sexta-feira, 31 de agosto de 2012

FESTIVAL NACIONAL DO FIGO DA ÍNDIA




Recebemos da APROFIP  com pedido de publicação o cartaz respeitante ao FESTIVAL NACIONAL DO FIGO-DA-ÍNDIA, organizado por esta associação com a colaboração de TURISMO DE PORTUGAL e da escola de hotelaria e turismo de Portimão.

 
A realização terá lugar na

 

ESCOLA DE HOTELARIA E TURISMO DE PORTIMÃO

no dia

 

6 DE OUTUBRO DE 2012

 

Faz parte do PROGRAMA, pelas 15:00 HORAS uma palestra proferida por Jack Soifer sobre a importância económica do Figo-da-Índia em Portugal, inserido numa estratégia ambiental e seguida de debate.

 

Faz parte da orientação do ALCOUTIM LIVRE divulgar dentro das suas modestas possibilidades todo e qualquer evento relacionado com o concelho de Alcoutim, desde que o mesmo nos tenha sido solicitado.
 

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Quadros da vida rural alcouteneja [2]






Escreve

M Dias




UMAS PAPAS DE MILHO E UMA MÃO CHEIA DE FIGOS

Continuando a recordar quadros da vida rural alcouteneja, ocorrem me de vez em quando, doces memórias de muitos alimentos que hoje pomposamente apelidamos de biológicos!
Quão felizes nós fomos nesse tempo com a nossa alimentação verdadeiramente biológica! Alimentos biológicos, consumidos na época própria, sem conservantes, edulcorantes, corantes e outros que tais! Não tínhamos é verdade a quantidade de proteínas animais necessárias a uma correcta alimentação para quem está a crescer, (a carne era escassa e o leite insuficiente). Mas, o organismo humano adapta-se com facilidade aos vários ambientes e compensa carências de alguns nutrientes com outros de valor equivalente, por vezes até com vantagens. Assistimos quase diariamente a conselhos e orientações médicas no sentido de reduzirmos o consumo de sal, gorduras, açucares, excessos que nos conduzem a patologias muito frequentes até nas crianças como a diabetes, a obesidade as perturbações do sono, enfim....doenças a que o distinto médico (já falecido) Dr. Emílio Peres, no seu livro “As origens da doença humana” designou da abundância.


Voltando aos alimentos biológicos e à alimentação saudável da minha infância e adolescência, confesso que muito gostaria de ainda poder comer sardinhas assadas com gaspacho que o sardinheiro (nome dado ao homem que uma vez por semana chegava ao monte com as ditas quase ainda a saltar na canastra), as caldeiradas de deliciosos peixes do rio e da ribeira, as açordas belíssimas e cheirosas com os coentros fresquinhos da horta e os ovos acabados de tirar do galinheiro, as sopas de tomate, com peixe ou com ovos, os jantares de grão ou feijão com couves, as batatas saborosas que se comiam guisadas até mesmo sem mais acompanhamento, as sopas de pão com o almece que eu e os meus irmãos disputávamos acerrimamente a quantidade de “borregas” (restos do queijo) que caberia a cada um, e de tantos outros repastos que não refiro por já ser longo o meu relato. Mas como referi no título, que bem nos sabiam e a quantidade de calorias, e outras coisas boas que continham, umas boas papas de milho e uma mão cheiinha de figos!

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Cama de ferro de "bicha"



É o terceiro tipo de cama de ferro que vamos apresentar, isto dentro dos antigos modelos usados em Alcoutim, já que os novos não cabem aqui.

O exemplar da foto é de casal e entre os já vistos é o mais trabalhado. Cabeceira e pés totalmente iguais em todos os aspectos, decoração e tamanho.

O modelo é conhecido por cama de bicha, pois a parte central tem dois répteis estiolados em posição oposta que neste caso estão pintados de azul-escuro.

De cada um dos lados, apresenta, em ferro trabalhado utilizando as curvas, uma espécie de vaso com o seu pé, dentro do qual se situa uma flor em ferro forjado, e aqui as folhas são pintadas de verde e a flor propriamente dita de cor de rosa.

Aqui não aparece o amarelo dos metais que não faz parte desta confecção.

Tal como as outras, os pés são apetrechados de pequenas rodas giratórias que possibilitam uma mudança rápida.

Este exemplar, que nos pertence adquirimo-lo por compra em Alcoutim em 1969.
 

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Pequena análise sobre a colaboração de Gaspar Santos



O alcoutenejo, Eng. Gaspar Martins Santos, acedeu a meu pedido e de bom grado colaborar neste espaço, até porque manifestou sempre gosto pela escrita, tendo exercido em jovem e na vila de Alcoutim o lugar de correspondente de jornais, pelo menos de O Século, como aqui já deixou referido.

Havia colaborado, que eu saiba, na revista municipal Alcoutim e principalmente no Jornal do Baixo Guadiana onde já publicou 18 artigos quase todos de cunho alcoutenejo.
 
No ALCOUTIM LIVRE onde nunca há falta de espaço e a Liberdade de Opinião é a sua maior virtude, já leva até hoje 57 publicações, praticamente todas sobre o seu concelho natal, nomeadamente, a Vila que o viu nascer.

Depressa o eco dos seus textos começaram a chegar por e-mails ou por conversas telefónicas, quando não em conversações ocasionais, principalmente, nas minhas então frequentes idas ao concelho de Alcoutim.

O seu tipo de escrita, as abordagens e opiniões motivaram o interesse de muitos dos nossos leitores que não deixam passar nenhum artigo em branco.

Gaspar Santos escreve “MEMÓRIAS” e artigos de sentido técnico relacionados com a sua formação académica e profissional.

