A foto apresenta um pequeno barco de pesca cheio de gente fardada, no cais velho de Alcoutim e que se vão dirigir a Sanlúcar do Guadiana, do outro lado do rio.
É uma tendência que sempre conheci em Alcoutim e que também
aconteceu comigo; quem lá chega, sem dar por isso, vai inevitavelmente parar
junto ao rio, pergunta logo como se chama a povoação que fica em frente e quem
desconhece a linha de fronteira indaga se aquilo é o seguimento de Alcoutim.
Quando a ligação em transportes públicos colectivos, que
então tinha uma linha diária que servia Beja – Vila Real de Santo António
passando pelas vilas de Mértola, Alcoutim e Castro Marim, o acesso era feito
pelo único existente, ou seja, a partir do Cruzamento ou Quatro Estradas que
constituía o troço 122-1.
Quem não conhecia, ao aproximar-se de Alcoutim e após uma
curva, vislumbrava esta vila que nos dava a sensação de afinal não ser tão
pequena como diziam e isto porque no horizonte Sanlúcar “pegava-se” a Alcoutim,
parecendo tratar-se da mesma povoação.
Acontecia também e antes de 1965 quando de noite se chegava
a Alcoutim (o acesso rodoviário era único, como já se disse) as pessoas
afirmavam ao aproximar-se: -Disseram-me que Alcoutim não tinha iluminação
eléctrica e afinal tem. As luzes que estavam a ver eram de Sanlúcar, mas à distância
davam a sensação ser de Alcoutim.
Não há alcoutenejo que não tenha informado os “turistas”devido
à sua solicitação que aquela terra é de Espanha e chama-se Sanlúcar do
Guadiana. Era natural perguntar-se de seguida se se podia lá ir.
Nessa altura a fronteira estava fachada e era a informação
dada, mas as pessoas por vezes ficavam confusas, pois viam chegar gente de
Sanlúcar e a mesma lancha levaria outras. Lá se ia explicando que eram casos
especiais e autorizados pelas entidades fiscalizadoras dos dois países ou seja,
a hoje desaparecida Guarda-Fiscal e a Guarda Civil de Espanha.
As pessoas conhecidas da vila quando queriam ir a Sanlúcar
pediam autorização ao comandante da Secção ou a quem as suas vezes fizesse, mas
nem sempre era concedida e segundo me diziam existiram comandos que se
pudessem, proibiam olhar para Espanha.
A fronteira só abria na altura das festas anuais das
povoações, em Alcoutim no mês de Setembro e em Sanlúcar pela Páscoa.
Atendendo a que todas as pessoas demonstravam interesse em
conhecer a povoação vizinha, quando aparecia um colega de profissão ou superior
hierárquico e mesmo familiar, lá se procurava “meter uma cunha” e obter o
“salvo conduto”. De uma maneira geral, vinha a desilusão, já que Sanlúcar terá
que ver menos do que Alcoutim. Em alternativa traziam pequenas lembranças, uns
chocolates ou alguma garrafa de Pedro Domec .
Umas das tendência naturais dos alcoutenejos, para retribuir
amabilidades ou proporcioná-las, era procurar autorização para uma ida àquele
lado, como muitas vezes se dizia.
Os fardados, que estão a ser transportados, constituíam uma
banda de música que tinha vindo actuar a Alcoutim.