sexta-feira, 7 de maio de 2010

Recordando Galhardo Palmeira

Pequena nota
A breve notícia, que aqui demos do falecimento do Prof. Galhardo Palmeira, não impede de maneira nenhuma esta recordação evocada por quem o conheceu e é bem demonstrativa do carácter do então padre Galhardo Palmeira.
Ao estilo que nos habituou, Gaspar Santos apresenta-nos algumas facetas curiosas do bom professor e pedagogo.

JV






Escreve

Gaspar Santos




No passado dia 30 de Abril ao abrir o Blogue Alcoutim Livre, como habitualmente faço, soube do falecimento do professor Galhardo Palmeira. Passados minutos. Também nessa manhã recebi o Jornal do Algarve onde igualmente era dada a notícia, com referências elogiosas ao professor e pedagogo.

Tinha 94 anos e eu conhecera-o e convivera com ele em Alcoutim nos anos 44, 45 e 46 do século passado. Era então o padre Galhardo. Foi meu professor de Catequese durante a instrução primária. Na Igreja de Nossa Senhora da Conceição, ensinava Catequese, com empenho e motivação, aos alunos da Instrução Primária e alguns alunos voluntários que já tinham acabado a escolaridade. Gostávamos dele pois já aí mostrava os seus dotes de bom pedagogo e abertura de espírito para aceitar a pluralidade religiosa.

Muitos miúdos como nós, não estavam baptizados. Então ele mandou recado aos nossos pais para nos baptizar. Meu pai, com o maior respeito para com o padre Galhardo disse-me: “Diz ao Senhor Prior que quando fores homem optarás pela religião que entenderes”. Levei o recado ao padre Galhardo com algum receio. Receio que afinal se revelou infundado, pois aceitou a decisão do meu pai e eu continuei com a mesma aplicação na catequese. Uma tolerância religiosa que não seria muito corrente na época.

[Galhardo Palmeira]
Sempre me tratou bem. Mais tarde em 1948 quando já morava em Vila Real de Santo António deu-me mesmo uma prova de apreço que recordo com saudade.

O Lusitano em Junho de 1948 ia jogar com o Sporting Clube de Portugal, a lendária equipa dos 5 violinos (Jesus Correia, Vasques, Peyroteu, Travassos e Albano) de que ainda faziam parte Azevedo, Cardoso, Manuel Marques e Canário. Em Alcoutim organizaram uma excursão para assistir ao jogo no estádio Francisco Gomes Socorro. Integrei essa excursão e fui com algumas pessoas cumprimentar o padre Galhardo. Ele meteu a mão no bolso e disse-me: “Pega este bilhete para veres o jogo”. Foi a última vez que o vi.

Acompanhei interessadamente, sempre que se proporcionou, notícias do seu percurso humano, académico e profissional e li os artigos com que colaborou nos jornais locais.

Algumas vezes tive intenção de o visitar mas fui adiando até que hoje é impossível.
Aqui fica a minha recordação e a minha singela homenagem a esta figura do Baixo Guadiana. Outros, com certeza, não deixarão de escrever sobre esta personalidade que marcou os que com ele conviveram.