quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Peça Arqueológica


Peça ornamental em mármore encontrada a cerca de dois metros e meio de profundidade e que nos parece revelar alguma imponência, tomando em consideração a decoração apresentada.

A descoberta teve lugar em 1986 a quando do restauro de uma habitação no centro da vila de Alcoutim, mais propriamente na Rua da Misericórdia.

Desconhecemos o seu destino.
(Foto J.V.)

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Como o Dr. Dias salvou uma mula de morte certa

Escreve:
Gaspar Santos

Há mais de 50 anos o Dr. João Francisco Dias fez obras de grande restauração da sua casa. O filho João, também médico e também já falecido, procedeu a nova restauração do mesmo prédio. No decorrer desta segunda obra lembrei-me do acidente havido durante a primeira e que passo a descrever.

Aquele prédio onde a família então residia, tinha um quintal contíguo que se situava na parte mais distante da Praça da República. Na parte traseira do quintal havia um muro de suporte de terras com cerca de 5 m, contíguo à rua. Hoje o quintal praticamente desapareceu.

Durante as obras essa rua, em plano superior e pouco concorrida, foi utilizada para descarga dos materiais de construção (areia, cascalho, pedras, etc.) que eram transportados numa carroça puxada por uma mula. A técnica era a seguinte: a carroça encostava a traseira aos escombros do muro já demolido na parte superior, ficando ao nível da rua, apenas travada por um barrote de madeira que era suposto a roda não galgar. Imobilizada a carroça, o carreiro desengatava a mula, levantava os varais e as matérias a granel escorregavam caindo para o quintal.

Mas, uma vez a carroça não se imobilizou, a sua roda galgou o barrote já muito afundado no entulho e deu-se o desastre indo despenhar-se da altura dos cerca de 5 m, com a sua carga de areia arrastando a própria mula engatada nos varais.

A mula com um dos varais que se tinha partido espetado na barriga estava com enorme sofrimento. A sua reacção de pânico e o seu estrebuchamento ainda mais acentuava esse sofrimento.

Naquele entretanto começou a juntar-se gente e alguém foi dizer ao Dr. João Francisco Dias o que tinha acontecido.

A reacção imediata deste distinto cirurgião não foi diferente da que teria se se tratasse de pessoa humana. Apareceu imediatamente. Recrutou os homens presentes para segurarem a mula, para poder arrancá-la do suplício, retirando-lhe o grosso pau que estava espetado na barriga.

Sempre com a colaboração das pessoas que imobilizavam o animal, procedeu à sua operação cirúrgica perante a estupefacção de todos que observavam atónitos. Assim livrou a mula de uma morte certa por peritonite devida à perfuração intestinal.

Deste médico muito se tem falado e escrito acerca da sua bondade, competência e profissionalismo para com os seus pacientes mas nunca se falou deste incidente que mostra como ele compreendeu que o mundo era um todo em que todos os seres vivos merecem a nossa atenção e que não devemos alhearmo-nos do seu sofrimento. Afinal o Dr. João Francisco já partilhava da visão ecológica tão em moda hoje.

domingo, 26 de outubro de 2008

Ivete Encarnação Rodrigues de Noronha

Com 60 anos faleceu no dia 24 do corrente na vila de Alcoutim, de onde era natural. Ivete da Encarnação Rodrigues de Noronha, filha de Eliseu Rafael da Encarnação e de Almerinda Rodrigues Guerreiro, já falecidos.
Era casada com Manuel Palma de Noronha, deixando dois filhos e duas netas.
A Ivete que bastante sofreu fisicamente com as doenças que a atacaram foi a sepultar na sua terra natal, acompanhada de familiares e amigos.
Conhecia a Ivete há 40 anos, assisti ao seu casamento. Fazia parte com as suas irmãs da juventude de minha mulher, até porque foram criadas bem perto.
Aqui deixo as minhas sentidas condolências a toda a família.

UM CASAMENTO EM ALCOUTIM NO ANO DE 1885

No meu livro, Alcoutim, Capital do Nordeste Algarvio (…), 1985 e como explico a pág. 261, ao abordar os casamentos à antiga, ainda que possuíssemos alguns apontamentos, acabámos por transcrever um interessante artigo com o título “Velhos usos de Alcoutim” que o nosso saudoso amigo, Sr. Luís Cunha fez publicar no Jornal do Algarve de 3 de Fevereiro de 1973.

Pensávamos nós, na altura, que seria a única coisa publicada sobre o assunto e hoje sabemos que assim não é e admitimos que possa existir algo mais sobre o tema.

O Dr. Tito de Bourbon e Noronha, que refiro a pág. 32 do meu trabalho, Saúde e Assistência em Alcoutim, no séc XIX, 1993, formado em medicina pela Escola Médica do Porto, concorre e é colocado em Alcoutim em meados de 1885, onde só permaneceu um mês, mas o suficiente para se ter inteirado de muitas coisas que acabou por transpor para o papel num artigo intitulado ALCOUTIM e publicado no jornal de Vila Franca de Xira, Vida Ribatejana (meados dos anos 30).

Muitíssimo bem escrito, surpreende-me como em tão pouco tempo conseguiu apanhar tanta coisa típica da região

Com a devida vénia transcrevemos parte daquele artigo, no qual descreve primorosamente um casamento a que assistiu e que muito apreciou pelo seu ineditismo, pelo menos para ele.

Escreveu assim:


“Nem só aborrecidas atribulações passei naquele inolvidável mês da minha iniciação como médico municipal, não senhor; para desopilar o baço e o fígado tive a boa sorte de assistir a uma cerimónia que, pela sua inédita originalidade, me deixou as mais graciosas e hilariantes recordações.

Foi um casamento de serranos aborígenes. Descem a serra em direcção à vila dois cortejos separados, o do noivo e o da noiva, montados nos imprescindíveis muares engalanados à espanhola, de cores berrantes, envergando as mulheres os trajes domingueiros da região e os homens pesados capotes de três cabeções e chapéu largo de feltro.

A noiva vem entre as duas madrinhas, com toda a seriedade e compostura, olhos no chão e nas orelhas de algum animal mais recalcitrante.

Após a cerimónia religiosa são atiradas sobre os nubentes mãos cheias de trigo, símbolo da abundância, e, e retiram, caminho da serra, separados como vieram, parentes e amigos da noiva para casa dos pais desta, os do noivo para a casa respectiva, às vezes em lugares muito afastados.

Em cada uma das duas casas se celebra o banquete nupcial, tendo como peça obrigada um carneiro assado a meio da mesa e aos quatro cantos alguidares de vinho.

Bebem os comensais por tigelas, que enchem nos alguidares, sendo da praxe, para mostrar fartura, entornar-se muito líquido, de modo a que no fim da refeição a toalha mudou totalmente de cor, não tendo uma só nódoa branca. Depois, já noite, vai o cortejo do noivo para casa da consorte.

Espera esta a visita na quadra maior, sentada em uma cadeira ou canapé, ladeada das madrinhas, cobertas as três cadeiras com vistosa manta alentejana.

À volta, os convidados conservam para a ocasião, o maior recato e compostura, falas em surdina, gestos ponderados.

A meio da casa ergue-se um montão de móveis, mesas, cadeiras, bancos, tripeças, o mais avantajado possível e igualmente coberto de colchas, é o trambolho.

Ouve-se o reboliço fora e tropear de animais; é o noivo que chega.

Bate-se à porta; levanta-se, solene, uma das madrinhas e, pausadamente, se dirige à porta, e, sem abrir, pergunta:

- Quem bate, quem está aí?

