CONVÍVIO – FESTA
Antes do 25 de Abril de 1974, em todo o concelho de Alcoutim
só havia uma festa certa pois sempre se tinha realizado até àquela data e com
irregularidade, segundo me informaram a da aldeia de Martim Longo e mais
recente.
Não havia um centavo para nada. A Câmara mantinha a porta
aberta com meia dúzia de funcionários pois o orçamente não dava para mais. O
pouco que se fazia era uma “esmola” dada pelo Governo a 100%!
As FESTAS DE ALCOUTIM davam grande trabalho aos seus
realizadores e as preocupações eram muitas estando sempre presente uma possível
chuvada no segundo dia o que deitaria tudo a perder.
Foram uns “heróis” quem as fez nestas circunstâncias.
As festas dos montes, principalmente dos mais próximos, eram
as FESTA DA VILA. Foi sempre assim que a consideraram e nessa altura os montes
ainda tinham muita juventude, o que hoje não acontece.
As pequenas festarolas que se realizam por muitos montes do
concelho só tiveram lugar após o 25 de Abril e mesmo já decorridos uns bons
anos. Penso saber que a primeira na freguesia de Alcoutim foi a de Santa Marta
que penso se tem realizado anualmente até aos dias de hoje.
Sem espatafurdices têm conseguido manter o fundamental, um
almoço de convívio e um bailareco.
Julgo que na freguesia o segundo monte a fazê-lo foi Afonso
Vicente, talvez por incentivo do vizinho.
Bolo da 1ª Festa, 13.08.1995. Foto JV |
Teve lugar em 1995
Recorrendo à minha memória e onde possivelmente se
encontrarão falhas, direi que as pessoas que mais se movimentaram na sua
organização foram Manuel Gomes, vulgo Manuel Diogo e Eduardo Patrício, dois
afonso-vicentinos residentes no distrito de Setúbal. O primeiro exercia as
funções de Presidente da Associação local que tinha recebido obras importantes de
beneficiação.
Nesta altura e na época de férias o “monte” era muito
visitado pelos seus naturais que viviam em variadíssimos pontos do país com
destaque para as zonas industriais de Lisboa e Setúbal, Baixo-Alentejo e
litoral do Algarve.
Estes e os poucos residentes da povoação mobilizaram-se na
sua organização que constou de uma missa campal que teve lugar junto do
depósito da água, de um grande almoço-convívio que constou fundamentalmente do
tradicional ensopado de borrego que teve como cozinheiro o Sr. Elisiário do
vizinho monte de Sta. Marta que na Marinha desempenhou essas funções.
No serviço de restauração estiveram à altura os
profissionais António Marques, daqui natural e Faustino que aqui constituiu
família.
Coro da Festa de 1995, Foto JV |
Manuel Afonso, vulgo de Jesus, ofereceu um bolo para a
sobremesa a que se juntou também a oferta de Maria Isabel Nunes de pires de
arroz doce para todos os convivas.
Um pequeno coro do monte interpretou para os presentes
versos de autoria de Joaquim Gomes (Relógio) e de Maria José Mestre adaptados a
músicas populares conhecidas.
ELEMENTOS DO CORO
Maria de Jesus
Claudina Costa
Gertrudes Faustino
Maria José Meste
Maria Fernanda Mestre
Vítor Faustino
Miguel Nunes
Afonso Vicente querida amiga
Tu serás nossa o resto da vida
És a beleza duma oração
Que terás sempre meu coração.
És sempre Afonso Vicente
A terra do meu agrado
Tu és a jóia mais linda
Que até hoje tenho encontrado
Afonso Vicente és orgulho
Desta gente sem igual
O cantinho mais tranquilo
Das terras de Portugal
Criaste valor, riqueza
Com teu Povo bem unido
Em todo o canto do Mundo
Teus filhos têm vencido
Que todos possam sentir
Hoje, a mesma emoção
E reconheçam a Ventura
Que lhes vai no coração
Vivo distante da terra
Da terra onde eu nasci
Por muitos anos que viva
Nunca me esqueço de ti.
A festa da nossa terra
Fica já com data assente
P `a todos poderem vir
Ao monte de Afonso Vicente.
Quem ainda cá permanece
Recebe com alegria
Os que de longe se deslocam
Para esta romaria.
Teremos uma linda festa
Que a todos vai agradar
Vivas para a comissão
Que a soube organizar.
Ficará no coração
De quem a ela aderir
Aquele deslumbramento
Que por ela vai sentir.
Todos façam qualquer coisa
É esse o nosso dever
Joaquim Relógio fez os versos
Nada mais pode fazer.
À Câmara de Alcoutim
Também queremos agradecer
Que sem o seu contributo
Nada podemos fazer
À Junta de Freguesia
Devemos o nosso obrigado
Apesar de pobrezinha
Muito nos tem ajudado.
Somos um grupo de amigos
Que aqui viemos cantar
Não somos profissionais
Só queremos agradar.
Não somos profissionais
E nem sequer amadores
Queremos agradecer
A todos estes Senhores.
A todos estes Senhores
A todos os que aqui estão
Nós só queremos mostrar
O que nos vai no coração.
Despeço-me agradecendo
A vossa participação
P `ro ano será bem-vindo
Dar à Festa animação
Adeus gente tão querida
Agora é mesmo o final
Pois vamos dar a despedida
Desta Festa sem igual. (*)
(*) As últimas sete
quadras são de autoria de D. Maria José Mestre.
No ano seguinte volta a realizar-se a Festa-Convívio
chamando muitos filhos da terra e dos montes vizinhos.
Desta vez e para suprir a falta do ano anterior
apresentou-se um balancete do movimento que me propus organizar, à falta de
outrem.
Verificou-se um saldo de 165.921$00 que reverteu a favor do
Centro (associação) local.
Balancete das Contas |
No ano seguinte (1997) tem lugar o 3º evento sendo o 4º no
ano seguinte. Além do almoço – convívio e do baile começam a aparecer os torneios
de xito e de cartas (sueca), com prémio representados por borregos e galos.
Um ou outro rancho folclórico igualmente fez a sua aparição.
Se a memoria não nos atraiçoa houve um ano em que a
festa-convívio não se realizou e a última, em moldes completamente diferentes
teve lugar a 14 de Agosto de 2010 onde deu um excelente concerto o Grupo
Albuera.
Estas pequenas festas-convívio foram-se espalhando por todo
o concelho, iniciando-se nuns montes e acabando noutros como aconteceu em Afonso Vicente.
As Festas de Afonso Vicente não vão passar de uma
recordação.
REPORTAGEM FOTOGRÁFICA