[Monte dos Bentos, Foto JV, 1998]
Pertencendo à freguesia de Vaqueiros, dista da sua sede 7 km para o Sul. Hoje a ligação faz-se por excelente estrada que é pena ter pouco movimento, pondo em causa o seu investimento.
Saindo de Vaqueiros à procura do pequeno aglomerado populacional, vamos encontrá-lo à direita, depois de termos percorrido a distância referida entre, por vezes, desníveis consideráveis.
Desenvolve-se numa pequena inclinação de terreno, relativamente perto da estrada e a coberto das enchentes da ribeira que, na época invernosa, alagava as suas margens não dando passagem, o que por vezes se mantinha por vários dias.
À volta do “monte”, são tudo cerros.
Segundo pensamos, o topónimo tem origem num antropónimo, situação desde sempre vulgar em toponímia. Umas vezes a adaptação é simples, como acontece com Afonso Vicente, Diogo Dias e Pêro Dias, outras com contornos diferentes como em Vicentes, Fernandilho, Giões, possivelmente em Madeiras e Mestras e igualmente em Bentos.
Depois da reconquista, deu-se o repovoamento que se foi alargando com o desbravamento e arroteamento da serra bravia onde proliferam os animais selvagens.
Possivelmente, foi a família Bento, que encontrando condições para isso, terrenos aráveis e a presença sempre importante de um curso de água, ali se fixou. Quando alguém o queria identificar, dizia A-dos-Bentos, aliás como ainda hoje se ouve dizer às pessoas mais idosas.
[Ass. do Cura de Vaqueiros]
A notícia mais antiga que conheço desta pequena povoação é a que nos dá o Cura da Freguesia de Vaqueiros, António de Barros, que respondendo ao questionário de 1758 lhe atribui 14 vizinhos quando à grande maioria dos aglomerados são atribuídos menos de dez. (1)
A freguesia de Vaqueiros, criada em 1583 (2), em 1758 estava dividida por dois termos, o de Alcoutim e o de Tavira. Os “montes” situados para lá da Ribeira de Odeleite apesar de pertencerem à freguesia de Vaqueiros, tinham por termo Tavira, como acontecia com Taipas, Fernandilho, Vargem (Várzea) Vale da Rosa, Traviscosa, Cabaços, entre outros.
Isto acontecia principalmente por em determinadas alturas, senão sempre, ser mais fácil o contacto com esses centros.
Ainda que em 1836 esta situação tivesse sido alterada, deixando de haver freguesias divididas por dois ou mais termos, a verdade é que em muitos casos, as dificuldades de comunicação se mantiveram, chegando aos nossos dias.
[Ribeira de Odeleite, aos Bentos, Foto JV. 1988]
É do conhecimento local que, no Inverno as chuvadas faziam engrossar a ribeira, transbordando das suas margens, não dando passagem, por vezes durante vários dias. Se morria alguém nos “montes” para lá da ribeira, o recurso que havia era o funeral realizar-se para o cemitério acessível mais próximo e que era o da freguesia de Odeleite do concelho de Castro Marim.
Há quarenta anos comecei a ouvir falar nestas estórias e algumas com situações complicadas.
Só depois do 25 de Abril de 1974 as coisas puderam ser encaradas de frente. Se era todo um concelho em atraso, a freguesia de Vaqueiros conseguia fazer a diferença pela negativa e uma das primeiras medidas tomadas pela Comissão Administrativa da Câmara Municipal e presidida por Júlio António Rosa, foi a de meter máquinas para transformar aquelas pequenas veredas centenárias em caminhos por onde pudesse passar um tractor, uma motorizada ou mesmo uma camioneta. Lembro-me muito bem de ir visitar os trabalhos, de jipe com Júlio Rosa e já ter sido possível chegar a Cabaços!
A grande ambição e obra absolutamente necessária era a construção da ponte sobre a ribeira, mas as dificuldades eram naturalmente muitas. Isso veio a acontecer em 1982, com quatro largos vãos e um bom trabalho de engenharia.
Com a E.M. 506 entretanto construída em várias fases e depois melhorada, os acessos hoje podem-se considerar muito bons.
Naturalmente que o pequeno monte dos Bentos veio a beneficiar com toda esta alteração.
Em 1839, Silva Lopes não faz constar da relação que apresenta da freguesia de Vaqueiros o seu número de fogos e o número de habitantes, no Censo de 1991 foi incluído no indicado em “isolados”.De todos os indicados é Fortim o que tem menor número, dezasseis, pelo que presumo que este tivesse menos.
Em 1996 foram instaladas caixas de recepção de correspondência (3) que depois verificámos tratar-se de um painel de seis, pelo que o número de habitantes rondará os doze.
Os arruamentos foram arranjados em 1992 (4) e o telefone fixo já tinha chegado em 1985. (5) A água ao domicílio foi instalada em 2005. (6)
Existe recolha de lixo.
Junto ao monte era ainda possível ver uma eira.
Um estabelecimento comercial misto valoriza e atrai gente ao monte. Já lá tenho feito refeições típicas e agradáveis.
[Parque de merendas]
A Junta de Freguesia mandou construir um parque de merendas. (7)
Na Ribeira de Odeleite e nas proximidades deste monte existiu uma azenha de que só resta o assento.
Nos “Alcariais”, a noroeste da povoação existem vestígios de um pequeno casal ou granja do período islâmico ou pós-islâmico e onde se recolheram fragmentos de telhas decoradas e cerâmica comum. (8)
Não deixa de ser curioso referir que em 1771/1773, Simão Gonçalves, da dos Bentos, procedia ao manifesto na Câmara Municipal do seu gado, constituído por cabras, ovelhas e reses.
[Ponte no 1º de Maio, 1988]
Depois de 1975 o povo da freguesia, por iniciativa da sua Junta, começou a juntar-se na ribeira, debaixo da ponte e nas suas redondezas, festejando o 1º de Maio, o dia do trabalhador.
[1º de Maio nos Bentos, 1992]
Pão e sardinha assada com vinho também à discrição. A pequena festa de convívio entre os naturais foi aumentando de ano para ano, mantendo-se a base mas havendo inovações como variedades, folclore e outros entretenimentos. O número de convivas acompanhou o desenvolvimento e os comerciantes aproveitaram para fazer os seus negócios. Hoje a festa continua, mas pode dizer-se que paralelamente se realiza uma feira. Deslocam-se ali muitas centenas de pessoas de todo o concelho, dos limítrofes e mesmo de terras distantes.
Notas
(1) – ANTT – Memórias Paroquiais
(2) – Silva Lopes, Memórias Eclesiásticas para a História do Bispado do Algarve, 1848, p. 357.
(3) – Alcoutim – Revista Municipal nº 4, Dezembro de 1996, p. 12
(4) – Boletim Municipal nº 11, de Setembro de 1992.
(5) – Jornal do Algarve de 30 de Maio de 1985.
(6) – Alcoutim, Revista Municipal, nº 12, de Dezembro de 2005, p. 14.
(7) – Alcoutim, Revista Municipal, nº 12 de Dezembro de 2995, p. 15
(8 )– “O Algarve Oriental Durante a Ocupação Islâmica” Helena Catarino, p. 145.