(Publicado no Jornal do Baixo Guadiana nº68, de Outubro de 2005)
Uns dias antes tinha falado com ele no monte de Afonso Vicente onde se tinha deslocado, o que por vezes fazia, para pagar as quotas na “Sociedade” local e falar com um pastor no sentido de adquirir um borrego para uma almoçarada, comemorativa do seu septuagésimo sexto aniversário que passaria no dia 12 de Setembro.
Com o indispensável boné e o cachimbo fumegando, seguia-o o companheiro “calcinhas”, um pequeno canito preto, seu verdadeiro amigo e companheiro certo, nos maus e bons momentos. Não pensávamos que era a última vez que o víamos!
Dois ou três dias passados, a notícia corria célere nos montes da freguesia de Alcoutim situados a norte da Ribeira de Cadavais:- o Zé Goias, como era popularmente conhecido José Romão Góis, de seu nome, tinha ido de ambulância para Vila Real ou Faro, onde já teria chegado sem vida.
O Zé Goias, que enquanto teve idade para isso guardou gado e sabia lidar com animais de raça asinina, pediu a uma vizinha a burrinha para ir apanhar, pela manhã, uma carguinha de uvas, que pensava ter numa pequena fazenda no sítio da Silveira.
Aparecendo horas depois a burra sozinha em casa da proprietária, esta estranhou o facto e deu o alarme pelo que dois homens se disponibilizaram a ir procurá-lo, tendo-o encontrado prostrado, ainda com sinais de vida.
Compareceram os bombeiros que deram cumprimento à sua missão.
José Góis, aqui nasceu e por aqui foi vivendo durante todo este tempo, mantendo sempre grande ligação com a sua e várias juventudes que foram passando, onde tinha amigos. Foi sempre considerado um moço e não um homem!
Era dos sócios mais antigos da Associação Unidos do Monte, das Cortes Pereiras, que frequentava assiduamente. Era normalmente lá que o encontrávamos, nunca negando a oferta de amigos e conhecidos de uma bebida, de preferência um copinho branco traçado com gasosa.
Era aquilo que vulgarmente se diz “um pobre diabo” mas quando tinha um copinho a mais, tornava-se um pouco implicativo.
Em jovem e durante muitos anos, Zé Goias aguentava com as queixas motivadas pelas patifarias que os outros faziam, era ele que tinha as costas largas e muitas vezes chamado ao “posto” sem ter culpa nenhuma!
Conhecia todas as propriedades rústicas da zona e a quem pertenciam assim como as famílias e suas ligações, apesar de ser analfabeto.
Vivia com o seu “calcinha” numa pobre casita.
Teve a morte que todos ou quase todos desejamos. Nalguma coisa havia de ter sorte.
José Gois, devido às circunstâncias da vida, acabou por aparecer várias vezes nos écrans televisivos.
Veio a ser sepultado no cemitério da vila de Alcoutim, no dia 28 de Agosto, numa cerimónia com muita dignidade realizada, segundo nos consta, por iniciativa de duas familiares apoiadas nos cônjuges, e com um acompanhamento à base de pessoas de Cortes Pereiras, Vascão, Afonso Vicente e Santa Marta, montes que bem conhecia e que desejaram prestar-lhe a último homenagem.
O Presidente da Junta de Freguesia de Alcoutim, não quis deixar de estar presente.
Os humildes também merecem ser lembrados. Zé Goias continuará a ser lembrado pelos seus conterrâneos e amigos, por muitos anos.
Que a terra lhe seja leve. Até um dia, Zé Tijolo.