Visto só eu ter, na qualidade de Administrador, acesso aos números fornecidos irei referir os cinco mais procurados, e isto não significa lidos, pois estes números apenas dizem respeito e como não podia deixar de ser aos que foram directamente procurados.

O mais procurado foi O CELEIRO DE ALCOUTIM (21.05.2011) a distância considerável do segundo que foi A SOCIEDADE DOS CAIXÕES (03.09.2011) ocupando muito próximo a terceira posição A FÁBRICA DE FOICES DE ALCOUTIM (03.07.2009) e ATRIBULADA PESCA AO CANDEIO (11.03.2010).

O 5º lugar, já com uma diferença considerável, é ocupado por UMA VIAGEM PELA E N 122 EM 1945 – COMO ERAM AS CAMIONETAS (25.03.2010).

Claro que isto tem o significando que tem, não passa de uma estatística, que muitas vezes é sugestionada pelos títulos ou alguma das suas palavras que ao serem colocadas nos motores de busca dão origem ao aparecimentos dos textos.

Como é óbvio conheço os artigos publicados e ainda que todos tenham o seu interesse há sempre uns tantos que nos chamam mais a atenção, mas esta atenção é variável de pessoa para pessoa.

As mostras mais recentes são naturalmente menos conhecidas e é bem provável que daqui a uns meses, se o AL se mantiver, haja alterações no número de visitas.

Gaspar Santos, que desde há muitos anos me honra com a sua amizade, foi colaborador deste espaço desde a primeira hora e mostra-se tão interessado nele como eu.

A mais-valia que lhe acrescentou é inquestionável. Com colaboradores deste quilate, é possível construir algo em prol de Alcoutim o do seu concelho.

Um aspecto de Alcoutim. Foto JV
 

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

A "recompensa"



A foto apresenta um pequeno barco de pesca cheio de gente fardada, no cais velho de Alcoutim e que se vão dirigir a Sanlúcar do Guadiana, do outro lado do rio.

É uma tendência que sempre conheci em Alcoutim e que também aconteceu comigo; quem lá chega, sem dar por isso, vai inevitavelmente parar junto ao rio, pergunta logo como se chama a povoação que fica em frente e quem desconhece a linha de fronteira indaga se aquilo é o seguimento de Alcoutim.

Quando a ligação em transportes públicos colectivos, que então tinha uma linha diária que servia Beja – Vila Real de Santo António passando pelas vilas de Mértola, Alcoutim e Castro Marim, o acesso era feito pelo único existente, ou seja, a partir do Cruzamento ou Quatro Estradas que constituía o troço 122-1.

Quem não conhecia, ao aproximar-se de Alcoutim e após uma curva, vislumbrava esta vila que nos dava a sensação de afinal não ser tão pequena como diziam e isto porque no horizonte Sanlúcar “pegava-se” a Alcoutim, parecendo tratar-se da mesma povoação.

Acontecia também e antes de 1965 quando de noite se chegava a Alcoutim (o acesso rodoviário era único, como já se disse) as pessoas afirmavam ao aproximar-se: -Disseram-me que Alcoutim não tinha iluminação eléctrica e afinal tem. As luzes que estavam a ver eram de Sanlúcar, mas à distância davam a sensação ser de Alcoutim.

Não há alcoutenejo que não tenha informado os “turistas”devido à sua solicitação que aquela terra é de Espanha e chama-se Sanlúcar do Guadiana. Era natural perguntar-se de seguida se se podia lá ir.

Nessa altura a fronteira estava fachada e era a informação dada, mas as pessoas por vezes ficavam confusas, pois viam chegar gente de Sanlúcar e a mesma lancha levaria outras. Lá se ia explicando que eram casos especiais e autorizados pelas entidades fiscalizadoras dos dois países ou seja, a hoje desaparecida Guarda-Fiscal e a Guarda Civil de Espanha.

As pessoas conhecidas da vila quando queriam ir a Sanlúcar pediam autorização ao comandante da Secção ou a quem as suas vezes fizesse, mas nem sempre era concedida e segundo me diziam existiram comandos que se pudessem, proibiam olhar para Espanha.

A fronteira só abria na altura das festas anuais das povoações, em Alcoutim no mês de Setembro e em Sanlúcar pela Páscoa.

Atendendo a que todas as pessoas demonstravam interesse em conhecer a povoação vizinha, quando aparecia um colega de profissão ou superior hierárquico e mesmo familiar, lá se procurava “meter uma cunha” e obter o “salvo conduto”. De uma maneira geral, vinha a desilusão, já que Sanlúcar terá que ver menos do que Alcoutim. Em alternativa traziam pequenas lembranças, uns chocolates ou alguma garrafa de Pedro Domec .

Umas das tendência naturais dos alcoutenejos, para retribuir amabilidades ou proporcioná-las, era procurar autorização para uma ida àquele lado, como muitas vezes se dizia.

Os fardados, que estão a ser transportados, constituíam uma banda de música que tinha vindo actuar a Alcoutim.
 

domingo, 26 de agosto de 2012

Lembrando o Dr. João Francisco Dias no 18º aniversário do seu falecimento


Pequena Nota

Já o tenho escrito várias vezes, foi o primeiro texto que organizei a nível individual sobre o concelho de Alcoutim, mais propriamente compilando pequenos textos que foram publicados na imprensa regional e diária.

Também este escrito foi englobado com mais palavra, menos palavra, no meu trabalho, “Alcoutim, Capital do Nordeste Algarvio (subsídios para uma monografia)” publicado em 1985.

Parece que foi ontem, mas já se passaram 39 anos!

Depois disso já se tem escrito mais aqui e ali que vem enriquecer o conhecimento sobre esta grande figura.

Entretanto, fui recolhendo aquilo que me tem sido possível e que se encontra em fichas dispersas, mas que pretendo um dia, se tiver saúde para isso, vir a publicar noutro texto onde se aproveitará, naturalmente, aquilo que aqui escrevi e noutro artigo igualmente publicado no Jornal do Algarve e que já incluí neste espaço na rubrica Ecos da Imprensa.

