[Ruinas da Casa da Mina. Foto JV, 2010]
A última que laborou no concelho. O manifesto mais antigo que conhecemos desta mina de antimónio, sita no Monte de Cima, é datado de 1859.
Em vários poços do núcleo mineiro, extraía-se igualmente cobre.
Entretanto, o súbdito espanhol, Miguel Ângel de Lion, chegado à vila em 1860 e achando-se abandonada a mina, juntamente com Manuel António de Almeida, da vila, procedeu ao seu registo nos termos da lei (Registo de 05.12.1862).
Miguel Angel de Lion, figura muito polémica do último quartel do século passado e de que ainda muito recentemente ouvi falar a um pastor, apesar de ter sido assassinado há mais de um século, apresenta-se como engenheiro de minas e além deste, procedeu a outros registos.
O núcleo mineiro das Cortes Pereiras era constituído por vários poços (dez, segundo informação recente de um octogenário ali nascido), ligados entre si por meio de galerias subterrâneas, sendo a mina principal a do Malacate, de grande profundidade e recentemente tapada depois de uma tentativa de entulhamento sem êxito. A solução encontrada não nos parece a mais adequada pois eliminou-se um ponto turístico. Se oferecia perigo, havia outras maneiras de o minimizar com a colocação, por exemplo de uma rede protectora.
O Pdre. José Pedro Rodrigues Teixeira, por testamento de 8 de Dezembro de 1868, deixa a seu primo, João José Viegas Teixeira, duas acções que tem na mina das Cortes Pereiras.
Em 1876 é notificado o concessionário da mina para que apresente elementos sobre a sua laboração. (14)
Assassinado D. Miguel em 1878, é notificado o Pdre. António José Madeira de Freitas, como membro da Direcção da mina para informar qual a sua constituição. (15)
O Administrador do Concelho informa que a mina “ não se acha em lavra desde há muito”. (16) Contudo, em 1883 já se informa que “neste concelho se acha em exploração a mina de antimónio das Cortes Pereiras. (17)
Como já referimos, o Dicionário Corográfico, de Américo Costa - 1929, indica esta mina de que foi concessionária Maria Soledad e outros.
Por edital de 30 de Maio de 1893, do Administrador Interino do Concelho, Manuel António Torres, é convocada a Sociedade Descobridora da mina e James Henry Hoyle, comissário da mesma ou seus representantes, para a reunião da Junta de Avaliação provisória do imposto de minas que deverá efectuar-se no dia 29 de Junho no Governo Civil do Distrito.
[Tanque onde se decantava o minério. Foto JV, 2010]
Nos últimos anos da década de sessenta dos nossos dias, era lançada e cobrada contribuição predial em nome do cidadão inglês, James Henry. Devido à minha curiosidade, foi-me então explicado que após o encerramento da mina, aquele senhor regressou a Inglaterra, deixando a propriedade ao cuidado de um dos seus trabalhadores. Era esta família que vinha satisfazendo os impostos devidos. O inglês ficou de voltar mas isso nunca mais aconteceu, nem ele nem herdeiros! A propriedade foi passando de pais para filhos acabando por ser adquirida por usucapião.
Destas minas, de que os ingleses foram os únicos clientes, extraíram-se as seguintes quantidades de mineral: cento e vinte e nove toneladas em 1864, seis mil setecentas e cinquenta em 1883 e vinte mil e quinhentas em 1885, este último no valor de 1.819$170 réis.
Este minério saía pelo “cais do mineral” construído para o efeito e de que restavam vestígios. Situava-se próximo da actual Estalagem.
Deste concelho trabalharam muitos homens na Mina de S. Domingos que foi a mais rica do País e funcionou de 1859 a 1964.Em 1889 tinha 1052 trabalhadores, incluindo espanhóis e em 1914, 2 355, chegando a empregar mais de três mil pessoas.
Numa zona pobre como esta, era natural que alcoutenejos tivessem ali procurado o seu sustento e dos seus. Vinham a casa quando podiam, mudar de roupa, entregar alguns tostões à família e contar o que se passava pelo Mundo! Foi assim que nos informaram que um morador de um “monte” do norte da freguesia de Alcoutim, analfabeto como era natural, ouvia ler na Mina as notícias, tudo fixava e quando chegava ao “monte”, tornava-se o jornal ambulante.
