quinta-feira, 9 de junho de 2011
A marreta
Era uma das ferramentas que até ao terceiro quartel do século passado existia em grande número de casas do concelho de Alcoutim, pois tornava-se bastante útil e quase indispensável, o que não acontecia noutras zonas do país.
Se tivermos em atenção a constituição rochosa do concelho com base no xisto (vulgo talisca), além do grauvaque, podemos perceber melhor a sua utilização.
Para os mais variados fins era necessário retirar a rocha que fractura com relativa facilidade em lâminas devido à sua textura.
Retirar alguma saliência para tornar o terreno mais plano e aproveitamento do espaço para construir (casa, forno, etc.) ou abrir um poço, tarefa na qual podia aparecer algum “veio de pedra” que fosse necessário ultrapassar e muitas vezes arranjar pedra capaz para a construção de paredes ou muros, quando o tijolo não existia, era caro e tinha muita dificuldade em chegar por falta de meios de comunicação. As casas antigas eram todas feitas de pedra e em alternativa em taipa.
A extracção desta pedra era feita com a utilização da marreta e com o precioso auxílio de guilhos.
Há vários tipos de marretas. Marreta será um pequeno marrão com tamanhos e utilizações diversas. A que pretendemos referir é do tipo que a foto apresenta e que já tem algumas dezenas de anos, que nós saibamos mais de sessenta, é constituída por uma parte em ferro, a marreta propriamente dita, de tamanhos variados, que possui um cabo de madeira, comprido e manejado simultaneamente com as duas mãos, para assim se tornar mais eficiente.
A sua utilização não é tão simples como à primeira vista pode parecer, pois requer alguma técnica adquirida com base na experiência e no ensino dos “mestres”. É que segundo nos informam havia homens especialistas nesta arte, que sabiam pegar na rocha e encontrar o seu “veio de fractura”, indo quebrando por lâminas relativamente largas e consoante a necessidade.
Esta tarefa era feita com a utilização de vários guilhos (cunhas de ferro) de tamanhos e formatos diferentes e batidos habilidosamente com a marreta.
Além disto, aprendemos também que o melhor cabo de madeira para uma marreta era o proveniente do loendro o que nos deixou extremamente admirado!
A explicação foi-nos feita do seguinte modo:- É que a madeira do loendro verga mas não parte, voltando à posição inicial e atenua com facilidade o impulso. Os de outras madeiras rijas partem e provocavam grandes impactos com os agravos que isso pode causar.