quinta-feira, 7 de maio de 2009

Marina Ramos Themudo


[A Prof. Doutora Marina Ramos Themudo quando se aposentou]

Pequena Nota
Ainda que em “Alcoutim, Capital do Nordeste Algarvio (subsídios para uma monografia), 1985 eu tenho referido, nas Figuras em Destaque três personalidades na altura em grande actividade e que infelizmente só resta uma, é meu hábito fazê-lo em relação àqueles que já fizeram a sua passagem entre nós.

Como é hábito dizer, só as excepções confirmam as regras e assim vai acontecer mais uma vez.

E qual a razão para que isso aconteça?

É que, Marina Ramos Themudo, por mais que se possa dizer, é até hoje e que seja do meu conhecimento, a única doutorada que nasceu na vila de Alcoutim!

Esta pequena nota biográfica de uma figura que dá prestígio a Alcoutim, possivelmente será diferente de todas as outras que tenho escrito até agora.

Pela velha amizade que nos liga, criada por “Alcoutim”, antes de a publicar, dei-lhe prévio conhecimento.

Podemos igualmente acrescentar que é mais um extracto da 2ª Edição de “Alcoutim, Capital do Nordeste Algarvio (Subsídios para uma monografia)” que como os meus leitores sabem, continua em preparação
.

JV


Comovida e reconhecidamente li, deliciada, o belo livro que amorosamente compôs sobre a minha terra.
... ... ...

Deixei-a com três anos de idade. Desses meus primeiros tempos de vida restaram umas vagas memórias de passeios ao campo com as irmãs mais velhas (...) cruzadas com a recordação da viagem da partida de barco noite dentro, rumo a Vila Real de Santo António. E durante muitos e muitos anos, a minha terra natal, construiu-se, apenas, a partir das recordações, sentimentos e profunda saudade dos irmãos que por lá haviam deixado os melhores momentos da sua meninice. (1)
... ... ...
... Alcoutim. Uma paixão comum, e de que natureza! Para mim, uma espécie de “Paraíso Perdido” do qual restam algumas reminiscências. Sobretudo, o metro-padrão sensorial pelo qual toda a experiência posterior obteve a sua medida - foi a escrita das primeiras impressões, a segunda ligação cósmica após a ruptura do cordão umbilical. Uma verdadeira “instrução dos sentidos”, que ali começou. Nas passagens breves pela minha terra, eu sei sempre o que originariamente teceu a minha pele, a raiz estruturante de todas as ausências futuramente sentidas.


[Marina Themudo em Alcoutim]

... Foi a mais “bonita” prenda, (2) que recebi, de há muitos anos a esta data. Não é, certamente necessário dizer-lhe como seguimos - eu e a família - religiosamente em silêncio, o olhar atento e curioso da câmara, deslizando de mansinho pelas casas, ruas, montes e água de Alcoutim e San Lucar.
Com essa idade (três anos) saí de Alcoutim e só voltei trinta anos depois. Mas a família não deixou nunca morrer a lembrança e, através dos meus irmãos e das suas recordações, eu fui mitificando o lugar. (3)
... ...

Parafraseando o poeta, peço-lhe que “passe por mim” nos lugares da minha terra e leve-lhes o meu olhar. (4)



Quem acabou de ler estas palavras é capaz de ter ficado um pouco confuso. São pequenos extractos de três cartas que a alcouteneja Doutora Marina Themudo teve a amabilidade de nos endereçar. Eu penso que elas traduzem bem, e mais exemplos podíamos dar, do verdadeiro sentido filial e de amor, apesar do seu afastamento físico, que mantém com a terra que a viu nascer.

Que palavras tão belas e significativas! Só por elas e segundo a nossa concepção, “merecia” englobar as nossas “figuras”. Mas não é só isso. Marina Ramos Themudo atingiu um grau académico acima do normal, sendo por isso razão de destaque



Nasceu em Dezembro de 1934 na vila de Alcoutim.

Filha de José Themudo que exerceu vários anos as funções de Secretário de Finanças neste concelho e de D. Marina do Carmo Ramos Themudo.

Saindo de Alcoutim com três anos de idade, motivado pela vida profissional de seu pai, acompanha-o por onde passou, desde o Algarve a Trás-os-Montes.