E o noivo, fora, responde:

- É o António do Pereiro; está cá a senhora Maria da Cruz, a rosa de Jericó que veio, para aqui de manhã?

- Não está cá, vá procurá-la a outra parte.

- Mas como, com uma noite tão escura e tão maus os caminhos? Darão comigo as bruxas! Diga para onde ela foi.

- Foi para o pego.

A estas horas? Para lá não foi ela que é muito medrosa.

- Foi para o poço.

- Ao poço me deitava eu por ela, mas já por lá passei e não a vi.

E o diálogo continua, mandando-o a madrinha procurar a partes várias, nem todas limpas e bem cheirosas, com grande gáudio dos assistentes de dentro e de fora, até que esgotada a fantasia e a paciência do noivo, é aberta a porta e entra tudo de roldão, noivo à frente.

- Ah! lá está a minha rosa de Jericó!

E, cego de amor, investe denodadamente para diante, esbarra com o trambolho, que com grande fracasso desmorona tombando o rapaz no meio dos destroços.

Ferve ao rubro o entusiasmo; a madrinha, solenemente, ainda cede o seu lugar ao noivo e, esquecido o comedimento, começa o bailarico, que deixa a perder de vista um batuque cafreano.”

Entre estas duas descrições existem coisas comuns e naturalmente algumas diferentes, mas no seu essencial, são coincidentes. Temos que tomar em consideração que entre os casamentos a que ambos assistiram, haverá um espaço de tempo de cerca de quarenta anos o que apesar do isolamento existente, sempre teria provocado algumas alterações com ajustamento ao tempo.

O Dr. Tito de Noronha foi substituído pelo Dr. José Cunha que veio a ser o pai do Sr. Luís Cunha, autor do artigo que já referimos.


Está no nosso pensamento procurar localizar este casamento no Arquivo Distrital de Faro.

Aqui deixo estas pequenas considerações que possibilitam certamente a alguns alcoutenenses o conhecimento de tal descrição e que de outra maneira lhes seria mais difícil obter.

sábado, 25 de outubro de 2008

Chegou a Laura, Viva a Laura!


Chegou a Laura! Viva a Laura!

No passado dia 22 de Setembro resolveu aparecer vendo a luz do Mundo na cidade de Faro esta mocita com 3,3 kg e 48 cm de altura.

Esperada para mais tarde, ao saber que os seus bisavós faziam nesse dia 45 anos de casados, resolveu fazer o seu aparecimento para assim os felicitar. Se eles já não esqueciam esse dia, agora, comemoram-no duplamente.

A Laura veio engrossar o número de são-brasenses, passando a viver na Vila de São Brás de Alportel.

Depois de ter dado conhecimento do casamento de seus pais através da imprensa, dou a conhecer ao Mundo na globosfera, a sua chegada, desejando-lhe as maiores venturas e felicitando os seus babosos pais, avós e mais familiares, com um abraço muito especial para o seu tio, meu querido Amigo, Diogo que entre todos consegue ser o mais efusivo!

A Laura tem fortes e velhas raízes de um dos seus costados na freguesia de Alcoutim, mais propriamente nas Cortes Pereiras onde nasceu uma das suas bisavós.

Que o Mundo seja Bom para ti, Laurita.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Ruínas da Capela de Sta. Marta


Esta velha capelinha que é pelo menos do século XVI, encontra-se há muito em ruínas, tendo sido substituída por uma nova edificada em 1991 no monte mais próximo da estrada nacional.

A última festa em honra da Padroeira, e nesta capela, realizou-se em 1939.

Foto: J.V.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

GUARDADOR DE GADO HÁ 60 ANOS!


É localmente designado por maioral das ovelhas pois é o gado ovino a que mais se dedicou e ainda pastoreia aos sessenta e oito anos de idade, nas redondezas do monte que o viu nascer.

Viu a luz do dia em Afonso Vicente, freguesia e concelho de Alcoutim, no ano de 1940, sendo um dos cinco filhos do casal.

Dos cinco, só ele não foi à escola por razões que o têm atormentado toda a vida e não encontra explicação.

Aos sete anos, quando devia de ir para a escola, começou a guardar duas ovelhas pretas, uma branca e uma cabra, igualmente branca, e que eram do pai.

Pouco depois e no monte em que nasceu, vai guardar quatro vacas do padrinho, recebendo o pai 15$00 por mês, referente ao seu salário.

Numa ida ao mercado do Pereiro, uma residente num monte vizinho, ao fazer trajecto por Afonso Vicente, viu o moço que lhe pareceu poder ser útil e sabendo quem eram os pais, com eles falou, contratando-o para lhe guardar duas porcas parideiras. Tinha dez anos e o pai recebia 20$00 por mês.

De regresso do Pereiro, sede da freguesia mais central do concelho de Alcoutim, voltou a passar por Afonso Vicente para que o moço fosse com ela e iniciasse o trabalho para o qual já tinha idade bastante, segundo as concepções da época! Lá seguiu o mocinho com a nova patroa.

A experiência não podia ser muito gratificante. Lá partia com as duas porcas, conduzidas por uma varinha.

Como o guardador das ovelhas se tivesse despedido, passou ele a executar tal trabalho. Eram trinta as ovelhas à sua guarda. O pior era o conteúdo do taleigo, constituído por um bocado de pão, umas peles de chouriça, ou um bocado de toucinho rançoso. Em alternativa, umas azeitonas ou uma mão cheia de figos secos, alguns com bicho.

Ainda que o patrão fosse, segundo afirma, boa pessoa, o pior era a patroa que não suportava pela sua maneira de ser e pelo tratamento.

Em tal situação, escolheu a alternativa de fugir para casa dos pais aos quais afirmou que se o obrigassem a regressar, sabia o que havia de fazer.

É preciso aqui dizer que a situação do Francisco não era inédita. Nesta zona da serra algarvia, onde a pobreza dos solos era notória e as famílias numerosas um facto, não havendo possibilidades económicas de criar a prole, logo que os moços pudessem realizar alguma tarefa, sendo a mais utilizada o guardar gado, eram encaminhados para quem os concertava, recebendo o pai mensalmente determinada quantia que iria ajudar a criação dos irmãos mais novos. Era uma situação aqui considerada inteiramente normal e muitos dos que por aqui nasceram, passaram por essa situação, como ainda hoje se pode comprovar.

A patroa perdeu aquele moço que dormia no palheiro, logo arranjou outro pois, os candidatos ao “emprego” eram sempre muitos.

O regresso à casa paterna levou-o a guardador de ovelhas, no próprio monte, pois era necessário arranjar outro “patrão”.

Esteve uns tempos pelo monte guardando vacas ou porcos aqui e ali, até que um dia teve de abalar novamente e por volta dos catorze anos foi substituir na vila o irmão que lhe seguia na idade, guardando vacas. Nesta altura, o pai recebia 75$00 por mês.

Por lá se manteve cerca de dois anos e é nesta altura que perde a mãe, o que provoca a degradação da situação.

Aos dezoitos anos é concertado por um lavrador da freguesia do Espírito Santo, concelho de Mértola para maioral das ovelhas e começa ganhando, já para si, 100$00 por mês. Ali se manteve vinte e três anos, no mesmo patrão, pelo que, certamente se sentia bem. Entretanto foi melhorando as condições económicas com a criação do seu pegulhal que chegou a sessenta e seis ovelhas e três cabras, tal como o salário que era de 12 contos por ano quando deixou a casa.

