terça-feira, 30 de junho de 2009

Número de polícia

Se não é assim que se chama, pelo menos já teve essa designação, é o número que cabe a cada porta nos arruamentos para poder haver uma identificação correcta do edifício e de quem lá reside.

Em 1877, num ofício dirigido ao Governador Civil, (*) informa-se que a “numeração de todas as casas de habitação e das susceptíveis de serem habitadas foi concluída (...) no prazo designado (...) e procedeu-se à cobrança dos números mas a maior parte só se prontificou a pagar o número correspondente à casa que habitam, recusando-se a pagar os mais porque dizem que foi assim feito no concelho de Castro Marim.”

Isto aconteceu há muito mais de um século!

É natural que depois disso tenha havido algum ajustamento mas de que não tenho conhecimento.

É hábito e possivelmente obrigação legal as ruas terem duas placas, uma no início e outra no fim.

Passando por “Vila Nova de Alcoutim”(Rossio) onde presumo viva grande percentagem da população, verifiquei que a identificação dos prédios apresenta deficiências.

Não era propriamente da vila que eu queria falar, mas sim das pequenas povoações a que aqui chamam “montes”.

Há meses foi-me dado ler num jornal diário a resolução deste problema por uma Câmara Municipal e que, se a memória não me atraiçoa, foi o Município de Abrantes.

O tempo em que os montes estavam “cheios” de gente, já lá vai.
O tempo em que os montes tinham difícil acesso, já lá vai.
O tempo em que se ia ao poço buscar água, já lá vai.
As candeias há muito desapareceram e os candeeiros a petróleo ou a gás se existem, são para se usar em situações excepcionais.

Estas infra-estruturas mudaram completamente, temos hoje outra realidade que está a ser esquecida.


[Casa apetrechada de receptáculo de correspondência. Foto JV, 2009]
O que tem valido aos carteiros é serem da região e conhecerem bem as pessoas, mas quando aparece um de fora, o assunto complica-se logo, tanto para os funcionários dos CTT como para os utentes.

Dir-me-ão, os painéis de caixas do correio colocados em muitos montes resolveram a situação.

Responderei, “entregámos o oiro ao bandido”. O carteiro, assim, gasta praticamente o mesmo tempo a distribuir uma carta como cinco ou dez. Consequentemente são precisos menos profissionais deste ramo e o desemprego sobe. Alguém terá que ficar prejudicado. É o utente que tem de se deslocar diariamente ao local, por vezes distante e muitas vezes a sua idade e saúde não permitem.

Poder-se-á dizer:- mas os preços desceram ajustando-se à nova situação de gestão. Pelo contrário, todos sabemos que por ano os preços sobem invariavelmente!

É claro que para haver distribuição ao domicílio é necessário que haja a devida identificação dos prédios e que estes possuam os respectivos receptáculos, já que hoje não se devem e bem meter as cartas por debaixo da porta como se fazia antigamente.

Mas a identificação não é só para os carteiros. Então e os serviços de água e electricidade? Quando há avarias, como localizam os locais? Tem o aflito que se pôr à entrada do monte para dizer onde é a casa! Já lá vai o tempo em que havia sempre gente pelos montes e que sabia normalmente fazer essa indicação. No monte onde costumo estar provisoriamente, se não está a vizinha do lado não vejo ninguém. Por vezes resolvo dar uma volta para ver se encontro alguém. Não se vê ninguém!

Muito recentemente visitei com um amigo vinte e duas povoações do concelho. Pois em mais de metade não conseguimos ver uma única pessoa!

E como se governam os Bombeiros ou a autoridade Policial?

No ano transacto apareceu o carro dos bombeiros perguntando por Fulana de tal e as pessoas indagadas não sabiam quem era!

As situações que aponto podem ser resolvidas ou pelo menos melhoradas desde que haja interesse nisso.

Aqui fica o alvitre aos responsáveis.

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(*) – Nº 148, de 18 de Setembro.

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Forno de cozer pão de Jesus Fabião



Esta fotografia foi tirada num “monte” da freguesia de Alcoutim em Agosto de 1988.

A razão principal que me levou a disparar a máquina foi a existência ainda de um forno de cozer pão, já desactivado e que era propriedade de um moleiro de origem alentejana mas há muito fixado nesta povoação e que conheci no declínio da vida.

Ainda que existissem outros tipos de fornos, este era o mais usual. A abóbada era feita com tijolo de burro e cacos de argila que o barro amassado fixava. Para o obter percorriam-se por vezes distâncias consideráveis.

Nem todas as pessoas tinham possibilidades de possuir forno pelo que recorriam aos de familiares e amigos ou ao forno comunitário que muitos “montes” possuíam e que não era o caso desta povoação, a crer nas informações recolhidas.

Este meio de produção cozeu o pão que alimentou uma família de cinco filhos além de outros elementos que as circunstâncias da vida agregaram.

De tudo o que a foto mostra, nada existe, tudo se transformou. O forno com o seu poial (pial) foi por desnecessário, removido o mesmo acontecendo ao fontanário visto a água ter sido levada ao domicílio. O chão público foi cimentado.

Resta, que eu saiba, esta fotografia.

sábado, 27 de junho de 2009

Dormir ao relento

A actual época do ano e devido ainda à sua prática na serra algarvia, levou-me a alinhavar estas linhas.

Vem de sempre o homem dormir ao relento (humidade atmosférica da noite) e fá-lo pelos mais variados motivos.

Não nos vamos alongar na matéria que pertence, entre outros, aos antropólogos, vamos procurar referir o seu uso na serra algarvia, nomeadamente no concelho de Alcoutim.

Numa zona onde o pão foi e continua a ser a base da alimentação deste povo, as terras delgadas de xisto iam produzindo o que era possível e quando se chegava às nove sementes de produção era considerada uma excelente colheita!

Todos os trabalhos do campo são árduos, mas ceifar com foice numa época cálida é um trabalho desumano e hoje praticamente extinto, mas na primeira metade do século passado era “o pão-nosso de cada dia”, e os algarvios da serra deslocavam-se a pé e em grupos fazendo as ceifas do sul do Alentejo, muitas vezes efectuadas de empreitada.

Mas é ao concelho de Alcoutim que nos queremos referir.


As ceifas locais eram de uma maneira geral feitas pelas pessoas da casa e muitas vezes auxiliadas pelos vizinhos. O lema era este:- Hoje fazemos a tua, amanhã a minha. Já que o trabalho devido à época quente em que se realizava tinha todo o interesse efectuar-se ao nascer do sol, havendo que dormir junto das searas para que assim que raiasse o sol, começar o trabalho.

Por outro lado, devido ao calor, tornava-se mais convidativo dormir ao relento do que em casa.

Muitas das refeições, quase totalmente constituídas por gaspacho, eram confeccionadas no local e outras vezes feitas pela “patroa” que à hora aprazada a levava aos ceifeiros, montando um macho ou outro animal de sela.

Outro dos trabalhos que originava dormir ao relento era a apanha dos figos, cuja maioria das figueiras se situava nas margens do Guadiana, local que devido à água se tornava mais fresco.

Era hábito levar os porcos para a engorda que os figos provocavam.


[Hotel *****]
Os que se iam apanhando secavam-se, sobre palha no chão, metidos em sacas e transportados por alguém, normalmente aquele que ia levar o abastecimento dos que realizavam a tarefa.

Havia naturalmente a selecção, para um lado aqueles que iam fazer parte da alimentação humana, ou outros, os de fraca qualidade destinavam-se ao sustento dos animais, nomeadamente das bestas.

Ainda que quase todos os proprietários tivessem uma cabana na sua várzea, não se dormia nela pois tornava-se mais agradável dormir ao relento.

Depois do trabalho concluído era o regresso a casa, ao “monte”.

Esta tarefa fazia juntar nas margens do rio muita gente que quando tinham um pequeno período de descanso, confraternizavam dado que se conheciam todos.

Quando cheguei à vila de Alcoutim em 1967 fiquei admirado de grande partes dos moços, no Verão, irem dormir para a eira da Fonte Primeira, onde se encontra hoje situada a chamada praia fluvial, o que resta do vasto rossio oportunamente usurpado pelos políticos da época por maneiras ridiculamente ardilosas.

