segunda-feira, 28 de setembro de 2009

A água em Martim Longo


[Aldeia de Martim Longo, vista parcial]

A água, indispensável à existência da vida, faz parte dos nossos pontos de abordagem.

A aldeia Tem dous poços d’água muito boa (...) é a referência que nos dá no século XVIII, Henrique Fernandes Sarrão. (1)

Baptista Lopes (2), em meados do século XIX, refere que “no verão há muita escassez della nos poços públicos”, o que é confirmado por Charles Bonnet. (3) ao escrever “ (...) sendo também rara a água potável”.

Em Janeiro de 1843 a Câmara foi em correição pelo concelho tendo reunido pelo menos por três dias na aldeia.

Entre várias deliberações tomadas e em função daquilo que verificavam nos locais que visitavam, acordaram recomendar à Junta de Paróquia que mandasse reparar o gargalo do Poçanco e que lhe fosse feita uma calçada ao seu redor. (4) Igualmente nesta altura foi deliberado que “a estrada junto da Alagoa fosse toda feita de calçada.


[A alagoa, 1990. Foto de JV]

Em 1850 (5) o Presidente da Câmara informa a vereação que a escassez de água em Martim Longo era grande e que por isso, ainda que o orçamento não esteja aprovado, lhe parecia que se devia tomar providências no sentido de se abrir um novo poço, o que foi corroborado pela vereação.

Não sabemos, mas presumimos que o poço não foi aberto, já que oito anos depois e com a Câmara novamente em correição (6), constando-lhe que há grande escassez de água quis ir ao poço público certificar-se da situação, verificando que o fundo do mesmo se encontrava “à vista”.

Foi reconhecida imediatamente a necessidade absoluta de abrir “um novo poço no sítio já muitas vezes indigitado, pela parte de cima do Poço do Meio, encarregando a Junta de Parochia e Regedor de contratar a abertura do dito poço com pessoas que mereçam confiança”.

Os anos foram passando e em 1876 (7) levantou-se problema entre a Câmara Municipal e a Junta de Paróquia local.

As obras autorizadas com o Poço do Meio e para as quais a Câmara tinha autorizado a verba de 36.000 réis, entretanto entregues, não chegou pelo que a Junta solicita a satisfação de mais 10.720 réis, o que a Câmara acabou por conceder, tomando em consideração o bem estar dos habitantes.

Posteriormente, a Junta de Paróquia apresentou um requerimento solicitando que a Câmara mandasse pagar a quantia de 48.150 réis para além das verbas já entregues. A Câmara não podendo admitir e sancionar abusos deste tipo, indeferiu o pedido.

Em 1878 ultimou-se o aprofundamento do Poço Bom, onde se despendeu a quantia de 19.190 réis, que a Câmara satisfez. (8)

O Administrador do Concelho oficia em 15 de Julho de 1893 ao Regedor da Paróquia nos seguintes termos:- (...) Tem vindo ao meu conhecimento que junto dos poços públicos dessa aldeia de que os habitantes se servem d´água para beber, se fazem lavagens de roupas e bebem cavalgaduras e gados cujos subejos dão entrada nos mesmos poços devendo V.S. e os seus cabos de polícia fazer vigilância sobre os mesmos para aplicação das posturas municipais aos transgressores. (9)

Só voltámos a encontrar referências sobre a água no chamado Estado Novo. Em 1931 é subsidiada a Junta de Freguesia com 1.500$00 para a abertura de um poço. (10) Dois anos depois parece que ainda não teria sido aberto já que se propunha a abertura do que tinha sido subsidiado pelo Estado. Foi encarregado de fiscalizar o trabalho o Vice-Presidente da Comissão Administrativa da Câmara, o alferes José Francisco Ginja, natural de Martim Longo, oficial que se mostrou muito activo no período do Estado Novo. (11)

Em 1985 encontrava-se praticamente concluído o saneamento básico da aldeia, que orçou em mais de 50 mil contos (12) e em 25 de Abril desse ano é posta a concurso público a arrematação da empreitada da estação de tratamento de águas residuais domésticas (ETAR).

Nota breve
O texto foi extraído da 2ª Edição de "Alcoutim, Capital do Nordeste Algarvio...", em preparação.
As notas ficam para uma hipotética publicação.