Como sempre acontece, é transcrito  integral.

JV

(PUBLICADO NO JORNAL DO ALGARVE DE 10 DE MARÇO DE 1973)

  
 
Não conheci pessoalmente o Dr. João Francisco Dias, mas retenho na memória que a primeira indicação que tive da vila de Alcoutim, foi-me dada a trezentos e tal quilómetros de distância e da seguinte maneira: “Olhe, teve um médico-cirurgião excepcional, depois do seu falecimento, aquilo morreu”.

A minha curiosidade ficou espicaçada e logo que tomei contacto com esta abandonada vila, que hoje podia ser considerada uma “princesa do Guadiana” se para ela se voltassem os olhos dos “fabricantes de turismo” servindo de complemento (tubo de escape) ao superlotado turismo do litoral algarvio, tentei confirmar aquela primeira e única informação. Sem dúvida que as palavras do meu informador correspondiam à realidade. Tomei assim uma admiração especial pelo ilustre clínico e procurei organizar uma pequena “biografia”, alicerçada em recortes de jornais e em informações colhidas junto deste povo que o recorda com tanta saudade.

Lembrá-lo, na passagem do 18º aniversário do seu falecimento, representa uma singela homenagem de quem, não o tendo conhecido pessoalmente, mantém pelo seu nome grande admiração.

Monte da Corte Velha, freguesia de Odeleite, concelho de Casto Matim.
Foto de JV, 1974
 

Nasceu no dia 22 de Novembro de 1898, em Corte Velha, freguesia de Odeleite, concelho de Castro Marim. Fez os preparativos no Liceu de Faro, onde foi brilhante aluno. Formou-se em medicina, na Universidade de Coimbra em 1927. Convidado para assistente naquela Faculdade, preferiu dedicar-se à vida dura e pouco rendosa da medicina rural e instalou-se em Alcoutim. (1)   Por deliberação da Câmara Municipal de 27 de Setembro de 1934, tomou posse do lugar de médico municipal do 1º partido, com sede nesta vila. Aceite como irmão da Santa Casa da Misericórdia, é escolhido para Provedor, funções que exerceu durante vinte e três anos, até ao seu falecimento.

Médico-cirurgião muito sabedor e hábil, dotado de grandes qualidades de trabalho e de um bondosíssimo coração, o seu nome logo conquistou nomeada que se estendeu por todo o Baixo-Alentejo e pelo Algarve, atraindo doentes de vários pontos do País e transformando a pequena vila das margens do Guadiana, num centro médico-cirúrgico de considerável importância. (2)
 

Antigo Hospital da Misericórdia. Foto JV
Alcoutim, tornou-se a vila-hospital , sendo ele médico e cirurgião único. (3)

Trabalhava de dia e de noite, minorando o sofrimento dos seus semelhantes. Durante os meses de Verão, em volta da sua clínica, pairava um arraial de gente de todos os recantos de Portugal, à espera da sua vez. Não eram iludidos ou explorados – aos pobres, dava-lhes roupas, medicamentos e algumas vezes importâncias em dinheiro para atenuar as prementes dificuldades da sua situação. Sua esposa, secundava-o nesta obra de caridade. Fez de Alcoutim uma terra conhecida. . (4)

Este médico fazia da sua vida um verdadeiro apostolado. Não cuidava de saber quem eram os doentes, seus meios de fortuna, se podiam ou não, quando ou como podiam pagar. Eram sempre tratados quaisquer que fossem as suas condições sociais ou económicas. (5) Sem meios materiais convenientes, conseguiu fazer do seu hospital, que fundou, um centro conhecido de cirurgia em que operava, anestesiava e ajudava, isto é, por vezes via-se na necessidade de fazer todo o trabalho de uma equipa de cirurgiões. (6)

Operou aqui ao estômago, coisa que ainda não se tinha feito em qualquer ponto do Algarve. (7) Obteve sólida reputação, a ponto de virem consultá-lo muitos enfermos de terras distantes. (8)

Era vulgar, sempre que havia alguém doente e quase desenganado dos médicos e da medicina, perguntar-se: “Já consultou o médico de Alcoutim?” Se o infeliz que o procurava não tinha recursos também se ouvia logo a habitual sentença: “não faz mal, vá a Alcoutim que o médico é bom e aos pobres nada leva. (9)

Foi um médico de grande nomeada, que podia ter alargado a sua fama ao País inteiro, se a modéstia e o amor às terras do Algarve o não prendessem até à sua última morada. (10) Oitenta por cento da vila vivia do seu nome. (11) Ele ficará sempre ligado a este concelho, que tanto amou e tornou conhecido. Variadíssimos convites e influências tentaram arrancá-lo daqui, mas nunca desejou sair da terra que, não lhe sendo berço, considerou sua.
 
Casa onde viveu e faleceu o Dr. João Francisco Dias.
Foto JV

De uma vez, tendo sido contactado no sentido de ir desempenhar funções para determinado lugar, nessa altura muito próspero e oferecendo-lhe verba avultada, limitou-se a responder: “ Se eu quisesse ganhava o dobro disso em Alcoutim”. Efectivamente assim era. O que acontecia é que o seu coração bondoso, a uma simples lamúria, dizia:”Por falta de dinheiro não se deixa de operar” E alguns, aproveitando a sua bondade, de abastados lavradores alentejanos, faziam-se passar por pobretanas.

Doentes do concelho, não saíam daqui e com isso o município beneficiou bastante. O livro municipal de saída de doentes, no seu tempo, quase não teve movimento.
 

