[Igreja Matriz da Vila de Alcoutim. Foto JV, 2010]
O ano de 1877 foi um ano de fome para o concelho de Alcoutim, nomeadamente para a sua freguesia, que viu os terrenos banhados pelo Guadiana completamente destroçados, devido à grande cheia de finais de 1876, princípios do seguinte.
As margens do rio são os terrenos mais produtivos do concelho e era por lá que toda a gente procurava ter um cantinho, tanto de pessoas desta freguesia como das limítrofes e isso é fácil verificar pelo manifesto feito devido aos prejuízos que a enchente causou.
As árvores que bordejavam a margem, nomeadamente romãzeiras e marmeleiros que suportavam os terrenos, foram arrancadas e levadas pela forte corrente e todos os cultivos desapareceram completamente, aparecendo à superfície peças arqueológicas que o arqueólogo algarvio, Estácio da Veiga, estudou e recolheu.
Miguel Angel de Leon, o ainda lembrado espanhol, que presidiu à Câmara Municipal e barbaramente assassinado descreve em actas da Câmara a penúria em que ficou o povo e até informa que tem de recorrer às ervas espontâneas para minorar a fome.
Para minorar a crise é deliberado mandar construir a estrada entre a Vila de Alcoutim e a aldeia do Pereiro, para assim haver trabalho para muita gente que estava vivendo grandes dificuldades. Lembro-me de várias pessoas me contarem que os seus antepassados, homens e mulheres, terem trabalhado na construção da estrada e isto segundo lhes transmitiam os seus avós.
Ao cais de Alcoutim chegaram sementes para distribuir pelos agricultores a fim de poderem efectuar novas sementeiras.
É neste contexto que decorre o ano de 1877 e sugeriu-me uma abordagem aos casamentos efectuados.
Tiveram lugar 25, por isso, uma média superior a 2 por mês. Em Abril realizaram-se 7, com 4 no mesmo dia!
O nubente mais velho, uma viúva de 56 anos de Afonso Vicente e o mais novo, também do sexo feminino tinha 17 e era natural de Santa Marta.
Das 50 pessoas que se consorciaram, 10 eram viúvas (6 homens e 4 mulheres) sendo as restantes solteiras.
A média de idade arredondada dos homens cifrava-se em 32 anos enquanto a das mulheres ficava em 27.
Dos 25 casamentos, só em 4 elas são mais velhas do que eles e a maior diferença de idade é de 20 anos verificada entre ele com 43 e ela com 23, ambos solteiros.
Dos 50 nubentes, só sete (5 homens e 2 mulheres) não eram do concelho, sendo 1 natural de Aiamonte e apenas 4 homens não são da freguesia. Destes e vivendo na vila onde era oleiro, um natural de Martim Longo e que tinha 22 anos. A rua da olaria velha ficava próximo da Porta de Tavira.
Apresento um quadro com as proveniências dos nubentes.
Faltam apenas o Marmeleiro, sempre um monte pequeno e o Balurco de Baixo, que na altura não tinha a importância que tem hoje e que lhe foi dada pela estrada Mértola -Vila Real.