segunda-feira, 13 de abril de 2009
O Cais Novo
[O cais em dia de Festas da Vila, 1998]
Já aqui referimos em duas pinceladas o pouco que conhecemos do cais velho. Seria razoável e quase obrigatório fazer o mesmo em relação àquele que todos hoje ainda designam por cais novo.
Com o aparecimento dos adubos artificiais, os barcos da C.U.F., que vinham ao porto fluvial do Pomarão buscar o minério da Mina de S. Domingos, aproveitavam para trazer carregamento desse produto para distribuir pela Serra Algarvia e parte do Baixo Alentejo.
Alcoutim, devido à localização, foi escolhido para ponto de desembarque.
O cais existente não reunia condições para atracarem barcos de tal calado, pelo que tinham de atracar ao largo e proceder-se dali ao trabalhoso transporte para terra. Havia por isso necessidade de construir um que oferecesse boas condições.
Em 1940 existia impaciência na vila pois esperava-se o início das obras que estavam estudadas desde 1936 (1) e isto apesar do Governador Civil ter comunicado ao Presidente da Câmara que tinha já sido concedida a verba de 150 contos para o efeito. (2)
Segundo nos informaram, o então Ministro das Obras Públicas, Eng. Duarte Pacheco, aqui se deslocou várias vezes para se inteirar directamente do desenrolar dos trabalhos que devem ter terminado em 1944 a fazer fé na placa existente no local.
Pessoal especializado aqui se instalou executando a obra a que naturalmente o povo começou a designar por “Cais Novo”.
Obra robustíssima, as plataformas assentam sobre trinta e dois pilares de cimento armado, alcançando alguns mais de trinta metros de comprido conforme nos afirmam testemunhas oculares. Contornando a periferia das placas, os pilares são vinte e um e de forma cilíndrica. Interiormente e ligados por barras de cimento armado, formando rede, os pilares são oitavados e em número de onze.
[Navio da Marinha de Guerra atracado ao cais novo em 1969]
Das quatro plataformas que o constituem de diferentes alturas, a mais alta é a maior, formando um decágono irregular e côncavo.
Desta, desce-se por um lanço de seis escadas para outra e ainda outra.
Quando a mina de S. Domingos deixou de ser explorada, em meados da década de sessenta, cessou o movimento do cais, ao qual podem atracar barcos de mais de duas mil toneladas.
A construção do cais veio como “sopas depois do almoço”. O seu período de actividade, breve como as rosas de Malherb, reduziu-se, quando muito, a uma década. (3)
De tempos a tempos, algum iate de maior calado, uma “Enviada” em passeio ou barco de vigia costeira, aqui atracavam provocando alvoroço na vila.
Quando da visita do Presidente da República, Almirante Américo Tomás, para inaugurar o abastecimento de água e energia eléctrica à vila, em 12 de Junho de 1965, o “Aviso” João de Lisboa que o trouxe, aqui atracou. Gonçalo Velho, da mesma categoria também aqui esteve na altura da Guerra Civil de Espanha. (4)
O cais rodoviário, anexo ao fluvial, tendo perdido completamente a utilidade para esse fim, tem sido utilizado por deferência da Junta Autónoma dos Portos, a que está afecto, para recinto de realização das “Festas da Vila”. Posteriormente foi igualmente vedado e transformado em recinto desportivo e quando disponível, como parque de estacionamento.
[La Belle de Cadix atracado ao cais novo]
As tripulações de alguns barcos que aqui têm atracado, para memória, deixaram gravado esse facto. Notam-se os mais recentes (na altura):- “Maria Cristina” - 29.08.1958, “Mira Terra” - 14.10.1963, “Silva Gouveia” - 30-09.1964 e “Maroto” - 30.08.1970.
NOTAS
(1)-O Século - número Especial de 1940.
(2)-Acta da Sessão da Câmara Municipal, de 25 de Fevereiro de 1939.
(3)-“Uma estrada marginal ligando Alcoutim a Castro Marim, oferecia extensa zona venatória ao turismo do Algarve”, Luís Cunha, in Jornal do Algarve de 7 de Abril de 1973.
(4)-Informação prestada pelo Sr. João Parreira Baptista, alcoutenejo que foi profissional da Marinha.