Por portaria publicada no Diário do Governo – II Série, de 11 de Setembro de 1940, subscrita pelo Ministro do Interior, foi louvado “pelo seu devotado esforço profissional e por suas iniciativas de benemerência tão bem conduzidas que já lhe permitiram exclusivamente por contribuição própria e pela das forças locais, conseguir para a população desse concelho tão afastada dos centros, possibilidades notáveis de auxílio aos doentes e inválidos”. (12) Ainda em sua vida, o povo do concelho prestou-lhe homenagem, testemunhada por uma lápide colocada na fachada principal do hospital.

Além de médico municipal e Subdelegado de Saúde, foi presidente da Comissão Concelhia da União Nacional e mesmo da respectiva comissão distrital, tendo o seu nome sido por mais de uma vez indigitado para a chefia do Distrito. (13)  As actuais Festas da Vila, foram também uma criação sua, a que dedicou muito carinho. No seu tempo tiveram grande esplendor.

Faleceu às primeiras horas da manhã de 8 de Março de 1955. Para prestar-lhe os primeiros socorros, acorreram durante a noite, vários colegas. (14) Vítima de congestão cerebral (15), na véspera do dia em que morreu, ainda fez três operações e deu consultas a quarenta doentes, ficando os restantes aguardando que depois do jantar, continuasse até altas horas da noite, a sua obra benfazeja, como costumava nos dias de maior afluência.

O funeral, após missa de corpo presente a que assistiram, além de muitas autoridades, o governador civil, presidente da Câmara, delegado de Saúde e muitos colegas (16) constituiu uma das mais imponentes manifestações de pesar que no Algarve se tinham realizado, ali se tendo deslocado em cerca de duas centenas de automóveis, alguns milhares de pessoas de todos os pontos do Baixo-Alentejo, da raia de Espanha e do Algarve. (17)

No cemitério local foi proferida uma sentida e vibrante oração, por um amigo íntimo e velho companheiro.

A população da vizinha Sanlúcar veio postar-se na praça, junto ao rio, e ao longo das ruas, durante o cortejo fúnebre. De lá, estiveram presente o pároco e o médico. (18)

Alcoutim, além de perder, com o seu desaparecimento, a pessoa de maior destaque, perdeu para sempre o seu “grande” movimento, pois todos os dias acorriam a esta vila, dezenas de pessoas dos pontos mais longínquos, em busca de cura para os seus males e poucos eram os que deixavam a vila sem irem curados ou na esperança de se curarem. (19)

Organizou-se uma comissão para erigir um busto que perpetuasse a sua memória. De princípio a ideia circunscrevia-se apenas ao concelho, mas em virtude das ofertas que chegaram de todos os pontos do País, por onde a sua fama se espalhou, resolveu-se torná-la extensiva a todos os que quisessem compartilhar do reconhecimento ao “médico dos pobres”, onde quer que se encontrassem. (20)

Em 10 de Março de 1957, com a presença de numerosas individualidades e muito povo, a grande massa anónima do concelho e das terras vizinhas, que, com os olhos marejados de lágrimas, bem demonstrou a sua grande emoção e a sua saudade por aquele que em vida foi o seu maior amigo (21), foi descerrado o busto à memória do grande benemérito e médico alcoutinense.

Na sessão solene que se realizou, usaram da palavra vários oradores que puseram em destaque as notáveis qualidades do homenageado. (22)

 
NOTAS

1.      A Voz de Loulé, de 16 de Março de 1955.

2.       Correio do Sul, 17 de Março de 1955

3.        Gazeta do Sul de 24 de Abril de 1955

4.         Diário do Alentejo, 24 de Março de 1955

5.          Jornal do Barreiro, 17 de Março de 1955

6.          A Voz de Loulé, 16 de Março de 1955

7.         Comércio do Poro, 16 de Julho de 1940

8.          Notícias do Algarve, 13 de Março de 1955

9.          Diário de Lisboa de 8 de Abril de 1955

10.         Idem

11.           Idem

12.          Comércio do Porto, de 16 de Julho de 1940

13.          Correio do Sul, de 17 de Maio de 1955

14.            Idem

15.           Gazeta do Sul de 24 de Abril de 1955

16.           Folha de Domingo, 13 de Março de 1955

17.          Correio do Sul de 17 de Março de 1955

18.           Folha de Domingo de 13 de Março de 1955

19.            Notícias do Algarve de 11 de Maio de 1956

20.            Diário de Lisboa de 28 de Janeiro de 1956

21.            Diário de Lisboa de 11 de Março de 1957
´´
22.            O Século de 11 de Março de 1957

 

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

90 000 VISITAS! Desceu a média diária


 
Acabámos de chegar às últimas horas de ontem a este simpático número de visitas pelo que a criação do ALCOUTIM LIVRE não pode ser considerado um projecto falhado como tem acontecido a muitos que pretendem entrar por esta temática.

O projecto e criação não foram nossos mas sim do colaborador José Miguel Nunes. Cabia-nos a missão de lhe dar vida e inicialmente, como afirmámos, pensávamos colocar uma mensagem semanal. Se assim tivesse acontecido e tomando em consideração o número de mensagens já apresentadas, teríamos o ALCOUTIM LIVRE para mais 19 anos, cabendo então o trabalho de colocação à nossa neta, porque, entretanto vamos dar uma volta.

Como dissemos no título, a média diária de visitas desceu nestas últimas 10 MIL, passando de 111,11 para 109,89, o que significa um decréscimo de 1,22 /Dia.

Enquanto das 70 mil para as 80 mil o tempo gasto foi de três meses, nesta última série foi de mais um dia, o que originou a diferença.

As mensagens foram 90, mais uma do que na avaliação anterior, o que equivale, praticamente, a uma por dia.

A Etnografia tem agora 115 (+ 12 do que anteriormente), a Câmara Escura, 114 (+12), Escaparate, 93 (+ 9), Ecos da Imprensa, 80 (+ 8) e Especiais, 60 (+ 5).

