quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Um "Milagre" desconhecido dos alcoutenejos


[Igreja Matriz de S. Salvador. Óleo de JV, 1970]

Quem mexe nestes assuntos sabe que uma das bases de informação para o que aparece escrito sobre o passado das “pequenas terras de Portugal” tem por base aquilo a que se convencionou chamar MEMÓRIAS PAROQUIAIS.

Sebastião José de Carvalho e Melo, que veio a ser Marquês de Pombal, por aviso de 18 de Janeiro de 1758, faz remeter a todos as paróquias um interrogatório onde se solicitam informações de carácter geográfico, demográfico, histórico, etc. e os estragos eventualmente causados pelo terramoto de 1 de Novembro de 1755.

Esta importante informação juntamente com outras do mesmo tipo vieram constituir 44 Volumes e cujas datas extremas são 1722-1832.

Na posse de cópias,no que se refere a Alcoutim, vamos tentando ler o mais correctamente possível o documento, o que temos vindo a realizar sem dificuldades de maior.

Temos de ter em conta que é documentação com mais de dois séculos e meio, com casos de tinta repassada, deterioração de vários tipos, os termos e grafia apresentados, sendo esta última muito variada de pessoa para pessoa, tudo isto provoca entraves a uma melhor leitura.

O Pároco da Freguesia de O Salvador do Mundo, ao responder ao quesito 7, refere algo que desconhecíamos completamente, pois nunca o encontrámos referido em qualquer trabalho e por outro lado não existe tradição local daquilo que expõe e tentaremos descrever.

Ao descrever o templo diz que do lado da Epístola estão três altares, o SS Nome de Jesus, seguindo-se-lhe o do Senhor Jesus dos Milagres, de recente levantamento (1750) e nele se venera um devotíssimo Senhor Crucificado, Imagem milagrosa e de muitos prodígios, seguindo-se um terceiro altar com capela abobadada e onde se encontra a venerável Imagem da Doutora Santa Catarina, protectora das Almas. “Esta capela é privilegiada todos os dias e se reforma o seu privilégio de quinze em quinze anos.”

Diz o pároco e confirma-se que toda a parte da Epístola está defronte da vila de Sam Lucar de Castela e do seu castelo. E continua o sacerdote: é digno de memória que no tempo das guerras, governando em Sam Lucar do Guadiana um hereje ou pouco católico, a artilharia começou a atirar a esta igreja (...) destruindo os telhados da Igreja e paredes, abrindo com as balas muitos buracos nas mesmas, havendo resposta de parte a parte.

E agora vai o “milagre”:- As balas que batiam na parede da Capela das Almas não a penetravam, deixavam o sinal onde tinham batido mas acabavam por cair no chão, não fazendo outro qualquer efeito

Para terminar, afirma o pároco:- Estes testemunhos infalíveis do prodígio, ainda hoje se podem ver!

Não sabemos a que guerras se refere o informador, para as da Restauração da Independência, acho-as muito distantes (c. de 90 anos), talvez queira referir as da Sucessão de Espanha (1704/1713) que aqui se fizeram sentir.

Aqui fica esta referência histórico/lendária que as Memórias Paroquiais nos deixaram.