sábado, 2 de maio de 2009
Comemorar o 1º de Maio em Alcoutim - Para que conste
[1º de Maio de 2000. Assando sardinhas. Foto JV]
Ou foi em 1975 ou 1976, não tenho a certeza, que em Alcoutim se festejou, que eu saiba, pela 1ª vez, o 1º de Maio.
Os Festejos a partir dessa data parece que se têm realizado ininterruptamente.
Naturalmente que se foram ajustando no decorrer dos tempos o que é natural e salutar mas uma coisa não se deve perder, a essência da sua realização.
Nos anos 70 em Alcoutim, restavam a muito custo as Festas Anuais da Vila que um grupo de pessoas jovens dos poucos que existiam na vila iam teimosamente mantendo sem o mínimo auxílio camarário, que o não tinha para prestar e penso eu um ridículo auxílio do “Turismo” e pouco mais.
Ainda sou do tempo de se realizar um peditório pelo concelho e mandar circulares a pedir ajuda aos alcoutenejos ausentes, por aqui e por ali.
A Câmara Municipal tinha deixado cair os que foram movimentados mercados mensais.
Os bailes dos anos 40/50 de que fala o meu Amigo Eng. Gaspar Santos já não existiam.
O Entrudo só era lembrado pelas acções de Mestre Carlos ou da vizinha D. Hilária que mobilizava meia-dúzia de pessoas, incluindo crianças que se enfarranchonavam correndo as casas da vila procurando como é natural não serem conhecidas. O pior eram as crianças que iam chamando pelos adultos.
Os Santos Populares e As Maias não passavam de velhas recordações que os mais velhos referiam.
Não é para falar sobre isto que nos propusemos mas sim sobre o 1º de Maio.
Compilando alguns elementos que então escrevi direi que a população da pequena vila raiana se juntou na sua sala de visitas, que o cais novo do Guadiana constituía.
O núcleo local de um partido político pôs mãos à obra e consegue congregar parte da população. Faz-se um peditório que em pouco tempo recolheu umas centenas de escudos e em breve chegaram aos milhares, além da oferta de géneros.
As velhas meses de madeira das Festas, que tanto custaram pagar, foram previamente colocadas.
A um canto, um barril de vinho e uma caneca, quem quisesse, era só servir-se. Ao lado, dois brasidos feitos com lenha de azinho e de amendoeira e onde eram assados 10 kg de peixe (muge) , frango e borrego. Tomou conta da tarefa, que bem sabia efectuar, António Carlos Vicente (vulgo António Emílio). Encontrámo-nos num dos últimos 1ºs de Maio e ao lembrar-me do primeiro 1º de Maio estivemos a falar sobre o assunto, fazendo os nossos comentários e se analisámos as melhorias verificadas, não deixámos de comentar o que entendíamos conspurcar a ideia inicial.
Nesse 1º de Maio em cima das mesas encontravam-se cestas com pão cortado e espalhadas garrafas de refrigerantes para quem quisesse, nomeadamente as crianças, algumas delas estarão perto de ser avós!
Foi instalada uma aparelhagem sonora e um acordeonista tocava os seus números.
Conversava-se, comia-se e dançava-se! Lembro-me que das pessoas que mais dançou foi Francisco Gonçalves Barão que ainda tinha o pé bem leve e dançava bem, não tivesse ele sido um bom músico local.
Nessa altura os automóveis eram bem poucos e aos domingos e feriados a vila ficava adormecida. Como as repartições estavam fechadas ninguém lá ia.
Nesse dia, uma ou outra pessoa que tivesse aparecido, conhecida ou não, era convidada pelos que estavam festejando o 1º de Maio para descer e se associar à festa.
Este espírito de convidar quem aparecesse continuou nos anos seguintes pois a festa teve sempre um aumento significativo de visitantes.
Penso que em 2008 quando cheguei à vila por volta das dez horas, estava o cais completamente cheio de forasteiros bem instalados. Não havia um único lugar livre!
Em 2000 os festejos ainda foram razoáveis, apesar da muita confusão.
[O 1º de Maio em 2000]
Escrevo precisamente no dia 1 de Maio de 2009. Não sei como as coisas se passaram, mas pelo que vi nos últimos anos, não me parece que esta pequena festa que o 25 de Abril nos trouxe se tenha processado com o mesmo espírito com que a ajudámos a criar, e É PENA.