Matriculou-se na Escola do Magistério Primário de Bragança e termina o curso na de Vila Real.

No ano lectivo de 1954/55 exerce funções docentes numa escola do concelho de Chaves. Entretanto lecciona e orienta estágios pedagógicos nas escolas anexas da Escola do Magistério onde iniciou o curso. Para se aproximar de Coimbra, concorre e é colocada numa escola do concelho de Albergaria-a-Velha.

Apesar de leccionar sessenta crianças das quatro classes, prepara-se para realizar provas correspondentes ao Curso Complementar dos Liceus (6º e 7º Ano) no Liceu de Aveiro.

No ano de 1959/60, matriculou-se como voluntária, na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, para frequentar o Curso de Filosofia que veio a terminar em Outubro de 1964. Nesse período acumulava a docência da escola oficial com a do ensino particular, no colégio de Albergaria-a-Velha.

Pede entretanto licença ilimitada da função pública para exercer a tempo inteiro funções docentes no ensino particular, leccionando as seguintes disciplinas: Língua Portuguesa e Literatura Portuguesa do 6º e 7º Ano e Filosofia dos mesmos anos. Anteriormente tinha leccionado a disciplina de História Universal e de Portugal, durante quatro anos.

Iniciou em Outubro de 1973 o Estágio Pedagógico no Liceu Nacional de Aveiro, que viria a terminar em Julho de 1974. Em Janeiro desse ano apresentou a sua tese de licenciatura, tendo sido aprovada com a classificação de 16 valores.

A 2 de Janeiro de 1975 tomou posse do lugar de Equiparada a Assistente além do quadro, da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, depois de ter pedido exoneração do cargo que exercia no Liceu Nacional de Aveiro.


[Marina Themudo quando leccionava na Universidade de Coimbra]

No ano de 1980 passou à categoria de Assistente, além do quadro, da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, tendo tomado posse em 2 de Outubro.

Na Universidade Católica de Louvain-la-Neuve, com o auxílio de bolsas de estudo, realiza estudos com vista ao seu doutoramento.

Em 27 de Julho de 1988 prestou provas de doutoramento em Filosofia, defendendo uma tese subordinada ao tema: Ética e Sentido - Ensaio de Reinterpretação do Tractatus Logico - Philosophicus de Ludwg Wittgenstein, que foi aprovado com distinção e louvor por maioria.

Em 9 de Setembro tomou posse do lugar de Professora Auxiliar do Grupo de Filosofia.

É nomeada em 6 de Outubro de 1997 definitivamente Professora Associada da mesma Faculdade.

Em 1998 é membro não só do Instituto de Estudos Filosóficos, mas também do Instituto de Estudos Jornalísticos, onde rege respectivamente as cadeiras de “Axiologia e Ética” e “Ética da Comunicação” e o Seminário de “Ética e Deontologia de Comunicação”, no âmbito do Mestrado em “Comunicação e Jornalismo” do qual foi Directora.


[Casa onde viveu em Alcoutim, a família Themudo]

É autora de vários estudos, que vem publicando desde 1974, ano em que assina, para a revista Biblos da FLUC, o artigo “Função epistemológica e estatuto ontológico das ideias e das noções no imaterialismo de Berkeley”.

As publicações posteriores centram-se sobretudo, nas áreas de Axiologia e Ética e Filosofia da Linguagem, entre as quais se destaca o volume: Ética e Sentido – Ensaio de Reinterpretação do Tractatus Logico-Philosophicus de Ludwig Wittgenstein, Almedina, Coimbra, 1989.

Encontra-se desde (2000) na situação de aposentada.

A Professora Doutora Marina Ramos Themudo tem muita honra em ser alcouteneja e Alcoutim deverá honrar-se de ter uma filha desta estirpe.

NOTAS

(1) - Carta datada de Coimbra a 12 de Junho de 1987.
(2) - Uma simples “cassete vídeo” reproduzindo Alcoutim na sua totalidade e algo de Sanlúcar.
(3). Carta datada de 30 de Junho de 1992.
(4) - Carta datada de Coimbra a 13 de Abril de 1993.