quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

As andilhas ou zandilhas


Já referimos aqui os vários tipos de cangalhas que o alcoutenejo utilizou (ou utiliza) para colocar nas bestas no sentido de poder efectuar mais adequadamente vários transportes indispensáveis à sua manutenção.

Hoje iremos referir outro artefacto também para auxílio no transporte de outros produtos. São designados como o título indica, andilhas ou zandilhas, termo que se usa mais no concelho de Castro Marim mas igualmente conhecido e empregue no de Alcoutim.

O alcoutenejo construía uma armação rectangular de madeira rija, normalmente azinho e onde o zambujeiro igualmente podia ser utilizado, senão totalmente, pelo menos em algumas peças.

Nas extremidades desta armação, construíam-se duas espécies de bolsas formadas por varas de marmeleiro ou de qualquer outra planta com características semelhantes no que toca à flexibilidade e resistência. As varas eram introduzidas através de um buraco feito com um trado, vergadas, introduzindo-se a extremidade no lado oposto e por intermédio do mesmo sistema.

Com o equilíbrio conveniente e conforme mostra a foto iam-se colocando mais varas. Depois, procedia-se à sua ligação com o auxílio de arames com o intuito de harmonizar a bolsa construída e lhe dar mais resistência.

Estes objectos destinavam-se principalmente ao transporte de uvas, marmelos e romãs

Tal como as cangalhas, caíram completamente em desuso, pois além de os burros já serem raros, os caminhos, ainda que maus, vão possibilitando a passagem de veículos motorizados que fazem o transporte do pouco que se produz.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

A lenda da moura encantada no castelo velho de Alcoutim


[O que se via da muralha do castelo em 1973]

Como se sabe, as Lendas cada qual conta-as da sua maneira e diz o que quer.

A lenda da moura encantada no castelo velho de Alcoutim, pelo menos há quarenta anos, ainda estava bem enraizada na população da vila e arredores, principalmente naquela que se situa ao norte da freguesia.

Posso mesmo dizer que a maioria, para não dizer a totalidade, dos alcoutenejos que viviam na altura na vila, conheciam-na, melhor ou pior, com mais ou menos pormenores e uma grande parte respeitava-a.

Como aconteceu com muita coisa em relação a Alcoutim, foi o meu saudoso Amigo, Sr. Luís Cunha, a primeira pessoa que nela me falou. Tempos depois refere-a num interessante artigo que publicou no Jornal do Algarve, de 14 de Julho de 1973 com o título “Em Alcoutim – outro interessante desporto à disposição dos jovens”.

Calculo que hoje o conhecimento da lenda passará despercebida à grande maioria dos jovens alcoutenejos mais preocupados naturalmente com outros assuntos.

Por outro lado, ainda que pareça que não, as escavações arqueológicas operadas durante anos acabaram por desmistificar o local, retirando-lhe o misticismo.

Depois do artigo do Sr. Luís Cunha, voltei a encontrar a lenda em As Mouras Encantadas e os seus encantamentos no Algarve, um dos muitos livros que publicou o algarvio, Francisco Xavier d` Ataíde Oliveira, numa edição de 1898 e que teve pelo menos mais uma edição de 1994.

Certamente que esta lenda foi transmitida ao autor pelo pároco de Alcoutim, P. António José Madeira de Freitas (sobrinho), a quem no final do livro agradece a colaboração prestada.

No meu trabalho Alcoutim, Capital do Nordeste Algarvio, Subsídios para uma monografia, 1985, a p. 145 e nas três seguintes, refiro aquilo que os outros escreveram mas transmitindo também a minha narração em consonância com dois dos informadores mais “credíveis”, os senhores Mário Vicente e António Maria Corvo, ambos falecidos há muito.

Não vou transcrever o que então escrevi mas sim procurar fazer um resumo breve.

Diz assim:

[O Castelo Velho segundo Duarte de Armas - Séc.XVI]

No castelo velho de Alcoutim, estava encantada uma bela agarena por motivos que não são conhecidos mas que devem estar relacionados com o abandono forçado que aquele povo teve que fazer.

Depois “conhece-se” a forma de proceder à quebra do encanto, libertando a bela moura:
Na manhã de S. João, e só nessa altura, o pretendente ao desencanto, que ao efectuá-lo, receberia o grande tesouro que se encontrava escondido no local onde se situou o velho castelo mourisco que denominava e vigiava a curva existente no rio, tinha que travar luta contra um bicho façanhudo, tipo réptil que tinha grandes pestanas e sobrancelhas e, o que é muito importante para a estória, uma malha preta na cabeça, único ponto vulnerável que possuía, desde que fosse tocado por uma arma branca.

Se o pretendente não o conseguisse, seria devorado por tal bicho que tinha como local de repouso, observação e defesa dois chaparreiros onde se enroscava e o dilatado tempo já passado, sem que ninguém tivesse o arrojo de o enfrentar, tinha originado o alisar do tronco das árvores.

Quanto à bela agarena, a lenda não indica o seu destino.

Que houve gente que passou dias a cavar no local esperando encontrar o tesouro sem enfrentar o bicho façanhudo, parece ter acontecido pelo menos nos princípios do século passado e possivelmente aconteceu o mesmo em séculos anteriores onde naturalmente a lenda estava mais arreigada.

Ainda hoje e segundo informações muito recentes há tractoristas que em locais impregnados de lendas deste tipo fartam-se de escavar para cima e para baixo esperando encontrar as famosas barras de oiro em arcas ou em coiro de boi, por exemplo!

E a moira, de que se desconhece o nome, o que nem sempre acontece, lá continua no seu padecido encantamento, até a lenda se perder com o esboroar dos tempos!

