terça-feira, 28 de junho de 2011

A freguesia de Giões e a criação de gado em 1771


[Vista parcial da aldeia de Giões. Foto JV, 2010]

Aproveitando a recolha de dados que fizemos para abordar a criação de gado bovino no concelho de Alcoutim, vamos hoje particularizar o que então acontecia na freguesia de Giões, a mais pequena em área do concelho.

Ao número de bovídeos que tínhamos fornecido no artigo que já referimos, vamos acrescentar o de ovinos, caprinos e porcinos, alguns dos seus proprietários e a sua distribuição pela freguesia.

Manifestadas existiam 3 790 cabeças, sendo 1315 ovelhas, (inclui borregos) 362 cabras (inclui chibatos), 91 bovinos e apenas 22 porcos.

A nível de reses que eram fundamentalmente animais de trabalho, o maior número, 20 encontrava-se no monte de Clarines que tinha um peso importante na freguesia. Seguidamente com 15 vem a aldeia e apenas com menos um, 14, Alcaria Alta. Farelos apresenta 12, Velhas 10, Marim 9 e o desaparecido Viçoso com 5.

A nível de gado lanígero, a aldeia tem a grande distância o maior número (940) com uma percentagem de 52,5% da totalidade.

Este número indica-nos como na altura já devia ser importante em Giões a tecelagem com o predomínio da lã e que chegou até meados do século passado.

Seguem-se com o mesmo número de cabeças (1000) Alcaria Alta e Velhas. Mais do que Clarines e Marim possuía 71 ovinos o desaparecido Monte do Viçoso.

A nível de caprinos, a aldeia tem igualmente supremacia (207) e com uma percentagem superior ao ovino, pois cifra-se em 57%.

Reparar que os Farelos só manifestou reses o que não nos deixa de causar alguma admiração.

Os porcos manifestados são muito poucos (22), cabendo 15 a Alcaria Alta e os restantes a Marim. Não seriam registados os que estavam em regime estabular?

Os maiores manifestantes são dois capitães de ordenanças, certamente da mesma família, moradores na aldeia: João Gomes Delgado e Domingos Gomes Delgado. (1) Enquanto o primeiro manifestou 4 reses, 420 ovinos e 40 cabras, o segundo 200 ovinos e 20 caprinos. Há ainda outro capitão que faz o seu manifesto, Rafael da Palma Pereira, de Clarines com 5 reses, 25 ovelhas e seis cabras.

Os manifestantes do Viçoso foram João da Palma e António Madeira. O monte ainda sobreviveu cerca de duzentos anos.


Nota
(1) - Casou com D. Rita J. de Barros, da Goldra, freguesia de S. Clemente, concelho de Loulé, filha de João Baptista de Barros e esposa, D. Josefina Maria Guerreiro. Foram tios do Doutor João Baptista de Barros, lente de medicina em Coimbra. (Monografia do concelho de Loulé, Ataíde de Oliveira, 1905, Edição de Algarve em Foco, 1986, p. 274).
Foi familiar do Santo Ofício.

A família Gomes Delgado, que se fixou pelas freguesias de Giões de onde penso ser a sua origem e Martim Longo, era das de maior poder económico e consequentemente político no concelho de Alcoutim, tendo alguns dos seus elementos desempenhado as funções de Presidentes da Câmara e Administradores do concelho.

Igualmente existiu uma família Barros no concelho de Alcoutim com alguma importância na área eclesiástica e educacional. Não sabemos se tem relação com esta família mas é possível que sim.

O cruzamento sanguíneo entre famílias de Alcoutim e de Loulé perde-se no recuar dos tempos chegando praticamente aos nossos dias. Se louletanos se fixaram em Alcoutim, houve igualmente alcoutenejos que se fixaram em Loulé.