quinta-feira, 5 de agosto de 2010
Cabaços, o último monte por este lado da freguesia de Vaqueiros
Este “monte”, que pertence à freguesia de Vaqueiros, é o último do concelho por este lado, ficando quase na linha divisória com o de Castro Marim. freguesia de Odeleite.
Nas Memórias Paroquiais de 1758 são-lhe atribuídos 7 vizinhos, o mesmo número indicado para Traviscosa, Fernandilho e Vale da Rosa.
Nesta altura e por se encontrar a Sul da Ribeira de Odeleite, fazia parte do termo de Tavira e não do de Alcoutim.
Sabemos que em 1882, o Administrador do Concelho envia ao Delegado do Procurador Régio na Comarca de Tavira um auto de investigação que levantou por ocasião do aparecimento de alguns restos de uma criança que foi enterrada próximo deste “monte”, a fim de que em vista do mesmo possam vir a ser descobertos e punidos os perpetradores do infanticídio.(1)
Quanto ao topónimo, parece estarmos na presença de um caso de origem vegetal, do substantivo masculino cabaço, o mesmo que cabaça, cabaceira ou abóbora-cabaça, planta cultivada em Portugal.
Encontrámos oito vezes referido o topónimo Cabaços e também Cabaça, Cabaçal, Cabaceira e Cabaçotas, todas com a mesma origem. (2)
Cabaçal, terreno onde crescem cabaças, isto é, abóboras, cujo nome poderá derivar do étimo pré-romano cala, conforme o castelhano calabaza.
Igualmente não é descabido pensar que a sua origem poderá estar no topónimo pré-romano calapacios, que poderá significar “monte rochoso” (3) o que se confirma com a situação topográfica.
São vários os topónimos nas redondezas que poderão ter origem no castelhano.
Próximo desta povoação, mas já na freguesia de Odeleite e certamente por ser mais pequena, existe Cabacinhos.
Ainda que Silva Lopes o refira na sua Corografia do Algarve, omite-lhe o número de fogos que tinha em 1839.
Passando-lhe junto a estrada nº 506, que é obra depois do 25 de Abril, tornou-o um “monte” de passagem o que lhe tem proporcionado a existência de um estabelecimento comercial misto, café/restaurante.
[Um aspecto do estabelecimento comercial]
Foi electrificado ao mesmo tempo que os seus vizinhos em 1984 (4) e os arruamentos pavimentados em 1993, (5) tendo recentemente obtido nova beneficiação. (6)
Em 1998 é aberto um furo artesiano (7) e a água colocada ao domicílio em 2002, (8) ainda que não haja saneamento básico.
A melhoria é compensada pelos utentes com os pagamentos da água consumida e a recolha de lixo, o que então não acontecia.
Possui logo à entrada e do lado direito, no sentido Norte/Sul, um estabelecimento comercial, que também serve refeições, o que faz muito jeito aos passantes, que devido à melhoria da estrada vão de certo modo aumentando de número.
Nas redondezas, foi reparada a ponte do Barranco Grande. (9)
Em 1991 o censo populacional indicava 36 habitantes, 16 homens e 20 mulheres para dez anos depois ter descido para 28, continuando o sexo feminino em maior número (15).
Presentemente devem lá viver cerca de 20 pessoas.
A quando da construção da estrada, junto a esta povoação, foram destruídas sepulturas de recuados tempos. (10)
Terminaremos dizendo que o isolamento a que ficou sujeito este monte e toda a freguesia a que pertence, durante séculos e séculos, permitiu que Michel Giacometti e F. Lopes-Graça tivessem recolhido, em 1961 uma Oração das Almas (culto dos mortos), canto de peditório no dia de Finados (2 de Novembro) que começa “Recordai, nobres senhores ...” possivelmente hoje totalmente desaparecida. (11)
NOTAS
(1) Of. nº 96 de 27 de Setembro de 1882, ao Delegado do Procurador Régio na Comarca de Tavira.
(2)–Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa, José Pedro Machado, Horizonte/Confluência, Vol I, 1993, p 297.
(3)–Infopédia – Enciclopédia e dicionários Porto Editora.
(4)–Jornal do Algarve de 27 de Dezembro de 1984.
(5)–Boletim Municipal nº 12, de Abril de 1993.
(6)–Alcoutim, Revista Municipal, nº 15 de Julho de 2009, p. 15.
(7)–Alcoutim, Revista Municipal, nº 6 de Janeiro de 1999, p 11.
(8)–Alcoutim, Revista Municipal nº 9 de Dezembro de 2002, p 7.
(9)–Alcoutim, Revista Municipal nº 8, de Setembro de 2001, p. 13.
(10)–“O Algarve Oriental durante a ocupação islâmica”, Helena Catarino, in Revista do Arquivo Histórico Municipal de Loulé, nº6, 1997/98, p 194.
(11)–Cancioneiro Popular Português, Michel Giacometti com colaboração de Fernando Lopes-Graça, Círculo de Leitores, 1981, pp 95 e 311.