Lembro-me bem que os moços sentiam a protecção de um respeitado ancião da vila, conhecido por Ti Mário e que era o Sr. Mário Vicente, um agricultor e homem de bem muito considerado na vila e redondezas.

Também este costume se esvaiu no decorrer dos tempos mas ainda vivem na vila pessoas que o praticaram com regularidade.

As tarefas a que nos reportámos estão completamente extintas, mas ficaram reminiscências do dormir ao relento.

Quando em 1987 restaurei uma casa situada num monte da freguesia de Alcoutim e que desde essa data comecei a frequentar assiduamente, a população era mais do dobro da actual.

Havia três dias que eu e minha mulher, e isto no mês de Agosto, não conseguíamos dormir, nem de dia, nem de noite pois o calor abafado era sufocante e se fazíamos uso da “ventoinha”, ainda nos sentíamos pior.


[Hotel ***]

Cerca da meia-noite resolvemos dar uma volta pelo monte. Para nosso espanto verificámos que grande parte da população dormia nos pátios e nas varandas. Disse para a minha companheira, já encontrei a solução.

Cheguei a casa, peguei num colchão e estendi-o no pátio das traseiras da casa. : - Vais dormir aí? - É claro que sim como diz hoje a minha neta de três anos. - Eu não sou capaz! - Então dorme em casa.

Passado meia-hora estava junto de mim e dormimos até às 7 da manhã. Foi um regalo.

Ainda existe um homem que quando o calor começa a apertar não dispensa dormir ao relento, mas de uma maneira geral nas varandas que existem pelo “monte”.Diz-me que opta pelas varandas para evitar a bicharada, principalmente os lacraus.

Leva duas mantas, das de trabalho, (premedeiras) que ainda existem no concelho, deixadas por mães e avós.

Deitam-se numa e a outra serve para se taparem ao raiar do dia.
Quando o encontro pela manhã, costumo perguntar:- Qual foi hoje o hotel. A resposta é imediata, foi no hotel tal (nome do proprietário da varanda!).

Aqui têm a reminiscência do DORMIR AO RELENTO!

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Crónicas Alcoutenejas (2ªEdição)


No dia 12 de Setembro de 2008 no meu ESCAPARATE, dei aqui a público a compilação destas então dezanove crónicas, numa edição muito limitada.

Acontece que vários familiares e amigos mostraram-se muito interessados na sua aquisição pelo que o autor resolveu e muito bem fazer uma segunda edição, esta já de 60 exemplares, revista e aumentada com mais quatro crónicas que o autor publicou neste blogue e que tem merecido justo elogios dos leitores.
A impressão e encadernação são da Gráfica Montalto, Lisboa.

Gaspar Martins dos Santos já tem publicadas neste espaço mais algumas crónicas alcoutenejas e outras irão surgir.

O exemplar chegou há pouco tempo às nossas mãos com simpática dedicatória.

Estou convencido que mais tarde ou mais cedo irá surgir uma 3ª Edição aumentada e revista, como não poderá deixar de ser.

Daqui enviamos ao Amigo e Colaborador o nosso abraço de muita consideração e estima, além do sempre devido agradecimento.

domingo, 21 de junho de 2009

Os cadeireiros

Nem na minha região de origem, nem por onde passei depois, tinha ouvido tal designação.

Quando cheguei a Alcoutim e já passaram mais de quarenta anos, nas casas que fui conhecendo encontrava um tipo de cadeiras que considerava esquisitas pois não havia duas iguais, ainda que naturalmente tivessem coisas parecidas.

[Armação de cadeira muito antiga. Foto JV]

A minha curiosidade levou-me a fazer perguntas sobre elas e que os meus interlocutores iam respondendo conforme sabiam e que, lá no fundo se admiravam porque é que eu queria saber estas coisas!

Por ser assunto que sempre conheceram, considerando-o o mais normal possível, nem mesmo as pessoas mais evoluídas se questionaram no sentido de explicar tal arte.

Esta acção normalmente acontece às pessoas de fora que não conhecem os usos e tradições.

Começaram por me dizer que eram feitas por homens locais a que chamavam cadeireiros quando as faziam para venda, mas que de uma maneira geral todos as sabiam fazer para seu uso, uns melhor, outros pior, conforme a disposição e habilidade.

Quantas mais íamos vendo, melhor as observávamos, estabelecendo semelhanças e diferenças.

[Cadeira pequena. Foto JV]
Havia-as de diferentes tamanhos, mas as mais vulgares eram as pequenas que serviam para as pessoas se sentarem ao fogo, à roda da pequena mesa onde se serviam as refeições, para pelar amêndoas, para costurar, eu sei lá, para as tarefas mais variadas.

As cadeiras mais antigas, segundo nos foi dado observar, eram todas feitas de loendro e as peças que compunham a sua estrutura, de formato cilíndrico, excepto as travessas das costas que ao meio e para melhor cómodo, eram um pouco espalmadas.

É fácil reparar que as travessas da estrutura básica são colocadas a diferentes alturas para proporcionar uma maior resistência (vide foto junta).

A experiência do homem levou-o a substituir, nomeadamente as travessas mais próximas do chão, pela esteva delgada e por isso mais fácil de colocar, mas muito mais resistente.

Em alternativa utilizava-se, principalmente nas de maior porte, o zambujeiro que como se sabe é bastante resistente.

É altura de dizer que a madeira referida é abundante no concelho onde se encontra com muita facilidade. Além disso o loendro é leve e trabalha-se bem.

Entretanto o homem começou a facetar timidamente os pés até chegar a uma forma aproximada de paralelepípedo que foi aperfeiçoando e decorando com elementos simplistas.

As costas começam a ser completamente espalmadas e em lugar de terem um encaixe cilíndrico, já é de secção rectangular.

O exemplar que se apresenta foi adquirido numa das primeiras Feiras de Artesanato de Alcoutim e o cadeireiro era da freguesia de Vaqueiros e se não estou em erro, do monte do Fortim.

Nada disto levava grude e muito menos qualquer cola que não existia.

A cadeira seguinte já é mais evoluída e foi adquirida na Feira de São Marcos, em 1987mas o artista não é do concelho de Alcoutim mas sim de Alcaria dos Javazes, freguesia do Espírito Santo, que faz fronteira com este e pertence ao de Mértola.

[Cadeira de tamanho normal. Foto JV]
Ainda que seja notória a evolução, é tudo trabalho inteiramente artesanal, este não é o artesanato semi-industrial que nos pretendem impingir em muitas feiras do país.

Nota-se algum requinte no trabalho das costas, o tampo é protegido para maior estabilidade, por estreitas e delgadas ripas, fixas com pequenos pregos.

Os pés já são facetados.

Se a madeira utilizada era como regra esta, não quer dizer que não aparecesse outra, como por exemplo de oliveira.

As travessas começaram a ser fixas por intermédio de “puas” de esteva e mais tarde por pequenos pregos.

[Cadeirão adquirido na 1º Feira do Artesanato de Alcoutim.Foto JV].

E com que se fazia tudo isto?

Primitivamente apenas com um serrote, um trado e uma faca, como aqui chamam à navalha. Só depois apareceram a grosa e o cepilho.

Falta referir o tampo que é aquilo que nunca vi fazer e me causa muita confusão. É tecido (dizem-me que há duas maneiras de o fazer) com tabua ou junça, plantas que crescem onde existe água. Esta última, não necessita de tanta para se desenvolver, é mais resistente mas é naturalmente mais difícil de trabalhar.

[Tecendo o fundo com tabua. Foto JV]
Colhem-se em verde, secam à sombra e são molhadas para se trabalharem, tal como acontece à ráfia para as enxertias.

O cadeirão confeccionado nos mesmos moldes, era menos usual mas também os faziam, normalmente de encomenda. Além de maiores dimensões, eram providos de braços.

Esta arte espalhava-se pelos concelhos limítrofes e outros mais além mas no concelho de Alcoutim encontra-se praticamente extinta.

Há muitos anos que não vejo uma cadeira destas à venda na Feira de S. Marcos, a maior do concelho e onde eram muito procuradas.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

1º ANIVERSÁRIO


Passa hoje o 1º aniversário deste blogue que tem por título, ALCOUTIM LIVRE!