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Um jantar em louvor de Alcoutim


[Fotógrafo - Conviva e cronista Fernando Lino]

Quem leu o título possivelmente pensará que se trata de um jantar de grão ou de feijão muito típico da serra algarvia onde Alcoutim se situa, mas na verdade não foi isso que aconteceu porque para mim um jantar sem abóbora de casca perde muito do seu valor e segundo o povo entendido, esta abóbora só deve ser cozinhada nos meses que não têm “R”, ou seja Maio, Junho, Julho e Agosto, se assim não for, perde todas as características, nomeadamente o seu gosto.

Ainda que eu faça o prato, a verdade é que nunca o consegui confeccionar com as características que ele deve possuir e isto por mais que me esforce. Sendo assim, não o apresento aos meus convidados.

É um gosto que me vem de família, quando calha convidar alguns amigos para almoçar ou jantar, sendo a refeição feita por mim e por minha mulher.

No passado dia 9 assim aconteceu e juntaram-se-nos sete amigos que nos deram a honra da sua presença.

Menu escolhido: “Jantar de caça criada em Alcoutim”, mais propriamente na ZRT Marmelcaça. A refeição alargada teve por base a perdiz e a lebre e a sobremesa os dulcíssimos citrinos (laranjas e tangerinas) da Hortinha das Lajes, sita no Monte de Afonso Vicente. Os doces foram acompanhados por variadíssimos licores e onde a ginja (de Peniche) é rainha, não faltando contudo os de alfarroba, poejo, amêndoa, ameixa, tangerina, etc. que igualmente têm origem em produtos alcoutenejos.

Se alguém espera que aqui se tivesse servido caviar como produto representativo de Alcoutim, enganou-se totalmente pois aqui não se engana ninguém.

Nesta altura do ano ser-me-ia muito difícil servir uma refeição só com produtos alcoutenejos, mas em Alcoutim isso já aconteceu muitas vezes, além do produto base, as batatas, cebola, alho, salsa, vinhos, licores, alfaces, rabanetes, etc., etc., ser tudo produzido na Hortinha das Lajes

Como sempre acontece, as visitas elogiaram a refeição e eu espero que o tenham feito por ser verdade e não por delicadeza.

Os pratos de caça bem confeccionados, acompanhados de alguns bons vinhos já existentes, e nesta época, os maravilhosos citrinos podem e devem ser um verdadeiro CARTAZ do concelho de Alcoutim. Se lhe juntar um doce regional e um licor de alfarroba ou de poejo, completará a ementa.

domingo, 22 de fevereiro de 2009

Casas de paredes arredondadas


[Construção de parede arredondada em Afonso Vicente, foto JV, Janeiro de 2009].
A Etnografia de hoje apresenta uma velha e típica construção de xisto e grauvaque que numa fase inicial serviu de habitação para depois se transformar em palheiro ou arramada.

Não nos parece que tenha a ver com uma questão de formato da área porque de uma maneira geral o terreno que lhe é contíguo é do mesmo proprietário.

No nosso trabalho, A Freguesia do Pereiro (do concelho de Alcoutim) «do passado ao presente», 2007, a p. 66, apresentamos outra construção semelhante situada naquela freguesia, existindo outras espalhadas por todo o concelho, mas que vão desaparecendo por falta de utilização e quando já se procuram efectuar novas construções onde o tijolo é rei.

A existência de líquenes que lhe dá uma coloração agradável à vista, é uma das provas da sua antiguidade.

Este tipo de parede faz-nos lembrar as construções circulares feitas em pedra solta e terra, com telhados de colmo e que em tempos serviram de habitação aos seus proprietários, na freguesia de Cachopo, serra do Caldeirão e de origem Pré-Histórica, são hoje aproveitadas para recolha de palha e outros apoios.

Não esquecer que as palhotas em África têm uma configuração semelhante.

Parece-nos igualmente que devido ao material usado e existente na época, seria mais fácil fazer uma parede arredondada do que direita e esquinada. Os actuais materiais de construção tudo modificaram e a habitação da serra algarvia passou a ser igual à das Beiras ou Trás-os-Montes.

Quem as inventariou e recolheu fotograficamente? Possivelmente ninguém!

sábado, 21 de fevereiro de 2009

O meu cavalo

Escreve

Gaspar Santos

O cão que acompanhava o meu Pai a caçar, que guardava a casa e que muito brincava comigo, chamava-se Tejo. O nome era necessário pois tanto a caçar como em outras circunstâncias era preciso chamá-lo de maneira inequívoca. E porque cães havia muitos. O meu cavalo chamava-se simplesmente Cavalo... Pois era único.

O meu cavalo deve ter nascido por volta de 1936. Fora concebido pelo médico Dr. Pedro Cunha, feito pelas mãos do meu Pai e também pelas mãos do Dr. Cunha. O Cavalo teve uma longa vida e divertiu muitas gerações de crianças. Não deve haver em Alcoutim homem ou mulher nascidos entre 1930 e 1960 que não o tenha montado. Na minha infância era um corrupio de outros garotos e garotas que me visitavam para montar o cavalo. A mim serviu para montar a sua garupa e... para dormir no estrado, uma vez por outra, uma sesta ou “folga” como lá se diz, enquanto minha Mãe ou irmã me balanceavam ao mesmo tempo que me contavam uma história.

O Cavalo não tinha nada de caricatural. Era uma miniatura feita à escala de um cavalo de carne e osso, como se pode ver na foto ao lado, em que eu monto o meu Cavalo e o meu Pai monta a sua égua. Era uma verdadeira obra de arte naturalista. Anatomicamente era uma reprodução de todas as curvas e saliências que exibe um cavalo verdadeiro. Uma cabeça provida de orelhas, com a crina caindo sobre uns olhos de vidro que pareciam vivos, uma boca provida de dentes mordendo o freio, um pescoço curvado encimado por fartas crinas, membros anteriores e posteriores em posição de galope forte, não faltando um rabo que tinha pertencido a um boi e cascos assentando em estrado curvo.