Neste espaço de tempo, dos nossos colaboradores, cujo contributo nunca é demais enaltecer, foram publicados por Daniel Teixeira (6), Gaspar Santos (4), José Temudo (4), Amílcar Felício (3), M Dias (2) e José Miguel Nunes (1).

Já nos visitaram de 104 países, sendo os últimos a fazê-lo Jersey, Estónia e a Tunísia.

Os dados apresentados e a confirmar na próxima avaliação significam que o AL atingiu os cumes da sua divulgação.

Podíamos, com os elementos a que temos acesso, tecer várias considerações sobre a procura dos temas abordados e que por vezes nos deixam confuso, mas isso ficará para a parte final que se aproxima.

Para terminar e porque quem não tem cão caça com gato, apresentamos uma tabela explicativa dos movimentos realizados.

 
QUADRO DO MOVIMENTO
OPERADO
PERÍODO
NÚMERO / DIA
ATÉ 10 000
17,55
DE 10 000 a 20 000
54,94
DE 20 000 a 30 000
77,58
DE 30 000 a 40 000
79,36
DE 40 000 a 50 000
84,24
DE 50 000 a 60 000
94,34
DE 60 000 a 70 000
100,00
DE 70 000 a 80 000
111,11
De 80 000 a 90 000
109,89

 

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Quadros da vida rural alcouteneja






Escreve

M Dias
Um monte da Freguesia de Alcoutim. Foto JV
Nascia-se com a ajuda de DEUS e de algumas vizinhas, onde entre elas, uma tinha mais jeito para essa função. Em geral pessoa idónea, com experiência. Ficávamos junto das mães durante a 1ª infância (0-2 anos) a partir daí ou íamos com a mãe para onde ela fosse ou alguma tia ou vizinha olhava por nós. Só aos 7 anos se entrava na escola.
Isso não aconteceria se tivesse nascido na década anterior. Nesse tempo, ainda as meninas, não iam à escola, não era necessário saber ler e escrever para arranjar marido, ser boa mãe e boa dona de casa, lavar a roupa (dar uns pontos), trazer a casa asseada e cozinhar o essencial, ajudar o homem na apanha dos frutos secos, (figos, alfarroba, amêndoa), e da azeitona. Mondar, ceifar, enfim, a labuta do campo.
Não, não estou a falar no século XIX mas sim nos meados do seguinte.
No meu tempo, e apesar da escola ficar a uma distância considerável, lá fomos. O saber empírico do meu pai dizia: Quem não lê é como quem não vê.
Uma grande percentagem ficava apenas com a 4ª classe. Muito poucos seguiam para o liceu ou escolas técnicas. Alguns (rapazes) frequentavam o seminário como forma de poderem estudar. Terminada a escola, (4ª classe), ficavam por ali, ajudando os pais nos afazeres do campo, namoriscando uma rapariga que procuravam muitas vezes por outros montes frequentando bailaricos, feiras e outras festas.
Chegando aos 18-19 anos, tendo a preocupação de serem apurados para o serviço militar, assentavam praça e lá iam cumpri-lo onde lhes era determinado. Acabado o mesmo que procurava realizar com a caderneta limpa, iam para a guarda- fiscal, ou republicana ou ainda para guarda-fios.
Entretanto, anos 60, começou a guerra! Na flor da mocidade foram enviados para as ex-colónias e seguiram-se as consequências que todos conhecemos. Os aerogramas eram escritos de mulher para marido e namorada para namorado por meninas como eu de 10 anos que já escrevíamos bem. Quanto às meninas, nesse tempo, alguns pais, ambicionavam que fossem empregadas nos correios, professoras ou dactilógrafas mas dados os fracos recursos e a enorme distância a que ficavam as escolas e a ausência de transportes regulares era muito difícil o acesso.

Durante a infância, as meninas tinham brincadeiras bem distintas dos rapazes. Se uma menina, brincava como os rapazes chamava-se machote, ou maria machote e não ficava bem! Este termo, menina-menino na serra era pouco usado. O corrente era mocita-mocito, e moça-moço. Uma mocita ou mocinha aprendia desde tenra idade com a sua mãe a fazer alguns trabalhos manuais. Costura, pontos de bordados, malha e meia. Só depois podia ir brincar com as outras. À macaca, jogar com seixos, brincar com bonecas que as mães nos faziam com pau de loendro e trapos e, raramente alguém tinha uma boneca de papelão. Eu tive uma aos 6-7 anos mas durou pouco tempo intacta porque logo nos primeiros dias, levou uns banhos. Sujava-se muito!
Escola do Ensino Primário nos Balurcos (desactivada)

Os rapazes brincavam com cavalinhos de pau, fisgas, jogavam berlindes, corriam atrás de uma roda (arco) que conduziam com um gancho, subiam às árvores e alguns destruíam ninhos e pequenos pássaros. Alguns pais construíam-lhes brinquedos de madeira e cana como por exemplo as flautas (flaitas no dizer local.). Nas feiras, alguns rapazes ganhavam uma harmónica ou corneta, se se portavam bem.
A meninice, sem jogos eletrónicos, sem legos e sem televisão, era um tempo saudável. As brincadeiras, sem as facilidades de hoje em dia, obrigavam-nos a estimular e desenvolver outras competências, como a destreza manual e a criatividade. A actividade diária decorria do nascer ao pôr-do-sol. Luz elétrica e água corrente, estavam ainda a alguns anos de distância. Com os prós e contras desse tempo, acabávamos por ter hábitos de vida bem mais saudáveis. Mexíamo-nos mais, dormíamos mais horas e o stress e a obesidade eram coisa desconhecida. INDISCUTÍVEL o conhecimento proporcionado pelos meios hoje existentes ao dispor da comunidade e o enorme progresso registado. Mas tanta coisa que bem passaríamos sem elas!

