segunda-feira, 27 de abril de 2009
A Casuarina, árvore de interesse público
[A casuarina nos nossos dias]
Este escrito começou por me dificultar a escolha do título pois pensei que a designação de O PINHEIRO DO CAIS se ajustava mais ao conhecimento geral.
Acabei por modificá-lo atendendo a que já existe muita gente, uma parte significativa da população que a conhece pelo seu verdadeiro nome e isto a partir da altura que nela foi colocada em posição pendente uma placa de madeira que indica o seu nome e a circunstância de ter sido classificada como de interesse público, o que aconteceu por aviso publicado na 2ª Série do Diário da República, nº 74, de 29 de Março de 1999, pág. 4555.
A partir daí começaram a olhar para ela de uma maneira diferente. É que tal como as pessoas, as árvores também têm a sua história.
Eu sempre ouvi falar de uma azinheira nos Balurcos, penso que no Balurco de Cima, de porte descomunal e que debaixo da sua copa podiam semear-se não sei quantos sacos de semente. Parece que foi vítima de um vento ciclónico que a arrancou pela raiz, o que normalmente acontece a árvores de tão grande porte.
Não conheço nada escrito sobre ela e era interessante que existisse.
[A casuarina com cerca de treze anos de idade já tinha este bonito aspecto]
Possivelmente terão existido mais árvores no concelho, nomeadamente nas proximidades do rio que pelo seu porte e características deviam ficar nomeadas para conhecimento dos vindouros.
Árvores assim, despertam-me sempre muito interesse. Sempre gostei de árvores e as minhas favoritas são a oliveira e a alfarrobeira. Destas e de outras espécies, tenham plantado algumas.
Em 26 de Outubro de 1998 escrevi à Direcção-Geral das Florestas chamando a sua atenção para este exemplar e foi nesta altura que procurei saber o seu nome exacto pois de outra maneira o assunto ou parava ou teria um andamento diferente.
Transcrevo parte do que então escrevi:- Trata-se de um exemplar de casuarina, segundo penso, que a 1,30 m da base do tronco tem um perímetro de 3 metros e 22 e cuja altura nos parece ser cerca de 25 metros. Quanto à copa, que é enorme, não a consigo calcular. / Foi plantada há mais de cinquenta anos e “bebe” fartamente no Guadiana.
Termino a minha carta pondo-me ao dispor para qualquer outra informação necessária e que me fosse possível dar.
[A Casuarina já com a bonita idade de 34 anos]
O processo decorreu muito bem e fui gradualmente informado até à sua conclusão, tendo havido a amabilidade de me agradecerem o interesse e colaboração prestada.
Começamos o assunto praticamente pela actualidade, agora teremos de andar uns bons anos para trás.
Antes disso transcreverei os dados ainda não referidos e de mais interesse da Ficha da Árvore de Interesse Público que obtive na site http://www.afn.min-agricultura.pt/
Nome científico – Casuarina cunninghamiana Miquel
Nome vulgar – casuarina-ténue
Interesse histórico ou paisagístico – Bom exemplar de casuarina de fuste grosso, copa densa e frondosa. A árvore situa-se num pequeno terraço com uma excelente perspectiva sobre o Guadiana e a Vila Espanhola de Sanlúcar del Guadiana. O local é ponto de encontro e de realização de festas.
Perímetro da Base 5.0
Perímetro a 1,30: - 3,31
Diâmetro da copa norte/sul – 19.0
Diâmetro da copa este/oeste – 19,5
Altura – 23,7
Nota: - As medidas são em metros.
Última medição – 2006.
Idade (anos) – 90.
Este último dado tem um grande desfasamento, por excesso, perante a realidade como tentaremos justificar seguidamente.
Ainda que eu tivesse algumas informações sobre o assunto, elas não me permitiam tirar conclusões pois apareciam divergências notórias.
Através do alcoutenejo amigo e colaborador deste blogue, Eng. Gaspar Santos, foi possível recolher infomação bastante mais segura.
Quem plantou a hoje já “célebre” casuarina, foi um seu tio materno e padrinho, Manuel Martins que como cabo comandou o posto da GNR de Alcoutim e isto ter-se-ia dado em 1953/54, com mais hipótese para o último ano. Em relação a este ano, terá por isso cerca de 55 anos o que realmente é uma bonita idade mas muito inferior à apontada oficialmente, possivelmente por alguma informação errónea.
[Vista de parte do cais novo onde ainda não se encontrava plantada a casuarina. Além da Capela de Sto. António notam-se a venda do Sr. Sabino e a parte cimeira dos armazens do comerciante local, J.B.Guerriro. Esta fotografia foi gentilmente cedida pelo Sr. Eng. Gaspar Santos, de Alcoutim]
Se o cais foi inaugurado em 1944 e a árvore ainda não estava lá como se demonstra com a fotografia que se junta e gentilmente cedida por aquele nosso amigo, o que aliás não seria necessário por razões óbvias. Não se iria construir um cais em face da existência de uma árvore!
É-nos referido que o cabo Manuel Martins, natural dos Montes do Rio, se deslocava assiduamente de regador na mão e numa altura que não havia fornecimento de água ao domicílio para proceder à indispensável rega.
Conheci-a quando tinha cerca de doze anos e já possuía um porte apreciável.
Para quem possa desconhecer, direi que nos termos da legislação em vigor, o arranjo, incluindo o corte e a desrama deste exemplar fica sujeito a autorização prévia da Direcção-Geral das Florestas.
Aqui deixamos a nossa homenagem ao homem que teve a feliz ideia de plantar esta árvore, hoje um “ex-libris” da pequena vila raiana, nas margens do Guadiana.