domingo, 19 de agosto de 2012

Afonso Vicente foi um grande monte da Freguesia de Alcoutim [23]


CONVÍVIO – FESTA

Antes do 25 de Abril de 1974, em todo o concelho de Alcoutim só havia uma festa certa pois sempre se tinha realizado até àquela data e com irregularidade, segundo me informaram a da aldeia de Martim Longo e mais recente.

Não havia um centavo para nada. A Câmara mantinha a porta aberta com meia dúzia de funcionários pois o orçamente não dava para mais. O pouco que se fazia era uma “esmola” dada pelo Governo a 100%!

As FESTAS DE ALCOUTIM davam grande trabalho aos seus realizadores e as preocupações eram muitas estando sempre presente uma possível chuvada no segundo dia o que deitaria tudo a perder.

Foram uns “heróis” quem as fez nestas circunstâncias.

As festas dos montes, principalmente dos mais próximos, eram as FESTA DA VILA. Foi sempre assim que a consideraram e nessa altura os montes ainda tinham muita juventude, o que hoje não acontece.

As pequenas festarolas que se realizam por muitos montes do concelho só tiveram lugar após o 25 de Abril e mesmo já decorridos uns bons anos. Penso saber que a primeira na freguesia de Alcoutim foi a de Santa Marta que penso se tem realizado anualmente até aos dias de hoje.

Sem espatafurdices têm conseguido manter o fundamental, um almoço de convívio e um bailareco.

Julgo que na freguesia o segundo monte a fazê-lo foi Afonso Vicente, talvez por incentivo do vizinho.

Bolo da 1ª Festa, 13.08.1995. Foto JV

Teve lugar em 1995

Recorrendo à minha memória e onde possivelmente se encontrarão falhas, direi que as pessoas que mais se movimentaram na sua organização foram Manuel Gomes, vulgo Manuel Diogo e Eduardo Patrício, dois afonso-vicentinos residentes no distrito de Setúbal. O primeiro exercia as funções de Presidente da Associação local que tinha recebido obras importantes de beneficiação.

Nesta altura e na época de férias o “monte” era muito visitado pelos seus naturais que viviam em variadíssimos pontos do país com destaque para as zonas industriais de Lisboa e Setúbal, Baixo-Alentejo e litoral do Algarve.

Estes e os poucos residentes da povoação mobilizaram-se na sua organização que constou de uma missa campal que teve lugar junto do depósito da água, de um grande almoço-convívio que constou fundamentalmente do tradicional ensopado de borrego que teve como cozinheiro o Sr. Elisiário do vizinho monte de Sta. Marta que na Marinha desempenhou essas funções.

No serviço de restauração estiveram à altura os profissionais António Marques, daqui natural e Faustino que aqui constituiu família.

Coro da Festa de 1995, Foto JV

Manuel Afonso, vulgo de Jesus, ofereceu um bolo para a sobremesa a que se juntou também a oferta de Maria Isabel Nunes de pires de arroz doce para todos os convivas.

Um pequeno coro do monte interpretou para os presentes versos de autoria de Joaquim Gomes (Relógio) e de Maria José Mestre adaptados a músicas populares conhecidas.


ELEMENTOS DO CORO

Maria de Jesus

Claudina Costa

Gertrudes Faustino

Maria José Meste

Maria Fernanda Mestre

Vítor Faustino

Miguel Nunes


Afonso Vicente querida amiga

Tu serás nossa o resto da vida

És a beleza duma oração

Que terás sempre meu coração.


És sempre Afonso Vicente

A terra do meu agrado

Tu és a jóia mais linda

Que até hoje tenho encontrado


Afonso Vicente és orgulho

Desta gente sem igual

O cantinho mais tranquilo

Das terras de Portugal


Criaste valor, riqueza

Com teu Povo bem unido

Em todo o canto do Mundo

Teus filhos têm vencido


Que todos possam sentir

Hoje, a mesma emoção

E reconheçam a Ventura

Que lhes vai no coração


Vivo distante da terra

Da terra onde eu nasci

Por muitos anos que viva

Nunca me esqueço de ti.


A festa da nossa terra

Fica já com data assente

P `a todos poderem vir

Ao monte de Afonso Vicente.


Quem ainda cá permanece

Recebe com alegria

Os que de longe se deslocam

Para esta romaria.


Teremos uma linda festa

Que a todos vai agradar

Vivas para a comissão

Que a soube organizar.


Ficará no coração

De quem a ela aderir

Aquele deslumbramento

Que por ela vai sentir.


Todos façam qualquer coisa

É esse o nosso dever

Joaquim Relógio fez os versos

Nada mais pode fazer.


À Câmara de Alcoutim

Também queremos agradecer

Que sem o seu contributo

Nada podemos fazer


À Junta de Freguesia

Devemos o nosso obrigado

Apesar de pobrezinha

Muito nos tem ajudado.


Somos um grupo de amigos

Que aqui viemos cantar

Não somos profissionais

Só queremos agradar.


Não somos profissionais

E nem sequer amadores

Queremos agradecer

A todos estes Senhores.


A todos estes Senhores

A todos os que aqui estão

Nós só queremos mostrar

O que nos vai no coração.


Despeço-me agradecendo

A vossa participação

P `ro ano será bem-vindo

Dar à Festa animação


Adeus gente tão querida

Agora é mesmo o final

Pois vamos dar a despedida

Desta Festa sem igual. (*)



(*) As últimas sete quadras são de autoria de D. Maria José Mestre.



No ano seguinte volta a realizar-se a Festa-Convívio chamando muitos filhos da terra e dos montes vizinhos.

Desta vez e para suprir a falta do ano anterior apresentou-se um balancete do movimento que me propus organizar, à falta de outrem.

Verificou-se um saldo de 165.921$00 que reverteu a favor do Centro (associação) local.

Balancete das Contas

No ano seguinte (1997) tem lugar o 3º evento sendo o 4º no ano seguinte. Além do almoço – convívio e do baile começam a aparecer os torneios de xito e de cartas (sueca), com prémio representados por borregos e galos.



Um ou outro rancho folclórico igualmente fez a sua aparição.

Se a memoria não nos atraiçoa houve um ano em que a festa-convívio não se realizou e a última, em moldes completamente diferentes teve lugar a 14 de Agosto de 2010 onde deu um excelente concerto o Grupo Albuera.

Estas pequenas festas-convívio foram-se espalhando por todo o concelho, iniciando-se nuns montes e acabando noutros como aconteceu em Afonso Vicente.

As Festas de Afonso Vicente não vão passar de uma recordação.



REPORTAGEM FOTOGRÁFICA














Raquel Peters, a "Diva"