[Eu e meu Pai cada um em sua montada, em 1937]

No dorso o Cavalo tinha uma sela enchumaçada com os limites salientes atrás e à frente, armados de arame de aço para dar a consistência necessária e evitar o escorregamento do cavaleiro para a frente ou para trás. Para evitar o escorregamento lateral contava-se com um par de estribos e...com a perícia do cavaleiro! Para sustentar a sela tinha a competente cilha e correias passadas ao peito e ao rabo. Tinha assim estribos a condizer e rédeas a terminar no freio.

O cavalo tinha uma estrutura forte de madeira. As formas no pescoço e nas patas eram esculpidas na própria madeira, enquanto que o ventre e as ancas eram constituídas por madeira aparafusada ou pregada completada por enchimento de papel de jornal. A parte mais superficial era cartão pintado, sugerindo a pelagem.
O estrado onde aparafusavam as patas do cavalo tinha um formato encurvado que permitia balançar. O balancear fácil e com pouco esforço possibilitava que crianças de muito tenra idade fossem capazes de cavalgar autonomamente, sem necessidade que outrem os empurrassem.

Não me lembro da sua cor original nem se era de uma só cor. Mais tarde, por volta dos anos 1945 ou 1946, tendo já algumas esfoladelas foi restaurado e pintado de castanho escuro pelo meu tio Gregório.
Durante esse restauro recordo-me de ler em jornal envelhecido, que o meu tio retirou do enchimento do ventre do cavalo, uma notícia que foi, então, novidade para mim. Esse jornal noticiava que o José Luís, boxeur de Faro, tinha travado um combate. Ora o José Luís que eu conhecia dos cromos que coleccionava, era famoso pelos combates que disputava em Lisboa no Parque Mayer mas...de Luta Livre. O José Luís era um atleta algarvio de que nos orgulhávamos muito pelas suas vitórias.

Não resisto a transcrever as bonitas palavras-dedicatória do “fotografo” meu primo, escritas no verso da fotografia: Com votos de que no futuro possam andar juntos cada um em seu cavalo que ande, oferece primo, A J Patrocínio - 26-2-937


[O cavalo em 1959 montado por meu filho com 17 meses]


O meu cavalo ainda foi montado por meu filho mais velho como se pode ver na foto acima. O filho mais novo ainda o viu, parcialmente destruído, quando já não estava em condições de ser montado.

Para recordação deste brinquedo que nos divertiu tanto ficaram várias fotos. Numa aparece um zeppelin que nesse momento sobrevoava Alcoutim e que ficou como documento notável e que deu origem a um artigo que escrevi e foi publicado no Jornal do Baixo Guadiana. Ainda hoje me interrogo se o meu primo quando me fotografou teve intenção de me fazer acompanhar do zeppelin.

O meu Cavalo era, como se descreve, um brinquedo artesanal. Mas deixou gratas recordações dele e de quem o construiu!!. Gostava que os nossos filhos e netos pudessem dizer o mesmo de algum dos vários brinquedos que a sociedade de consumo (ou de desperdício) lhes coloca hoje nas mãos em grande número.

Mas havia nesses tempos outros pólos de brincadeira. Um deles era um automóvel a pedais que os saudosos irmãos Fernando e João filhos do Dr. Dias tinham no quintal e que todos nós uma ou outra vez nos entusiasmámos a conduzir.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Afectos com história



Este trabalho de 137 páginas de 14,8x21 cm é obra póstuma de Neta de Campus, pseudónimo da Professora do Ensino Básico, Maria Odete do Rosário Campos que exerceu funções na aldeia de Martim Longo, concelho de Alcoutim e onde foi Delegada Escolar, eleita pelos colegas.

Nas suas páginas relata factos que no decorrer da vida a impressionaram e a que dá soluções que romanceia quase todas com um sentido pedagógico.

“São notórios os problemas da emancipação da mulher que aborda com perspicácia e as virtudes do seu Algarve que tanto ama, sobressaem do texto as praias e o clima, a gastronomia com lugar para os carapaus alimados e a estopeta de atum ou a típica água-mel …” são palavras que extraímos do prefácio e que tivemos o prazer de escrever.

O livro é ilustrado com desenhos da autora, tal como a capa e contracapa tendo igualmente por fundo uma sua fotografia num arranjo informático de José Miguel Nunes.

Odete Campos nasceu na freguesia de Cachopo em Abril de 1940 e faleceu no Hospital de Faro em 2 de Abril de 2007.

Fez o curso liceal em Vila Real de Santo António e o do Magistério Primário em Faro.

Dedicou-se igualmente às artes plásticas, nomeadamente à pintura e decoração, entrando em várias exposições.

A execução técnica teve lugar na Tipografia Tavirense, Lda, de Tavira e a responsável pela edição foi a sua “sobrinha” Dra. Sílvia Cavaco a quem agradecemos a oferta de dois exemplares, um para mim e outro para o autor da capa.

O meu exemplar ficará no lugar da minha estante onde se encontram todos aqueles a que dedico um carinho muito especial.

Amiga Odete, o livrinho chegou aos escaparates como era seu e nosso desejo.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

As cangalhas

Já referimos nestas páginas, pelo menos por duas vezes, estes utensílios que foram extremamente importantes para a vida do alcoutenejo até cerca de meados do século passado.

Conheci-os no ocaso da sua utilização, pelos fins dos anos sessenta, quando se deu o êxodo das populações activas para a periferia industrial de Lisboa e de Setúbal e mais tarde para o litoral algarvio, primeiro para a construção civil, depois para a restauração e similares.

Os dicionários têm, como não podia deixar de ser, uma explicação semelhante para tal termo. Reproduzimos o que nos diz o Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, Edição Academia das Ciências de Lisboa – Verbo, 2001: - Armação, geralmente de madeira que se coloca no dorso das bestas para sustentar e equilibrar a carga, de ambos os lados.ODicionário Lello Universal, Porto, 1975, acrescenta-lhe … e de ferro.

