O nosso colaborador e Amigo Daniel Teixeira nas suas Crónicas e Ficções Soltas que têm
constituído um êxito e uma mais-valia para o Alcoutim Livre, pois do leque de
colaboradores só ele teve a vivência de um “monte”, no caso Alcaria Alta, do
concelho de Alcoutim, ainda que esse facto apenas tivesse tido lugar no período
de férias. A privilegiada memória, o poder de observação e de análise são
factores importantes e que possibilitam uma abordagem séria a uma diversidade
de assuntos que aqui tem tratado com realismo e muita graça o que, naturalmente,
é do agrado dos nossos visitantes / leitores.
Já tem referido algumas vezes o Chico Artur que conheceu
muito melhor do que nós ainda que tenhamos para contar dele dois episódios
curiosos e que não deixam de ter alguma graça.
Pereiro.Porta da casa onde funcionou o comércio de Francisco da Palma. Foto JV |
Devido às funções que desempenhámos na nossa vida
profissional fomos uma pessoa relativamente bem conhecida pelos concelhos por
onde passámos nos nossos 36 anos de actividade. Para nós é que se tornava mais
difícil fixar tanta gente, mas os mais habituais e devido a variados motivos
ficavam e ainda estão muitos na nossa memória visual.
Não nos era estranha a fisionomia de Francisco da Palma, vulgo Chico Artur, Chico como hipocorístico de Francisco e Artur por seu pai ter esse nome, pois devido à sua vida de comerciante e negociante tinha necessidade de se deslocar à repartição onde nós trabalhávamos. Um dia, depois de o atendermos como era habitual, vira-se para nós e diz-nos:
Então, quer ser meu
parente?
Percebemos perfeitamente o que queria dizer e quando tivemos
oportunidade perguntámos ao pai da então nossa namorada se conhecia o Chico
Artur e a resposta foi rápida: É do Pereiro, muito activo e é parente.
Não havia dúvida, a notícia correu célere por todo o concelho. Fulano namorava fulana, mas conheciam-nos melhor a nós do que a ela, ainda que soubessem bem quem eram os seus pais, ele devido também à sua profissão conhecido em todo o concelho de onde era natural e onde sempre viveu. Para ele só havia uma terra – Alcoutim.
Nunca aquilatámos o grau de parentesco, nem isso interessava e pensamos que o era por daquele que efectivamente veio a ser meu sogro.
Logo que casámos passámos a tratar o Chico Artur por parente
o que sempre aconteceu até à sua morte prematura que teve lugar quando já não exercíamos
funções em Alcoutim.
Em
Pereiro. Residência que foi de Francisco da Palma. Foto JV |
Um dia, entre Tacões e Giões, na estrada nº 124, teve um
furo. Todos sabemos a dificuldade que as senhoras têm para mudar uma roda e ela
não era excepção. Ainda não havia telemóveis e encontrava-se numa situação
embaraçosa. A estrada tinha pouco trânsito. Pouco depois uma camioneta de carga
parou e de lá sai um homem de estatura meã, todo resoluto que dirigindo-se-lhe
perguntou:- Oh parenta, qual é o problema? Ela que não o conhecia ficou um
pouco atrapalhada mas ele para a tranquilizar disse-lhe que era o Chico Artur e
ela de nome conhecia. Se lhe tem dito Francisco da Palma, não sabia quem era.
Foi um anjo que apareceu, mudou a roda num ápice e assim pôde
ir dar aulas a Giões.
Quando chegou a casa contou a estória.
Chico Artur era um homem solidário e contamos agora a estória que nos relatou o nosso Amigo e colaborador, Eng. Gaspar Santos.
Em 1954 deslocou-se de bicicleta com um amigo, Castro Fernandes, à aldeia de Martim Longo de onde este era natural ou pelo menos tinha família. No regresso, próximo da aldeia do Pereiro a máquina de Gaspar Santos furou, pelo que o assunto se complicou. Chegaram à aldeia e por sugestão de Castro Fernandes procuraram o Chico Artur que imediatamente resolveu o problema pondo à disposição uma bicicleta, guardando a furada, tendo-se posteriormente realizado a troca.
Na introdução que fizemos do nosso trabalho A Freguesia do Pereiro (do concelho de
Alcoutim) «do passado ao presente» Edição da J.F.Pereiro, 2007, não o
deixámos de recordar a p. 7.
Aqui o voltamos a fazer nestas modestas palavras.