É no período “Marcelista”, segundo afirma, que começa a descontar para a segurança social, mas quando chegou à idade de reforma (65 anos), não possuía os descontos que afirmava que lhe tinham feito, eque acabaram por não entrar onde deviam. Ao ser verdade esta situação e não tenho razões para pensar o contrário, alguém se aproveitou do seu analfabetismo e principalmente da confiança depositada.

Infelizmente isto não aconteceu só nesta área, aconteceu igualmente no comércio e na indústria e até em autarquias locais. Tenho conhecimento de várias situações, algumas badaladas na imprensa diária. Isto tem a ver com as pessoas e não com as áreas de acção.

Ainda hoje, aquele monte, que foi muito habitado e hoje está quase deserto, tem para ele um sentido especial.

Dentro da mesma freguesia, arranja novo patrão onde se manteve seis anos e começa a vencer 35 contos ano e comer.

Desentende-se com ele (1987) e vai exercer a sua profissão para a zona de Moura, Serpa e Vidigueira. Vence 23 contos mês e levam-lhe uma casa onde dorme, que o patrão desloca conforme a necessidade de pastagem. Guardava entre 400 – 500 ovelhas e mantém-se aqui três anos.

Em 1990 regressa ao anterior patrão, que tinha abandonado por um desaguisado, (vencendo 25 contos mensais) mantendo-se aqui até 2002, altura em que resolve regressar ao monte onde nasceu com o seu pegulhal, dizendo que agora não trabalhava para mais ninguém, por dinheiro nenhum. Estava farto de sofrer por esses xarazes!

Depois disso várias pessoas dele se abeiraram para com ofertas tentadores procurarem levá-lo para a vida que bem conhece. A todos resistiu devido à experiência acumulada.

Quantas noites de temporal passou deitado em cima da parede de um curral protegido por um plástico, para assim evitar a água proveniente da chuva que caía ininterruptamente!

Dias e dias seguidos passados atrás dos rebanhos sem regressar ao ponto de partida, alimentando-se do pouco que levava e sempre a mesma coisa, afastado de qualquer local onde pudesse adquirir qualquer alimento!

Dias e dias sem ver ninguém!

A única ligação afectiva era com os cães que o acompanhavam, fiéis servidores de uma dedicação sem limites e com quem repartia o pecúlio e carinhos!

Nunca o deixaram brincar em criança, hoje brinca com os guias do rebanho que o conhecem muito bem e se prestam às brincadeiras, entre as quais consta o medir forças! É interessante ver a relação de amizade que tem com os cães que frequentemente lhe pedem festas que prontamente satisfaz.

De toda a vida de pastor, o pior que lhe acontece é quando, por dever de ofício, tem de espetar a faca para matar alguma cabeça do seu rebanho! Zanga-se com elas, chama-lhe muito nomes (ah ovelha de um cabrão!), atira-lhe pedras, dá-lhes pauladas, mas custa-lhe muito ter de matá-las, o que raramente acontece. Rejeita igualmente comer a sua carne ou fá-lo com muita dificuldade!

Este homem praticamente nunca tem um dia livre! Os animais necessitam de comer todos os dias.

Pela amizade que lhe dedico tenho tentado convencê-lo a vender o rebanho que lhe dá muito trabalho, ocupando-lhe o dia e a noite e até porque a saúde é precária. –Fique com meia dúzia de cabeças para matar o vício e descanse alguma coisa depois de tantos e tantos anos de trabalho de grande dureza. Assiste-lhe esse direito! O que tem é pouco mas chega-lhe perfeitamente, já que sempre viveu com pouco. Não o consigo convencer, aquela foi e será sempre a sua vida!

Comprou umas casinhas na sua terra natal, mandou-as arranjar, mobilar e tem o indispensável para viver. Gosta muito de ver televisão, tem máquina de lavar, frigorífico, esquentador, etc. Regressa todos os dias a casa.

Vive com um irmão que é igualmente solteiro e está reformado.

Este homem que passou uma vida repleta de desumanidades, seria considerado numa situação de risco para a prática de atitudes menos correctas e que por aí proliferam. É precisamente o contrário, um coração bondoso e sempre disposto a auxiliar quem dele precise, preocupa-se mais com os outros que o rodeiam do que com ele.

É incapaz de ofender alguém, só o fará involuntariamente.

Apesar de tudo, tem ainda boa memória.

Em sua casa está sempre posta a mesa para quem chega. É lá que se juntam as poucas pessoas do monte.

Francisco André, um homem que passou uma vida duríssima, e contrariando o que os técnicos dizem muitas vezes, fez desenvolver em si o sentido humanitário!

Este texto antes de ser publicado foi lido ao protagonista da vida real para o poder confirmar, o que naturalmente fez.

MOIRAL CHICO, VENDA AS OVELHAS E DESCANSE QUE BEM MERECE.

sábado, 18 de outubro de 2008

Quem salva a secular Capela de Sto. António, na Vila de Alcoutim?




(Foi publicado no Jornal do Algarve de 18 de Maio de 1984)

Nota Prévia
Este artigo, escrito para a imprensa regional há vinte e quatro anos e que trago agora a este blogue, é só um de alguns que tenho escrito em defesa da pequena vila raiana e realizado ao longo de quarenta anos. O José Varzeano foi, é e será sempre um crítico daquilo que pensa que está errado. As minhas críticas não são de agora, são de sempre.

Foi com um título igual, mas referente à Capela de Nossa Senhora da Conceição, que em 4 de Maio de 1974, neste periódico, tentámos alertar a opinião pública e a dos responsáveis, para a ruína que se aproximava.

Ainda que desse escrito não tivesse resultado nada de palpável, talvez o “bicho que morde a consciência” germinasse.

É-me grato referir, hoje, que a Capela de Nossa Senhora da Conceição, se não foi recuperada totalmente, sofreu obras de beneficiação que evitaram a prevista ruína. A Edilidade, salvou a honra a tempo.

Dizíamos então nesse “escrito” e à guisa de introdução, entre outros assuntos, o seguinte: “Fala-se com frequência no derrube da Capela de Santo António, fronteira à residência que a tradição aponta como tendo sido condal…”.

Já em 22 de Setembro de 1973, e continuo a citar este jornal paladino do Algarve, o nosso saudoso amigo, Luís Cunha, por nós alertado, procura defender de ataque vândalo, a Igreja da Misericórdia. Tudo em vão.

Apesar de nos encontrarmos a algumas centenas de quilómetros, chegam-nos vozes “certeiras” do breve derrube daquela velhinha capela, sem ser necessária a habitual expropriação, já que, segundo consta, o “proprietário” satisfaz-se com a construção de uma nova, noutro local.

É velha a ambição de alguns mostrarem ao forasteiro, o que não lhes pertence: a alva Sanlúcar do Guadiana. Mas existem maravilhosos miradouros naturais que têm como fundo aquela povoação do país vizinho! Lembramos, por exemplo, o do Cerro da Castanha onde se situa o posto retransmissor da RTP, para o qual só falta acesso, se mais não fosse possível fazer.

Situada na parte baixa da vila, junto do Guadiana, além de servir para o que foi erguida, tem sido utilizada para tudo, desde escola, no século passado, a arrecadação nos nossos dias, passando por casa mortuária.

Consideramo-la, principalmente pela sua singeleza, um ex-libris da vila.

Se se pretende puxar o turismo do litoral como parece, para a serra-ribeirinha, são necessários, sem dúvida, empreendimentos como alguns que estão em curso, mas é indispensável conservar, melhorar sem desvirtuar, o pouco que a vila oferece e de que a igrejinha faz parte integrante. Bem basta o que tem sido feito, impossível de reparar!

