terça-feira, 25 de maio de 2010
Pisadores
A maceração de plantas aromáticas foi desde tempos longínquos utilizada pelos povos para tornear faltas de diversos tipos no sentido de tornar a alimentação mais agradável e apetecível.
No nosso país essa utilização é praticada fundamentalmente no Alentejo que apesar das suas restrições de produtos os seus povos conseguem por intermédio da utilização de ervas aromáticas produzir pratos muito agradáveis.
Como já várias vezes temos referido, o concelho de Alcoutim, encravado entre o Baixo Alentejo e o Algarve do Litoral, sofre influência destas duas regiões, em todos os aspectos, incluindo a gastronomia.
Se os alcoutenejos utilizam os carapaus "alimados" do Litoral, não deixam de ter predilecção pelas açordas ou gaspachos, próprios do Alentejo e da vizinha Andaluzia.
Os alcoutenenses utilizam entre outras e de uma maneira geral com alguma intensidade: coentros, hortelã, poejos, louro, orégãos, hortelã da ribeira e outras.
Enquanto umas eram utilizadas directamente, outras tinham que se sujeitar à indispensável maceração o que acontecia também aos alhos e mesmo ao tomate.
[Almofariz de madeira. Foto JV, 2010]
Enquanto no Alentejo se usava o almofariz ou gral, constituído por duas peças, o receptáculo e o pisador, de madeira torneada e que ainda hoje existem à venda, mesmo nos comércios chineses, ainda que estes tenham uma forma diferente dos nossos, ou, para os mais endinheirados de metal de formato semelhante aos utilizados na farmacopeia dos séculos passados e de vários tamanhos.
[Almofariz de metal. Foto JV, 2010]
Ainda que no concelho de Alcoutim existissem almofarizes de metal em casas relativamente abastadas para o meio, o cidadão comum de uma maneira geral só possuía o pisador feito por ele próprio pois o receptáculo era constituído pela pelengana onde se iria confeccionar a refeição.
A maceração era feita de uma maneira geral com o auxílio do sal que ajudava à operação, no sentido de se tornar mais eficiente.
Os pisadores que a foto apresenta tiveram o mesmo artesão. Enquanto o mais pequeno tem 40 anos de existência e é feito de chaparro, o maior, mais recente e que nos foi oferecido pelo seu autor, é de zimbro, madeira igualmente muito rija.
Estas magníficas peças constituem o verdadeiro artesanato.