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Natal do Algarve - Raízes Medievais



É um trabalho de fôlego este livro com 550 páginas de 19 X 26,5 cm, de bom papel fortemente ilustrado com fotografias antigas e recentes, a preto e branco e a cores e que a autor compilou tudo o que foi possível encontrar escrito sobre a temática e acrescentou toda uma investigação proba que vem realizando ao longo dos anos.

Sem dúvida que os usos e costumes do Natal no Algarve eram muito diferentes de todo o restante país, com alguns encontros aqui e ali, isto passou-se até, praticamente, meados do século passado.

O trabalho está dividido em 35 partes que passam pela A devoção ao Menino Jesus, pelos Cânticos de Natal, Canto dos Reis, o Canto da Chorolas, Grupos Janeireiros e a Doçaria Natalícia e Ceia de Natal, isto só para indicar alguns dos assuntos abordados.

É seu autor o P. José da Cunha Duarte que tem desenvolvido obra meritória no Algarve no aspecto cultural e outros.

A tiragem foi de 2 000 exemplares e foi editado por Edições Colibri em Maio de 2002.

Capa e contracapa são cartonadas e a cores.

É um livro indispensável em qualquer biblioteca, principalmente nas do Algarve,mas não me lembro de o ter visto na da Casa dos Condes, em Alcoutim.

Adquiri-o em S. Brás de Alportel e está autografado.

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Crónicas e Ficções Soltas - Alcoutim - Recordações - XXXIV





Escreve

Daniel Teixeira 




A NOSSA PISCINA

Falar em piscina em Alcaria Alta, pelo menos na altura em que andei por lá jovem ou criança, seria introduzir um neologismo no vocabulário local e depois do que vou escrever em seguida seguramente ainda hoje será considerado exagerado o termo.

Numa primeira vista, esclareça-se, porque piscina advém de peixes e muito pouco tem a ver com o actual sentido que lhe é dado maioritariamente. Por isso eu dizer que tínhamos uma piscina (várias, até) em Alcaria Alta não é totalmente um absurdo: não davam, na sua grande parte, para nadar (salvo alguns pegos mais resistentes à seca do verão já na Ribeira da Foupana ou mesmo no Ribeirão) mas até os poucos que sabiam nadar, nós, os da cidade, não tínhamos assim uma tão grande apetência para a braçada.

Habituados à água salgada, mais «pesada» como dizíamos, era uma trabalheira enorme para nos mantermos à tona da água doce (levezinha) pelo que utilizando a sempre presente em qualquer idade lei do menor esforço ficávamos pelo «molho» a meia altura com mergulhos só da cabeça para alisar o penteado. Aliás ainda bem que não nos lembrámos de andar a saltar das rochas porque os fundos eram bastante irregulares e surpreendentes.

Mas a nossa piscina, a piscina do dia a dia era um poço numa horta: dava-nos a água aí pelos ombros, sensivelmente, era extraordinariamente límpida antes da primeira entrada e descíamos e subíamos com a força dos braços. Juntávamo-nos três e quatro num espaço que acabava por se tornar exíguo e tínhamos direito a banho de lama de borla ao fim de dois minutos de termos entrado.

Poço do monte. Foto JV
Estava este poço situado numa horta que ficava a seguir ao poço de baixo numa zona ainda sem denominação específica que me lembre mas que ficava próximo das Almargens : era só descer mais vinte metros e estávamos lá, na zona das Almargens que ficava perto do Almarginho, este seguramente com este nome diminuído por relação de proximidade e de semelhança e continuidade.

Numa direcção oposta e distante, já no caminho que fazíamos a butes para Martinlongo fora da estrada porque era mais muito mais curto o percurso, e virado para o outro lado do Monte e a uma distância dali onde estávamos de pelo menos um quilómetro ficava o Almarjão, onde cultivávamos uma horta.

Nunca percebi muito bem a lógica destas denominações mas que não era sempre por relação de proximidade me parece ser certo: talvez fosse pela forma, pela localização em dado tipo de terreno, pelo contorno que os cursos de água davam às hortas, pelo desenho que a erosão das elevações ia plantando no sopé dos montes: deveria saber mais sobre isto e estudar um pouco estas coisas, é um facto.

Havia um sítio que era merecidamente chamado da «Areia fina», logo à saída do Monte, porque, por estranho que nos parecesse a areia era mesmo fina, quase tipo praia: já teria havido ali um curso de água com dimensão grande mas já não havia na altura e há centenas de anos provavelmente: nunca ninguém, me falou em ter visto água ali a não ser a das enxurradas do Inverno que desciam do bairro do Além.

O processo do nosso banho perto das Almargens era demorado mesmo: bastava meia hora de banho para termos quinze minutos de segunda lavagem a balde num outro poço e enxaguamento ao sol. Desincrustar a areia, a lama e toda a sujeira natural que os bordos do poço iam debitando e que se colavam sobretudo na parte mais visível, que era o cabelo, era a segunda fase obrigatória no processo.

Poço tipo regional. Foto JV

Mas era bom, fazia calor de rachar e tudo o que abrandasse a sensação de estarmos a torrar era bem aceite. Os montanheiros adultos não tomavam de facto muitos banhos porque não tinham as possibilidades que nós crianças tínhamos. Aproveitávamos a hora de caçar (quase nada sempre) neste poço de baixo, hora esta que era mais farta de possibilidades na força do calor aproveitando a altura em que os pássaros iam beber nas pequenas poças de água que se formavam à volta do poço.