Se é conveniente tornar o local mais airoso e amplo, derrubem a antiga escola, ainda que seja uma boa construção, mas não matem a velha capelinha. Quando muito, limpem-lhe a sacristia, um pouco desfasada. Embelezem o local, ajardinem-no, transfiram para lá o “busto”do Dr. João Francisco Dias, mas tomem em consideração e como ponto fulcral a Capela de Santo António.

Piquem e reboquem as paredes, reparem o telhado mantendo a velha telha, se o óculo for de pedra e constituir uma peça única, como pensamos, limpem-no das camadas de cal que os anos têm sobreposto. Mantenham o interior. Só precisa de cal. Não toquem no solo ladrilhado. Se assim fizerem, no conjunto terão a peça de maior valor e … Sanlúcar continua a ver-se.

Com a ponte sobre a ribeira de Cadavais (ou de São Marcos) e estando a vila a projectar-se para o lado de lá, não destruam o pouco que existe na parte velha (bem basta o que já foi feito!) e invistam na vila nova.

Esperemos que o bom senso evite mais uma catástrofe e a Capelinha de Santo António se mantenha de pé por muitos e muitos anos, como ex-libris da vila.
Os vindouros julgarão.

N.B.
O Jornal do Algarve de 1 de Junho seguinte, traz a seguinte notícia:
Na Rádio Renascença, o “Apontamento do Dia” do Jornal das Regiões”, de 24 do mês findo foi exclusivamente dedicado ao artigo que recentemente publicámos do nosso prezado colaborador, José Varzeano, com o título “Quem salva a secular Capela de Santo António na vila de Alcoutim?”.


Por outros dados que vim a obter, estou convicto que o meu escrito acabou por ajudar a salvar a capelinha, hoje recuperada e que constitui um ex-libris da pequena vila do Guadiana.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Como era o Entrudo nas Cortes Pereiras há 75 anos


Para
Maria Antónia.

Como já tivemos ocasião de escrever em várias ocasiões, o Entrudo ou Carnaval foi a época festiva por excelência de toda a Serra Algarvia.

Ninguém trabalhava e quem semeasse nessa altura já sabia que não colhia nada pois era comida para os ratos que dela davam conta, era a afirmação dos velhos sabedores destas coisas e que se impunha.

Pela manhã comia-se uma fritada proveniente do porco morto em Dezembro e como era tradicional feita em manteiga, como aqui ainda se chama à banha.

Por volta das duas horas, comia-se o galo, que se tinha guardado com esse fim, de cabidela ou guisado com batatas.


Quem não tinha o galo de Entrudo, matava uma galinha de que faziam canja e cerejavam (1) a carne, isto é, depois de cozida e partida, passavam-na por uma frigideira com banha ou azeite, tostando-a.

Para a noite estava destinado o grão cozido com pé de porco, na panela de barro e em lume brando. Havia que ter o cuidado de pôr uma pedra a ela encostada para evitar que tombasse e a comida se entornasse. Conta-nos a nossa informadora que, segundo a avó dizia, uma panela sem pedra, é uma panela de merda!
Outros optavam pela couve cozida no mesmo recipiente com chouriça e toucinho.

As filhós de canudo, passadas por mel, já estavam feitas e constituíam o doce apetecido.

A solidariedade neste período de festa era igualmente uma tradição manifestada na ajuda a quem não tinha. Levavam-se aos mais necessitados uma chouricinha e um bocado de toucinho e o pouco de cada um junto a outros, proporcionava igualmente nesses dias uma mesa melhor.

A nível de folguedo, mascaravam-se em grupos que percorriam as casas do monte e onde pretendiam não ser conhecidos, o que algumas vezes acontecia, pois os visitados diziam que o farranchão (2) era um e afinal era outro.

Para se mascararem procuravam muitas vezes roupas antigas que estavam guardadas nas velhas arcas de castanho e que só nesses dias saíam.

O baile de Entrudo, há sessenta ou setenta anos, tinha lugar na Eirinha, o sítio mais adequado e até porque, quando chegava à noite e o frio apertava, passava-se ao salão do comerciante que ficava em frente, José Martins.



Começando por serem bailes de roda ao som dos cantares que passaram de geração em geração, introduziram-lhe primeiro a gaitinha de beiços e depois o fole ou concertina, passando depois aos pares “agarrados”

Cantava-se e dançava-se, pulando toda a noite!

Enquanto os moços dos montes vizinhos deixavam por vezes a folia local e enquadravam-se nesta, as moças não arredavam pé dos seus montes, organizando os bailaricos e tentando cativar os jovens de fora.

Na Quarta-Feira de Cinzas, era o enterro do Entrudo, com o defunto no esquife e o chorar lamuriento com grande alarido, como convinha, de farranchões e farranchonas.

Depois, até para o ano, eram os votos formulados.

Seguia-se o merecido descanso, dormia-se até se recuperarem as forças, pois o trabalho que tinha ficado por fazer, urgia.

O Monte do Vascão, ainda que pequeno, tinha um bom grupo de moças que se organizavam bem, disputando os moços das redondezas.


NOTAS

(1) Vide Dicionário do Falar Algarvio, Eduardo Brazão Gonçalves, Algarve em Foco, Editora, 1996, p. 66.
(2) – Alcoutim, Capital do Nordeste Algarvio, Subsídios para uma monografia, António Miguel Ascensão Nunes (José Varzeano), 1985, p. 277.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Tavira - Memórias de uma cidade



TAVIRA, Memórias de uma Cidade, é um excelente trabalho de 350 páginas A/4 dividido em duas partes, a primeira constitui uma cronologia da História de Tavira que começa antes do Século XIII e chega aos nossos dias, a segunda um Dicionário Enciclopédico da História de Tavira.

Deviam ter sido muitas e muitas horas, durante anos que o autor ocupou na compilação destes dados, profusamente ilustrados.

É um trabalho profundamente abrangente abordando variadíssimos parâmetros que o autor, Ofir Renato Chagas, deixa como presente à cidade que o viu nascer.

Em edição do autor veio a público em Dezembro de 2004, mas só em 2006 tive oportunidade de o adquirir na cidade de Tavira, em cuja livraria encontro sempre algo para comprar.

Já possuía outros trabalhos do autor.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Arminda Maria Alho

Finou-se no passado dia 9 em Alcoutim, sendo sepultada no cemitério local, a Sra. Arminda Maria Alho, natural da freguesia de Giões, do mesmo concelho e que contava setenta e três anos de idade.

A finada, que era viúva de Manuel Agostinho Fernandes, deixou três filhos, vários netos e bisnetos.

Daqui deixamos as nossas condolências aos seus familiares, em especial ao seu filho Fernando.

A comadre Arminda realizou o trajecto que todos temos que fazer.

sábado, 11 de outubro de 2008

Lembrando os verdes anos

Escreve:

José Miguel Nunes

Tendo sido eu possivelmente um dos principais responsáveis pela entrada do meu pai neste mundo das novas tecnologias, ou se preferirem, das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC), primeiro no uso do computador como ferramenta indispensável para os seus escritos, e agora mais recentemente com a ligação ao mundo, através da Internet, não poderia deixar também de participar nesta nova aventura que é o seu blog.
Outra das razões, e esta muito mais sentimental, é bastante simples de explicar: atender a um seu pedido, já lá vão os tempos em que quase fazia questão de não o fazer, hoje faço todos os possíveis para corresponder o melhor possível àquilo que me pede, será possivelmente o peso dos anos a fazerem alguma diferença.

