segunda-feira, 20 de agosto de 2012

A água, esse precioso líquido



Esta fotografia tirámo-la a 20 de Outubro de 1968, por isso, vai fazer em breve 44 anos!

O quadro que apresentamos desapareceu, entretanto, da paisagem alcoutenense, nomeadamente dos montes, pois na vila, ainda que recente, já havia distribuição de água ao domicílio.

Nesta altura havia muitas centenas de burros espalhados por todo o concelho, era animal indispensável na organização familiar, cabia-lhe realizar muitas tarefas absolutamente necessárias para a manutenção da família.

Bem poucos não possuíam tal animal e quando não o tinham por falta de requisitos, recorriam a familiares ou amigos e assim, supriam as tarefas imprescindíveis.

Quando a família era maior e os terrenos que trabalhavam em número apreciável, só um animal não chegava pelo que tinham dois ou três.

Os mais endinheirados, além dos burros, não dispensavam os machos ou mulas, um dos sinais que distinguiam os chamados “lavradores” dos outros, pequenos proprietários e jornaleiros. Ter um bom macho era sinal de abastança!

Nesta foto o burro ou por outra, a burra encontrava-se devidamente aparelhada, tendo sido colocada sobre a albarda umas cangalhas de ferro duplas, isto é, de quatro bolsas, duas para cada lado e providas dos respectivos cântaros de barro designados por cântaros de Loulé, pois lá é que eram feitos artesanalmente. Havia cântaros de duas asas e de uma só e de tamanhos variados.

A região de Alcoutim não é rica em aquíferos e os poucos existentes com possibilidades de extracção por intermédio de pequenos poços, situavam-se, normalmente, nos sítios baixos que rodeavam os montes, pois estes de uma maneira geral ficavam em sítios altos.

Todos precisavam diariamente de água e tinham de se deslocar aos pequenos poços comunitários quando não a tinham dos seus e mesmo que a tivessem, procuravam poupá-la para alguma rega de hortejo que geralmente lhe era contíguo. Nesta altura já estavam apetrechados de bombas elevatórias que foram instaladas, se a memória não me falha, durante a presidência de António Maria Corvo.

Quatro cântaros de água bem poupada, como era regra daquelas gentes, eram suficientes para abastecer uma casa. Destinava-se para beber, confeccionar as refeições, lavar as mãos (servia mais de uma vez) a louça e preparar a alimentação de alguns animais. A roupa era lavada nos barrancos, onde também  as pessoas se iam “laviscando”.

Quem tinha que acarretar água do poço às costas, tornava-se uma tarefa trabalhosa e complicada.

Tudo isto é passado, muitos dos poços dos montes estão secos ou desactivados, a água já chega a casa e até na maior parte dos montes nem há burros!