De esclarecer que era o poço das bestas e que resto de balde não bebido por um animal tinha de se deitar fora...e deitava-se logo ali, para voltar a ser filtrado pelo terreno e regressar donde tinha vindo, pelo menos assim se pensava. A sapiência dos povos é grande : uma besta, seja ela asinina, muar ou cavalar, não bebe água já tocada pelos lábios (beiços) de um outro pelo que não dá para dar o resto a outro e voltar a jogá-la para dentro do poço também não dava, porque mesmo sendo um poço na altura exclusivamente para animais, nunca se sabe o dia de amanhã.

Quando me lembro destas coisas, e regressando agora às nossas piscinas, sei perfeitamente que era uma grande porcaria e que o poço só mantinha a água limpa se lá não entrássemos: logo uma coisa implicava outra; tomar banho (para nos limparmos por definição) implicava que nos sujássemos mas nada impedia aquela agradável sensação de frescura em plena força do verão.

Estas pequenas coisas, desaparecidas agora, são coisas e tempos que não voltam mesmo mais. Qualquer criança agora não fará nada disto, nem sequer se aconselha que o faça e nem terá condições para fazer o mesmo. Isso é que torna também as coisas de hoje por vezes tão urgentes e tão prementes e tão necessárias para serem usadas ou feitas mesmo: muitas das coisas que fazemos ou não fazemos hoje podemos nunca mais vir a fazê-las o que faz com que cada um de nós tenha condições e momentos que são mesmo únicos no sentido mais absoluto do termo. Não sabemos exactamente quais, é um facto e nunca saberemos o último segundo de cada coisa.

E descontando esta parte desagradável da areia e do barro no corpo e no cabelo quantos de nós sentimos alguma vez ao tomar hoje um seguramente mais higiénico duche que provavelmente estaremos numa época de viragem e que talvez não amanhã mas um dia destes aparecerá outra coisa qualquer que faça com que esse nosso actual prazer de sentir correr a água pelo corpo seja daqui a muitos anos objecto de saudosa recordação tal como eu fiz agora?

Daí a aceitação neste plano, mas só neste plano e nos aspectos com ele relacionados dentro dos mesmos princípios lógicos, da frase de Virgílio na Eneida, carpe diem quam minimum credula postero, «aproveita o dia, confiando o mínimo possível no futuro». O mínimo possível do futuro não é todo o futuro, como é claro, é só o mínimo...

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

A água, esse precioso líquido



Esta fotografia tirámo-la a 20 de Outubro de 1968, por isso, vai fazer em breve 44 anos!

O quadro que apresentamos desapareceu, entretanto, da paisagem alcoutenense, nomeadamente dos montes, pois na vila, ainda que recente, já havia distribuição de água ao domicílio.

Nesta altura havia muitas centenas de burros espalhados por todo o concelho, era animal indispensável na organização familiar, cabia-lhe realizar muitas tarefas absolutamente necessárias para a manutenção da família.

Bem poucos não possuíam tal animal e quando não o tinham por falta de requisitos, recorriam a familiares ou amigos e assim, supriam as tarefas imprescindíveis.

Quando a família era maior e os terrenos que trabalhavam em número apreciável, só um animal não chegava pelo que tinham dois ou três.

Os mais endinheirados, além dos burros, não dispensavam os machos ou mulas, um dos sinais que distinguiam os chamados “lavradores” dos outros, pequenos proprietários e jornaleiros. Ter um bom macho era sinal de abastança!

Nesta foto o burro ou por outra, a burra encontrava-se devidamente aparelhada, tendo sido colocada sobre a albarda umas cangalhas de ferro duplas, isto é, de quatro bolsas, duas para cada lado e providas dos respectivos cântaros de barro designados por cântaros de Loulé, pois lá é que eram feitos artesanalmente. Havia cântaros de duas asas e de uma só e de tamanhos variados.

A região de Alcoutim não é rica em aquíferos e os poucos existentes com possibilidades de extracção por intermédio de pequenos poços, situavam-se, normalmente, nos sítios baixos que rodeavam os montes, pois estes de uma maneira geral ficavam em sítios altos.

Todos precisavam diariamente de água e tinham de se deslocar aos pequenos poços comunitários quando não a tinham dos seus e mesmo que a tivessem, procuravam poupá-la para alguma rega de hortejo que geralmente lhe era contíguo. Nesta altura já estavam apetrechados de bombas elevatórias que foram instaladas, se a memória não me falha, durante a presidência de António Maria Corvo.

Quatro cântaros de água bem poupada, como era regra daquelas gentes, eram suficientes para abastecer uma casa. Destinava-se para beber, confeccionar as refeições, lavar as mãos (servia mais de uma vez) a louça e preparar a alimentação de alguns animais. A roupa era lavada nos barrancos, onde também  as pessoas se iam “laviscando”.

Quem tinha que acarretar água do poço às costas, tornava-se uma tarefa trabalhosa e complicada.

Tudo isto é passado, muitos dos poços dos montes estão secos ou desactivados, a água já chega a casa e até na maior parte dos montes nem há burros!

domingo, 19 de agosto de 2012

Afonso Vicente foi um grande monte da Freguesia de Alcoutim [23]


CONVÍVIO – FESTA

Antes do 25 de Abril de 1974, em todo o concelho de Alcoutim só havia uma festa certa pois sempre se tinha realizado até àquela data e com irregularidade, segundo me informaram a da aldeia de Martim Longo e mais recente.

Não havia um centavo para nada. A Câmara mantinha a porta aberta com meia dúzia de funcionários pois o orçamente não dava para mais. O pouco que se fazia era uma “esmola” dada pelo Governo a 100%!

As FESTAS DE ALCOUTIM davam grande trabalho aos seus realizadores e as preocupações eram muitas estando sempre presente uma possível chuvada no segundo dia o que deitaria tudo a perder.

Foram uns “heróis” quem as fez nestas circunstâncias.