Numa zona sem estradas, que praticamente chegaram depois do 25 de Abril, quando a população tinha decrescido e estava envelhecida, de terrenos rijos e acidentados, de xisto e grauvaque, era a raça asinina (burros, mulas e machos) a que se recorria, sendo os mais adequados às circunstâncias, no auxílio das necessidades básicas como o transporte e amanho da terra.

Como animais de sela, transportavam as pessoas onde fosse necessário, passando se fosse preciso por caminhos escabrosos. Como animais de carga, tudo se transportava, a água, a lenha, o trigo, a farinha, a azeitona e o mais que a terra produzia.

Mas para que isso acontecesse, era necessário muitas vezes um utensílio auxiliar que neste caso se chamava cangalhas, conhecendo eu três tipos como tentarei explicar. Outro dos auxílios era prestado pela gorpelha ou golpelha de que um dia falaremos.



As cangalhas mais rústicas constituíam um artesanato local. Poucas ferramentas eram necessárias para a sua confecção. Bastaria um serrote, um trado, uma faca e pouco mais. Era necessário ter olho para escolher as peças, tanto no formato como na qualidade da madeira que naturalmente tinha de ser da mais resistente, como era o caso do chaparro e do zambujo. O serrote cortava-as à medida e o trado fazia os furos que proporcionavam os encaixes ajustados.

Estas cangalhas destinavam-se principalmente ao transporte de coisas que proporcionavam grande volume como eram os molhos de trigo ou outro cereal e a lenha, principalmente a esteva. As cordas faziam o ajuste adequado.

Outro tipo de cangalhas, igualmente de madeira, também aqui está fotograficamente representado. Feitura semelhante à anteriormente descrita. Aqui já entrava o cepilho para proceder ao desbaste natural. Destinava-se a transportar os cântaros de folha quando se ia ao poço buscar água.

Estas peças respeitavam rigorosamente o veio da madeira, proporcionando-lhe assim resistência.



O terceiro tipo de cangalhas que conheço é necessariamente mais recente, pois são feitas de ferro. Conheci umas datadas de 1888, conforme inscrição nelas gravada.

Podem ser simples (duas concavidades, uma para cada lado) ou duplas, isto é, de quatro, sendo duas, para cada lado, como é evidente.

Destinavam-se ao transporte de cântaros de barro ou de folha, cuja utilização explicámos em entradas anteriores.



Os exemplares que existem estão naturalmente inactivos pois já são bem poucos os burros existentes.

As de madeira têm como destino o “fogo”.

Nos finais do século XIX havia na vila um homem muitas vezes referido nos livros municipais, incluindo em actas da Câmara, designado por Romão Cangalhas, possivelmente uma alcunha que se transformou em nome de família, como muitas vezes acontecia.

Será que existem peças destas em museus locais?

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

O meu menino é d`oiro



1970 – A então vila de Loulé, hoje cidade, freguesia de S. Clemente.



Não havia ainda nem ecografias nem telemóveis e os telefones fixos eram bem poucos.



O jornal regional mais antigo do País, dá a notícia.



Com um mês, em Alcoutim, Rua de S. Salvador, nº 2.



O primeiro susto.



Primeira no fotógrafo aos 4 anos, em Beja.



Em Alcoutim, tendo por fundo o Guadiana e Sanlúcar (Espanha).



1975 – Na escola primária, no monte de Tacões (Alcoutim).



1978 – Na vila do Cadaval onde fez a 4ª classe.



1980 – Peniche, sua terra adoptiva.



Surfista, caçador-submarino e colaborador da imprensa on line.



2009.02.17 (desconhecendo o destino da foto) Com ar de paternidade
UM GRANDE BEIJÃO DOS PAIS

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

A Estrada Municipal nº 1057



Há muito que não passávamos pelos Balurcos, topónimo representativo de um conjunto de agregados populacionais situados a oeste da freguesia de Alcoutim, entre a EN 122 e a EN 124.

Esta zona foi sempre das mais povoadas do concelho e se a memória não nos atraiçoa foi das primeiras que recebeu o fornecimento de energia eléctrica.

A zona veio também a ser beneficiada com a construção da EN 122, em meados do século passado, proporcionando-lhe ligações relativamente fáceis com o sul e o norte do país.

A última vez que por lá passámos foi após a inauguração do IC 27 e a EM 1057 que une a EN 122 e a EN 124 e que serve aquele agregado populacional, estava em estado deplorável e talvez tivesse sido essa uma das razões porque só agora lá voltámos, o que aconteceu nos primeiros dias do corrente mês.

Esta estrada municipal, na distância de cerca de 2 km, foi terraplanada, pavimentada e o que também é muito importante, sinalizada tanto vertical como horizontalmente. Foram bem empregues os 300 mil euros.

Ainda que leigo no assunto, consideramos um bom trabalho que há muito estava por fazer.

As populações do Balurco de Baixo, Poço Velho, Casa Branca, Deserto, Cercado, Cerro, Montinho do Cerro (ou dos Balurcos) e Balurco de Cima justificavam plenamente este investimento pois é uma zona do concelho onde ainda existe gente.

Quando o dinheiro dos impostos que pagamos é assim aplicado, ficamos satisfeitos pois é utilizado em benefício real das populações e não em “folclorismo”.

Daqui batemos as nossas palmas a quem lançou o grito e pressionou a tal realização.

Beneficiou de os tempos serem outros.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

O comércio de dinheiro na vila de Alcoutim



[Casa onde se instalou a 1ª Agência Bancária]


Poderá parecer sem significado, aos nossos visitantes/leitores, a abordagem deste tema mas a verdade é que de pequeníssimas coisas se faz a história local como dizem os peritos na matéria.

Além disso é um assunto na berra, no país, devido a factos que parecem escandalosos e estão sob a alçada da justiça.

O comércio do dinheiro em Portugal é principalmente feito por estabelecimentos bancários ou similares, ainda que todos nós conheçamos o caso de D. Branca e outros menos sonantes.

