Nota
Com a publicação do presente texto terminamos a abordagem que fizemos a todos os montes que constituem a freguesia de Martim Longo.
Ficou para o fim o monte que consideramos mais dinâmico em todo o concelho pois entendíamos que ele merecia uma maior abordagem que não conseguimos efectuar por vários motivos.
Sei que pelo menos dois pessegueirenses ansiavam há muito a publicação deste pequeno trabalho e pedimos-lhe desculpa de só agora o realizar pois fomos sempre protelando o assunto com o intuito de adquirir mais informação e consequentemente no sentido de o melhorar.
Aqui fica o que foi possível obter.
JV
[Vista parcial de povoação. Foto JV, 2008]
Vamos abordar hoje o “monte” mais importante ou dos mais importantes do concelho de Alcoutim, aquele em que o decréscimo populacional tem sido menos notado.
A importância que ocupa não vem de agora e se pesquisarmos os assentos paroquiais da freguesia de Martim Longo a que pertence, verificamos que a povoação ocupa os lugares cimeiros da freguesia a nível de baptismos, óbitos e casamentos.
Esta parte da freguesia de Martim Longo que assenta na chamada cumeada do Pereirão, cujo topónimo foi transmitido aos montes do Pereirão, Casa Nova do Pereirão e Monte Novo do Pereirão, tem a povoação do Pessegueiro como centro mais importante e a que se recorre para suprir as mais prementes necessidades. Gravitam à sua volta Zorrinhos de Cima, Tremelgo de Baixo e de Cima, todos a cerca de 3 km e um pouco mais afastado Casa Nova do Pereirão, Pereirão (4 km) e Estrada e Mestras a pouco mais de 6.
Diogo Dias e Azinhal, ainda que lhe fiquem a cerca de 5 km, poderão optar pela aldeia de Martim Longo.
As Memórias Paroquiais (1758) referem-no como Monte do Pixegueiro, indicando igualmente os que lhe estão próximos; contudo, aparecem na mesma zona e tomando em consideração a ordem que é indicada, o Monte da Amendoeira entre o Monte do Tremelgo e o Pessegueiro (será um dos Tremelgo visto só ser indicado um?) o Monte do Azenhalinho, entre o Pereirão e a Estrada e entre este e os Relvais o Monte do Rezidouro.
Seriam montes constituídos por um fogo ou pouco mais e que teriam desaparecido na voragem do tempo, como agora está a acontecer e sucedeu o mesmo ao monte dos Relvais que em 1960 ainda tinha 9 habitantes. Pensamos que se os topónimos desapareceram a nível de núcleo habitado, possivelmente ainda existirão quanto à designação de zonas rústicas.
Quanto ao topónimo, muito vulgar no nosso país, simples ou composto, no singular ou no plural, encontramo-lo referido doze vezes, do norte ao sul, no dicionário da especialidade que habitualmente consultamos e isto só na versão Pessegueiro. (1)
A toponímia de origem vegetal (fitonímica) é extremamente vulgar em Portugal.
Neste caso há o uso directo do nome da árvore, cuja utilização poderá estar no porte, idade ou exemplar único existente na zona que por esse facto a começou a identificar.
Em 1839, Silva Lopes atribui-lhe 35 fogos cujo número a nível de freguesia só é suplantado por Santa Justa com 36.
Em 1911 tinha 129 habitantes que foram subindo até 1960 a 162, subida sensivelmente verificada em igual período em todo o concelho. O surpreendente é que de 1960 até 1991 a população quase que estabilizou, visto a seu decréscimo ser insignificante – 3%, enquanto nos outros “montes” rondou os 50%!
De 1991 para 2001 (140 habitantes) a quebra foi mais acentuada cifrando-se em 10,8%. Esperamos, entretanto, pelos dados do último censo.
Esta zona importante da freguesia de Martim Longo estava completamente isolada e só a partir de 1974 as coisas começaram, naturalmente, a mudar.
Lembramo-nos perfeitamente que a primeira vez que fomos ao Pessegueiro, isto pelos anos de 1986/87 e se a memória não nos atraiçoa, o desvio da estrada nº 124 que começa por nos levar ao Silgado e fomos seguindo até à Casa Nova do Pereirão, não passava de uma estrada de terra batida e na altura, como era Verão, fazia grande poeirada.
