esta aprendizagem, para quem está no declínio da vida, faz-nos esquecer aquela que desempenhámos no decorrer de trinta e seis anos e para a qual canalizámos todo o nosso esforço e capacidade e na qual nos sentimos realizado, nunca pretendendo trocá-la a qualquer outra, já que ela nos dava prazer.

No dia 21 de Abril último, por volta das nove da manhã partimos para mais uma longa viagem de quase 400 km.

Durante o trajecto, fazemos três ou quatro paragens para satisfazermos as necessidades que sentimos não esquecendo pequenos períodos de descanso.

Desejoso de chegar, quando deixei a E.N. 122, após a passagem por Santa Marta e fiz as primeiras curvas da E.M. 507, vejo ao longe a pequena povoação e disse para comigo: - Estou finalmente a chegar!

Quando cheguei ao pequeno desvio que me ia levar a minha casa, um senhor fez alto dizendo-me que não podia passar pois estava a ser colocado um novo tapete naquele troço de estrada. Ainda lhe disse que não existia nenhum sinal de trânsito proibido mas ele voltou a dizer que se avançasse, teria de voltar para trás. Perguntei se demoraria muito tempo, disse-me que podia dar uma volta e que logo passaria, agora era impossível.
Questionei o senhor dizendo que no meu longo trajecto tinha encontrado várias obras pelo caminho nas quais esperei alguns minutos pois só estava aberta uma faixa da estrada e aqui contra tudo o que é racional, fecharam as duas!

O que o senhor me respondeu, não o vou dizer aqui pois ainda que não tenha razão para não acreditar, não sei se corresponde à verdade.

O mais que lhe posso fazer, é mandar um homem com as coisas que aí tem e se podem estragar, a sua casa.

Para não estar ali esperando, resolvi dar um salto à vila, beber uma água fresca, dar dois dedos de conversa e depois regressar.

Para meu espanto o trabalho ainda não estava concluído e voltei a esperar e agora, naturalmente já mais irritado, pensei:- Então se há um incêndio no monte, por onde passariam os bombeiros? Se alguém necessita de ser socorrido, por onde passa a ambulância? Pelo que me era dado ver, era absolutamente impossível. Só de helicóptero!

Quando passei, depois de uma espera de cerca de duas horas e quarenta minutos e ainda com algum custo, disse para comigo:- Para mim foi “chato” esperar este tempo todo, mas se sucede alguma das hipóteses que referi, QUEM É QUE TINHA DE RESPONDER POR ISSO?

Felizmente que nada aconteceu de grave.

Eu disse ao senhor, que penso seria o encarregado do trabalho, que iria enviar o assunto para um jornal, o que não fiz por razões que não interessa explicar mas que aqui, poderá correr todo o MUNDO!

ALCOUTIM NÃO É SÓ DIFERENTE NO “BOM”, TAMBÉM O É NO “MAU”!

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Placa epigráfica



Placa que se encontrava junto da casa que servia de sede local da Junta Autónoma das Estradas.

Pensamos que tem a ver com a Estrada Alcoutim – Pereiro, a primeira construída no concelho.

Desconhecemos quando e de onde foi retirada e nas actas das sessões da Câmara Municipal desse período não encontrámos qualquer referência à sua colocação.

Por onde andará?
Foto J.V. - 1972

terça-feira, 1 de julho de 2008

Mês de Julho

EFEMÉRIDES ALCOUTENEJAS

DIA 7
1376 - D. Fernando, o Formoso, concedeu a Lancerote de França, almirante das suas galés, entre outras, as saboarias de Alcoutim.

1890 - Criação da Feira de S. Domingos na aldeia de Giões.

DIA 11
1878 - Acidente ocorrido na estrada municipal, Alcoutim – Pereiro (próximo da eira do Garrocho), desabando uma rampa em que perderam a vida quatro trabalhadores (Camilo Afonso, de 45 anos, do Pereiro, José Gonçalves de 39, do monte dos Vicentes, José André, de 44, de Santa Justa e José Teixeira, de 24, de Pêro Dias), ficando três feridos

DIA 12
1965 - O Presidente da República, Almirante Américo Tomás, inaugura o saneamento básico na vila de Alcoutim, onde se deslocou no aviso “João de Lisboa”e é recebido com grande entusiasmo pelas forças vivas da vila.

DIA 14
1862 - Manifesto pelo Conselheiro Mateus António Pereira da Silva, Tomás António das Guarda Cabreira e outros, residentes em Tavira, de uma mina de cobre, na Herdade da Malhada.

DIA 18
1952 - Faleceu no Porto a alcouteneja, Maria Eduarda Brak - Lamy Barjona de Freitas, que entre muitas actividades foi escritora e jornalista.

DIA 27
1872 - Manifesto de Agostinho Estepe Martins e outro, espanhóis de Aiamonte, de uma mina de prata, associada a outros metais em terra de Manuel Martins Cravo e Manuel Vicente, na Casa da Amêndoa e Piçarral, Cortes Pereiras.