Tenho então de escrever qualquer coisa que se relacione com Alcoutim. Não é tarefa fácil, pois apesar de falar quase diariamente sobre Alcoutim, há cerca de uma década que lá não vou. Corro ainda o risco de escrever uma série de coisas que pouco ou nada interessarão a quem eventualmente as vier a ler, mas como em tudo aquilo que escrevo, o importante é que o faça com prazer, e este texto, acreditem, é sem duvida um dos que mais prazer me está a dar, pois será publicado no blog do meu pai.


Há poucos dias recebi uma visita inesperada: A Belinha e o Carlos tinham vindo a Peniche propositadamente para conhecerem a minha filha, que já tem quase dois anos e meio. Estava no meu local de trabalho quando recebi um telefonema do meu pai a dizer que eles lá estavam em casa. Claro que consegui um tempinho para os ir cumprimentar. Ao chegar, e depois dos cumprimentos do costume, tive oportunidade de reparar nos olhos ligeiramente aguados da Belinha, reacção própria de alguém que estava emocionada por rever um amigo há tantos anos ‘desaparecido’.

Fui criado com a Belinha, fui o seu bebé, fui o seu brinquedo, fui se calhar também o seu irmãozinho mais novo. Fui criado pela avó da Belinha.

Nessa noite, quando me fui deitar, o meu pensamento estava nostalgicamente ocupado por Alcoutim. Recordei o dia em que tive de me vir embora da única terra que conhecia, da minha terra, para vir morar a mais de 300 km de distância. Tinha oito anos, chorei, chorei muito, não me queria vir embora de Alcoutim.

A visita da Belinha fez-me recordar uma pessoa de que gosto como se fosse família, e que nunca irei esquecer, a “Ti” Angelina. Sempre ouvi o meu pai dizer que quando era bebé, se a “Ti” Angelina estivesse por perto, era para ela que eu queria ir e para mais ninguém.

A visita da Belinha fez-me recordar o Zezinho, não o Zezinho em si, pois era muito miúdo quando ele faleceu, mas a sua fotografia, sempre presente na parede da sala da casa da “Ti” Angelina, a primeira casa que eu visitava quando chegava de férias a Alcoutim, e a última quando tinha de me vir embora. A despedida terminava invariavelmente com a frase: “para o ano já cá não estou para te ver”, até que um ano foi mesmo o último. Tenho pena de a “Ti” Angelina não ter conhecido a minha filha, seria mais uma bisneta, pois para mim a “Ti” Angelina era uma avó, e eu possivelmente para ela seria também mais um neto.

A visita da Belinha fez-me lembrar do Jorge e do Luís Canelas, que moravam ao pé da casa dos meus avós, e eram os meus companheiros de brincadeira. Fez-me lembrar do Mica (Amílcar), que morando cá mais para baixo, não deixava também de se juntar a nós nas descidas de carrinho pela rua da barbearia abaixo, e que não raras as vezes provocaram uns valentes arranhões quando se perdia o controlo da máquina. Recordei o Zé António, que no seu jeito muito particular sempre foi muito meu amigo, aliás, ainda hoje não há dia em que o meu pai se desloque a Alcoutim que ele não pergunte por mim, e repita sempre: “então esse ‘gajo’ nunca mais cá vem, já se esqueceu disto?”.

A visita da Belinha fez-me lembrar do Sr. João Ricardo da barbearia, onde eu ia ter com o meu avô para o ver jogar às cartas, fez-me lembrar do Sr. Reganha e do Sr. Felício, Guardas-republicanos, que se metiam sempre comigo quando ia ter com o meu pai à tesouraria.

A visita da Belinha fez-me recordar muito mais coisas sobre Alcoutim, mas acima de tudo fez despertar em mim o sentimento de ser Alcoutenejo, não de nascença, mas de coração, de ser aí que tenho as minhas raízes, de ser aí que a minha filha tem as suas raízes, de como o meu pai uma vez escreveu ao me dedicar o seu primeiro livro: “… onde pulula o sangue alcoutenejo”.

Frequentemente digo e escrevo, que sou penicheiro do coração, pois é em Peniche que vivo quase há três décadas, foi onde cresci e me tornei homem, mas Alcoutim também está no meu coração, talvez tenha sido por isso que fiz questão, que na minha capa de estudante figurasse o emblema de Alcoutim, juntamente com os de Peniche e de Loulé, terra onde por acaso nasci.

Obrigado pela visita.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Sepultura tardo-romana


A quando da abertura da designada estrada marginal, no sítio de Vale de Condes,próximo do Guadiana, apareceram várias sepulturas, de que esta é um exemplo, que foram estudadas em fins de 1996 e classificadas de Tardo-Romanas, provavelmente dos séculos V/VI.

Desconheço se foi publicado algum trabalho sobre o assunto.

Foto J.V.-1992

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

João Possidónio Guerreiro

Voltamos hoje a mais um alcoutenense, mais propriamente a um martim-longuense pois teria nascido nesta freguesia do concelho em 9 de Janeiro de 1855. (1)

Na posse deste dado, dirigi-me ao Arquivo Distrital de Faro para consultar o respectivo assento de baptismo que não encontrei. Sem pôr em dúvida que tivesse nascido naquela freguesia, admito que tivesse sido baptizado em qualquer outro templo, pertencente a outra paróquia, quem sabe, em Tavira, pois foi nesta cidade que se veio a fixar.

O interesse na consulta do documento estava principalmente em identificar os seus ascendentes.

É interessante verificar que num assento de baptismo de 2 de Maio de 1860, é padrinho de uma criança do sexo feminino nascida no monte do Azinhal, um João Possidónio Marques, casado, farmacêutico e morador em Martim Longo. (2)

Pensamos que o apelido de Possidónio e a profissão comum, para não falar no nome próprio, por serem pouco vulgares, sugere-nos alguma ligação.

(Igreja Matriz de Martim Longo - 2007)
João Possidónio Guerreiro, estabeleceu-se, na sua especialidade em Tavira, tendo casado em 4 de Dezembro de 1884 com D. Eliza da Cruz Vizeto, filha de José Bernardo Vizeto e de D. Maria do Carmo da Cruz.
Possivelmente por influência de seu sogro, que foi diversas vezes administrador do concelho e Presidente da Câmara de 1879 a 1881, filiou-se no Partido Regenerador.

Em 1889 é eleito vereador na Câmara e pouco depois assume a Presidência da mesma. De 1896 a 1901 é Presidente da Câmara, funções que volta a desempenhar de 1905 a 1907. Exercia o cargo quando o rei D. Carlos e a rainha D. Amélia visitaram Tavira. (3)

Com a implantação da República, Possidónio Guerreiro não abandonou a política e inscreve-se no Partido Democrático e por ele é eleito membro do Senado da Câmara em finais de 1913. (4)

Faleceu em Tavira a 15 de Maio de 1915, por isso com 60 anos de idade.

Dos filhos que deixou, ninguém seguiu, segundo Arnaldo Anica, o seu trilho político.


NOTAS
(1)– http://genealogia.netopia.pt em 29.06.2008
(2) – Livro de Baptismos, nº 3, de Freguesia de Martim Longo, 1860, assento nº 27.
(3) – Tavira, Memórias de uma cidade, Ofir Chagas, 2004, pág. 226.
(4) – “Os Vizetos na Administração Local e na Indústria Pesqueira”, Arnaldo Anica in Jornal do Algarve de 27 de Maio de 1993.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Dr. José Cunha - 40 anos ao serviço dos alcoutenejos



(Publicado no Jornal do Baixo Guadiana nº 100, de Agosto de 2008, Pág. 23)
O Partido Médico de Alcoutim é criado por D. João VI, pedido formulado pela Câmara da Vila de Alcoutim pois para os seus problemas de saúde mandavam buscar auxílios à distância de quatro e mais léguas e às vezes os pobres pereciam ao desamparo.

