quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Lembrando Francisco da Palma, vulgo Chico Artur

O nosso colaborador e Amigo Daniel Teixeira nas suas Crónicas e Ficções Soltas que têm constituído um êxito e uma mais-valia para o Alcoutim Livre, pois do leque de colaboradores só ele teve a vivência de um “monte”, no caso Alcaria Alta, do concelho de Alcoutim, ainda que esse facto apenas tivesse tido lugar no período de férias. A privilegiada memória, o poder de observação e de análise são factores importantes e que possibilitam uma abordagem séria a uma diversidade de assuntos que aqui tem tratado com realismo e muita graça o que, naturalmente, é do agrado dos nossos visitantes / leitores.

Já tem referido algumas vezes o Chico Artur que conheceu muito melhor do que nós ainda que tenhamos para contar dele dois episódios curiosos e que não deixam de ter alguma graça.


Pereiro.Porta da casa onde funcionou o comércio
 de Francisco da Palma. Foto JV
Devido às funções que desempenhámos na nossa vida profissional fomos uma pessoa relativamente bem conhecida pelos concelhos por onde passámos nos nossos 36 anos de actividade. Para nós é que se tornava mais difícil fixar tanta gente, mas os mais habituais e devido a variados motivos ficavam e ainda estão muitos na nossa memória visual.

Não nos era estranha a fisionomia de Francisco da Palma, vulgo Chico Artur, Chico como hipocorístico de Francisco e Artur por seu pai ter esse nome, pois devido à sua vida de comerciante e negociante tinha necessidade de se deslocar à repartição onde nós trabalhávamos. Um dia, depois de o atendermos como era habitual, vira-se para nós e diz-nos:

 Então, quer ser meu parente?

Percebemos perfeitamente o que queria dizer e quando tivemos oportunidade perguntámos ao pai da então nossa namorada se conhecia o Chico Artur e a resposta foi rápida: É do Pereiro, muito activo e é parente.

Não havia dúvida, a notícia correu célere por todo o concelho. Fulano namorava fulana, mas conheciam-nos melhor a nós do que a ela, ainda que soubessem bem quem eram os seus pais, ele devido também à sua profissão conhecido em todo o concelho de onde era natural e onde sempre viveu. Para ele só havia uma terra – Alcoutim.

Nunca aquilatámos o grau de parentesco, nem isso interessava e pensamos que o era por daquele que efectivamente veio a ser meu sogro.

Logo que casámos passámos a tratar o Chico Artur por parente o que sempre aconteceu até à sua morte prematura que teve lugar quando já não exercíamos funções em Alcoutim.

Em 1975 a minha mulher durante alguns meses do ano teve de se desdobrar por dois locais de trabalho ou seja Tacões e Giões.


Pereiro. Residência que foi de Francisco da Palma.
Foto JV

Um dia, entre Tacões e Giões, na estrada nº 124, teve um furo. Todos sabemos a dificuldade que as senhoras têm para mudar uma roda e ela não era excepção. Ainda não havia telemóveis e encontrava-se numa situação embaraçosa. A estrada tinha pouco trânsito. Pouco depois uma camioneta de carga parou e de lá sai um homem de estatura meã, todo resoluto que dirigindo-se-lhe perguntou:- Oh parenta, qual é o problema? Ela que não o conhecia ficou um pouco atrapalhada mas ele para a tranquilizar disse-lhe que era o Chico Artur e ela de nome conhecia. Se lhe tem dito Francisco da Palma, não sabia quem era.

Foi um anjo que apareceu, mudou a roda num ápice e assim pôde ir dar aulas a Giões.

Quando chegou a casa contou a estória.

Chico Artur era um homem solidário e contamos agora a estória que nos relatou o nosso Amigo e colaborador, Eng. Gaspar Santos.

Em 1954 deslocou-se de bicicleta com um amigo, Castro Fernandes, à aldeia de Martim Longo de onde este era natural ou pelo menos tinha família. No regresso, próximo da aldeia do Pereiro a máquina de Gaspar Santos furou, pelo que o assunto se complicou. Chegaram à aldeia e por sugestão de Castro Fernandes procuraram o Chico Artur que imediatamente resolveu o problema pondo à disposição uma bicicleta, guardando a furada, tendo-se posteriormente realizado a troca.


Na introdução que fizemos do nosso trabalho A Freguesia do Pereiro (do concelho de Alcoutim) «do passado ao presente» Edição da J.F.Pereiro, 2007, não o deixámos de recordar a p. 7.

Aqui o voltamos a fazer nestas modestas palavras.