[Um aspecto central. Foto JV, 2010]
A Câmara adjudicou a sua pavimentação até ao Pereirão, em 1989, por cerca de 75 mil contos. (2) Em 1991 os trabalhos já estavam concluídos. (3)
A estrada passa ao meio da povoação, o que raramente acontece aos montes do concelho, para os quais é necessário construir um pequeno troço de acesso.
Quem tomar esta estrada, vindo do sentido norte, antes de chegar ao Pessegueiro, tem à direita um desvio que nos leva à vizinha freguesia de Sta. Cruz, no concelho de Almodôvar, visto ter sido construída uma ponte para o efeito sobre a Ribeira do Vascão.
No século XIX, a Câmara de Alcoutim tinha instituído a seguinte postura: - Todo o indivíduo do concelho que sendo pela autoridade competente nomeado para fazer o serviço de piquete, faltar ou se recusar ao serviço sem causa legítima, fica obrigado a pagar àquele que for chamado a fazer as suas vezes, e incorre na pena de fazer segundo piquete ou de pagar a multa de quinhentos réis para as despesas do concelho.Na Sessão de 25 de Julho de 1846 discutiu-se se devia ou não continuar em vigor tal postura, que obriga os povos do concelho ao Serviço de Piquetes, postura que se achava legalmente aprovada. A postura acabou por ser confirmada com algumas pequenas alterações.
Esta referência foi feita devido ao facto da postura ter provocado neste “monte” um motim, para o que o poder político utilizou medidas de rigor no caso de continuarem em sua pertinaz desobediência. (4)
O serviço de piquete consistia rudimentarmente no transporte dos ofícios do Real Serviço já que o Concelho não dispunha de meios para pagar a quem o fizesse. É que o concelho de Alcoutim só teve dinheiro para esbanjar após o 25 de Abril!
A escola do Ensino Básico, edifício do Plano dos Centenários, só fechou quando o mesmo ficou restrito a dois pólos, um na vila e outro na aldeia de Martim Longo.
Calculamos que o edifício tivesse sido construído nos últimos anos da década de sessenta do século passado.
Devido à construção da estrada foi construído em 1987 um muro de protecção. (5)
[Sede própria da Associação Recreativa local. Foto JV]
Tem um Centro Cultural e Recreativo fundado pouco depois do 25 de Abril. Em 1989 a Câmara Municipal mandou instalar no mesmo uma máquina de café para satisfazer as necessidades dos associados. (6)
Tem sede em edifício próprio de rés-do-chão e 1º andar. Instalações sóbrias mas funcionais.
A associação organiza anualmente as Festas de Verão, com a duração de 3 dias onde avultam os bailes e torneio de jogo de cartas (sueca).
O Centro Cultural e Recreativo já tem vencido torneios a nível concelhio.
Existe igualmente o Clube de Caçadores da Foupana que gere uma zona de caça associativa.
[A Capela de Nª SDª de Fátima. Fotos JV, 2011]
Na Sessão de 27 de Setembro de 1995, a Câmara decidiu adjudicar a obra da construção de uma capela (7), que veio a ser inaugurada no dia 10 de Maio de 1997 com a presença do Senhor Bispo do Algarve, D. Manuel Madureira Dias.
Além dos actos religiosos em que se incluiu uma procissão solene e missa, realizou-se um beberete ao ar livre, aberto a toda a população. (8)
A construção da Capela foi adjudicada à Firma Artur Barão & Filhos, Lda.
Consta-nos que tem por invocação Nª Sª de Fátima.
Foi constituída em 1987 a Cooperativa Agrícola de Rega do Pessegueiro, CRL que usa a sigla COOPESSEGO. A Direcção Regional de Agricultura do Algarve assinou em Dezembro de 2006 o contracto de empreitada de execução da barragem, rede de rega e viária do Aproveitamento Hidroagrícola do Pessegueiro. (9)
[A barragem do Pessegueiro. Foto JV, 2011]
A Barragem, que custou cerca de 2 milhões de euros, foi inaugurada pelo Ministro da
Agricultura e Pescas, Jaime Silva, em 2 de Setembro de 2009.