O comércio do dinheiro sempre deu para muita coisa e todos nós conhecemos o caso de professoras do ensino primário, para casarem com determinado indivíduo este era “obrigado” a provar que tinha rendimentos pelo menos iguais pelo que recorriam habitualmente a emprestar ao juro da lei e ficticiamente determinado capital a um familiar. O pagamento do Imposto de Capitais dava-lhe essa condição.
Isto não evitou que alguns se declarassem maridos de professoras.

Recorremos à 2ª Edição de Alcoutim, Capital do Nordeste Algarvio (subsídios para uma monografia) que continua em preparação contínua, para daí extrairmos alguns elementos que entretanto fomos recolhendo.

Na primeira metade do século passado temos notícias da existência, na vila, de correspondentes de diversas instituições bancárias. A Casa José Henriques Totta & Cª é durante muitos anos representada por João Cesário Torres & Irmão (Manuel António Torres) que também possuíam a representação do Banco Portuguez e Brazileiro.

A representação do Banco (Nacional) Ultramarino estava a cargo de José Francisco Delicioso & Irmão.

Por volta dos anos trinta, o comerciante Manuel Serafim é o correspondente do Banco Nacional Ultramarino e igualmente do Crédito Agrícola do Algarve Lda, de Tavira, cabendo a Francisco Serafim Nunes a representação do Banco Espírito Santo e Comercial de Lisboa.
Nos anos cinquenta o Anuário Comercial que nos possibilitou estas leves referências, não indica correspondentes de Bancos, ou porque não existissem ou por mero lapso, o que deve estar mais próximo da realidade.

Os serviços da Caixa Geral de Depósitos foram desempenhados na qualidade de Delegação e por imposição legal, pela Repartição de Finanças e Tesouraria da Fazenda Pública até 17 de Dezembro de 1984, dia em que abre dependência na Praça da República onde ainda se encontra, mas foi o Banco Espírito Santo & Comercial de Lisboa, hoje Banco Espírito Santo, o primeiro a abrir balcão na vila, o que aconteceu, se a memória não nos atraiçoa, no ano de 1977, em instalações provisórias e hoje noutro local.


[Caixa Geral de Depósitos]

A última instituição bancária a instalar-se em Alcoutim foi a Caixa de Crédito Agrícola de Alcoutim que em Fevereiro de 2002 se associou à sua congénere do Sotavento Algarvio. (1)

Apesar da sua pequenez a vila de Alcoutim dispõe de três caixas de levantamento automático.

________________________

NOTA
(1) – Notícias do Algarve de 22 de Fevereiro de 2002.

sábado, 14 de fevereiro de 2009

José de Brito Magro

Natural de Alcoutim, era filho de António de Brito Magro e de Bárbara Maria, ambos da mesma vila.

Veio a consorciar-se em 5 de Abril de 1783 com D. Rosa Jacinta, de Martim Longo, filha de Sebastião Teixeira e de sua primeira mulher, D. Simoa Viegas Nobre.

Deste enlace, além da filha falecida muito jovem, nasceu Sebastião José Teixeira (a quem foi dado o mesmo nome do avô materno) que veio a casar com D. Maria Antónia e Aragão, de Tavira de cujo casamento resultou o nascimento de Maria Rosa Aragão e Brito

Sargento-mor da Praça de Alcoutim que, à frente dos destinos da Misericórdia a fez conhecer um período áureo entre fins do século XVIII, princípios do XIX. (1)

Além de Provedor, exerceu também as funções de Secretário durante muitos anos.

Já na qualidade de capitão-mor, lugar que ocupou desde 23 de Setembro de 1803, que vagou pela reforma de Diogo Mestre Guerreiro, (2) foi um dos apoiantes do pedido formulado pelos alcoutenejos a D. João VI para a criação de uma feira anual em Alcoutim, o que veio a ser concedido e se iniciou em 1822 chegando aos dias de hoje. (3)

A Feira de Alcoutim tem tantos anos como o Brasil na situação de país independente.

Faleceu a 12 de Maio de 1824 estando sepultado na igreja da Misericórdia, ao lado de sua filha, D. Ana Jacinta Rosa, falecida em 1808. O epitáfio salienta que foi durante a sua vida, quase perpétuo provedor e que muito se esmerou para o seu bem.


(Igreja da Misericórdia, 1969, Foto J.V.)

Penso que foi substituído nas funções de capitão-mor de Ordenanças por João Viegas Teixeira que em 13 de Maio de 1825 já exercia estas funções. (4)

Tomar em consideração que a actual posição da pedra sepulcral está desvirtuada, uma vez que não é a original.

Quando as sepulturas foram profanadas em 1973, uns brincos vermelhos da jovem renderam vinte escudos ao seu achador!

NOTAS

(1) – As Misericórdias do Algarve, Maria Helena Mendes Pinto e Roberto Mendes Pinto, 1968.

(2)– As Ordenanças e as Milícias em Portugal, Subsídios para o seu estudo, Nuno Gonçalo Pereira Borrego, Edição Guarda-Mor, Lisboa 2002, Vol.1, pág.149.

(3)– “A Feira de Alcoutim criada em 1822”, José Carlos Vilhena Mesquita,
in Jornal do Algarve de 22 de Agosto de 1991.

(4)– As Ordenanças e as Milícias em Portugal, Subsídios para o seu estudo, Nuno Gonçalo Pereira Borrego, Edição Guarda-Mor, 2006, pág. 586.

Pequena Nota
Esta FIGURA foi referida a p. 320 do nosso trabalho, Alcoutim, capital do nordeste algarvio, (subsídios para uma monografia), 1985. Voltamos a ela porque entretanto obtivemos mais elementos, ainda distantes do que pretendemos.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

O cântaro de barro


Quando aqui escrevemos sobre o cântaro de folha zincada, dissemos entre outras coisas que tinha substituído o cântaro de barro, vulgo cântaro de Loulé, já que era lá que se faziam.

