sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Álvaro Castro Fernandes

PEQUENA NOTA INTRODUTÓRIA

Esta rubrica esteve pensada desde o início do blogue, esperando pela colaboração que agora chegou e que consequentemente origina a sua activação.

Continuando a respeitar o título de ALCOUTIM LIVRE, a sua ocupação pretende-se que seja feita com assuntos sobre Alcoutim ou de concelhos do Baixo Guadiana e excepcionalmente de um âmbito mais alargado.

Estilos diferentes de escrita, de abordagem, de opinião, pensamos que poderão tornar este blogue mais “rico” se porventura alguma riqueza tem – uma terá certamente, a da VONTADE DE TORNAR ESTE CONCELHO MAIS CONHECIDO, sem cedências ou comprometimentos com quem quer que seja. O suborno, por mais subtil que seja, aqui não entra. Mas entra em muitas casas e instituições por esse país fora. Quem não ouviu o Bastonário dos Advogados!

Todos os visitantes poderão colaborar nesta rubrica, alcoutenejos ou não desde que enviem a documentação para o meu e-mail indicado no blogue.

Naturalmente assiste-me o direito de não publicar textos ofensivos a quem quer que seja e de carácter semelhante, que estou certo não aparecerão.

Diga coisas, faça um pequeno (ou grande) texto e envie. A sua opinião, os seus conhecimentos são importantes e ajudarão a conhecer melhor ALCOUTIM.



RECORDANDO UM ALCOUTENEJO AMIGO

Escreve Gaspar Santos (*)


Fomos vizinhos, companheiros de escola primária e amigos. Jogámos à bola no Grupo Desportivo de Alcoutim que tínhamos ajudado a formar em 1948. Pela vida fora tivemos carreiras escolares muito paralelas. Ambos tivemos uma juventude trabalhosa, a dele mais, pois fazia todos os dias o transporte, em bicicleta, das malas do correio da Vila para Balurcos e para todas as sedes de freguesia do concelho até Vaqueiros. Até que um dia, perante a falta de perspectivas que qualquer jovem acalenta, saiu de Alcoutim para as encontrar. Foi numa noite de festa e com outro amigo, o Manuel ”Arrana”, foram a pé até Mértola e daqui em transporte para Lisboa. Vieram trabalhar.

Quando vim para a tropa o Álvaro morava na Trafaria com os Pais e irmãos, que entretanto também tinham deixado Alcoutim. Apoiaram-me e ajudaram-me na minha adaptação.

Iniciou a escolaridade secundária já maior de idade e licenciou-se em Economia.

O currículo do Castro Fernandes foi vasto e rico de experiências.

Foi pintor de construção civil, escriturário na antiga Sociedade Geral de Transportes e, já licenciado, trabalhou na Lisnave. Mais tarde deixou a Lisnave para ser Chefe de Divisão Administrativa e Financeira da Câmara Municipal de Alcácer do Sal, tendo sido daqui transferido a seu pedido para Chefe da Divisão de Aprovisionamento da Câmara Municipal de Loures onde se aposentou. Quer como estudante quer no trabalho não passou despercebido pelas suas qualidades de trabalho e inteligência.

Como cidadão consciente e preocupado participou em actividades cívicas, teve militância política.

Até que há sete anos, tendo-lhe já falecido a mulher, dividia o seu tempo entre Santa Cruz – Torres Vedras onde tinha uma pequena vinha e Alcoutim. Aqui restaurava a sua casa e era candidato à Presidência da Câmara Municipal. Faleceu durante a campanha eleitoral, na tarde do dia 12, junto da casa da filha, após ter feito a vindima e o vinho. Vinha para Alcoutim, mas uma roda do carro encravou-se na valeta e arreliadoramente teimou em demorá-lo. A morte súbita não o deixou continuar.

Dias depois a CDU de Alcoutim reuniu em Martinlongo para deliberar a escolha de um candidato à Presidência de Câmara para o substituir. Não pude ir a essa reunião, mas enviei um texto que sei ter sido lido com muita emoção em que dizia: O Castro Fernandes não morreu como uma vela que se vai extinguindo lentamente, mas sim como uma vela que um sopro de vento mais forte subitamente apagou.Tudo isto gostaria de ter dito numa breve alocução que proferi no passado dia 12 de Setembro. Referi alguns amigos e este estava, certamente, entre os maiores. Não o fiz propositadamente pois neste dia perfazia exactamente sete anos que falecera. E seria uma nota destoante, no momento em que com familiares e amigos festejava os meus 75 anos.

(*) Alcoutenejo, penso que dos quatro costados que apesar de nada dever à sua terra natal, é um dos seus devotados filhos.