A rega abrange 25 ha e serve 40 explorações agrícolas. A altura máxima é de 15 m e um desenvolvimento de coroamento de 209.
A Cooperativa criou recentemente um campo experimental de figo-da-índia junto à povoação e com o auxílio da Câmara Municipal.
Por ser o monte mais populoso do concelho foi o primeiro a receber o saneamento básico, no qual foram dispendidos cerca de 470 mil contos e foi inaugurado em 28 de Outubro de 2002. (10) A construção da Estação Elevatória tinha ocorrido em 2001. (11)
Atendendo a que quando havia cortes de energia eléctrica ficava sem água e com os problemas que isso acarreta, em 2010, foi construído um reservatório de água com a capacidade de 150 m3 e que custou cerca de 35 mil euros.
[A Unidade Industrial do "Pão do Pessegueiro". Foto JV, 2011]
Possui uma unidade de panificação de tipo artesanal que produz pão de muito boa qualidade sendo procurado por todo o concelho pelas suas características.
Existe também um pequeno café / restaurante.
A pastorícia foi sempre do agrado destas gentes e é aqui que ainda existem algumas cabras que dão origem ao fabrico de queijo.
Igualmente, há quem se dedique à apicultura.
Foi terra de artesãos como sapateiros, latoeiros, ferradores, ferreiros, chocalheiros, etc.
Os moradores forneceram importante participação na recolha feita de músicas e letras de canções que aqui eram tradicionais. “Pombinha branca” (cantiga de baile), “Venho da Ribeira Nova (cantiga de baile), “Rama da Oliveira” (cantiga com moda), “Tira o cravo, tira a rosa” (cantiga com moda) e “Debaixo da Laranjeira” (cantiga com moda). Foi recolha participada por Idalina do Ó Pepa, Lucinda Maria Filipe Pereira e Adélia Maria Rosa.
Pessegueiro é o meu monte
Martim Longo minha aldeia
Santa Cruz são os aios
Onde o meu amor passeia (12)
A nível de dados soltos, podemos dizer que em 1991 os arruamentos da povoação foram pavimentados a primeira vez (13) e posteriormente recuperados, devido aos trabalhos do saneamento básico. Em 2003 foram colocados redutores de velocidade (14). A estrada veio a ser reparada até ao limite do concelho em 2009 (15). Em 1989 abriram-se caminhos rurais para ligar a povoação à ribeira do Vascão. (16)
Nota – Por este gráfico se compreende a surpreendente estabilidade populacional na povoação, talvez o único caso no concelho.
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NOTAS
(1) – Novo Dicionário Corográfico de Portugal, de A.C.Amaral Frazão, Porto, 1981.
(2) – Boletim Municipal, nº 5 de Setembro de 1989.
(3) – Boletim Municipal nº 8 de Abril de 1991, p. 5
(4) – Alcoutim Visto Através das Posturas Municipais (1834 / 1850), José Varzeano, 1989 p.13
(5) – Boletim Municipal nº 2 de Fevereiro de 1988, p. 3
(6) – Boletim Municipal nº 4 de Abril de 1989.
(7) – Alcoutim, Revista Municipal nº 1, de Maio/Junho de 1995.
(8) – Alcoutim, Revista Municipal nº 5 de Novembro de 1997
(9) – Alcoutim, Revista Municipal, nº 13 de Dezembro de 2006, p. 6
(10) – Alcoutim, Revista Municipal nº 9 de Dezembro de 2002, p. 13
(11) – Alcoutim, Revista Municipal nº 8 de Setembro de 2001, p. 13.
(12) – Uma Etnomusicologia do Algarve Rural, texto de Francisco Parrot Morato e Luís Miguel Clemente, 2008
(13) – Boletim Municipal nº 9 de Dezembro de 1991, p. 2
(14) – Alcoutim, Revista Municipal nº 10 de Dezembro de 2003, p. 9
(15) – Alcoutim, Revista Municipal nº 15 de Julho de 2009, p. 20
(16) – Boletim Municipal nº 5 de Setembro de 1989, p. 6