Este útil recipiente que foi muito utilizado no concelho de Alcoutim, onde ainda o encontrei activo e em número considerável.

Tem um formato bojudo, volume avantajado e normalmente duas asas. As suas formas fazem lembrar as ânforas romanas onde poderiam ter ido buscar os seus contornos.

Se podiam ser utilizados para qualquer líquido, destinavam-se quase exclusivamente à água potável utilizada nas residências, uma função que transmitiu com vantagem para os seus homónimos de folha.

Eram transportados em cangalhas próprias, simples ou duplas, isto é, com duas ou quatro cavidades e confeccionadas em ferro pelos artesãos locais e colocavam-se no dorso dos animais de raça asinina.

Apesar dos cântaros de folha, quando apareceram, serem mais caros em relação aos de barro, tinham a vantagem de ser mais duráveis e mais leves, facilitando muitíssimo o seu manejo nas cargas e descargas.

Sempre os conheci tal como às infusas ou bilhas, tapados com uma pequena laje de xisto que arredondavam à semelhança da área do bocal.

Se na maior parte das vezes eram colocados no chão para assim serem mais facilmente usados, noutras dispunham-nos em “piais”* (poiais) de pouca altura.

Há cerca de vinte e cinco anos já tive dificuldade em adquirir dois exemplares, sendo a fotografia que acompanha este texto de um deles. Possuo contudo três velhos com mutilações, mas que não deito fora.



*Pial, forma rústica de designar o poial. Vide Dicionário do Falar Algarvio, Eduardo Brazão Gonçalves, 2ª Edição, Algarve em Foco Editora, 1996, p. 149.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Arripiado, Aldeia do Tejo


Este interessante trabalho monográfico, editado pela Câmara Municipal da Chamusca é da autoria de João Carrinho, licenciado em História pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e natural da freguesia de Pinheiro Grande, concelho da Chamusca.

Esta lindíssima aldeia, na margem do Tejo e que tenho o prazer de conhecer, e cujos
caminhos vão todos dar ao rio, possui para atalho pedestre, interessantes escadarias, de uma maneira geral ladeadas de flores que na época da floração, transmitem-lhe grande beleza.

Além dos aspectos da história, refere na sua plenitude o espaço natural, as actividades e o património nos seus diferentes aspectos.

Editado em 2003 é constituído por 265 páginas.

Foi-me oferecido por um familiar próximo.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Ao visitante da Finlândia


Quando foi colocado no blogue um contador que identifica os países dos quais se faz a ligação, sabendo que à partida as “visitas” do estrangeiro seriam bem poucas, não ficámos admirados quando apareceu a bandeira do Canadá e até calculámos acertadamente quem teria sido, como posteriormente viemos a confirmar.

Depois apareceu um “suíço” que voltou, e no mesmo dia “apareceram” quatro dos Estados Unidos, um de Itália, Chile, México, Turquia, Inglaterra e Grécia. Depois e esporadicamente registámos na memória Espanha e sabemos quem de lá o procura.

No mês de Janeiro anotámos a visita por três vezes de um “finlandês”, falamos assim porque pensamos poder tratar-se da mesma pessoa, o que pode não ser verdade. Três vezes reparámos nós mas poderão ser mais.

Tratar-se-á de uma só pessoa como pensamos?

Será um alcoutenejo, um algarvio ou um português interessado em Alcoutim e naquilo que escrevo? Ou será um finlandês que por aqui terá passado ou mesmo permanecido, hipoteticamente num iate no Guadiana? Ou será algum jovem daquele país que por aqui esteve, beneficiando do programa Serviço Voluntário Europeu (S.V.E.) promovido pela Comissão Europeia e em que a Associação Alcance desenvolveu um desses projectos, tendo como temática o levantamento e conservação do património natural e cultural da região de Alcoutim ?

Admitindo que o visitante possa voltar ao Alcoutim Livre, grato ficaria se através do nosso e-mail tivesse a amabilidade de nos satisfazer a curiosidade.

Aqui fica o pedido.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Finou-se figura típica de Cortes Pereiras (Alcoutim)

(Publicado no Jornal do Baixo Guadiana nº68, de Outubro de 2005)

Uns dias antes tinha falado com ele no monte de Afonso Vicente onde se tinha deslocado, o que por vezes fazia, para pagar as quotas na “Sociedade” local e falar com um pastor no sentido de adquirir um borrego para uma almoçarada, comemorativa do seu septuagésimo sexto aniversário que passaria no dia 12 de Setembro.

Com o indispensável boné e o cachimbo fumegando, seguia-o o companheiro “calcinhas”, um pequeno canito preto, seu verdadeiro amigo e companheiro certo, nos maus e bons momentos. Não pensávamos que era a última vez que o víamos!
Dois ou três dias passados, a notícia corria célere nos montes da freguesia de Alcoutim situados a norte da Ribeira de Cadavais:- o Zé Goias, como era popularmente conhecido José Romão Góis, de seu nome, tinha ido de ambulância para Vila Real ou Faro, onde já teria chegado sem vida.

O Zé Goias, que enquanto teve idade para isso guardou gado e sabia lidar com animais de raça asinina, pediu a uma vizinha a burrinha para ir apanhar, pela manhã, uma carguinha de uvas, que pensava ter numa pequena fazenda no sítio da Silveira.

Aparecendo horas depois a burra sozinha em casa da proprietária, esta estranhou o facto e deu o alarme pelo que dois homens se disponibilizaram a ir procurá-lo, tendo-o encontrado prostrado, ainda com sinais de vida.

Compareceram os bombeiros que deram cumprimento à sua missão.

José Góis, aqui nasceu e por aqui foi vivendo durante todo este tempo, mantendo sempre grande ligação com a sua e várias juventudes que foram passando, onde tinha amigos. Foi sempre considerado um moço e não um homem!

