[Vale da Rosa. Aspecto geral]
Voltamos hoje à freguesia de Vaqueiros, a mais desprezada no desprezado concelho de Alcoutim, onde as populações completamente isoladas sobreviveram com grande estoicismo à custa da sua tenacidade de trabalho.
Para encontrarmos esta pequena povoação, aqui designada há séculos por “monte”, saindo da sede de freguesia, seguimos em direcção ao sul pela EM 508. Depois de passarmos junto ao monte dos Bentos e atravessarmos a ribeira de Odeleite, a primeira ponte que uniu as duas “partes” que constituíam a freguesia de Vaqueiros, fomos vencendo as irregularidades do terreno.
Pouco depois de passarmos por uma ponte com alguma dimensão e que nos possibilita vencer um barranco, voltamos a subir e apercebemo-nos à direita da indicação de um caminho que nos levará ao Vale do Rosa e que seguimos.
Na altura em que o visitámos, era um caminho de terra batida com troços que ofereciam certa dificuldade. Após descida pronunciada vêem-se alguns velhos amendoais e na altura ainda se via uma ou outra seara.
São quatro quilómetros de terá batida. Placa toponímica que nos apresenta a povoação.
Situa-se na encosta de um cerro e está dividida em dois pólos, o primeiro, o Vale da Rosa propriamente dito e o que fica em frente, o Vale de Asno.
[Vale do Asno]
Nas redondezas, ainda se notavam alguns terrenos limpos, sendo o sobreiro a árvore mais vulgar.
Existia recolha de lixo domiciliário.
Em todo o concelho, é dos montes mais isolados e distantes da sua sede.
A deslocação às feiras, que vêm dos tempos medievais, era um hábito tal como era hábito a população deslocar-se à de Tavira, segundo informação recolhida localmente.
Em 1758 já é referido nas Memórias Paroquiais com sete vizinhos, ao nível de Traviscosa, Cabaços e Fernandilho, que tinham igual número, ainda que Baptista Lopes o omitisse na sua Corografia (1841).
Em 1984/85 tinha cinco fogos habitados e catorze habitantes, tendo em 1998, quando lá nos deslocámos, onze, segundo informação prestada pelo morador mais novo.
O monte foi bastante badalado no primeiro semestre de 1985, tanto na imprensa diária como regional, assim como na rádio e televisão.
[Dia da inauguração da Central Voltaica]
O noticiário da RTP das vinte horas do dia 13 de Abril daquele ano, além da notícia, dava vários aspectos da povoação com os seis fogos e quinze habitantes. A notícia de caixa alta era a inauguração, que tinha decorrido um dia antes, da 1ª Central Fotovoltaica (conversão directa da radiação solar em energia eléctrica) no País, que visava satisfazer as necessidades básicas de electricidade, nomeadamente luz eléctrica interna e externa, frigorífico e televisão, foi o que afirmou o Professor Henri Baguenier, da Missão Científica Francesa em Portugal e que participou no projecto.(1)
A primeira notícia que tivemos sobre o assunto foi da imprensa regional informando que a central solar ascende a cerca de doze mil contos e que terá uma potência de cinco quilovátios, o que permitirá fornecer a energia a todas as casas do monte (2).
No dia 19 de Março de 1985 iniciaram-se os trabalhos de montagem da central que deveriam durar cerca de uma semana, seguindo-se um período de acertos (3).
A central é de tecnologia francesa e compreende dois grupos de painéis, seis num grupo e sete no outro, com uma potência de um quilovátio de ponta. Possui ainda baterias que acumulam energia para utilização em horas de maior consumo ou em situações de mau tempo. O equipamento tinha uma autonomia para cinco dias – podia não haver sol nesse período que o abastecimento ficava garantido. (4)
A selecção de Vale da Rosa para esta experiência, teve, como não podia deixar de ser, um estudo prévio, onde teriam de ser considerados vários factores. A localização e condições de radiação solar foram consideradas boas pelos técnicos para a sua implantação. (5)
A Câmara Municipal contribuiu com as obras de construção civil necessárias à instalação dos painéis.
[Outro aspecto do Vale da Rosa]
Foram oferecidos televisores e frigoríficos pela França a cada uma das cinco famílias, além de um telefone colectivo que trabalha por feixes hertzianos. (6)
A inauguração teve lugar, como já dissemos, no dia 12 de Abril de 1985, tendo a presença do Embaixador da França em Lisboa, do Director Geral da Agence Française de Maitrice d’ Energie, do Director-Geral de Energia, dos Presidentes das Câmaras Municipais do Algarve entre outras individualidades e naturalmente da pequena população local.
A Estação Fotovoltaica, que pertencia à Direcção-Geral de Energia, passou, como estava previsto no protocolo firmado, para a posse da Câmara Municipal.
Em 1988 estavam em curso obras para o abastecimento de água através da energia solar.
A instalação teve lugar por iniciativa conjunta das mesmas instituições ou seja a Direcção Geral de Energia e a Agence Française pour la Maitrice de l’ Energie. Esta obra estava calculada em cerca de quatro mil contos e era da responsabilidade da Câmara Municipal.(7)
As ruas foram asfaltadas em 1993 (8)
Sabemos que esta estação foi substituída em 1996 pelo sistema clássico de fornecimento de energia eléctrica, (9) desconhecendo as razões para tal.
Possuía distribuição de água por dois fontanários, um em cada “monte”.
[Vale da Rosa, entrada]
O topónimo terá tido origem em plantas espontâneas que pelo vale terão existido ou em alternativa proveniente de um antropónimo.
Acontece que a mãe de uma das pessoas mais idosas do “monte” se chamava Rosa pelo que o antropónimo tem alguma tradição.
O comércio ambulante também aparecia de vez em quando.
Dista cerca de 16 km de Vaqueiros.
Segundo informação recente, encontra-se completamente despovoado.
NOTAS
(1)-Diário de Notícias de 14 de Abril de 1985.
(2)-Jornal do Algarve de 2 de Dezembro de 1984.
(3)-Jornal do Algarve de 21 de Março de 1985.
(4)-Correio da Manhã de 9 de Junho de 1985 (revista Correio de Domingo).
(5)-Boletim Municipal nº 3 de Setembro de 1988.
(6)-Alcoutim - Revista da C.M.A. nº 4 de Dezembro de 1996.
(7)–Boletim Municipal nº 3 de Setembro de 1988
(8)–Boletim Municipal nº 12 de Abril de 1993.
(9)–Alcoutim – Revista Municipal nº 4, de Dezembro de 1996.