Pequena nota
Temos hoje o grato prazer de apresentar um novo colaborador do ALCOUTIM LIVRE que conseguimos cativar e que irá colaborar dentro das suas disponibilidades de tempo, que é bem escasso, visto encontrar-se no exercício de uma actividade extremamente exigente e que muito o ocupa.
Conhecemos este alcoutenejo quando tinha cerca de oito anos, mas de tal maneira que nunca nos esquecemos um do outro, o que quer dizer alguma coisa.
Ainda que a sua formação académica pouco ou nada tenha a ver com a área que aborda, não lhe foi difícil encontrar nas suas pesquisas na Internet o ALCOUTIM LIVRE, que passou a merecer as suas visitas e seguimento atento sempre que lhe é possível.
A sua colaboração, mesmo que venha a ser espaçada pelos motivos já invocados, irá constituir mais uma atracção e valorização do ALCOUTIM LIVRE.
O nosso agradecimento por ter aceite o convite.
Um abraço do
JV
Escreve
Gonçalo Roiz Vilão
O abandono de crianças recém-nascidas que hoje tanto nos choca nos meios de comunicação social, sempre foi uma das realidades cruéis da condição humana.
Acompanhou a história da humanidade e sempre por razões diferentes, foram sendo abandonadas. A estas que surgiam deixadas quase sempre no breu da noite dava-se nos séculos passados o nome de expostos. Expostos socialmente, abandonados à sorte de melhor fortuna. Nas localidades onde não havia roda de expostos, os locais privilegiados do abandono eram a porta da Igreja, a porta do Regedor ou a casa de um outro lavrador mais abastado. A aldeia de Giões não fugiu a esta realidade. Nomes de crianças como Policarpo, Petronilha, Bemvinda, Sancho foram sendo dados a expostos. Era o regedor da aldeia normalmente o Padrinho e dava-se à criança encontrada, nome diferente do comum das crianças da aldeia. Esta atribuição do nome diferente tinha como objectivo ser distinguido de forma mais fácil por toda a população em relação a todos os outros a quem a sorte não os desditou de serem abandonados.
Nas diferentes pesquisas feitas em registos paroquiais a mais interessante descrição sobre uma criança exposta foi certamente a de Pedro Exposto da Paróquia de Nossa Senhora da Assunção de Giões num registo de baptismo do século XIX que passo a citar:
Aos vinte e oito dias do mês de Junho do ano de mil oitocentos e (?), nesta Igreja Paroquial de Giões, concelho de Alcoutim, diocese do Algarve, baptizei solenemente sob condicionante um indivíduo de sexo masculino por nome Pedro Exposto, foi encontrado pela uma hora da madrugada do dia 28 do mesmo mês e ano à porta de António Rodrigues, pelo mesmo dentro de uma alcofa d`empreita com três camisas d´algodão duas mantilhas de pêllo branco debruadas de chita encarnada, três cueiros de pano cru, dois lenços e um bilhetinho que continha o seguinte “ Senhor Regedor terá a bondade de se interpor por este que foi feito christão em casa e o seu nome de o pôr Pedro. Entenda como já digo, que à vista falharei como o meu amigo. Adeus athé à vista “, mais nenhum sinal trazia dentro do envelope, e no corpo, sinal nenhum tinha. Declaro que António Rodrigues, à porta de quem foi encontrado, hé morador nesta aldeia e aqui paroquiano e o mesmo foi padrinho o qual sei ser o próprio. E para constar por impossibilidade minha mandei lavrar em duplicado este assento que depois de ser lido e conferido perante mim, o padrinho comigo assinou.