Esta fotografia tirámo-la a 20 de Outubro de 1968, por isso,
vai fazer em breve 44 anos!
O quadro que apresentamos desapareceu, entretanto, da
paisagem alcoutenense, nomeadamente dos montes, pois na vila, ainda que recente,
já havia distribuição de água ao domicílio.
Nesta altura havia muitas centenas de burros espalhados por
todo o concelho, era animal indispensável na organização familiar, cabia-lhe
realizar muitas tarefas absolutamente necessárias para a manutenção da família.
Bem poucos não possuíam tal animal e quando não o tinham por
falta de requisitos, recorriam a familiares ou amigos e assim, supriam as
tarefas imprescindíveis.
Quando a família era maior e os terrenos que trabalhavam em
número apreciável, só um animal não chegava pelo que tinham dois ou três.
Os mais endinheirados, além dos burros, não dispensavam os
machos ou mulas, um dos sinais que distinguiam os chamados “lavradores” dos
outros, pequenos proprietários e jornaleiros. Ter um bom macho era sinal de
abastança!
Nesta foto o burro ou por outra, a burra encontrava-se
devidamente aparelhada, tendo sido colocada sobre a albarda umas cangalhas de
ferro duplas, isto é, de quatro bolsas, duas para cada lado e providas dos
respectivos cântaros de barro designados por cântaros de Loulé, pois lá é que
eram feitos artesanalmente. Havia cântaros de duas asas e de uma só e de
tamanhos variados.
A região de Alcoutim não é rica em aquíferos e os poucos
existentes com possibilidades de extracção por intermédio de pequenos poços,
situavam-se, normalmente, nos sítios baixos que rodeavam os montes, pois estes
de uma maneira geral ficavam em sítios altos.
Todos precisavam diariamente de água e tinham de se deslocar
aos pequenos poços comunitários quando não a tinham dos seus e mesmo que a
tivessem, procuravam poupá-la para alguma rega de hortejo que geralmente lhe
era contíguo. Nesta altura já estavam apetrechados de bombas elevatórias que
foram instaladas, se a memória não me falha, durante a presidência de António Maria
Corvo.
Quatro cântaros de água bem poupada, como era regra daquelas
gentes, eram suficientes para abastecer uma casa. Destinava-se para beber,
confeccionar as refeições, lavar as mãos (servia mais de uma vez) a louça e
preparar a alimentação de alguns animais. A roupa era lavada nos barrancos,
onde também as pessoas se iam
“laviscando”.
Quem tinha que acarretar água do poço às costas, tornava-se
uma tarefa trabalhosa e complicada.
Tudo isto é passado, muitos dos poços dos montes estão secos
ou desactivados, a água já chega a casa e até na maior parte dos montes nem há
burros!