Pequena nota
Depois da assídua colaboração deste alcoutenejo Amigo, que os nossos visitantes/leitores bem conhecem pelo estilo e conteúdo das suas abordagens, pouco temos a dizer.
Confesso que desconhecia totalmente esta história curiosa que acaba por enriquecer o meu conhecimento local.
J.V.
Escreve
Gaspar Santos
Estávamos no início do Século XX. O transporte de pessoas e mercadorias entre Vila Real Sto António e toda a zona ribeirinha no Baixo Guadiana fazia-se por barcos à vela que sulcavam o rio.
Os barcos maiores, com vela latina grande, daquelas cuja “escota” faz muita força, precisam de cadernal de roldanas com dois ou três quilogramas de peso para o mestre a manobrar em segurança.
Um destes barcos subia o Guadiana “bordejando” ou bolinando, por alturas do Álamo, com forte vento que soprava do Norte. No fim dum bordo, ao virar a proa ao Norte, antes de a vela “cambar” no início de novo “bordo”, a vela varejou e a roldana atingiu violentamente um passageiro na cabeça.
Este homem, sentado imprevidentemente na borda do barco, caiu pela borda fora e ninguém mais o viu. Ele talvez soubesse nadar, mas a carga que trazia nos sacos de couro presos à cintura, com a roupa e calçado vestidos e ainda atordoado pela pancada do cadernal na cabeça, não lhe deram possibilidades de salvação.
O homem que morreu afogado era um pagador da Mina de S. Domingos. Deslocava-se periodicamente às minas para pagar aos trabalhadores. Os trabalhadores recebiam em moedas de ouro. Para as transportar de forma segura, o pagador levava à cintura uns sacos de couro cheios dessas moedas, de que nunca se separava.
Após as infrutíferas tentativas de salvamento, as buscas continuaram a expensas da Administração das Minas de S. Domingos, para além da Guarda-fiscal e das Autoridades Judiciais. Só passados vários dias o corpo foi encontrado.
O cadáver jazia nas lamas que ficam a descoberto na baixa-mar, na margem espanhola junto à foz do barranco, quase em frente do Álamo na curva à vista dos Guerreiros do Rio. Os sacos com ouro tinham sido cortados da cintura do cadáver e desaparecido. E havia pegadas na lama desde a margem do Rio até junto do morto.
Muitos anos passados após este acontecimento, contava o meu avô, não se deu por sinais exteriores de riqueza que denunciassem alguém pelo seu proveito e consequentemente pela autoria do roubo do ouro.
Por isso dizemos hoje que nessa altura se deu um roubo perfeito no Guadiana.