Era dos sócios mais antigos da Associação Unidos do Monte, das Cortes Pereiras, que frequentava assiduamente. Era normalmente lá que o encontrávamos, nunca negando a oferta de amigos e conhecidos de uma bebida, de preferência um copinho branco traçado com gasosa.

Era aquilo que vulgarmente se diz “um pobre diabo” mas quando tinha um copinho a mais, tornava-se um pouco implicativo.

Em jovem e durante muitos anos, Zé Goias aguentava com as queixas motivadas pelas patifarias que os outros faziam, era ele que tinha as costas largas e muitas vezes chamado ao “posto” sem ter culpa nenhuma!

Conhecia todas as propriedades rústicas da zona e a quem pertenciam assim como as famílias e suas ligações, apesar de ser analfabeto.

Vivia com o seu “calcinha” numa pobre casita.

Teve a morte que todos ou quase todos desejamos. Nalguma coisa havia de ter sorte.

José Gois, devido às circunstâncias da vida, acabou por aparecer várias vezes nos écrans televisivos.

Veio a ser sepultado no cemitério da vila de Alcoutim, no dia 28 de Agosto, numa cerimónia com muita dignidade realizada, segundo nos consta, por iniciativa de duas familiares apoiadas nos cônjuges, e com um acompanhamento à base de pessoas de Cortes Pereiras, Vascão, Afonso Vicente e Santa Marta, montes que bem conhecia e que desejaram prestar-lhe a último homenagem.

O Presidente da Junta de Freguesia de Alcoutim, não quis deixar de estar presente.

Os humildes também merecem ser lembrados. Zé Goias continuará a ser lembrado pelos seus conterrâneos e amigos, por muitos anos.

Que a terra lhe seja leve. Até um dia, Zé Tijolo.

sábado, 7 de fevereiro de 2009

António Vicente Campinas

Nasceu a 28 de Dezembro de 1910 em Vila Nova de Cacela, concelho de Vila Real de Santo António.

Pouco depois a família fixa-se em Vila Real de Santo António.

O seu primeiro emprego foi na Tipografia Socorro, na vila onde vivia e mais tarde é guarda-livros das firmas Capa, Folque e Rita.

Monta uma pequena livraria na Rua Teófilo Braga, os livros foram sempre a sua grande vocação.

Figura cimeira do neo-realismo português, foi autor de vastíssima obra, abrangendo vários géneros literários, da poesia ao romance, não esquecendo o canto, a novela e a crónica. Alguns dos seus livros foram traduzidos em várias línguas.

Autodidacta de grande talento, tornou-se num escritor muito apreciado, citado mesmo em estudos universitários da área.

Ombreou com Alves Redol, Manuel da Fonseca ou Fernando Namora, entre outros, sofrendo perseguições políticas e até o cárcere.


Foi colaborador de vários jornais e fundador do “Jornal do Cinema” que obteve alguma projecção.

Em 1935 funda e dirige o periódico Foz do Guadiana, em Vila Real de Santo António.

De formação republicana, foi sempre um idealista, convicto das suas opções, mas respeitador do pensamento alheio.

Foi militante do Partido Comunista Português mas Vicente Campinas, segundo parece, nunca publicou nenhum livro com a chancela da Editorial Caminho o que é bem sintomático.

Entre os seus trabalhos, contam-se:- Aguarelas (poesia), 1938, Recantos farenses (Livraria Campina), 1956, Lisboa, Outono (Livraria Ibérica), 1959, Preia-mar, poesias (Ed.do Autor), 1969, Reencontro, 1971, Escrita e combate – textos de escritos comunistas, 1976, Natais de exílio, 1978, Homens e cães (contos), 1979, Três dias de inferno, (Jornal do Algarve), 1980, Vigilância, camaradas (Jornal do Algarve), 1981, Gritos da fortaleza, (Jornal do Algarve), 1981, Putos ao deus-dará, 1982, Rio Esperança, Guadiana, meu amigo (Jornal do Algarve), 1983, Fronteira azul carregada de futuro (Ed.do Autor), 1984, O dia da árvore marcada (Nova Realidade), 1985, Fronteiriços (Nova Realidade), 1986, Ciladas de amor e raiva (Ed. do Autor), 1987, Segredo do meio do mar (Ed. do Autor), 1988, Mais putos ao deus-dará (Orion), 1988, O azul do sul é cor de sonho, narrativas, 1990, A dívida, os corvos e outros contos (em colaboração com Manuel da Conceição) 1992, e Guardador de Estrelas, antologia, 1994, ultimo trabalho que lhe conhecemos.

É famoso o seu poema “Cantar Alentejano”, musicado por José Afonso.

Em 1994 quando já se encontrava numa cadeira de rodas e muito doente, a autarquia vila-realense prestou-lhe a devida homenagem pública e o seu nome foi dado a uma artéria da cidade.

Faleceu em 3 de Novembro de 1998.

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“Morreu António Vicente Campinas”, Lolita Ramirez, in Jornal do Algarve de 12 de Novembro de 1998.

“Pesar da AJEA pelo falecimento de Vicente Campinas, in Jornal do Algarve de 12 de Novembro de 1998.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

O cântaro de folha


Este recipiente de folha zincada, produto de uma profissão (latoeiro) hoje praticamente extinta, era muito utilizado no concelho de Alcoutim e limítrofes.

Destinava-se ao acarreto e armazenagem da água para a vida da casa, principalmente para beber, confecção das refeições e lavar o corpo, nomeadamente as mãos e a cara.

De uma maneira geral ia-se buscar ao poço do monte, que raramente ficava perto pois os montes situavam-se em posições elevadas e os poços, naturalmente em baixas, por onde passavam os pequenos cursos de água e os lençóis freáticos.

Transportavam-se em cangalhas próprias no dorso de animais de raça asinina.

Ainda que os houvesse só de uma asa, a maioria tinha duas e eram todos muito semelhantes ao representado na fotografia, dependiam do artesão que os confeccionava, pois de uma maneira geral tinham um molde próprio que criavam.

