(PUBLICADO NO DIÁRIO POPULAR DE 3 DE MAIO DE 1968)
Pequena nota
Publicamos hoje e de que tenhamos conhecimento, o segundo artigo escrito por Luís Cunha e publicado neste diário da capital do País e já desaparecido.
As directrizes do jornal, tal como ainda acontece, limitam a utilização do espaço, pelo que por vezes é difícil escrever o que se pretende.
Não é fácil dizer muito em poucas linhas mas Luís Cunha tinha grande poder de síntese na sua escrita.
São passados quase 42 anos e nem por isso deixa de ter interesse a sua leitura.
A ponte sobre a Ribeira de Cadavais é um facto, mas não é obra do “Estado Novo” mas sim do regime “democrático” tendo sido construída durante a presidência de Manuel Cavaco Afonso.
JV
Escreve
Luís Cunha
Esta encantadora vila à beira do rio Guadiana, alcandorada num pequeno morro alcantilado, está limitada, por todos os lados, por barreiras naturais que, rigidamente, lhe cortam a possibilidade de expansão.
Ao situá-la a meio do maior troço de recta entre Vila Real de santo António e Mértola, onde a navegação à vela era compelida a aguardar o virar da maré, os seus fundadores procuraram, simultaneamente, garantir à navegação o necessário apoio durante a imobilidade e subtraí-lo às surpresas das curvas. Ponto de apoio ou base de assalto, feitoria e, depois, armazém de mercadorias em trânsito, bastavam-lhe as limitadas proporções que o pequeno morro rochoso oferecia.
Tal condicionalismo determinou o denso aglomerado do casario em volta do velho castelo e um arranjo original e pitoresco de acomodação do interior da habitação, em patamar, com degraus a dar comunicação entre as divisões da casa, degraus às vezes lavrados na própria rocha.
Um serro de enorme declive barra por dois lados o alargamento da vila e, dos outros dois, o Guadiana e a ribeira de Cadavais completam o cerco. Essas condições, noutros tempos óptimas para o fim de segurança, constituem agora sério obstáculo à renovação e desenvolvimento que se pretende.
Afligem-na vários problemas que dificilmente conseguirá solucionar com od diminutos recursos locais, mas tem potencialidades inexploradas, possibilidades que são penhor e garante de melhor futuro.
[Ponte sobre a Ribeira de Cadavais, em Alcoutim. Foto JV, 2009]
Entre outras urgentes medidas tendentes à expansão, pretende-se abrir-lhe uma porta com a construção da ponte sobre a ribeira de Cadavais, cuja continuação para o norte por uma estrada projectada, e já em grande parte construída, lhe retiraria simultaneamente a incómoda situação actual de beco sem saída.
Um velho e interessantíssimo anteplano de urbanização homologado pelo ministro da Obras Públicas, instrumento cujo arejamento se torna indispensável, previa a construção dessa ponte, É uma necessidade que o população sente ao aspirar ao progresso, por não aceitar como possível, e muito menos provada, a inevitabilidade da decadência da terra.
Ciente dos reduzidos recursos próprios, mas justamente animada pela certeza do generoso apoio e carinhosa atenção que o Governo sempre dispensou aos seus problemas, a população aguarda confiante a solução deste seu anseio.