Tínhamo-nos comprometido como afirmámos no nosso post de apresentação a semanalmente apresentarmos alguma coisa de novo.

Por outro lado era nosso propósito ocupar esmagadoramente o blogue com assuntos sobre Alcoutim, só saindo dele em condições muito excepcionais.

Na passagem do 1º Aniversário é conveniente fazer um balanço para analisarmos o situação e se os nossos objectivos foram alcançados.

Quanto ao número de intervenções, superou em muito o que nos tínhamos comprometido pois a média semanal cifrou-se acima de quatro.

Por outro lado os nossos visitantes/leitores verificaram que muito excepcionalmente saímos de “ALCOUTIM” e quando o fizemos teve quase sempre alguma ligação ao seu concelho.

Depois da recepção dos e-mails referentes ao seu aparecimento e que dei nota de alguns após o primeiro mês de existência, mais alguns apareceram e que anotei.

Nos TEMAS específicos que criámos o CÂMARA ESCURA aparece 26 vezes com a vantagem dos comentários sobre a foto apresentada terem sido “enriquecidos” em relação às primeiras publicações.

As FIGURAS aparecem 25, sendo as últimas de Alcoutim e onde pensamos ter recuperado alguns nomes que estavam completamente esquecidos e demos a conhecer outros inteiramente ignorados.

O ESCAPARATE apareceu por 22 vezes e na sua grande maioria com referências a Alcoutim, ainda que apareçam alguns de carácter geral mas que considerámos de interesse para o visitante/leitor. Tivemos a confirmação do seu interesse por alguns dos leitores que desta maneira tiveram conhecimento das obras publicadas.

A ETNOGRAFIA, dos últimos temas criados, tem andado de passo certo e dizem-lhe respeito 19 entradas.

Pensamos que o ECOS DA IMPRENSA se justifica plenamente com a republicação de escritos publicados na imprensa regional, alguns com dezenas de anos e que desta maneira possibilitámos a sua leitura aos nossos visitantes, nomeadamente aos que ainda não eram nascidos. Inseridos espaçadamente como se justifica, já foram publicados 17.


Em MONTES DO CONCELHO completámos um escorço histórico sobre os montes da freguesia de Alcoutim, mas não deixámos de passar pela de Martim Longo e Vaqueiros.
O não aparecer aqui a freguesia do Pereiro, tem a ver com a publicação do nosso último trabalho, A Freguesia do Pereiro (do concelho de Alcoutim), do passado ao presente, Edição da Junta de Freguesia do Pereiro, 2007 e onde poderão encontrar as referência que consegui compilar em relação a todos os montes da freguesia.
Apesar das dificuldades que este TEMA apresenta, já referimos 13 povoações, cabendo aos Balurcos o de maior extensão, tendo sido dividido em cinco partes.

As EFEMÉRIDES ALCOUTENEJAS, que tenho conhecimento igualmente de leitores muito interessados, chegaram naturalmente ao seu fim.
Poderão aparecer esporadicamente com um formato diferente.

O ESPAÇO DOS AMIGOS foi para mim o mais importante que criei e em boa hora tive essa lembrança.
Gostaria que tivesse mais colaboradores, mas reconheço as dificuldades.
Além de ter aberto o espaço a todos os que quisessem colaborar, tive oportunidade de pessoalmente o fazer a diversas pessoas. Compreendo perfeitamente porque muitos não o querem fazer. Não é fácil ser livre!

Este espaço já tem 10 entradas provenientes de três colaboradores, sendo só um alcoutenejo!

Gaspar Santos já apresentou 7 interessantíssimos artigos sobre a terra onde nasceu e que não esquece. Não consigo distinguir o melhor – são todos excelentes e que vão deixar uma marca importante no passado alcoutenejo. Possivelmente se não fosse o BLOGUE ALCOUTIM LIVRE estes depoimentos perder-se-iam com o tempo!
Muito obrigado bom amigo, o ESPAÇO é seu.

Não posso nem devo deixar de agradecer ao meu amigo Fernando Lino, que conhece Alcoutim, o artigo que teve a amabilidade de escrever e onde mais uma vez patenteia todo o seu estilo inconfundível de escrita.

O colaborador que falta referir, José Miguel Nunes, tem a circunstância de ser meu filho.
Ainda que cedo lhe tivesse notado alguma facilidade “no escrever”, estava distante de mim a ideia que o viesse a fazer para os outros.
Quando disso me apercebi, já teria publicado possivelmente mais de uma centena de artigos, o que me deixou embasbacado.

Ainda que a base da sua escrita seja completamente diferente da minha e por isso eu tenha alguma dificuldade em avaliar o conteúdo, salta-me contudo o principio, meio e fim com que aborda os assuntos, com moderação mas sem ser pacífico ou submisso, argumentando bem e defendendo os seus pontos de vista.

Os dois artigos que teve a amabilidade de escrever para este BLOGUE e numa área que não é da sua intervenção, não receio dizer que agradaram-me muito. Neles retratou com muita fidelidade e justeza dois quadros da infância, passada em Alcoutim.

Tenho a certeza que nunca mais vai deixar de escrever.

Para ti, o meu agradecimento.

Outros Temas foram abordados e que a nível de movimento tiveram por razões várias menor desenvolvimento.


O número de visitas ronda as 4.500 englobando mais de uma dezena de países de origem.

Ainda que no primeiro contador utilizado não ficassem registados por acumulação, os números agora apresentados indicam o Brasil e a Espanha como os de maior utilização.

Verificamos que a média que se cifra acima de 12 visitas diárias é muito boa para este tipo de blogue que apresenta exclusivamente texto, fotos e desenhos.

Temos a sensação que a grande maioria dos visitantes não reside no concelho de Alcoutim e que talvez no seu cômputo geral mais de 50% não seja natural do concelho.

Para terminar, gostaríamos de lançar um repto aos nossos visitantes/leitores.

Manifestem através do meu e-mail a vossa opinião. Refiram o melhor (se existir) e o pior. O tema que gostam mais de ver abordado. Os erros encontrados. Sugestões. Tudo isto com o intuito de melhorar o ALCOUTIM LIVRE.

Com a vossa ajuda isso é possível.

Fico esperando pelas opiniões.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Dionísio Guerreiro

Algumas das últimas figuras alcoutenenses que temos vindo a referir, são-no pelo interesse local que podem despertar.

Em todas as pequenas terras houve famílias dominantes e que muitas vezes se cruzavam para cimentar o poderio.

Dominavam o sector económico, político, religioso e administrativo. Atingindo este objectivo naturalmente começaram a pensar em mais altos voos pelo que muitas se deslocaram para terras de maior amplitude, quando não para a capital, cortando radicalmente com a terra das suas origens.

Quem se der ao trabalho de pesquisar os arquivos locais verificará o que estamos a dizer.

Só excepcionalmente os nomes ultrapassam duas gerações e quando isso acontece vão-se diluindo no tempo.

Iremos hoje referir um elemento da vasta e importante família Teixeira que afinal não tinha ou usava Teixeira no nome pois é sempre apresentado como Dionísio Guerreiro e só uma vez o vimos designado por Dionísio Guerreiro Teixeira e precisamente no seu assento de óbito,

Nasceu na freguesia de Giões em 1806, por isso no período das Invasões Francesas e era filho de Pedro Rodrigues, proprietário e de Ana Teixeira.


[Vista Parcial da aldeia de Giões, 18.06.2009. Foto JV]

Vamos encontrá-lo com vinte e oito anos como um dos licenciador para as eleições da Câmara Municipal de Alcoutim, e como juiz almotacé em Giões.

Com 44 anos ocupa o lugar de Presidente da Câmara, funções que exerce até 1853.
Desempenhou igualmente funções de vereador e de vogal do Conselho Municipal em várias ocasiões.

Em 1855 era o sétimo maior contribuinte do concelho, pagando 6.340 réis de décima. Dois dos seus irmãos ocupavam a 4ª e a 5ª posição.

Exerceu funções na Junta de Paróquia de Giões em 1858 o que aconteceu em outras ocasiões.