O despacho do Desembargo do Paço é de 15 de Abril de 1818 e a Provisão foi registada na Câmara de Alcoutim em 15 de Junho do ano seguinte. A quantia destinada para o efeito foi de cento e cinquenta mil réis.

Na mesma altura e como complementaridade é criado um Partido de Boticário com direito a trinta mil réis.

A vila de Mértola já possuía PARTIDO pelo menos desde 1807, por isso uns bons anos antes. (1)

Até 1836 não temos conhecimento da existência de médico, estando o lugar vago, recorreu a Câmara a um ajuste com o médico espanhol, Dr. Jacinto Chapella, por cem mil réis, para que dê assistência às populações.

Em 1842 é o francês, Dr. Pedro Faure (2) que assume com a Câmara um contrato anual de cem mil réis, servindo a população, tendo mais tarde recusado naturalizar-se. Durante este período, dois médicos portugueses, o Dr. Abel da Cunha, formado pela Universidade de Coimbra e o Dr. Luiz Serrão pretenderam exercer as suas funções neste concelho mas não tomaram posse ou abandonaram-no de imediato.

Entretanto mais um médico espanhol assegura, por algum tempo, a assistência às populações, mas acaba por não cumprir o contratado, trata-se do Dr. João Carvalho Diaz.

Em 1857 já recebia 130$000 réis anuais e os habitantes da vila em sessão municipal procuram que a importância seja elevada a 200$000 pois consideram só assim haver possibilidades de ter um médico que ocupasse o Partido.

Em 1858 é novamente um espanhol, o Dr. Miguel Perez Ortega, residente nesta vila, a ocupar-se da saúde pública do concelho, vencendo os cento e trinta mil réis anuais.

Depois da importância a vencer passar para 250$000 e depois para 300$000, o lugar continuava sem concorrentes. Em sessão de Câmara de 20 de Setembro de 1865 é resolvido aumentá-lo para 400$000 réis, mesmo assim, só quatro anos passados aparece o médico Dr. José Maria Alves Cardoso, que vindo de Vila Real de Santo António aqui permanece cerca de nove anos, acabando por se transferir para Castro Verde.

Em 1882 mais dois médicos se candidatam mas nenhum acaba por tomar posse e o lugar veio a ser ocupado pelo Dr. Júlio César de Cayres Camacho, cirurgião médico pela Escola Médica do Funchal, curso que concluiu em 1879, tomando posse em 2 de Outubro de 1882 e não chegando a completar dois anos de trabalho no concelho.

Em 1885 aparece a concorrer um jovem médico, acabado de formar pela Escola Médico-Cirúrgica do Porto, o Dr. Tito de Bourbon e Noronha que após um mês de serviço, pede a exoneração do cargo em 3.de Setembro de.1885.

Só sete anos depois o lugar volta a ser ocupado e desta vez pelo Dr. José Pedro Cunha, com o curso da Escola Médica do Funchal, concluído em 1889. (3)

(Cidade do Funchal da época)

É nomeado por alvará de 10 de Outubro de 1892, do Presidente da Câmara, Comendador Manuel da Palma, iniciando funções em 10 de Novembro seguinte.

No dia 24 é proposta a sua nomeação para o lugar de Subdelegado de Saúde do concelho. (4)

Antes de exerceu este lugar, o Dr. Cunha, segundo informação de uma das suas filhas, foi médico a bordo da embarcação “Vega”.

A Comissão Administrativa Republicana da Câmara, e “devido ao estado financeiro lastimável em que se encontra o cofre municipal, resolve reduzir-lhe o vencimento, tal como ao farmacêutico. (5)

Tratando-se de uma ilegalidade, veio a ser reintegrado em 25 de Maio de 1911 e abonado desde a data da demissão ilegal. (6)

Em 1918 sendo o único médico em todo o concelho e fazendo-se sentir a acção da “pneumónica”, veio a ser auxiliado por um quintanista de medicina que de Loulé se deslocou para aqui.

Os números oficiais de mortes causados pela epidemia, são relativamente reduzidos mas na realidade pensa-se que foram muito maiores. O isolamento e a falta de técnicos para o diagnóstico fez-se sentir neste aspecto. A primeira vítima ocorreu na vila em 23 de Outubro de 1918 e foi um padre de trinta e nove anos. (7) Este facto, agora confirmado foi-me referido pela filha mais velha do Dr. Cunha, D. Conceição Maria.

Casou com uma senhora aqui radicada e a solicitação de familiares residentes na Pérola do Atlântico, fixa-se com toda a família na vila de Santana onde passa a exercer também funções municipais (1925).

Devido à falta de adaptação da esposa, dois anos depois regressa a Alcoutim onde ainda não tinha sido exonerado nem demitido.

O vereador da Comissão Administrativa da Câmara Municipal, José Teixeira, propõe e é aprovado por unanimidade que o Dr. Cunha reassuma as suas funções tendo em vista que durante o larguíssimo número de anos que exerceu a sua profissão neste concelho, conseguiu obter pelos seus serviços e cuidados com os doentes a maior das simpatias e estima de todos, que reclamam a sua permanência como facultativo. (8)

À sua habilidade de parteiro se ficou devendo muitas vidas de alcoutenenses de então. O primeiro parto que efectuou aqui foi o do nascimento de D. Belmira Lopes Teixeira, segundo a própria nos revelou.

Em 1931 e devido à sua idade, o vice-presidente da Câmara, José Francisco Ginja, de Martim Longo, propõe à Câmara a criação de um novo partido médico, mas para isso seria necessário o lançamento do imposto de prestação de trabalho. (9)

Para resolver a situação, a Câmara Municipal consegue que por despacho de 25 de Junho de 1932, do Ministro do Interior, autorização para nomear provisoriamente um médico, com carácter interino, para desempenhar as funções de facultativo até à aposentação do titular, lugar que vem a ser ocupado pelo Dr. João Francisco Dias.

O Dr. José Pedro Cunha aposentou-se em 1934 por limite de idade, com cerca de quarenta anos de serviço no concelho.

Homem extremamente habilidoso e de grande sensibilidade, desenvolveu actividade teatral organizando récitas e ensaiando peças, algumas da sua autoria, no Teatro Recreativo Alcoutinense.

(Edifício onde funcionou o teatro)

Pertenceu à Comissão que edificou as antigas escolas de ensino primário, parte em tempos ocupada pelo Grupo Desportivo de Alcoutim.

Foi pedra influente na criação da Cooperativa Alcoutinense, de que foi presidente.

Natural da freguesia da Sé da cidade do Funchal, onde nasceu a 1 de Agosto de 1864, faleceu em Alcoutim a 11 de Março de 1943 e jaz no cemitério local.

Deixou três filhos e três filhas, tendo estas vivido e falecido em Alcoutim.

(Casa onde faleceu o Dr. Cunha)

Recordar este Homem que durante cerca de quarenta anos deu todo o seu esforço e saber na área da medicina e não só, à população do concelho de Alcoutim, sua terra de adopção e dá-lo a conhecer aos alcoutenejos mais jovens representa a nossa simples homenagem.

