terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

O cemitério da Freguesia de Vaqueiros


Em 1846 a Junta de Paróquia sentindo-se incapaz, por falta de meios, para construir o cemitério que a Lei impunha, pede autorização para lançar sobre os seus comparoquianos uma derrama equivalente a seis quarteiros de trigo, que poderá ser satisfeito em dinheiro ou nesse cereal, conforme mais interessar ao contribuinte, visto ser tal quantidade a que se julga indispensável para fazer essa despesa.

A Câmara, ciente da realidade e em face do apresentado, resolveu autorizar. (1)

Possivelmente esta deliberação teria dado origem ao velho cemitério situado próximo ou mesmo no adro da igreja e onde ainda há pouco tempo se viam ossadas.

A última vez que tive contacto com estes assuntos e já lá vão uns anos que não me é possível quantificar, ainda existia uma campa neste cemitério (diziam-me que era a última), cujas ossadas não tinham transitado para o novo, por imposição dos seus proprietários. Não conheço os trâmites de tais situações, mas sei que existia uma lei geral que resolvia estas questões e que possivelmente aqui não foi posto em prática, por motivos que desconheço.

O muro, que circunda o velho cemitério, é do tipo do do Pereiro, sendo o portal argamassado e onde ainda se encontra, no seu topo cruz de ferro forjado.

A partir daqui, na minha memória a descrição baseia-se na falta de documentos.

Mal cheguei a Alcoutim, na segunda metade da década de sessenta do século passado, tive logo conhecimento, ainda que superficialmente, dos problema que com ele se passavam.

O que entretanto foi construído, desconhecendo eu a data, estava a dar problemas, pois segundo nos informavam, funcionava como um “tanque”. Após o 25 de Abril o problema foi logo visto numa tentativa de resolver a situação.

Situado do lado direito à saída da aldeia para quem toma o sentido sul, mostra-se, segundo nos foi dado ver, bem cuidado. Ainda não o conhecemos interiormente.

Recorramos agora a um artigo que o nosso saudoso amigo, Luís Cunha, fez publicar (2) no já distante ano de 1973: - os vivos (...) queixam-se de que os mortos os matam no caminho para o cemitério da aldeia porque as veredas vicinais, estreitas e desniveladas, não comportam a passagem de dois homens a par.

Até há bem pouco tempo (...) o que o nosso amigo (interlocutor de Luís Cunha) teria calado supondo tremenda injúria - os mortos eram conduzidos a dorso de burro, amarrados entre dois molhos de palha.

Faltou dizer, e agora dizemos nós e segundo amigos que no-lo transmitiram há mais de quarenta anos, quando na época invernosa a ribeira trazia enxurrada (ribeirada), não era possível passá-la por falta de ponte ou de qualquer outro meio, pelo que, os que morriam nos montes para além daquela ribeira, tinham que aguardar que a mesma desse passagem, o que por vezes levava vários dias. Em tal situação, recorriam muitas vezes ao cemitério da freguesia de Odeleite.
Pensamos indispensável que estes dados fiquem registados para não esquecerem e os vindouros deles tenham conhecimento.

Tudo pertence ao passado. Hoje os defuntos de Vaqueiros têm o mesmo tratamento do que em qualquer das outras freguesias do concelho.


NOTAS

(1)- Acta da Sessão da C.M.A. de 13 de Setembro de 1846 (pág. 97 v. do tomo)

(2)-“Caminhos e Estradas são suprema aspiração da gente de Vaqueiros”, in Jornal do Algarve de 10 de Fevereiro de 1973.