Casou com Faustina Maria, de quem ficou viúvo voltando a casar, desta vez com Ana José.

Foi pai de José Pedro Guerreiro Teixeira que faleceu primeiro do que ele, tendo-lhe deixado dois netos, Manuel da Silva Teixeira e Maria José da Silva Teixeira..

Foi padrinho de seu sobrinho, Pedro Severiano Teixeira, filho de seu irmão Joaquim Pedro Teixeira que foi professor de Instrução Primária.

Faleceu no dia 26 de Junho de 1883, aos setenta e sete anos e viúvo na aldeia de Giões em cujo cemitério ficou sepultado.

Na sessão da Câmara realizada quatro dias após o seu falecimento e que era Presidida pelo seu sobrinho António Joaquim Teixeira, o Vice-Presidente, Manuel António Torres pede para ser consignado na acta um bem merecido voto de sentimento pela morte do cidadão Dionísio Guerreiro, da aldeia de Giões, não só pelo seu exemplar comportamento como particular, senão tão bem no desempenho dos cargos de Presidente da Câmara e Vogal do Conselho Municipal que por muito tempo e diferentes vezes ocupou neste concelho nos quais se houve com o maior zelo, actividade e honradez possível, o que foi aprovado por unanimidade.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

A morte levou a última "boleira"de Alcoutim

(PUBLICADO NO JORNAL DO ALGARVE DE 8 DE ABRIL DE 1977)



Quando organizámos em Dezembro último, o escrito “AS BOLEIRAS DE ALCOUTIM”, inserido em recente número do Jornal do Algarve, não pensávamos que quando o escrito saísse, aquela que considerávamos a última boleira de Alcoutim já não pertencesse ao número dos vivos.

Um breve apontamento sobre ela, além de simples homenagem, se tal se lhe pode chamar, a uma mulher do povo que sempre trabalhou numa actividade sui generis, completaria, ou melhor, enriqueceria o tema que abordámos.

Logo pela manhã do dia 4 de Fevereiro, a notícia correu célere na pequena vila serrana: a Ti Ana Brandoa falecera em Vila Real de Santo António, para onde a tinham levado, depois de uma queda que deu na sua casinha, na rua do Poço Novo.

Apesar da avançada idade e assim se esperar a qualquer instante o seu passamento, a notícia causou surpresa e constrangimento no pequeno meio em que todos se conhecem.

A senhora Ana Bárbara Casegas, segundo a sua versão e Ana Bárbara, segundo o assento de nascimento, nasceu em Alcoutim no dia 2 de Outubro do recuado ano de 1887. Sempre afirmou que tinha mais idade e segundo as suas afirmações, assim parecia.

Filha de um beirão que para ali fora exercer a actividade profissional, casou e criou os filhos na terra que a viu nascer.

Muito trabalhadeira, cedo se dedicou à actividade de boleira, fazendo e vendendo as especialidades pelas feiras e mercados das redondezas. Exímia fabricante de nógado, podemos dizer que o confeccionou até à hora da morte, sempre com o mesmo carinho e interesse.

Era uma figura típica da vila que dificilmente nos esquecerá. Magra, sem ser esquelética, seca de carnes, alta, espadaúda, muito direita, quase todos os dias corria a vila, batendo nos pontos habituais de cavaqueira: escadas da Misericórdia e Santo António, bancos da “capela” e largo de “praça”, ou fazendo visitas a doentes, pessoas que chegavam para férias, etc.

De quando em quando, também ia a nossa casa, solicitando por vezes a escrita de um postal ou carta. Uma vez, levou-nos uma carta originária da Dinamarca e a si endereçada. Se não nos atraiçoa a memória, era a participação de casamento de uma dinamarquesa que por ali tinha passado há anos.

De lanço na cabeça, xale pelos ombros, saia que lhe chegava aos pés e sapatos de corda e pano, era vê-la andar, desembaraçada, pelas íngremes ruelas da vila. O seu tipismo não passou despercebido ao operador da T V , quando da organização de um programa sobre a pesca local, pois na panorâmica que quis dar da vila, captou-a em pormenor, proporcionando um bom apontamento.

domingo, 14 de junho de 2009

El Nordeste Algarvio


Foi com surpresa que recebi em minha casa este trabalho englobado num projecto de conhecimento e investigação de uma região fronteiriça, na margem do Guadiana.

Recebeu o título de EL NORDESTE ALGARVÍO, constituído por 13 folhas A/4 e coordenado pela nossa Amiga, Prof. Antónia-María Sánchez, na altura a exercer no Colégio Público Moreno Y Chacón, de Ayamonte.

Para nossa surpresa este trabalho teve por base o nosso livro, Alcoutim, Capital do Nordeste Algarvio (Subsídios para uma monografia) publicado em 1985, já lá vão vinte e quatro anos.

A Lenda do Castelo-Velho que transcreve é ilustrada pelos professores Francisco Sanchez e Mari-Bella Povea que com mãos habilidosas souberam dar vida à Lenda da Moura Encantada.

Nunca pensei que o livro há muito esgotado, tivesse tido a repercussão que teve e muito menos que tivesse chegado ao país vizinho, servindo de base a um trabalho.

Aqui deixamos o nosso agradecimento à nossa Amiga Antónia-María e aos seus colaboradores.

sábado, 13 de junho de 2009

Maria Catarina Costa

Foi a sepultar hoje na Vila de São Brás de Alportel, onde faleceu e viveu muitos anos, esta nossa última tia por afinidade que contava 93 anos.

Cumprimos a nossa obrigação de a acompanhar à última morada.

Deixa viúvo Joaquim Gomes (vulgo Relógio) assim como três filhos, vários netos e um bisneto.

Nasceu no Monte de Afonso Vicente, freguesia e concelho de Alcoutim.

O seu descanso.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

A construção do cais novo vista por nós

Pequena Nota

Mais uma vez temos o prazer de publicar um excelente artigo do nosso Amigo e Colaborador, Eng. Gaspar Santos. Trata-se do que viu uma criança inteligente, interessada e observadora, “traduzido” pelo técnico e homem maduro que nunca se esqueceu ter nascido em Alcoutim.

Este artigo que nos apresenta tantos pormenores, na simbiose técnica e mundana, é um valioso contributo para se perceber a envergadura daquela obra que só pecou por ser tardia mas que ainda hoje é uma mais valia importantíssima para a vila de Alcoutim e o seu concelho.

Ainda bem que insisti com ele para pôr no papel tudo o que a sua privilegiada memória guardou, que aparece realçado pela sua escrita a que dá um toque muito característico.

Poderá existir, mas não estou a ver outra pessoa que o pudesse fazer.

Ao que já escrevemos sobre o cais novo, hoje pode juntar-se este contributo importante.

Bem-haja por isso, Caro Amigo.

JV



Escreve:

Gaspar Santos



Os meus colegas de instrução primária e eu (entre os 7 e os 11 anos de idade) assistimos à construção do Cais Novo. Do primeiro andar da antiga Escola Primária víamos às vezes, com um certo arrepio e preocupação, o Eng. Godinho no topo superior da estrutura do bate-estacas a observar os trabalhos.

Recordo-me ainda de como era o terreno que o cais veio ocupar. Era um aglomerado de areia e lodo em vias de consolidação rochosa, revestido por vários eucaliptos de grande porte e de acácias. Os eucaliptos foram todos sacrificados à obra. Algumas acácias ainda subsistem na Avenida em frente ao Quiosque.

[Vista parcial de Alcoutim antes da construção do cais. Anos 30]
Vi a última enchente do Guadiana antes do começo das obras. E vi a primeira enchente após a conclusão do cais, quando toda a gente considerava que seria um grande teste à sua resistência. Havia pessoas que pensavam que o cais seria arrastado pelas águas... considerando que a água tinha muita força e nada lhe resistiria.

O estaleiro prolongava-se desde o leito do rio até em frente da Casa dos Condes, mas a passagem em frente da Igreja do Santo António, para a Rua do Município e para os bancos da Capela ficou sempre garantida e disponível.