Os latoeiros que os vendiam nas suas oficinas, deslocavam-se aos mercados e feiras das redondezas onde facilmente vendiam o produto do seu trabalho, este e outros que referiremos oportunamente.

O abrir da torneira pô-lo de parte na sua principalmente função.

Quem os tem, e ainda existem muitos espalhados pelo concelho, já que são objectos relativamente duráveis, pode considerá-los como peças de museu.

Desconheço se nos inúmeros núcleos museológicos existentes no concelho e que se encontram quase na sua totalidade fechados, se encontra algum destes objectos.

A tampa sempre com uma pega semelhante, constituía um vaso para o que fosse necessário.

Antes destes, utilizavam-se cântaros de barro, conhecidos por cântaros de Loulé (a olaria é uma arte antiquíssima) e que referiremos numa próxima oportunidade

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

O cemitério da Freguesia de Vaqueiros


Em 1846 a Junta de Paróquia sentindo-se incapaz, por falta de meios, para construir o cemitério que a Lei impunha, pede autorização para lançar sobre os seus comparoquianos uma derrama equivalente a seis quarteiros de trigo, que poderá ser satisfeito em dinheiro ou nesse cereal, conforme mais interessar ao contribuinte, visto ser tal quantidade a que se julga indispensável para fazer essa despesa.

A Câmara, ciente da realidade e em face do apresentado, resolveu autorizar. (1)

Possivelmente esta deliberação teria dado origem ao velho cemitério situado próximo ou mesmo no adro da igreja e onde ainda há pouco tempo se viam ossadas.

A última vez que tive contacto com estes assuntos e já lá vão uns anos que não me é possível quantificar, ainda existia uma campa neste cemitério (diziam-me que era a última), cujas ossadas não tinham transitado para o novo, por imposição dos seus proprietários. Não conheço os trâmites de tais situações, mas sei que existia uma lei geral que resolvia estas questões e que possivelmente aqui não foi posto em prática, por motivos que desconheço.

O muro, que circunda o velho cemitério, é do tipo do do Pereiro, sendo o portal argamassado e onde ainda se encontra, no seu topo cruz de ferro forjado.

A partir daqui, na minha memória a descrição baseia-se na falta de documentos.

Mal cheguei a Alcoutim, na segunda metade da década de sessenta do século passado, tive logo conhecimento, ainda que superficialmente, dos problema que com ele se passavam.

O que entretanto foi construído, desconhecendo eu a data, estava a dar problemas, pois segundo nos informavam, funcionava como um “tanque”. Após o 25 de Abril o problema foi logo visto numa tentativa de resolver a situação.

Situado do lado direito à saída da aldeia para quem toma o sentido sul, mostra-se, segundo nos foi dado ver, bem cuidado. Ainda não o conhecemos interiormente.

Recorramos agora a um artigo que o nosso saudoso amigo, Luís Cunha, fez publicar (2) no já distante ano de 1973: - os vivos (...) queixam-se de que os mortos os matam no caminho para o cemitério da aldeia porque as veredas vicinais, estreitas e desniveladas, não comportam a passagem de dois homens a par.

Até há bem pouco tempo (...) o que o nosso amigo (interlocutor de Luís Cunha) teria calado supondo tremenda injúria - os mortos eram conduzidos a dorso de burro, amarrados entre dois molhos de palha.

Faltou dizer, e agora dizemos nós e segundo amigos que no-lo transmitiram há mais de quarenta anos, quando na época invernosa a ribeira trazia enxurrada (ribeirada), não era possível passá-la por falta de ponte ou de qualquer outro meio, pelo que, os que morriam nos montes para além daquela ribeira, tinham que aguardar que a mesma desse passagem, o que por vezes levava vários dias. Em tal situação, recorriam muitas vezes ao cemitério da freguesia de Odeleite.
Pensamos indispensável que estes dados fiquem registados para não esquecerem e os vindouros deles tenham conhecimento.

Tudo pertence ao passado. Hoje os defuntos de Vaqueiros têm o mesmo tratamento do que em qualquer das outras freguesias do concelho.


NOTAS

(1)- Acta da Sessão da C.M.A. de 13 de Setembro de 1846 (pág. 97 v. do tomo)

(2)-“Caminhos e Estradas são suprema aspiração da gente de Vaqueiros”, in Jornal do Algarve de 10 de Fevereiro de 1973.

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Mês de Fevereiro

EFEMÉRIDES ALCOUTENEJAS

Dia 2
1954
– Forte nevão na Vila de Alcoutim que provocou a curiosidade.

Dia 4
1838
– Foi nomeado pela Câmara Municipal de Alcoutim como Juiz moleiro, José Lopes Carreira.

Dia 5
1573
– O 4º Conde de Alcoutim, D. Manuel de Meneses, recebe D. Sebastião na Vila de Alcoutim.

Dia 15
1716
– Manuel Luís Tavares, filho de António Luís Tavares, por provisão de D. João V, para poder mandar buscar trigo na Vila de Alcoutim para se moer nos seus moinhos.
1950 – O 2º Comandante-Geral da Guarda-Fiscal, visita a Secção de Alcoutim.

Dia 16
1927
– Criação de uma Feira Anual na aldeia de Martim Longo.

Dia 18
1773
– Criação do lugar de Juiz de Fora de Alcoutim.
1858 – António Simão Vieira é nomeado por carta-nercê de D. Pedro V, Chefe de Armadas da Alfândega da Vila de Alcoutim.

Dia 20
1990
– São apreendidos em Alcoutim 1068 kg de haxixe que se encontravam a bordo de um iate, constituindo na altura a terceira maior apreensão no Algarve.

Dia 25
1840
– Demarcação feita entre o concelho de Alcoutim e o de Loulé no que se refere à freguesia do Ameixial.

Dia 26
1855
A Câmara deliberou mandar fazer um meio-alqueire por se encontrar o actual já muito gasto e um peso de duas onças, pelo mesmo motivo.