O “patrão” da Mina de S. Domingos, o cidadão inglês, engenheiro de minas, James Mason, que foi distinguido com o título de Visconde de S. Domingos e também barão, conde e visconde de Pomarão, contribuiu com cem mil réis para a reconstrução da Igreja da Misericórdia, arruinada pela cheia de 1876.
Em várias circunstâncias a Câmara de Alcoutim recorreu à ajuda da Mason & Barry o que lhe foi sempre concedido.
[Paiol da pólvora. Foto JV, 2010]
Deste núcleo mineiro, segundo informação recebida do meu Amigo e colaborador, Eng. Gaspar Santos, foram enviadas amostras de minério solicitadas pelos alemães durante a segunda Guerra Mundial (1939-1945) mas que parece não lhes ter interessado.
Muito pouco resta lembrando esta actividade. Leves vestígios da Casa dos Mineiros, um tanque em ruína que servia para a decantação do minério e o paiol da pólvora, ainda em estado razoável de conservação, certamente devido ao tipo de construção. De reduzidas dimensões, cerca de 2X2 metros, possui larguíssimas paredes e abóbada de berço. A parte cimeira é constituída por duas águas argamassadas. Por cima da porta ainda se nota uma placa cuja inscrição desapareceu. Certamente que teria alguma indicação quanto ao conteúdo e perigo que representava.
[Abóbada do paiol. Foto JV, 2010]
Como se justificava, a localização era afastada da casa dos mineiros ou da mina, esta localizada no cimo de uma pequena elevação e o paiol, que o povo ainda designa por polvorinho, no sopé do mesmo.
Quando a mina foi explorada por D. Miguel, este mandou abrir um poço nas proximidades para abastecimento dos trabalhadores. O pequeno poço ainda existe encontrando-se abandonado e é conhecido pelo “Poço de D. Miguel”.
[Poço de D. Miguel. Foto JV, 2010]
Ainda se podem ver, espalhados pelo concelho, piques (picaretas) de mineiro que como se sabe são diferentes das outras, rodos e alcofas de esparto em que se transportava o mineral.
Há poucos anos um cidadão alemão permaneceu em Alcoutim bastantes meses preparando a licenciatura em minas ou geologia.
O êxito obtido com a instalação do posto retransmissor da RTP parece relacionar-se com a natureza do subsolo.
NOTAS
(1)- Arqueologia Romana do Algarve, Maria Luísa Estácio da Veiga Affonso Santos,1971.
(2) - Of. nº 160 de 14 de Abril de 1877, do Administrador do Concelho ao Regedor da Paróquia de Martim Longo.
3) - Foi Juiz de Fora e dos Órfãos, conforme carta dada em Lisboa a 28 de Maio de 1816 e também provedor da Santa Casa da Misericórdia, pelo menos de 1818 a 1819.
(4) - Exerceu todos os cargos políticos importantes no concelho e era natural de Vaqueiros.
(5) - Acta da Sessão da C.M.A. de 15 de Novembro de 1873.
(6) - Of. nº 112 de 18 de Novembro de 1874, do Administrador do Concelho.
(7) - Of. nº 68 de 18 de Julho de 1877, do Administrador do Concelho.
(8) - Vol. V, pág. 101.
(9) - Of. nº 56, de 8 de Maio de 1881 ao Delegado do Tesouro no Distrito de Faro.
(10) - Of. nº 64, de12 de Maio de 1881, do Administrador do Concelho.
(11) - Of. nº 14, de 1 de Fevereiro de 1883, do Administrador do Concelho.
(12) - Of. nº 80, de 25 de Abril de 1889, do Administrador do Concelho.
(13) - Dicionário da História de Portugal, Dir. de Joel Serrão, Vol. II, pág. 84.
(14) - Of. nº 124, de 4 de Dezembro de 1876, do Administrador do Concelho.
(15) - Of. nº 97, de 25 de Agosto de 1880, do Administrador do Concelho.
(16) - Of. nº 101, de 2 de Fevereiro de 1880, do Administrador do Concelho.
(17) - Of. nº 33, de 16 de Março de 1883, do Administrador do Concelho.