sábado, 24 de janeiro de 2009

A capela de S. Domingos na aldeia de Giões



As ruínas da ermida de S. Domingos situam-se fora da aldeia, mas perto dela, numa pequena elevação, passando-lhes perto a actual estrada para Clarines.

Foi igreja matriz até 1565, ano em que já se encontrava numa fase adiantada a construção da actual.

Em 1534 é descrita como tendo paredes de pedra e barro, rebocadas, duas portas em alvenaria, a principal com ferrolho e a lateral com fechadura.

Era madeirada de castanho e de telha vã.

Interiormente, um arco de alvenaria e no altar-mor, como não podia deixar de ser, a imagem do padroeiro. Pinturas na parede do Espírito Santo com Nª Senhora e os Apóstolos, como se usava na época.

Dois altares colaterais de alvenaria. No do lado do Evangelho, estavam pintados Nª Senhora, Santa Ana e Santo António, e no da Epístola, Santa Bárbara.

No cruzeiro, um crucifixo e outras imagens igualmente pintadas.

Possuía pia baptismal de barro e uma pequena de pedra, para água benta.

Sobre a porta principal, um campanário de tijolo, com um bom sino.

Trinta anos depois, na descrição feita pelos “visitadores” da Ordem de Santiago, à qual estava sujeita, as diferenças encontradas não são muito significativas.

Paredes, telhado, arco cruzeiro, altar de alvenaria e a imagem de S. Domingos estavam na mesma, a diferença é que naturalmente estava tudo mais velho pois já se tinham passado trinta anos!

Diz-se que para ir ao altar subia-se um degrau de alvenaria. É-se mais preciso indicando a porta principal de pedraria e redonda, formato que ainda é nítido nas suas ruínas, tendo desaparecido a pedraria, certamente para aplicação noutro lugar.
Ainda se mantinha a porta lateral e faz-se referência à existência de três botaréus em cada uma das paredes laterais.

O campanário já não tinha sino!

Foi mordomo da ermida, Afonso Fernandez, morador na aldeia, que tinha à sua guarda vários bens móveis, desde utensílios de altar, do culto, vestes sagradas e de altar.

Parece-nos de interesse transcrever as determinações feitas pelos visitadores, em 1566.

Por acharmos que os fregueses desta freguesia tem obrigação ao corregimento desta hermida por aver sido da sua matriz, mandamos aos elegidos e aos morodomos que a repairem do madeiramento e telhado e concertem o ladrilho e de marquem o adro ao redor com marcos que bem posão ser visto para que não se entremetão os vezinhos a lavrarem nelle o que comprirão com pena de dez cruzados, ametade para os cativos e a outra ametade para o meirinho da Ordem. (1)

Não conhecemos o resultado destas determinações, revelaram-nos contudo que o templo era ladrilhado e que havia que ter cuidado com o adro, sendo implícito a aplicação de coimas.

Sabemos que a Confraria de S. Domingos foi-se mantendo e em 1727 o retábulo do altar foi pintado. Contudo, em 1745 “a ermida do Santo está cahida” e a Imagem é transferida para a igreja matriz.. (2)

As Memórias Paroquiais (1758) informam que a aldeia tem uma ermida do Senhor São Domingos e acrescentam que em alguns dias acodem em romagem algumas pessoas que têm padecido de sezões, terçãs, ou quartãs por ser nesta freguesia e seus arredores o Santo Advogado contra as referidas enfermidades.

A Câmara, em correição pelo concelho em Janeiro de 1843, na passagem por Giões, determina que “o caminho que vai da Ermida de São Domingos para a Parochia, deve ser feito pelo Povo, por diante da cerca de José Pereira”. (3)

Nos finais da década de trinta dos nossos dias ainda era um templo conservado ao culto mas por volta de 1957, segundo testemunha ocular e porque a capela já estava em ruína, S. Domingos foi levado em procissão para a igreja matriz, onde ainda se encontra.

Ao ser verdade o que nos informaram, depois de 1745 a imagem teria regressado ao seu lugar na ermida, possivelmente após alguma reparação. Em 1957 teria efectuado o regresso definitivo.

O que resta? O que ainda existe?

O amplo adro onde além dos enterramentos se juntava o povo em romaria e as quatro paredes que têm aguentado com “resignação” as intempéries.

Já por duas vezes ouvimos falar na sua reconstrução, a primeira em 1990 e a segunda mais recentemente, mas... até agora nada de concreto e não tardará muito que o seu estado seja semelhante ao da Capela de S. Martinho, nas Cortes Pereiras.

A Revista Municipal, Alcoutim, nº 11 de Janeiro de 2005, traz na página 23 uma fotografia das ruínas com a seguinte legenda:- Capela de S. Domingos, edifício a recuperar em Giões. Já se passaram praticamente quatro anos, mas ainda nada se vê. Possivelmente dentro de pouco tempo virá à “baila”.

É assim que se preserva o património construído!

NOTAS

(1) - “Visitações” da Ordem de Santiago no Sotavento Algarvio, Hugo Cavaco, Vila Real de Santo António, MCMLXXXVII.

(2) - A Escultura de Madeira no Concelho de Alcoutim do séc. XVI ao séc. XIX, Francisco Lameira e Manuel Rodrigues, Faro, 1985.

(3) – “Irá sair das ruínas a Ermida de São Domingos na aldeia de Giões (Alcoutim)?, in Jornal do Algarve de 1 de Novembro de 1990.