sábado, 28 de agosto de 2010

Fortim, monte que o topónimo bem justifica



A pequena povoação situa-se a Sul da aldeia de Vaqueiros, freguesia a que pertence num núcleo de povoamento constituído pela Traviscosa, Cabaços e o minúsculo Bemposta já que Pomar se encontra desabitado.

Em meados do século passado e quando a população atingiu o seu zénite, a proximidade e entreajuda praticada possibilitava a sua existência já que o isolamento a que estava votada acabava por constituir uma autodefesa, acontecendo as saídas pormotivos imperiosos e que tinha natural dificuldade em aceitar: pagamento de impostos, serviço militar e outros aspectos burocráticos que lhe consumiam o pouco que conseguia angariar para sobreviver.

Desde que tivemos conhecimento da sua existência, em 1967/68, o topónimo inspirou-nos sempre uma situação de defesa, o que a nossa visita efectuada pouco depois do 25 de Abril confirmava à primeira vista.

Tempos depois pesquisas arqueológicas nas proximidades detectavam vários núcleos de povoamento na zona e no sítio mais elevado parece ter existido um pequeno castelo ou atalaia que acaba por justificar o actual topónimo.

Muros com cerca de dois metros de espessura e uma estrutura que parece ser de planta rectangular defenderia uma povoação muçulmana. Foram encontrados bastantes fragmentos de cerâmica, boros, fundos e asas de talhas e potes para armazenamento. (1)

Relativamente perto e na freguesia de Odeleite, concelho de Castro Marim, existe o monte de Fortes, topónimo, como é evidente, com as mesmas características.

Fortim é constituído por três pequenos núcleos, todos situados no cerro e a curta distância. Na baixa, terreno plano e agricultado.

É a única povoação no país que encontramos com este nome e isto tendo em consideração o Dicionário Corográfico que habitualmente consultamos. (2)

Nas Memórias Paroquiais de 1758, o cura que responde ao questionário atribui-lhe 5 vizinhos, enquanto para a Traviscosa e Cabaços indica 7, Pomar tem 5 e para a Bemposta, já existente, 3.

Como noutras circunstâncias já informámos, ainda que Fortim pertencesse à freguesia de Vaqueiros fazia parte, nesta altura, do termo de Tavira.

Quando visitámos pela primeira vez o monte, fizemo-lo num veículo de todo o terreno e acompanhando então o presidente da Comissão Administrativa da Câmara, Júlio António Rosa. A maquinaria encontrava-se desbravando a serra do Caldeirão no que diz respeito à freguesia de Vaqueiros.

Hoje o Fortim tem boa estrada de acesso e em 1985 deviam de arrancar as obras de terraplenagem e respectivas obras de arte da estrada municipal nº 506, entre Casas e esta povoação. (3)

Em 19 de Dezembro de 1984 inaugurava-se com festejo o fornecimento de energia eléctrica. (4)

Há recolha de lixo e foi colocado um painel de quatro caixas para correio. As ruas estavam asfaltadas e havia distribuição de água por fontanários.

A água ao domicílio é levada em 2002 (5). Em 2004 é aberto um novo furo e construída a estação elevatória. (6)

O Censo de 1991 atribui-lhe 16 habitantes (9 homens e 7 mulheres), mas no seguinte, por serem menos de dez, o seu número é colocado nos “isolados”. Existiam nove edifícios.

Em 1881 houve aqui um incêndio que causou muitos prejuízos aos seus moradores que pretendem ser indemnizados e que atribuem a ter sido fogo posto por um seu conterrâneo que indicam. (7).

Por volta dos meados do século passado, D. Clarisse Cunha, nossa saudosa amiga trabalhou no posto escolar de Traviscosa, mais tarde transformado em escola e onde alfabetizou muitos dos seus naturais que dela se devem lembrar. Segundo nos dizia, era em casa de um lavrador local que se acolhia. Só vinha à vila nas férias grandes e os trabalhos eram muitos para fazer a viagem, como nos contava.



É tudo o que conseguimos reunir sobre esta pequena povoação.





NOTAS

(1)– “O Algarve Oriental Durante a Ocupação Islâmica – Povoamento rural e recintos fortificados” Helena Catarino, Revista do Arquivo Histórico Municipal de Loulé, nº 6, 1997/98, p. 193.
(2)- Novo Dicionário Corográfico de Portugal, A.C. Amaral Frazão, Editorial Domingos Barreira, Porto, 1981.
(3)– Jornal do Algarve de 4 de Julho de 1985.
(4)– Jornal do Algarve de 27 de Dezembro de 1984.
(5)– Alcoutim, Revista Municipal, nº 9 de Dezembro de 2002, p 7.
(6)– Alcoutim, Revista Municipal, nº 11, de Janeiro de 2005, p. 14.
(7)– Ofício nº 106 de 14 de Agosto de 1881 do Administrador do Concelho.