domingo, 15 de novembro de 2009

Manta "premedeira"


Esta manta totalmente de lã e que era confeccionada nos antigos teares espalhados por todo o concelho e com especial incidência na freguesia de Giões, era, quando tinha dois “ramos” considerada uma manta de trabalho como iremos tentar explicar.

Cada “ramo” tinha cerca de cinquenta centímetros de largura, sendo o cumprimento de 2 metros. O seu desenho era praticamente monolítico, listas horizontais, estreitas ou largas, ora em branco, ora em castanho.

Eram tecidas “ramo” a “ramo” pois por este sistema, tornavam-se mais encorpadas.

Ao fazer a junção dos “ramos”, o que se realizava com linha, as listas praticamente nunca coincidiam.

Esta manta de trabalho tinha uma área de dois metros quadrados o que era considerada suficiente para as necessidades de um homem de trabalho.

Esta manta era a companheira indispensável do trabalhador agrícola alcoutenejo.
A sua utilização é variada como iremos explicar.



Punha-se ao ombro quando se ia para os trabalhos de campo e se o frio apertava ou a chuva chegava, punha-se pelas costas, pegavam-se pelas extremidades originando assim a protecção ao corpo, o que era secundado pelo uso do chapéu de feltro.

Quando a água da chuva se acumulava na manta, o alcoutenejo sacudia-a com um movimento brusco e muito característico.

O alqueive era um trabalho duro dos alcoutenejos que se

realizava pelos meses de Fevereiro/Março, altura propícia ao frio e à chuva. Nessa circunstância, o homem não podia desperdiçar tempo e a lavra tinha de se efectuar. Era então que o homem para se proteger e poder ter os braços livres para a sua tarefa, dobrava a manta fazendo passar um cordel de maneira que as suas pontas se pudessem atar, libertando os braços do homem.

Mas a manta não servia só para proteger do frio e da chuva e numa altura em que estávamos distantes dos oleados e dos plásticos.

Enquanto as moças dormiam em casa, os irmãos tinham como destino o palheiro onde havia necessidade de tratar dos animais. Além disso, estavam libertos do cumprimento de horários por esses tempos muito rígidos, o que lhes agradava.

Era na manta que se enrolavam.

Além do crescimento da barba, a manta constituía a peça de luto do homem, enquanto a mulher usava a mantilha.




Tudo isto naturalmente pertence ao passado e quem tem mantas “premedeiras” pode considerar que tem peças de puro artesanato e merecedoras de um museu.

Quanto estas mantas tinham três “ramos”, sem deixarem de serem “premedeiras”, eram mantas para cama.

Aqui deixamos este pequeno apontamento etnográfico que os mais velhos ainda sabem descrever mas que os novos desconhecem totalmente.

Pequena Nota
Quero agradecer a disponibilidade do meu amigo António Mestre, moço do meu “ano”que toda a vida trabalhou no campo, de tudo fazendo mas sendo considerado principalmente um bom enxertador.
Apanhou a manta no seu declínio mas lembrando-se perfeitamente do seu uso. Ainda possui a que sua mãe lhe deu quando foi trabalhar para uma casa do Balurco, dormindo naturalmente no palheiro. Era com ela que se tapava.