As festas dos montes, principalmente dos mais próximos, eram as FESTA DA VILA. Foi sempre assim que a consideraram e nessa altura os montes ainda tinham muita juventude, o que hoje não acontece.

As pequenas festarolas que se realizam por muitos montes do concelho só tiveram lugar após o 25 de Abril e mesmo já decorridos uns bons anos. Penso saber que a primeira na freguesia de Alcoutim foi a de Santa Marta que penso se tem realizado anualmente até aos dias de hoje.

Sem espatafurdices têm conseguido manter o fundamental, um almoço de convívio e um bailareco.

Julgo que na freguesia o segundo monte a fazê-lo foi Afonso Vicente, talvez por incentivo do vizinho.

Bolo da 1ª Festa, 13.08.1995. Foto JV

Teve lugar em 1995

Recorrendo à minha memória e onde possivelmente se encontrarão falhas, direi que as pessoas que mais se movimentaram na sua organização foram Manuel Gomes, vulgo Manuel Diogo e Eduardo Patrício, dois afonso-vicentinos residentes no distrito de Setúbal. O primeiro exercia as funções de Presidente da Associação local que tinha recebido obras importantes de beneficiação.

Nesta altura e na época de férias o “monte” era muito visitado pelos seus naturais que viviam em variadíssimos pontos do país com destaque para as zonas industriais de Lisboa e Setúbal, Baixo-Alentejo e litoral do Algarve.

Estes e os poucos residentes da povoação mobilizaram-se na sua organização que constou de uma missa campal que teve lugar junto do depósito da água, de um grande almoço-convívio que constou fundamentalmente do tradicional ensopado de borrego que teve como cozinheiro o Sr. Elisiário do vizinho monte de Sta. Marta que na Marinha desempenhou essas funções.

No serviço de restauração estiveram à altura os profissionais António Marques, daqui natural e Faustino que aqui constituiu família.

Coro da Festa de 1995, Foto JV

Manuel Afonso, vulgo de Jesus, ofereceu um bolo para a sobremesa a que se juntou também a oferta de Maria Isabel Nunes de pires de arroz doce para todos os convivas.

Um pequeno coro do monte interpretou para os presentes versos de autoria de Joaquim Gomes (Relógio) e de Maria José Mestre adaptados a músicas populares conhecidas.


ELEMENTOS DO CORO

Maria de Jesus

Claudina Costa

Gertrudes Faustino

Maria José Meste

Maria Fernanda Mestre

Vítor Faustino

Miguel Nunes


Afonso Vicente querida amiga

Tu serás nossa o resto da vida

És a beleza duma oração

Que terás sempre meu coração.


És sempre Afonso Vicente

A terra do meu agrado

Tu és a jóia mais linda

Que até hoje tenho encontrado


Afonso Vicente és orgulho

Desta gente sem igual

O cantinho mais tranquilo

Das terras de Portugal


Criaste valor, riqueza

Com teu Povo bem unido

Em todo o canto do Mundo

Teus filhos têm vencido


Que todos possam sentir

Hoje, a mesma emoção

E reconheçam a Ventura

Que lhes vai no coração


Vivo distante da terra

Da terra onde eu nasci

Por muitos anos que viva

Nunca me esqueço de ti.


A festa da nossa terra

Fica já com data assente

P `a todos poderem vir

Ao monte de Afonso Vicente.


Quem ainda cá permanece

Recebe com alegria

Os que de longe se deslocam

Para esta romaria.


Teremos uma linda festa

Que a todos vai agradar

Vivas para a comissão

Que a soube organizar.


Ficará no coração

De quem a ela aderir

Aquele deslumbramento

Que por ela vai sentir.


Todos façam qualquer coisa

É esse o nosso dever

Joaquim Relógio fez os versos

Nada mais pode fazer.


À Câmara de Alcoutim

Também queremos agradecer

Que sem o seu contributo

Nada podemos fazer


À Junta de Freguesia

Devemos o nosso obrigado

Apesar de pobrezinha

Muito nos tem ajudado.


Somos um grupo de amigos

Que aqui viemos cantar

Não somos profissionais

Só queremos agradar.


Não somos profissionais

E nem sequer amadores

Queremos agradecer

A todos estes Senhores.


A todos estes Senhores

A todos os que aqui estão

Nós só queremos mostrar

O que nos vai no coração.


Despeço-me agradecendo

A vossa participação

P `ro ano será bem-vindo

Dar à Festa animação


Adeus gente tão querida

Agora é mesmo o final

Pois vamos dar a despedida

Desta Festa sem igual. (*)



(*) As últimas sete quadras são de autoria de D. Maria José Mestre.



No ano seguinte volta a realizar-se a Festa-Convívio chamando muitos filhos da terra e dos montes vizinhos.

Desta vez e para suprir a falta do ano anterior apresentou-se um balancete do movimento que me propus organizar, à falta de outrem.

Verificou-se um saldo de 165.921$00 que reverteu a favor do Centro (associação) local.

Balancete das Contas

No ano seguinte (1997) tem lugar o 3º evento sendo o 4º no ano seguinte. Além do almoço – convívio e do baile começam a aparecer os torneios de xito e de cartas (sueca), com prémio representados por borregos e galos.



Um ou outro rancho folclórico igualmente fez a sua aparição.

Se a memoria não nos atraiçoa houve um ano em que a festa-convívio não se realizou e a última, em moldes completamente diferentes teve lugar a 14 de Agosto de 2010 onde deu um excelente concerto o Grupo Albuera.

Estas pequenas festas-convívio foram-se espalhando por todo o concelho, iniciando-se nuns montes e acabando noutros como aconteceu em Afonso Vicente.

As Festas de Afonso Vicente não vão passar de uma recordação.



REPORTAGEM FOTOGRÁFICA














Raquel Peters, a "Diva"