terça-feira, 5 de outubro de 2010

Manuel António Torres

Pequena nota
Este texto foi extraído de "Alcoutim, Capital do Nordeste Algarvio (subsídios para uma monografia)", 2ª Edição, em preparação.
JV


A família Torres é originária ou pelo menos veio de Castro Marim para Alcoutim por intermédio do casal José António Torres (1790-1866)/ Maria da Conceição, ambos naturais daquela vila.

Na aldeia de Pereiro nasceu-lhe pelo menos um filho, António José de Torres que casou com Leonor da Conceição, natural de Alcoutim, onde passaram a viver, exerce a actividade de oficial de carpinteiro e nascem-lhe três filhos, entre os quais, Manuel António Torres, a figura que pretendemos referir.

Os Torres desempenharam na vila funções politico-administrativas e comerciais.

Manuel António nasceu no dia 12 de Maio de 1855 e possuía ascendência espanhola, tanto pelo lado paterno, visto sua bisavó ser de Cádis, como pelo materno, com uma avó de Castelejo.
Casou com D. Raimunda Pinto d `Almeida, também desta vila.

Em 1881 é vogal da Junta de Paróquia de Alcoutim, onde a partir de determinada altura lhe é levantado um auto por faltar às reuniões (1) certamente por divergências políticas.

No ano seguinte e apenas com vinte e seis anos, preside à Câmara Municipal de que faziam parte, como vereadores, José da Silva, da vila, António Estevens, do Serro da Vinha e António Joaquim Teixeira, de Giões. (2) Por esta altura era solteiro e considerado negociante.

De 29 de Dezembro de 1892 a 12 de Março de 1897, é Administrador do Concelho e em 23 de Fevereiro de 1899, nomeado por alvará, secretário da Câmara Municipal, funções que exerce até meados dos anos vinte, altura em que se aposenta.

[Local onde se ergueu a habitação da família Torres, segundo informação recolhida. Foto JV, 2010]

Como provedor, serviu a Santa Casa durante vinte e três anos, além de outros cargos como escrivão ou tesoureiro.

Dedicou muito trabalho em prol desta instituição, organizando o tombo, apanhando os foros em documentos de 1664 e 1720.

Ofereceu à Misericórdia, juntamente com a esposa, várias inscrições de dívida pública que ainda constituem, pensamos, rendimento daquela Santa Casa.

Foi amigo do grande etnógrafo, Dr. Leite de Vasconcelos, que lhe ofereceu a reprodução de um desenho da vila, extraída do Livro das Fortalezas de Duarte Darmas (Séc.XVI). O Mestre, a ele se refere na Etnografia Portuguesa, Vol. VI, pág. 579, com a curiosidade do António estar abreviado em Ant. como o alcoutinense gostava de escrever.

Juntamente com Guerreiro Gascon, autor da Monografia de Monchique e que exerceu as funções de tesoureiro da Fazenda Pública neste concelho de Alcoutim, trabalhou para a reconstituição do brasão de armas da vila.

Foi vice-cônsul de Espanha e representou várias companhias de seguros e estabelecimentos bancários.

Manuel António Torres era um homem bastante culto para o meio e para a época.
Faleceu a 29 de Fevereiro de 1932, de bronquite crónica e sem deixar descendência.

NOTAS

(1)-Of. nº 92 de 23 de Agosto de 1880 do Administrador do Concelho ao Regedor da Paróquia de Alcoutim.
(2)-Of. nº 147 de 9 de Novembro de 1881 ao Governador Civil de Faro.
(3)-Anuários Comerciais da época.