NOTAS

(1) - Saúde e Assistência em Alcoutim no séc. XIX, José Varzeano, 1993. Pág.6
(2) - Residia em Portugal desde 1825 e parece-nos tratar-se de um mercenário. Aprovado em medicina e cirurgia em França, fez a sua equiparação em Portugal.
(3) - A Antiga Escola Médico-Cirúrgica do Funchal, P. Fernando Augusto Silva, Funchal, 1945, pág. 43.
(4) - Of. Nº 140 de 24 de Novembro de 1892 ao Governador Civil de Faro.
(5) - Acta da Sessão da Câmara Municipal de Alcoutim de 10 de Novembro de 1910.
(6) - Acta da Sessão da Câmara Municipal de Alcoutim de 31 de Julho de 1917.
(7) - A pneumónica no Algarve ,Paulo Girão, Caleidoscópio, Novembro de 2003.
(8) - Acta da Sessão da Câmara Municipal de Alcoutim de 28 de Maio de 1927
(9) - Acta da Sessão da Câmara Municipal de Alcoutim de 29 de Outubro de 1931.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Zorrinhos, "montes" na cumeada do Pereirão


Vamos hoje procurar os montes dos Zorrinhos, freguesia de Martim Longo e situados no planalto do Pereirão.

Deixámos o Pessegueiro seguindo pela mesma estrada que começa a descer. Nas redondezas notam-se caminhos rurais indispensáveis aos seus moradores para se deslocarem ás propriedades.

A azinheira domina os campos. Agora subimos e percorremos uma recta em vários planos. Ao fundo vislumbramos algumas casas. Voltamos a subir e encontramos uma curva à esquerda. Sinalização sobre a possível presença de gado.

Uma placa indica-nos à esquerda os Zorrinhos. Estes designados de Cima devido à sua posição geográfica. É um monte pequeno. Anotámos a existência de uma vacaria com ordenha mecânica e uma nova habitação cuja construção nada tem a ver com o tipismo da povoação. Nas poucas casas existentes, já imperam as portas e janelas de alumínio.

O edifício da escola do ensino primário, que recebia as crianças das redondezas, quando as havia, encontra-se encerrado por falta de alunos desde 1988. (1) Estava em mau estado de conservação.

Os Zorrinhos de Cima ficam a cerca de 3 km do Pessegueiro.

Voltámos à estrada que atravessamos para ir ao encontro dos Zorrinhos de Baixo, um pouco mais afastados da estrada do que o seu homónimo, talvez mil metros.

Situa-se num plano e à sua volta os terrenos estavam limpos e aproveitados.

A energia eléctrica só chegou em 1983 (2) e a distribuição de água por fontanários concluída em 1989. (3) No mesmo ano foi adjudicada a obra de pavimentação dos arruamentos que se encontravam concluídos em 1991, já que foram muitos os montes contemplados. (4)

A notícia mais antiga de que temos conhecimento sobres estes “montes” é a que nos fornece as “Memórias Paroquiais”, Vol. 22, nº 69, pág.441, de 1758, em que o pároco de Martim Longo, ao responder ao ponto 6 do questionário, escreveu “ … Montes dos Zorrinhos = e são três deste mesmo nome, referindo seguidamente o Monte da Casa Nova, que se lhe segue pela ordem natural.

Enquanto hoje só nos referimos a dois, o de Cima e o de Baixo, nessa altura existiria outro,(do Meio?) certamente constituído por um ou dois fogos que teriam desaparecido ou que foram aglutinados por qualquer um dos outros.

Temos alguns dados populacionais. Em 1911 são-lhe atribuídos 37 habitantes, que em 1940 passaram para 48, mas vinte anos depois tinha descido para 40. Em 1970 os Zorrinhos de Cima tinham 26 habitantes, mais seis que os de Baixo. Em 1981 somavam os dois 33 (5) e em 1991 eram 26 os habitantes e um total de doze edifícios.(6)

Hoje, pensamos que serão bem menos, tomando em consideração a desertificação, cada vez em ritmo mais acelerado.

Rusticamente a zona foi dominada pela Herdade dos Zorrinhos que fazia parte do património dos Condes de Alcoutim, passando depois para a Casa do Infantado e que o liberalismo alienou, sendo o foro remido em 1859 por José Gonçalves e no valor de 263$592 réis. (7)

Pensamos que esta herdade, como aconteceu com outras no concelho, teria dado origem à pequena povoação.

José da Costa Afonso, deste monte, exerceu vários lugares a nível político- administrativo no concelho, sendo Juiz de Paz em 1847 e vereador fiscal da Câmara, pelo menos em 1850.

Deixámos para o fim o topónimo que em nossa opinião oferece algumas explicações.

Zorro é substantivo masculino de origem castelhana. O feminino é nome popular dado usualmente à raposa (8) com um sentido de matreira, manhosa.

De Zorra ou Zorro, resultaram Zorral (local abundante em raposas), Zorreira (cova ou ninho de raposa) e Zorrinho, seu diminutivo. Todos estes termos existem na toponímia portuguesa, de uma maneira geral ao sul do país, no Alentejo e no Algarve. Se encontrámos onze vezes zorra como topónimo, zorrinhos (como povoação), só existe o da freguesia de Martim Longo, segundo o Novo Dicionário Corográfico de Portugal, de A.C. Amaral Frazão.

Zorro pode também significar filho bastardo ou de pai incógnito, podendo ser considerada uma razão para a sua explicação.

Como quase sempre acontece, falta o facto histórico para a cimentar.

Ainda que o termo tenha outros significados, pensamos que o primeiro indicado é o que mais se ajusta à situação.

Se a escrita fosse Zurrinhos, como vimos escrito no Plano Director Municipal de Alcoutim, a explicação seria diferente já que teria por base zurro, acto de zurrar, voz de burro. Pensamos que o foi que por mero erro ortográfico, desconhecendo se entretanto foi corrigido. (9)

E termino dizendo que é nos Zorrinhos de Cima que vive uma das cinco crianças registadas no concelho durante o ano de 2007! (10) O casal merecia um prémio.

NOTAS

(1) Boletim Municipal nº 4, de Abril de /89
(2) Jornal do Algarve de 20 de Janeiro de 1984
(3) Boletim Municipal nº 5 de Setembro de/89.
(4) Boletim Municipal nº 9 de Dezembro de/91.
(5) Os Montes do Nordeste Algarvio, Cristiana Bastos, pág. 74, Lisboa, 1993.
(6) Censo Populacional de 1991
(7) Livro de Registo de Rendas dos Prédios e Juros de Capitais Pertencentes à Fazenda Nacional no concelho de Alcoutim, termo de abertura de 13.03.1867.
(8) Dicionário do Falar Algarvio, Eduardo Brazão Gonçalves, 2ª Edição - Algarve em Foco.
(9) Diário da República, nº 285, 1ª Série B, de 12 de Dezembro de 1995, pág. 7760.
(10)"Alcoutim, Crianças contam-se pelos dedos da mão", Mário Lino, in Expresso de 20 de Setembro de 2008, primeiro caderno, pág. 21

sábado, 4 de outubro de 2008

A Medicina na Voz do Povo


A Medicina na Voz do Povo, de Carlos Barreira da Costa, é uma interessante recolha feita durante 30 anos, pelo médico otorrino que agora as passa a livro.

Histórias, crenças e vários dizeres aqui são contados com graça, embelezadas por uma escrita escorreita e atraente.

As 142 páginas de bom papel interessantemente ilustradas e divididas por temáticas, constituem o livro editado pelo Circulo Médico.

