domingo, 4 de janeiro de 2009

Alcoutim nas Gazetas da Restauração [1641-1648]


Esta Gazeta, em que se relatam todas as novas que houve nesta corte e que vieram de várias partes, teve início em Novembro de 1641 e foi a primeira publicação periódica existente em Portugal com carácter informativo. Tinha em linguagem de hoje, notícias do país e do estrangeiro.

Foi um meio habilmente utilizado pelos políticos de então com o fim de transmitir confiança e cimentar a independência nacional.

Em trabalho de compilação e anotação de Eurico Gomes Dias, intitulado Gazetas da Restauração [1641 – 1648] Uma revisão das estratégias diplomático-militares portuguesas (edição transcrita), Edição - Colecção Biblioteca Diplomática do MNE – Série A, com saída datada de Outubro de 2006, recolhemos estas duas pequenas notícias em que se fala de Alcoutim


NA GAZETA DO MES DE Mayo de 1642, a última notícia do Reino, refere-se a Alcoutim e é curiosa:

Nos vltimos de Mayo vindo alguns Barcos de trigo de Mertola para Alcoutim pello Rio arriba lhe sairam outros bem armados de Castelhanos sucedeo, que na Ribeira da parte de Portugal se achauão dous homens, & hum moço, que casauão, & vendo a contenda socorrerão aos barcos portuguezes tirando alguns tiros aos Castelhanos, que temerosos daquella defensa, ainda que tão piquena, se puzeraõ em fugida, & os nossos barcos vierão em paz ao porto.

Pelo que se lê, o gosto dos alcoutenejos pela caça já era patente nessa altura.

Igualmente nos interessa a notícia que nos dá a GAZETA DO MES DE IVLHO DE 1642. Diz assim:

A huma aldeã, que està entre Alcoitin, & Castro Marinho, vieram sinco barcos longos de Castelhanos, & saquearam huma ermida de Sancto Antonio, sem deixarem os sinos, nem as portas; & depois de queimarem algumas choças, que naquelle destrito hauia, se recolheram leuando o mesmo sancto com grande festa, & algazara, como que o leuauão cativo. Chegou isto à noticia de Dom Francisco de Castelo Branco; que estaua em CastroMarinho, & mandou logo meter huns mosqueteiros em barcos, os quaes sahiram ao rio, & tomaram tres barcos longos de Aiamonte, & dous de San Lucar de Guadiana, com a gente que hia nelles.
Estas escaramuças eram bem típicas de uma zona fronteiriça como esta, com acções deste tipo de ambos os lados.

Aqui fica este pequeno apontamento para os curiosos das coisas alcoutenejas.