(PUBLICADO NO JORNAL DO BAIXO GUADIANA,Nº 93, DE JANEIRO DE 2008, P. 19)
[O Castelo de Sanlúcar visto do caminho do Brejo. Foto JV, 2010]
D. Sancho II, o 4º rei de Portugal, depois de conquistar Mértola em 1238 e ter descido pelo vale do Guadiana, conquistando igualmente Aiamonte, (1238) fez entrega dos territórios conquistado, em 16 de Janeiro de 1239, à Ordem de Santiago, tendo criado, para defesa da zona, fortalezas nos pontos estratégicos de ambas as margens do rio.
Crêem alguns que foi o caso da fortaleza existente na colina que domina completamente Sanlúcar e o Guadiana. (1)
Com o rodar dos tempos, a fortaleza medieval entrou em completa ruína e foi abandonada por falta de condições.
Na Guerra da Independência de Portugal, o Conde Jerónimo Ró, Mestre de Campo General, responsável pela defesa da zona, constrói um Forte, que foi designado por de São Jerónimo, junto da Igreja paroquial, tendo sido para o efeito demolidas muitas casas. Com o desenrolar da guerra verificou que a fortificação era insuficiente para prestar uma oposição forte aos portugueses, pelo que decidiu construir um castelo que como não podia deixar de ser tinha por lugar a referida colina dominante, aproveitando os alicerces ainda existentes. Passa-se isto em 1642 (2) quando a luta estava mais acesa.
[Antigo brasão de Sanlúcar]
É tradição que quando o castelo se estava construindo, os portugueses realizaram um assalto provocando muitas vítimas. (3)
As obras foram custeadas pelos habitantes de Sanlúcar e que transportaram os materiais para a sua construção.
Tem planta irregular com quatro torres e uma porta virada ao norte. Está edificado a 137 metros de altura, é de linhas simples e característica do período do Renascimento. (4)
O castelo era utilizado pela população local e a que se estendia pelos lugares circunvizinhos, como refúgio, tanto para defesa da acção bélica dos portugueses, como no caso de inundações provocadas pelo rio Guadiana. (5)
O Conde Schomberg, Governador das Armas no Alentejo, dispôs-se a atacar este castelo onde recolheu toda a população, deixando o povoado deserto, o que fez com três mil infantes e mil e duzentos cavalos.
A artilharia pouca mossa causou às tropas portuguesas e o Governador da Praça mandou dizer que queria render-se o que foi aceite por Schomberg, deixando sair a guarnição a caminho de Aiamonte. O castelo foi ocupado no dia 29 de Maio de 1666, ficando a governá-lo António Tavares Pina que resistiu à tentativa de reconquista efectuada por cento e vinte infantes e cem cavalos vindos de Aiamonte. (6)
Voltou a desempenhar papel importante na Guerra da Sucessão de Espanha (1704/1713).(7)
Em meados do século XIX era considerado como tendo bons apetrechos de guerra, com um obus e dois canhões de calibre 46, tendo um destacamento de artilheiros e tropas de linha. (8)
[Pormenor do Castelo de São Marcos. Foto JV, 2010]
O monumento encontrava-se em estado de degradação, foi-lhe construída contudo uma estrada de acesso.
São Marcos deu o nome ao castelo que tem na sua frente, em Portugal, uma ribeira que desagua junto a Alcoutim que tem o mesmo nome. Haverá alguma relação entre os dois factos?
Visitámos o castelo a primeira vez que fomos a Sanlúcar, isto em Maio de 1967 e nunca mais lá voltámos!
Além da visita apressada, aproveitámos para fazer uma fotografia sobre Alcoutim que ainda hoje possuímos.
Consta que está a ser objecto de escavações arqueológicas que certamente irão esclarecer algumas situações.
NOTAS
(1) História de Sanlúcar do Guadiana (dactilografado)
(2)”Sanlúcar de Guadiana – uma terra com 700 anos”, in Jornal do Algarve de 7 de Setembro de 2000.
(3) Este dado tradicional foi-nos transmitido cerca de 1971 por um jovem oficial que comandava a guarda civil local, de que não posso precisar o nome, que era de origem de famílias portuguesas da zona de Castelo Branco, como na altura nos referiu.
(4) Guia Bilingue – Alcoutim / Sanlúcar, Turismo, História e Cultura Raiana, Edição ATAS, 2006, pág. 61.
(5) Huelva en el sic.XV – Tierra de Señores – II Gibraleon – Tierras de Realengo – Poblaciones com castillo – 6 – Sanlúcar de Guadiana.
(6) História do Portugal Restaurado, Conde da Ericeira, Vol. VI.
(7) Ayamonte Geografia e Historia, Maria Luísa Díaz Santos, 1990.
(8) Diccionario Geográfico-Estadistico-Historico de España y sus posesiones de ultramar, Pascual Madoz, Madrid, 1845-1850.