As escadas hoje junto à Caixa Agrícola e ao Café Soeiro foram construídas com o cais. Antes era possível a passagem em rampa até para animais. Quando o meu Pai vinha com a égua dos lados das Portas do Rio eu saía-lhe ao caminho na proximidade da Igreja do Santo António e vinha montado sozinho, todo feliz, contornando a Igreja Matriz e subindo aquela rampa até à nossa casa.

A construção deste Cais pecou por tardia, tendo-se empenhado muito nessa decisão o Eng. Duarte Pacheco então Ministro das Obras Públicas. Inaugurado em 1944 destinava-se a escoar cereais, palhas, lenha e carvão da parte do Baixo Alentejo que não era servido pelo comboio e a levar adubos e outras cargas em sentido contrário. A evolução brusca dos transportes no fim da Guerra (39-45) matou completamente essa boa ideia.


[O cais como foi construído (sem os acrescentos actuais). População esperava Entidades Oficiais para inaugurar o saneamento básico, em 12.06.1965]

A Vila de Alcoutim era servida antes da Guerra por carreira de camionetas a gasolina. Durante a guerra essas camionetas passaram a usar gasogénio (tinham atrás enormes panelas cilíndricas onde ardia incompletamente carvão vegetal, e o monóxido de carbono resultante, depois de filtrado, era queimado nos cilindros do motor como se fosse gasolina ). Muito rapidamente, no fim da guerra, apareceram as camionetas a gasóleo que transportavam passageiros e, sobretudo levavam as cargas até à casa do cliente... e o transporte fluvial entrou em rápida decadência.

Quando me empreguei no Grémio da Lavoura em 1945, e depois até aos anos 60, os adubos vinham até Alcoutim nos barcos da Sociedade Geral e no regresso escoavam minério do Pomarão. Esse transporte era barato, pois ainda era bom negócio para o Grémio, mesmo pagando dois fretes: - um do Barreiro-Alcoutim efectuado em navio; - outro Barreiro - Vila Real Stº. Antº que, embora não se efectuasse, obrigava o Grémio a pagar à CP 80$00 por tonelada, como a lei impunha, para protecção da C.P.

[Aviso João de Lisboa que trouxe o Presidente Américo Tomás]
Na construção do cais, uma obra pública de grande envergadura que levou vários anos a concluir, os meus condiscípulos e eu vimos equipamentos, tecnologias e métodos de trabalho que eram inéditos até para muitos adultos de então: - Um grande estaleiro, trabalhos com cimento armado, armar o ferro e moldar o betão, uma caldeira produtora de vapor, uma máquina a vapor para elevar os bate-estacas, os bate-estacas, um gerador de electricidade, artífices canteiros a trabalhar a pedra afeiçoando-a e dando-lhe a beleza que hoje nos é dado apreciar.

Neste cais tipo Cais-Ponte a empresa OPCA (Obras Públicas e Cimento Armado) ensaiou algumas técnicas de construção novas.

O técnico responsável por esta obra foi o Eng. Godinho, que residiu em casa localizada onde hoje está o repuxo, e lhe foi cedida pelo Sr. Francisco Madeira do Rosário

O encarregado geral era o Senhor Pedregal, um homem enérgico embora deficiente duma perna, que com um vozeirão característico liderava os homens e conduzia a obra. Dele ouvimos expressões típicas desconhecidas de nós, como: bota aqui o pé de cabra! Entremeados com um ou outro palavrão típico e com pronúncia do Norte.

Um dos capatazes era o Senhor Amadeu filho do Sr. Pedregal.

A obra teve início em 1940 e o seu final e inauguração ocorreu em 1944.

Dos materiais com que foi construído, o cimento e aço vieram naturalmente de fora; areia e cascalho vieram da ribeira e o grauvaque foi extraído no Enxoval e em pedreiras próximo de Alcoutim. Toda a água gasta foi extraída do rio. De fora vieram ainda materiais auxiliares da construção, pranchas e barrotes de madeira e paus de eucalipto.

Começaram por fazer um cais de estacas de eucalipto. Estas estacas eram enterradas à custa de um martelo-pilão de 500 kg. Uma grua accionada a vapor elevava o martelo que na sua queda guiada de vários metros enterrava de cada vez mais uns centímetros de eucalipto.

O cais de madeira serviu de estrutura de suporte para todos os trabalhos posteriores e, no final da obra, foi desmantelado. Foram-lhe colocados em cima uns carris amovíveis, que serviram para levar além de materiais, um outro bate-estacas de 1500 kg a vapor que serviu para espetar as estacas de betão.

As estacas de secção quadrada em betão armado (aço, cimento, areia, cascalho e água) eram feitas em estaleiro em moldes de madeira, tinham o lado a enterrar afilado em forma de pirâmide como um prego, terminando em ponta de aço. Após a sua secagem eram desenformadas, colocadas verticalmente no sítio adequado e o bate estacas fazia o resto até chegarem à rocha firme. Quando necessário as estacas eram acrescentadas no local.

Cada pilar cilíndrico dos que limitam a placa é constituído por quatro estacas juntas em paralelo e que hoje não se podem ver, pois são aquelas que foram abraçadas e prolongadas com aquele formato. Na parte interior do cais, sob a placa, os pilares resultaram de estacas simples como se podem ver.

[La Belle de Cadix atracado ao cais em 2005. Foto JV]

Todo este conjunto de pilares levou um travejamento por vigas, formando uma malha em nível já submergido pelas marés. Por cima, a placa e as escadas de acesso que foram moldadas no local. A placa é constituída por vários partes ao lado umas das outras separadas por espaços de dilatação.

Lindo de ver foi o trabalho de canteiro a afeiçoar pedras para as muralhas, e ainda mais as pedras trabalhadas em forma de paralelepípedo que limitam o recinto ou esplanada do cais e as cimalhas com que rematam todos os muros em volta.

Esta construção garantiu muito trabalho de vários tipos e níveis a pessoas do concelho. Algumas foram recrutadas como futuros trabalhadores da OPCA.

Observe-se ainda na implementação do cais, o belíssimo aproveitamento do terreno disponível, respeitando as antigas infra-estruturas e até valorizando-as. A Estrada Nacional 124, Alcoutim-Porto de Lagos começa no Cais Velho; o Cais Novo foi construído tendo que utilizar essa mesma estrada e a sua construção foi feita sem destruir nem esse cais nem os seus acessos.

A obra dotou-nos dum Cais-Ponte capaz de acolher navios de calado maior do que a barra permite, e de um recinto que desde então passou a ser a sala de visitas da Vila e tem sido o seu grande recinto de festas. Esta obra dotou-nos também de sanitários públicos que representaram um grande benefício, que ainda hoje, fácil é imaginar, na sua falta, o desconforto de forasteiro a quem surgisse uma aflição quando todo o comércio está encerrado.

[Paquete de luxo atracado ao cais em 2005. Foto de JV]

O cais perdeu o fluxo de cargas para que foi construído, mas está cada vez mais a ser utilizado para desembarque de turistas que nos visitam. Oxalá o comércio de Alcoutim se disponha a atendê-los!!!

quinta-feira, 11 de junho de 2009

José Rodrigues Teixeira (P.dre)

É Silva Lopes, personalidade algarvia que esteve preso na Torre de S. Julião da Barra, por ter cometido o “crime” de ser liberal, quando liberal tinha um sentido de esquerda, que nos revela esta figura, afirmando na sua Corografia que o digno parocho José Rodrigues Teixeira, (...) falleceo profugo em Lisboa no anno de 1833, perseguido por (ser) constitucional desde 1828.

O Prior Teixeira ofereceu em 1817 à matriz de Giões, onde exercia as suas funções, um sino com a imagem de S. José. Este sino veio a ser refundido em 1840, no tempo do Prior Manuel Ramos de Ataíde. Outro sino e a troco dos velhos, foi feito em 1817 e dedicado a S. Pedro, igualmente por acção do Padre José Rodrigues Teixeira. (1).


[Igreja Matriz de Giões, 1974. Foto de JV]
Os dados que possuímos sobre o Prior Teixeira são muito escassos. Sabemos que, além de natural de Giões, era padrinho de Pedro José Rodrigues Teixeira, igualmente de Giões e dizemos nós, certamente da mesma família.

