O Padre António José Madeira de Freitas, num meio tão pequeno como foi sempre Alcoutim, é obrigatoriamente uma figura de referência, ainda que eu não conheça escrito, nem por via oral, nada que o tivesse colocado numa situação de destaque.
Mesmo que se vá esbatendo no tempo, talvez ainda se encontrem hoje nos mais idosos filhos de Alcoutim, quem dele tivesse ouvido falar a pais e avós, nomeadamente para contarem sobre ele uma estória picaresca, como por exemplo ouvi contar ao meu sogro.
Para complicar mais o assunto, o Padre António, como era conhecido pela população, teve um sobrinho precisamente com o mesmo nome, que igualmente foi sacerdote e profissionalmente contemporâneo do seu tio, que acabou por substituir após a sua morte.
O P. António José Madeira de Freitas nasceu em Alcoutim em 1796, sendo filho do Alferes de Ordenanças António Sebastião de Freitas, igualmente de Alcoutim e de D. Maria Joaquina, filha do Capitão de Ordenanças Manuel Martins Lemos e natural de São Sebastião dos Carros, do concelho de Mértola. (1)
Foi seu avô paterno, José Carlos de Freitas Azevedo, natural do Porto, que foi chefe da secretaria da Câmara Municipal durante muitos anos e que casou com a alcouteneja, D. Rita do Carmo. Presumo que veio a fazer um segundo casamento com D. Maria da Conceição Botelho.
Segundo a lápide sepulcral existente no cemitério da Vila, paroquiou a freguesia de S. Salvador desde 1835 até 25 de Maio de 1872, data do seu falecimento.
[Igreja Matriz de S. Salvador, da Vila de Alcoutim, des. de J.V.]
De carácter oficial sabemos que por Mercê de D. Maria II, Carta de 16 de Dezembro de 1841 é nomeado Pároco da Igreja Paroquial de S. Salvador de Alcoutim, (2) admitindo nós que ele tivesse exercido desde 1835 e até àquela data as funções de carácter interino.
É seguro que em 1834 era Pároco da Igreja do Espírito Santo do Pereiro, talvez tenha exercido essas funções desde 1820, por isso, muito jovem e após a ordenação.
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O P. António tinha uma irmã mais nova doze anos, D. Rita Antónia Joaquina do Carmo (1808-1858) que casou com Pedro José Rodrigues Teixeira (1810-1890), natural de Giões e que foi durante cerca de quarenta anos secretário da Câmara.
O Padre Madeira de Freitas que se encontrava muito debilitado, faleceu no dia 25 de Maio de 1872 em sua casa na Rua de Santo António na vila de Alcoutim. Ainda que fossem lavrados pelo seu coadjutor há muito, assinou os termos até treze dias antes do seu falecimento.
O epitáfio foi lavrado nos seguintes termos: À sombra da cruz / Aqui repousam / O P. António José Madeira de Freitas (Tio) / E o P. António José Madeira de Freitas (sobrinho) / Ambos naturais desta Vila de Alcoutim / Cuja freguesia Paroquiaram, o primeiro desde 1835 até 24/5/1872, data do seu falecimento e o segundo desde Julho de 1873 até 13 de Junho de 1906, em que faleceu.
[Paços do Concelho de Alcoutim que antes foram casas nobres do P. António, onde faleceu.Des. de J.V.]
Foi Provedor da Santa Casa da Misericórdia de 1847 a 1853. (4)
Prestou informações a Francisco Xavier d`Ataíde Oliveira para a organização do livro As Mouras Encantadas e os encantamentos do Algarve, 1898, como o autor anota e agradece a págs. 279.
Entre os bens imóveis que deixou constavam a morada de casas nobres em que residia na Rua de Santo António, na vila de Alcoutim e a fazenda da Amarela constituída por pomar, algum arvoredo e terra de semente. (5)
Esta zona rústica ainda assim conhecida, já o era no reinado de D. João III e onde existiam uns moinhos, no esteiro. (6)
Parece-nos que o topónimo rústico, Cerro do Padre António, ainda hoje existente e próximo da vila, não terá a ver consigo mas com o sobrinho que possivelmente foi seu proprietário.
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NOTAS
(1)-Assento de óbito–PAALCT/001/LIV 15 – 1872
(2)–PT-TT-RGM/H/200735
(3)–A Freguesia do Pereiro (do concelho de Alcoutim) do passado ao presente, António Miguel Ascensão Nunes (José Varzeano), 2007, pág.263.
(4)–Alcoutim, Capital do Nordeste Algarvio (Subsídios para uma monografia), António Miguel Ascensão Nunes (José Varzeano), 1985, pág.250
(5)–Testamento de 4 de Julho de 1853.
(6)–TT – Livro 1 dos Místicos, pág. 68 v.
Pequena Nota
A título de curiosidade direi que o Padre António baptizou quatro dos trisavós de meu filho, e uma das suas tetravós, Maria do Rosário, foi apadrinhada em 7 de Março de 1807 pelo pai do sacerdote, então Alferes António Sebastião de Freitas.