Foi uma oferta do meu Bom Amigo Dr. Luís de Menezes, médico que exerce a sua profissão em vários departamentos na cidade de Lisboa. Aqui fica o meu agradecimento.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Álvaro Castro Fernandes

PEQUENA NOTA INTRODUTÓRIA

Esta rubrica esteve pensada desde o início do blogue, esperando pela colaboração que agora chegou e que consequentemente origina a sua activação.

Continuando a respeitar o título de ALCOUTIM LIVRE, a sua ocupação pretende-se que seja feita com assuntos sobre Alcoutim ou de concelhos do Baixo Guadiana e excepcionalmente de um âmbito mais alargado.

Estilos diferentes de escrita, de abordagem, de opinião, pensamos que poderão tornar este blogue mais “rico” se porventura alguma riqueza tem – uma terá certamente, a da VONTADE DE TORNAR ESTE CONCELHO MAIS CONHECIDO, sem cedências ou comprometimentos com quem quer que seja. O suborno, por mais subtil que seja, aqui não entra. Mas entra em muitas casas e instituições por esse país fora. Quem não ouviu o Bastonário dos Advogados!

Todos os visitantes poderão colaborar nesta rubrica, alcoutenejos ou não desde que enviem a documentação para o meu e-mail indicado no blogue.

Naturalmente assiste-me o direito de não publicar textos ofensivos a quem quer que seja e de carácter semelhante, que estou certo não aparecerão.

Diga coisas, faça um pequeno (ou grande) texto e envie. A sua opinião, os seus conhecimentos são importantes e ajudarão a conhecer melhor ALCOUTIM.



RECORDANDO UM ALCOUTENEJO AMIGO

Escreve Gaspar Santos (*)


Fomos vizinhos, companheiros de escola primária e amigos. Jogámos à bola no Grupo Desportivo de Alcoutim que tínhamos ajudado a formar em 1948. Pela vida fora tivemos carreiras escolares muito paralelas. Ambos tivemos uma juventude trabalhosa, a dele mais, pois fazia todos os dias o transporte, em bicicleta, das malas do correio da Vila para Balurcos e para todas as sedes de freguesia do concelho até Vaqueiros. Até que um dia, perante a falta de perspectivas que qualquer jovem acalenta, saiu de Alcoutim para as encontrar. Foi numa noite de festa e com outro amigo, o Manuel ”Arrana”, foram a pé até Mértola e daqui em transporte para Lisboa. Vieram trabalhar.

Quando vim para a tropa o Álvaro morava na Trafaria com os Pais e irmãos, que entretanto também tinham deixado Alcoutim. Apoiaram-me e ajudaram-me na minha adaptação.

Iniciou a escolaridade secundária já maior de idade e licenciou-se em Economia.

O currículo do Castro Fernandes foi vasto e rico de experiências.

Foi pintor de construção civil, escriturário na antiga Sociedade Geral de Transportes e, já licenciado, trabalhou na Lisnave. Mais tarde deixou a Lisnave para ser Chefe de Divisão Administrativa e Financeira da Câmara Municipal de Alcácer do Sal, tendo sido daqui transferido a seu pedido para Chefe da Divisão de Aprovisionamento da Câmara Municipal de Loures onde se aposentou. Quer como estudante quer no trabalho não passou despercebido pelas suas qualidades de trabalho e inteligência.

Como cidadão consciente e preocupado participou em actividades cívicas, teve militância política.

Até que há sete anos, tendo-lhe já falecido a mulher, dividia o seu tempo entre Santa Cruz – Torres Vedras onde tinha uma pequena vinha e Alcoutim. Aqui restaurava a sua casa e era candidato à Presidência da Câmara Municipal. Faleceu durante a campanha eleitoral, na tarde do dia 12, junto da casa da filha, após ter feito a vindima e o vinho. Vinha para Alcoutim, mas uma roda do carro encravou-se na valeta e arreliadoramente teimou em demorá-lo. A morte súbita não o deixou continuar.

Dias depois a CDU de Alcoutim reuniu em Martinlongo para deliberar a escolha de um candidato à Presidência de Câmara para o substituir. Não pude ir a essa reunião, mas enviei um texto que sei ter sido lido com muita emoção em que dizia: O Castro Fernandes não morreu como uma vela que se vai extinguindo lentamente, mas sim como uma vela que um sopro de vento mais forte subitamente apagou.Tudo isto gostaria de ter dito numa breve alocução que proferi no passado dia 12 de Setembro. Referi alguns amigos e este estava, certamente, entre os maiores. Não o fiz propositadamente pois neste dia perfazia exactamente sete anos que falecera. E seria uma nota destoante, no momento em que com familiares e amigos festejava os meus 75 anos.

(*) Alcoutenejo, penso que dos quatro costados que apesar de nada dever à sua terra natal, é um dos seus devotados filhos.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

O mamarracho


Foi um visitante do blogue que verificando o caso insólito nos enviou para o endereço electrónico cinco fotografias, todas da mesma personagem.

Tivemos ocasião de posteriormente e no local analisarmos a situação.

Não me interessa saber quem descobriu o lugar e muito menos quem o autorizou, para mim isso pouco importa, a única coisa que eu sei é que são pessoas sem o mínimo de sensibilidade para situações destas e isto por variados motivos, alguns bem diferentes.

No Sul fala-se muita vez mal dos nortenhos e possivelmente acontecerá o mesmo no norte em relação às gentes do Sul (não quero dizer sulistas) mas o que eu tenho a certeza é que se no Norte houvesse uma tentativa de construção deste mamarracho junto ao único templo de toda uma freguesia, as coisas não teriam sido fáceis e todos nós estamos habituados a ver imagens e a ouvir palavras (honra lhes seja feita) que não me fazem mentir.

Isto não acontece só em Alcoutim, acontece por esse País fora.

Não apareceu nenhuma TV para no noticiário dar isto a público! Certamente que acham muitíssimo bem e estão plenamente de acordo! Não nos admiramos nada.

E a imprensa regional ou nacional? Idem, idem, aspas.

Cada povo tem o que merece! É frase feita e verdadeira.

N.B. O blogue está inteiramente aberto para divulgar situações como esta.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Mês de Outubro

EFEMÉRIDES ALCOUTENEJAS

Dia 2
1882 – Toma posse do partido médico de Alcoutim o Dr. Júlio César de Cayres Camacho, formado pela escola Médica do Funchal em 1879.

Dia 11
1997 – Inaugurado o Parque Mineiro – A Cova dos Mouros –, freguesia de Vaqueiros.

Dia 12
2007 – Tem início em Martim Longo, aldeia do concelho de Alcoutim, a 1ª Feira da Perdiz.

Dia 13
1839 – Oito ou nove cidadãos da vila apresentam um requerimento na Sessão da Câmara pedindo que fosse lançado um imposto de vinte réis em cada canada de vinho, vinagre ou aguardente, que se consumisse no concelho, vindo de fora dele.
O requerimento foi indeferido.

Dia 23
1918 – Verifica-se a primeira vítima oficial da pneumónica em Alcoutim, na pessoa de um padre.

Dia 25
1875 – O celeiro de Martim Longo é vendido em praça e arrematado por Zeferino Guerreiro.

Dia 28
2002 – Inauguração do abastecimento de água e saneamento básico a Pessegueiro, freguesia de Martim Longo.

Dia 29
1790 – Pedro José de Andrade é nomeado por carta de propriedade de ofício, de D. Maria I, escrivão da Alfândega da Vila de Alcoutim.