sábado, 11 de junho de 2011

Em que ficamos, é Corte Serranos ou Corte Serrano?

[Vista parcial. Foto JV, 2010]

Sempre conheci no concelho de Alcoutim estes problemas de toponímia que não são tão poucos como isso e que se vêm arrastando ao longo dos anos.

Só muito recentemente a entidade competente resolveu o caso de Martim Longo, ainda que se continue a assistir à grafia errada por parte de muitas entidades oficiais e algumas de responsabilidade pedagógica.

Para mim é-me completamente indiferente escrever de uma maneira ou de outra ainda que naturalmente tenha a minha opinião.

Na página da Câmara Municipal de Alcoutim a povoação está indicada como Corte Serranos, enquanto as placas toponímicas têm Corte Serrano.

Navegando na Internet encontro as duas grafias para a mesma povoação. O Código Postal tem Corte Serrano – 8970-206 – Martim Longo e a associação local é designada por Centro Cultural e Recreativo de Corte Serrano e os fundadores tiveram o direito de lhe pôr o nome que entenderam.

[Placa toponímica identificativa do "monte". Foto JV, 2010]

Visitando o “monte” aqui há uns anos e pondo o assunto a alguns moradores, todos me disseram que era Corte Serrano e não Corte Serranos.

Nas Memórias Paroquiais (1758) o pároco de Martim Longo que respondeu ao questionário escreveu Corte Serranos.

O problema estará em saber se foi um ou mais povoadores que teriam dado origem ao núcleo populacional.

O monte, que foi importante na freguesia de Martim Longo a que pertence e dista 11 km, estende-se ao longo da Estrada nº 124 e espalha-se por zonas limítrofes.

É a última povoação do concelho por este lado, visto pouco depois se entrar na freguesia de Cachopo, concelho de Tavira.

Recuando no tempo sei que no arrolamento de gados de 1771, Manuel Gonçalves faz o seu manifesto constituído só por gado vacum.

[Povoação ao longo da estrada. Foto JV, 2010]

Em 1890 (1) um morador deste “monte” solicita à Câmara um subsídio para criar duas filhas gémeas que nasceram em 17 de Outubro de 1889.

A Comissão Administrativa da Câmara Municipal, na altura presidida pelo Dr. João Francisco Dias, pede em 1937 a criação de um posto escolar para aqui funcionar e que veio a ficar instalado em casas de Manuel Francisco. (2)

Anos depois, penso que em finais da década de 60, é construído um edifício escolar que veio a encerrar em 1990 por falta de alunos. (3) Esta escola recebia as crianças dos montes circunvizinhos, como da Arrizada e do Barroso.

[Casa florida. Foto de JV, 2010]

O edifício escolar foi adaptado passando a constituir a sede do Centro Cultural e Recreativo de Corte Serrano. Ficou composto por um salão polivalente, zona de bar com cozinha e casa de banho.(4) Na zona envolvente foi criado um recinto desportivo com balneários e zona verde. O investimento montou a 100.628 €

Existe uma associação de Caçadores designada de “Moinho”.

Desconheço se ainda se mantêm uma serralharia e uma carpintaria. (5)

Os arruamentos foram pavimentados em 1991. (6) Nove anos depois são reparados a betão. (7)

Em 2005 é levada a água aos domicílios, (8) ainda que não exista saneamento básico.

A Corte Serranos, que em 1911 possuía 169 habitantes, sofreu um decréscimo populacional de 64,5% em relação ao censo de 1991 em que tinha sessenta, ocupando o 7º lugar na freguesia a nível de população e de “montes”, quando em 1911 era o segundo mais populoso só suplantado por Sta. Justa.

[O Montinho, já sem habitantes. Foto JV, 2010]

No censo de 2001 o número de habitantes cifrava-se em 44 (18-H e 26-M) pelo que presentemente deve rondar as duas dezenas.

O Montinho já se encontra desabitado mas a Soalheira ainda tem gente.

Fica a cerca de 40 km da sede do concelho.

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Notas:
(1) - Acta da Sessão da C.M.A. de 20 de Janeiro.
(2) - “ Um Século de Ensino Escolar no Concelho de Alcoutim - (1840/1940)”, José Varzeano em Jornal do Algarve de 4, 11 e 18 de Abril de 1991.
(3) – Boletim Municipal nº 7 de Abril de 1990, p 2.
(4) – Alcoutim, Revista Municipal, nº 9 de Dezembro/ 2002, p. 6.
(5) - O Nordeste Esquecido - Caracterização da Freguesia de Martinlongo - 2º Ciclo Nocturno - Martinlongo, Ano Lectivo de 1989/90 - Setembro de 1994.
(6) -Boletim Municipal nº 8 de Abril de 1991
(7) – Alcoutim, Revista Municipal, nº 7 de Março de 2000, p.11
(8) – Alcoutim, Revista Municipal nº 13 de Dezembro de 2006, p. 13