O Prior de Martim Longo, Pedro José, no seu testamento contemplou a memória do padrinho com cinco missas, mas não refere qualquer grau de parentesco.

Admitimos que possa ter sido seu tio, ou irmão do pai, Pedro Rodrigues ou da mãe, Ana Teixeira

A numerosa família Teixeira, proveniente do concelho de Alcoutim, é descendente do capitão-mor Teixeira. (2)

______________________________________

Extraído da 2ª Edição de Alcoutim, Capital do Nordeste Algarvio (subsídios para uma monografia), em preparação.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

1º Café de Alcoutim


Esta fotografia tirada, não sei por quem, em Setembro de 1967, retrata o que era o 1º Café de Alcoutim, acabado de inaugurar.

Um pequeno espaço com quatro ou cinco mesas e porta para a Rua Dr. João Dias. Uma pequena máquina que tirava um café de cada vez!

Era propriedade do comerciante local e já falecido, João Baltazar Guerreiro. Virado para a Praça da República e no prédio, na posse dos seus herdeiros, que foi sempre o ponto fulcral do comércio alcoutenejo tinha mercearia e taberna, vendendo fogões e relógios.

Para satisfazer meia dúzia de fregueses, quase foi “obrigado” a montar nesta pequena dependência o que para a vila constituiu uma novidade: - UM CAFÉ!

Lembro-me muito bem, um café custava 1$20, o que na moeda de hoje dá € 0,06.

Foi lá que bebi o primeiro café com aquela que veio a ser minha mulher.

Dos doze fotografados, é tudo gente na reforma e dois nada têm a ver com Alcoutim, pois encontravam-se em trabalho periódico do Instituto Nacional de Estatística de que eram funcionários. Dos restantes dez, só dois ainda residem na vila, ainda que mais dois residam no concelho.

Não me lembro, mas possivelmente alguém faria anos.

Cerveja e licor parecem terem sido as bebidas.

Quem os reconhece?

Posso dizer que está lá a “Marlene”, que ninguém sabe quem é, a não ser a própria.

Pouco tempo depois o CAFÉ passou para o maior espaço virado para a Praça, substituindo a mercearia.

N.B. - Informacão acabada de chegar do colaborador deste blogue, Eng. Gaspar Santos, dá-nos a conhecer que houve na década de 50 uma primeira tentativa de CAFÉ que foi mal sucedida. Situava-se curiosamente em frente deste.

terça-feira, 9 de junho de 2009

Alguidares


[Alguidar de amassar o pão com pelo menos 75 anos. Foto JV]

Estes recipientes têm a forma de tronco de cone invertido, sendo a boca de muito maior diâmetro do que o fundo.

Alguidar é palavra de origem árabe, de al-gidâr.

Este utensílio pode ser de barro, metal ou plástico e é utilizado em várias tarefas domésticas.

Primitivamente de barro e de uso extremamente vulgarizado, passaram a ser feitos também de esmalte, alumínio e igualmente de zinco, mas neste material para usos mais específicos.

[Alguidar para picar a carne. Foto JV]
Mais tarde e é dos nossos dias, apareceram de plástico, que de uma maneira geral dominam o mercado devido ao seu preço competitivo, ainda que sejam muito pouco usados, por inadequados em algumas tarefas.

Este pequeno apontamento irá referir-se aos mais antigos, aos de barro.

Havia-os dos mais variados tamanhos, dependendo das tarefas a que se destinavam. Os mais caros eram vidrados e apresentavam várias colorações que iam do castanho-escuro ao verde passando pelo azul e amarelo.

O rebordo não era uniforme, dependia da região da sua origem, aliás o que acontecia também com a cor.



Segundo nos informaram, as olarias de Martim Longo tinham uma decoração própria nos seus alguidares como a demonstrada no exemplar que se publica e que constitui uma réplica.


[Alguidar típico de Martim Longo (réplica)]
Entre muitas das tarefas que competiam aos alguidares de barro, no concelho de Alcoutim, contava-se a “amassadura” do pão uma vez por semana e só serviam para isso.
O exemplar que apresentamos no início deste apontamento era a isso destinado e terá pelo menos 75 anos!

Era também um alguidar de barro que em Dezembro/Janeiro de cada ano recebia a carne picada para os enchidos quando se matava o porco.

O Dr. Tito de Noronha que em 1885 foi durante um mês médico de Alcoutim escreveu numa Crónica publicada no jornal Vida Ribatejana: Bebem os comensais por tigelas, que enchem nos alguidares, sendo da praxe, para mostrar fartura, entornar-se muito líquido (leia-se, vinho) de modo que no fim da refeição a toalha mudou totalmente de cor, não tendo uma só nódoa branca.

Parece que no século XIX o vinho também se colocava em alguidares!

Como já aqui referimos quando escrevemos sobre as queijeiras, também era um alguidar de barro, previamente preparado, que recebia o azeite que depois era colocado em potes de barro e mais tarde de lata.

Outra tarefa em que se não dispensavam os alguidares era o da lavagem da loiça. Um para lavar, outro para enxaguar. Quando não se utilizava o poial da casa-do-fogo, optava-se pelo da rua, junto à casa e que ainda se podem ver muitos por todos os montes, estão alguns já modernizados, com o uso do cimento.

[Alguidar feito no Redondo com 40 anos. Foto JV]
Não há muitos anos lembro-me de ver um afonso-vicentino, que já tinha uma cozinha relativamente bem apetrechada para o meio, optar por lavar a louça no seu poial que ainda lá se encontra, isto certamente por hábito e tradição familiar.

Muitas mais tarefas estavam destinadas ao uso do alguidar que nos escusamos de referir.

Se o aparecimento do plástico veio substituir o barro em muitos trabalhos, outros mantiveram-se como o amassar do pão ou o picar da carne, pelo menos até serem executados.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Laborato, povoação próxima da aldeia de Martim Longo, freguesia a que pertence

Se a memória não nos falha, fomos duas ou três vezes a esta povoação, o que aconteceu há mais de trinta anos.

Certamente que no decorrer deste tempo foram aparecendo beneficiações de vária ordem nas estruturas básicas mas em contrapartida a população desceu e continuará a descer.

Estando em Martim Longo, sede da freguesia, para procurarmos o Laborato, tomamos a estrada que nos leva ao cemitério, hoje Rua Portas do Laborato, deixando à esquerda a nova Escola Básica e Integrada ficando mais à frente, no lado direito a alagoa que em tempos recuados desempenhou um papel importante na vida da aldeia, principalmente no matar da sede aos seus gados.

[A "alagoa" em 1992.Foto JV]
Após a passagem do cemitério, o monte servido por estrada asfaltada ficará a uma distância de cerca de 2,5 km.

O topónimo, único no país, não é de fácil explicação. José Pedro Carvalho, no seu Dicionário Onomástico/Etimológico (...) pergunta: Está relacionado com laborar? (1)
Não me custa admitir que assim seja.

Esta zona foi habitada pelos romanos que aqui teriam explorado uma mina de cobre.
(2)

Situada a 285 metros de altitude os minerais explorados foram a azurite e a malaquite, carboratos de cobre relacionados com fitões hidrotermais.

Os dois poços existentes há muito que foram abandonados. (3)

As Memórias Paroquiais de 1758 já o referem quando o pároco indica os montes que fazem parte da freguesia de Martim Longo.

Em 1839, segundo Silva Lopes, era o quarto monte em número de fogos (28), a nível da freguesia. À sua frente estavam Santa Justa (36), Pessegueiro (35) e o vizinho Castelhanos com 29. (4)

Andando a Câmara em correição e estando neste “monte”, apareceram indivíduos pedindo terreno no rossio do mesmo para fazerem casas e quintais, os autarcas dirigiram-se ao local. Como o povo se fosse agrupando e pronunciando ditos impróprios, para evitar questões, resolveram recolher-se e não conceder naquela ocasião terreno a pessoa alguma. (5)

Na sessão da Câmara de 8 de Outubro de 1850 foram lidos vários requerimentos de indivíduos deste “monte” pedindo licença para fazer quintais a arramadas no rocio do mesmo. Possivelmente eram os mesmos interessados e não encontrámos os despachos que obtiveram.

