terça-feira, 24 de fevereiro de 2009
A lenda da moura encantada no castelo velho de Alcoutim
[O que se via da muralha do castelo em 1973]
Como se sabe, as Lendas cada qual conta-as da sua maneira e diz o que quer.
A lenda da moura encantada no castelo velho de Alcoutim, pelo menos há quarenta anos, ainda estava bem enraizada na população da vila e arredores, principalmente naquela que se situa ao norte da freguesia.
Posso mesmo dizer que a maioria, para não dizer a totalidade, dos alcoutenejos que viviam na altura na vila, conheciam-na, melhor ou pior, com mais ou menos pormenores e uma grande parte respeitava-a.
Como aconteceu com muita coisa em relação a Alcoutim, foi o meu saudoso Amigo, Sr. Luís Cunha, a primeira pessoa que nela me falou. Tempos depois refere-a num interessante artigo que publicou no Jornal do Algarve, de 14 de Julho de 1973 com o título “Em Alcoutim – outro interessante desporto à disposição dos jovens”.
Calculo que hoje o conhecimento da lenda passará despercebida à grande maioria dos jovens alcoutenejos mais preocupados naturalmente com outros assuntos.
Por outro lado, ainda que pareça que não, as escavações arqueológicas operadas durante anos acabaram por desmistificar o local, retirando-lhe o misticismo.
Depois do artigo do Sr. Luís Cunha, voltei a encontrar a lenda em As Mouras Encantadas e os seus encantamentos no Algarve, um dos muitos livros que publicou o algarvio, Francisco Xavier d` Ataíde Oliveira, numa edição de 1898 e que teve pelo menos mais uma edição de 1994.
Certamente que esta lenda foi transmitida ao autor pelo pároco de Alcoutim, P. António José Madeira de Freitas (sobrinho), a quem no final do livro agradece a colaboração prestada.
No meu trabalho Alcoutim, Capital do Nordeste Algarvio, Subsídios para uma monografia, 1985, a p. 145 e nas três seguintes, refiro aquilo que os outros escreveram mas transmitindo também a minha narração em consonância com dois dos informadores mais “credíveis”, os senhores Mário Vicente e António Maria Corvo, ambos falecidos há muito.
Não vou transcrever o que então escrevi mas sim procurar fazer um resumo breve.
Diz assim:
[O Castelo Velho segundo Duarte de Armas - Séc.XVI]
No castelo velho de Alcoutim, estava encantada uma bela agarena por motivos que não são conhecidos mas que devem estar relacionados com o abandono forçado que aquele povo teve que fazer.
Depois “conhece-se” a forma de proceder à quebra do encanto, libertando a bela moura:
Na manhã de S. João, e só nessa altura, o pretendente ao desencanto, que ao efectuá-lo, receberia o grande tesouro que se encontrava escondido no local onde se situou o velho castelo mourisco que denominava e vigiava a curva existente no rio, tinha que travar luta contra um bicho façanhudo, tipo réptil que tinha grandes pestanas e sobrancelhas e, o que é muito importante para a estória, uma malha preta na cabeça, único ponto vulnerável que possuía, desde que fosse tocado por uma arma branca.
Se o pretendente não o conseguisse, seria devorado por tal bicho que tinha como local de repouso, observação e defesa dois chaparreiros onde se enroscava e o dilatado tempo já passado, sem que ninguém tivesse o arrojo de o enfrentar, tinha originado o alisar do tronco das árvores.
Quanto à bela agarena, a lenda não indica o seu destino.
Que houve gente que passou dias a cavar no local esperando encontrar o tesouro sem enfrentar o bicho façanhudo, parece ter acontecido pelo menos nos princípios do século passado e possivelmente aconteceu o mesmo em séculos anteriores onde naturalmente a lenda estava mais arreigada.
Ainda hoje e segundo informações muito recentes há tractoristas que em locais impregnados de lendas deste tipo fartam-se de escavar para cima e para baixo esperando encontrar as famosas barras de oiro em arcas ou em coiro de boi, por exemplo!
E a moira, de que se desconhece o nome, o que nem sempre acontece, lá continua no seu padecido encantamento, até a lenda se perder com o esboroar dos tempos!