quarta-feira, 16 de julho de 2008

Maria Eduarda de Freitas

Em 1987 quando procurávamos “figuras” para documentar uma rubrica que ainda mantemos num jornal regional, deparámos na Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira com esta Figura que desconhecíamos completamente.

Nome de família totalmente desconhecido no concelho, só podia ser, segundo a nossa opinião, proveniente de uma situação de passagem de funcionário pela vila.

Desde sempre isso aconteceu e foram poucos os que se mantiveram, ainda que alguns tivessem criado raízes.

Propusemo-nos, logo que nos fosse possível e em função dos elementos recolhidos, consultar o assento de baptismo o que acabámos por fazer nas instalações provisórias do Arquivo Distrital de Faro.

Não foi difícil encontrá-lo e por ele verificámos que não nasceu em 1883, como indica a Grande Enciclopédia, mas sim em 1882 e no dia 13 de Setembro, então dia de Feira Anual na Vila. O baptismo é que foi realizado no dia 29 de Março de 1883 e daí a confusão.

Era filha de Luís Francisco Lopes Alves, Chefe da Secção da Alfândega local e de D. Joana Augusta da Costa Brak Lamy Lopes Alves, ele natural de Faro e ela de Portimão.(1)

A minha suspeita veio a confirmar-se.

Não sabemos com que idade teria saído de Alcoutim e se alguma vez lá voltou, mas para o efeito isso pouco nos interessa. É natural que tivesse saído bem jovem, já que era norma os funcionários estarem ali o mínimo de tempo possível e que nunca mais tivesse voltado até porque os transportes eram complicados

Independentemente da relação que tivesse tido com o lugar em que nasceu, a verdade é que se trata de uma alcouteneja que se notabilizou pelo seu percurso de vida como veremos seguidamente, honrando assim o nome do concelho onde nasceu.

Foi enfermeira militar, reformando-se como tenente. Admitida por concurso é colocada no Hospital Militar do Porto.

O curso profissional de enfermagem e o da Cruz Vermelha, foram tirados na altura da Grande Guerra.

Foi condecorada com a medalha de LOUVOR, Nº 1, pelos serviços que prestou na Cruz Vermelha durante o movimento revolucionário de Sidónio Pais (Dez. de 1917).

Publicou o seu primeiro conto no Diário Ilustrado, quando tinha vinte anos. Aos vinte e sete vai para Lisboa onde colabora em diversos jornais e revistas, usando o pseudónimo de Maria Arade. Em 1911 assume a direcção do Jornal da Mulher, agora com o pseudónimo de Maria Luísa Aguiar.

Em 1914 fixa-se no Porto continuando contudo com a direcção do jornal. De 1915 a 1918 assina a secção “A Arte e o Lar” do jornal A Luta. Volta à direcção do “Jornal da Mulher” em 1928, mantendo-se nele até 31, passado depois a colaborar no jornal A Voz.

Colaborou igualmente nos seguintes jornais:- O Mundo, La Pensée (Bruxelas), La Libré Pensée (Lausana), La Razione e La Republicana (Roma), Le Rappel (Paris), O Rebate (Lisboa) e A Luz (Funchal).

Como escritora publicou O Leque (1932), Martírio (romance histórico) (1935), o Manual de Encadernador (1937) e o Manual de Dourador e Decorador (1941), Edições Sá da Costa, manuais que pensamos serem únicos da especialidade e conhecidos de todos os bons artistas daquelas artes em vias de extinção.

Dedicou-se também à investigação, tendo publicado Os Livreiros de Lisboa Quinhentista.

Foi sub-bibliotecária num arquivo dependente da Torre do Tombo. Em 1926 fundou uma biblioteca sistema Braille que ofereceu ao Asilo de Cegos de NªSª da Saúde.

Também fez parte do Sindicato da Pequena Imprensa.
Em Magdeburgo apresentou uma tese no Congresso Internacional Racionalista.

Introduziu entre nós vários trabalhos de arte aplicada, organizando exposições de trabalhos femininos. Realizou também exposições de fotominiatura, acompanhada de conferências.

Faleceu na cidade do Porto em 18 de Julho de 1952 esta Mulher plurifacetada que alcançou notoriedade.

Usava o nome de Maria Eduarda Brak-Lamy Lopes Alves Barjona de Freitas.



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Extraído de Alcoutim – Capital do Nordeste Algarvio, Subsídios para uma monografia,
José Varzeano, 2ª Edição (em preparação)