Luísa Maria, casada com António Nobre, deu à luz em 12 de Julho de 1876 três crianças que receberam o nome de Joaquim, Ricardo e Maria. (7)

Sabemos que em 1931 foi concedido um subsídio de 150$00 pela Comissão Administrativa da Câmara Municipal para arranjo do poço. (6)

[Sede do C.C. e Recreativo]
O edifício sede do Centro Cultural e Recreativo local foi inaugurado em 22 de Julho de 1989, recebendo naturalmente o auxílio e apoio da Câmara Municipal. (8)

O Grupo Juvenil de Acordeonistas de S. Brás de Alportel deu nesta associação um concerto em 1991. (9)

Em 1995 a Câmara Municipal ofereceu o projecto de remodelação do edifício da associação (10) e é nesse ano que têm início os festejos populares anuais, que a Edilidade subsidiou com 90 contos.

O Centro possui uma sala destinada à realização de festas, funcionando igualmente para receber outras iniciativas de várias áreas, sendo assim um espaço polivalente.

A XIV Festa Popular do Laborato teve lugar nos dias 11 e 12 de Julho de 2008 e a Câmara concedeu um subsídio de € 1.500,00 (mil e quinhentos euros).

A Associação de Caçadores de Castelhanos e Laborato tem a seu cargo uma zona de caça associativa.

Na ribeira do Vascão e perto deste monte existem pegos que proporcionam bons banhos, como acontece com o Pego Longo e o Pego da Oliveira.

O arranjo dos arruamentos do monte foi concluído em 1991.

[Ponte dos Castelhanos, sobre a Ribeira do Vascão, que liga ao concelho de Mértola]
A nível de população, esta foi crescendo até 1940 com 154 habitantes. A partir daí os censos demonstram um decréscimo com 112 em 1960, 104 em 1970, 85 em 1981 e 66 em 1991, ano dos últimos dados que possuímos.
Em 1911 tinha 151 habitantes e era então o terceiro “monte” mais populoso da freguesia, suplantado por Santa Justa e Corte Serrano

Foi o que conseguimos reunir sobre esta pequena povoação.

NOTAS
(1)– Horizonte/Confluência, II Vol.2ª Edição, 1993, pág. 842.
(2)– Estácio da Veiga, Antiguidades Monumentais do Algarve.
(3)– Património Arqueometalúrgico de Alcoutim, Mª Victória Abril Cassinello, Isaura Cardoso Guerra e José Mª Jinenez Rós, Dezembro de 1994.
(4)– Corografia ou Memória, Estatística e Topográfica do Reino do Algarve, Edição fac-similada (1988)
(5)– Acta da Sessão da C.M.A. de 25 de Junho de 1848.
(6)- Acta da Sessão da C.M.A. de 6 de Agosto de 1931.
(7)– Acta da Sessão da C.M.A.
(8)- Boletim Municipal nº 5, de Setembro de 1989.
(9) - Correio da Manhã de 23 de Fevereiro de 1991.
(10)- Alcoutim – Revista Municipal, nº 1, de Maio/Junho de 1995.

sábado, 6 de junho de 2009

Assembleia Popular Democrática


Pequena Nota

A pág. 155 do nosso último trabalho em livro, A Freguesia do Pereiro (do concelho de Alcoutim) «do passado ao presente», 2007, escrevemos: Na aldeia reuniu-se a população interessada com o fim de escolher uma comissão administrativa para a Junta de Freguesia, isto devia ter ocorrido pelo mês de Junho, se a memória não me atraiçoa.

Com os elementos recolhidos nessa assembleia, organizei uma acta que foi entregue na Câmara Municipal, já então com Comissão Administrativa e esta fez chegar ao MDP/CDE de Faro que a enviou ao Governador Civil, nomeando este uma Comissão Administrativa para a Junta de Freguesia, presidida por Henrique António, a pessoa mais votada nessa assembleia.

Não nos lembrávamos que tínhamos ficado com uma cópia, através do antigo papel químico e que agora, procurando outro documento, nos apareceu e que teria documentado bem esse espaço.

Como na altura não foi possível, damo-la agora a conhecer.

Por lapso não foi indicada a data e hora da assembleia.

[Henrique António]
De notar a esmagadora vitória de Henrique António que encabeça e vence nas três eleições seguintes e que por vontade própria cede o seu lugar a outro militante do seu Partido.

Henrique António soube sair pela Porta Grande, o que não acontece com todos os políticos.



CÓPIA DA ACTA

Encarnando o espírito altamente democrático do Glorioso Movimento do 25 de Abril, que restituiu aos Portugueses as Liberdades que durante 48 anos nos usurparam e tendo como base o saneamento da Junta de Freguesia local, o povo desta freguesia reuniu-se na sede da Junta, a fim de eleger livre e democraticamente, uma Comissão Administrativa que represente efectivamente a vontade do Povo.

A mesa coordenadora dos trabalhos, foi presidida pelo Senhor Baltazar Xavier da Silva Diogo, membro representativo da freguesia na Comissão Administrativa da Câmara Municipal, que era ladeado pelos senhores Henrique António e Diogo Xavier da Palma.

Feita a contagem, apurou-se o seguinte resultado:

Henrique António, moleiro, do Pereiro ..........106 votos
António José Vicente, vendedor ambulante.........28 “
Diogo Xavier da Palma, proprietário, de Soudes.. 26
José Luís, proprietário, Fonte Zambujo de Cima...11
Francisco da Palma, comerciante, do Pereiro,..... 8
José Amaro Gomes, proprietário, Alcaria Cova... ..7

Neste sentido e por vontade do Povo, a Comissão será constituída pelo senhor Henrique António, que presidirá e terá como vogais os senhores António José Vicente e Diogo Xavier da Palma. Os restantes votados, servirão como substitutos.


Tomando em consideração o apoio dado pelo Movimento Democrático Português (M.D.P.), Faro, que tão útil tem sido no distrito, tomamos a liberdade de enviar estes elementos para a devida apreciação, solicitando, se for caso disso, a sua apresentação a nível Superior, para os devidos efeitos.

VIVA A DEMOCRACIA
VIVAM AS FORÇAS ARMADAS
VIVA PORTUGAL LIVRE

A Mesa Coordenadora,

Os Eleitos.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Campeonato Municipal de ... Três Setes ! !



Teve lugar no passado dia 22, no “monte” de Afonso Vicente, na nova sede da associação local, o Centro Cultural Social e Recreativo, ainda por inaugurar, a semifinal deste campeonato numa organização da Câmara Municipal e colaboração de algumas das associações do concelho, já que, segundo nos informaram, as freguesias de Giões e do Pereiro não se fizeram representar.

Encontraram-se dez equipas em confronto entre as quais uma que representava a associação local.

Os “Três Setes” são um jogo de cartas muito característico da Serra Algarvia e regiões limítrofes e completamente desconhecido das outras zonas do país.

Nos princípios do século passado os únicos jogos conhecidos de cartas eram o “Três Setes” e o “Truco”, os restantes, hoje praticados vieram muito depois.

Existe muito pouco escrito sobre este jogo, apareceu uma pequena referência a ele na Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira e nos livros da especialidade que consultámos, nada encontrámos. Através da Internet foi possível obter mais algumas informações, nomeadamente que aparecia referido num livro publicado em 1802.

Na linguagem do jogo existe o termo “apultana” segundo uns ou “apolitana”, segundo outros.

[Aplutana de paus, naipe que representa os camponeses]
Este facto sugere-nos como termo original napolitana o que não escandaliza admitir a sua origem do Reino de Nápoles e trazido pelas suas gentes que percorrendo o Mar Mediterrâneo subiram o Guadiana à procura de locais que lhe dessem mais condições de vida.

Por aqui se encontram vários topónimos que podem ser enquadrados nesta perspectiva como acontece com Lombardos (Lombardia), na freguesia do Espírito Santo, Toscana (Toscânia) e Provenças (Provença), na freguesia de Alcoutim.

Preservar os usos e tradições de uma região é contribuir para a sua identidade. Tipo de construção, gastronomia, danças e cantares, artesanato e jogos como os “Três Setes”deverão ser conservados e estimulados.

CARO VISITANTE/LEITOR:
ESCREVÍAMOS UM “BATE PALMAS” SE O CAMPEONATO FOSSE DE “TRÊS SETES”, ASSIM É “PORTA ABERTA” PARA A SUECA SAÍR!

Para compensar aqueles que ficaram tristes por esta notícia, podem BATER PALMAS connosco à Casa do Povo de Santo Estêvão de Tavira que com o apoio da Junta de Freguesia realizou em Fevereiro último o 1º Torneio de “Três Setes”.

Santo Estêvão não olha só para o seu Rancho Folclórico, como se pode concluir.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Dicionário Toponímico - Cidade de Loulé


Com lançamento muito recente, mais propriamente em Maio último, este livro em formato 16,5X23 cm e de 408 páginas é um valioso trabalho toponímico e em que se ajusta e justifica plenamente o título dado.

Muito completo, apresenta devidamente documentada, a história de cada arruamento indicando, quando é caso disso, os vários “nomes” que foi tomando ao longo dos tempos.

Os topónimos têm as mais variadas origens avultando naturalmente os de origem onomástica, com natural relevo para os filhos da terra que abrange todos os extractos sociais.

Apresentando as placas toponímicas e onde se verificam naturalmente vários modelos criados no decorrer dos tempos e onde em muitos casos aparece o nome “seco”, este valioso trabalho contém notas biográficas dos homenageados e procura explicar a razão para a existência de outros tipos de topónimos que têm a ver com circunstâncias locais.

Não esquece, o que é muito importante, a data e origem da deliberação tomada para assim nos enquadrar no tempo.

É autor deste trabalho, prefaciado pelo Professor Doutor Joaquim Romero Magalhães, um jovem filho da cidade, Jorge Palma, licenciado em Engenharia do Ambiente e pós-graduação em Higiene e Segurança no Trabalho.

O Eng. Jorge Palma além de técnico superior da Câmara Municipal de Alcoutim tem raízes neste concelho.

Sem nos conhecer pessoalmente, teve a amabilidade de se deslocar ao “monte” onde nos encontrávamos para nos oferecer um exemplar do seu trabalho, enriquecido com significativo autógrafo.

Esperamos que a sua ligação familiar e de trabalho a Alcoutim o leve, o que estamos convencido que vai acontecer, a empregar a sua capacidade, inteligência, cultura e gosto em prol do concelho de Alcoutim, que bem precisa.

Muito lhe agradecemos a visita assídua, segundo nos confessou, que faz ao ALCOUTIM LIVRE.

Mais uma vez, muitos parabéns pelo trabalho e agradecido pela sua gentileza.

terça-feira, 2 de junho de 2009

A mantilha


[Viúva com mantilha]

Mantilha é naturalmente um substantivo derivado de manta, de origem Castelhana e proveniente do Latim mantellum (manto) e que poderá ter utilizações variadas, mas que se destina a pôr sobre a cabeça ou sobre os ombros.

A confecção e utilização estão impregnadas de variados conceitos dependentes dos países, regiões e extractos sociais.

Parece que o uso da mantilha teria tido origem em Espanha.

A mantilha que pretendemos referir, como não podia deixar de ser tem a ver com o concelho de Alcoutim, ou não tivesse por título este blogue ALCOUTIM LIVRE!

Segundo os dados recolhidos e ainda possíveis junto da população mais idosa, só as pessoas na casa dos oitenta podem fazer uma explicação adequada, pois na sua juventude era uma peça que viram usar às suas avós e mães, quando fosse caso disso.

A mantilha era uma espécie de xale de três pontas (forma triangular), enquanto este tinha quatro (forma rectangular).

De lã preta e confeccionada em teares rudimentares que existiam em todos os montes do concelho.

Há um século fazia parte do currículo das alcoutenejas saber tecer pelo menos as coisas mais rudimentares e necessárias para a família, nas quais se incluíam as mantilhas, que constituíam a peça fundamental para cumprimento do luto rigoroso.

Quando era “carregado” era posta pela cabeça, traçada de uma maneira característica, atando-se as pontas. A meio do tempo, o luto começava a aliviar e então a mantilha passava para os ombros.

O uso do preto como luto em Portugal iniciou-se em começos do século XVI.

Em Portugal o luto mais prolongado é (era) o de viúva que nalgumas regiões era para toda a vida e noutras durava um ano e três meses.
Em Alcoutim o luto pelos pais durava três anos e pelos irmãos dois.

Há quarenta anos ainda me lembro de ver cumprido o ritual da mantilha pela cabeça, tradição que com o decorrer dos tempos foi caindo em desuso. Contudo, ainda é geral o cumprimento do luto através do uso do preto, o que já não acontece nos meios mais populosos onde raramente se vê.

Aqui fica este pequeno apontamento que os jovens alcoutenejos possivelmente desconhecerão de todo.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Mês de Junho

EFEMÉRIDES ALCOUTENEJAS

Pequena Nota

Com esta postagem relativa ao mês de Junho, completámos o tema intitulado EFEMÉRIDES (alcoutenejas), o que significa também que o Alcoutim Livre está a chegar a um ano de existência.

Inventariámos cento e quarenta e nove factos relacionados com a Vila de Alcoutim e o seu concelho, alguns importantes no conceito da sua existência, outros nem por isso mas que nem assim deixam de ter algum significado na vida alcoutenense.

Penso que tenho mais factos que justificavam a sua inclusão mas que ainda não recuperei na documentação dispersa.

Tenho conhecimento que alguns dos visitantes/leitores não dispensavam a leitura das EFEMÉRIDES onde encontravam quase sempre algo que lhes despertava a sua curiosidade.

Para que se fique com uma noção do movimento direi que o mês de Março foi o de maior número, tendo sido referidos vinte e um factos, enquanto Julho e Novembro se ficaram em sete.


JV



Dia ?
1873
- Iniciou as funções de pároco da freguesia de Alcoutim, tendo substituído o tio do mesmo nome, o Pdre. António José Madeira de Freitas (sobrinho).







1994 - Violento incêndio na zona rústica de Vale de Condes, freguesia de Alcoutim, que consome 150 ha de mato, amendoal e principalmente oliveiras.


Dia 1
1862
- Manifesto de Joaquim Pedro Teixeira, (1818 – 1905) sacristão, mais tarde professor, natural e morador em Giões, de uma mina de cobre no Serro Alto, perto de Alcaria Alta, freguesia de Giões.

1875 - Manifesto de José Francisco Rebelo, natural de Serpa, de uma mina de manganés e outros metais, na Herdade do Brejo.

Dia 2
1602
- É presa Maria de Alcoutim, natural de Évora, com cerca de 50 anos, filha de Francisco de Alcoutim, acusada de judaísmo. Foi solta em 21 de Janeiro de 1605.


Dia 4
1851
- Francisco José de Barros é nomeado por carta de D. Maria II, Subdirector da Alfândega de Alcoutim.


Dia 13
1497
- Concessão do título de Conde de Alcoutim a D. Fernando de Meneses, data que não é consensual.


1906 – Falece na vila de Alcoutim, pelas 14 e 30, o Padre António José Madeira de Freitas (sobrinho), filho de Pedro José Rodrigues Teixeira e de D. Rita Antónia Joaquina do Carmo. O assento de óbito não indica a idade.


Dia 15
1996
- O Presidente da República, Dr. Jorge Sampaio, no âmbito da presidência aberta, visita Alcoutim e o almoço decorre no Castelo.


Dia 20
1718
- Manuel Martins, nomeado por carta de D. João V, escrivão das Sisas e Alfândega da Vila de Alcoutim.





Dia 26
1748
- Por mercê de D. João V é passado a Belchior Correia, alvará de Escrivão da Câmara da Vila de Alcoentre e de Alcoutim.



1993 - O decreto-lei nº 230 extingue a Guarda Fiscal que foi muito procurada por muitos alcoutenejos como meio de vida.





Dia 29
1844
- É aprovada na Câmara Municipal a Postura sobre Fornos de Poia, ou públicos.




Dia 30
1484
- Lourenço Afonso Vilão é nomeado por mercê de D. João II, Alcaide das Sacas de Alcoutim e na mesma data Escrivão da mesma, Diogo Dias.