[As serranias da freguesia de Vaqueiros. Foto JV, 2010]
A colonização agrícola remonta às Sesmarias.
Nos meados do século XVII, o mato cobria grande parte desta zona. Em muitos locais, uma vegetação espontânea, constituída fundamentalmente por sobreiros, azinheiras e medronheiros.
Foi o habitat de veados, javalis, lobos e raposas, para só referir os de maior porte.
Veio o período das arroteias que proporcionou a cultura cerealífera, principalmente a do trigo entre as ribeiras da Foupana e de Odeleite, o centeio e a cevada.
Não esquecer que o bispo apresentava o cura que tinha 309 alqueires de trigo e 106 de cevada. (1)
Começa a plantação de alfarrobeiras, amendoeiras e figueiras.
Nos cercados, ao abrigo do pastoreio, desenvolvem-se oliveiras a partir da enxertia em zambujeiros. (2) Por vezes arrancam alguns melhores que enxertam na mão e transplantam-nos para melhores locais que protegem do gado. (3)
[Oliveira maçanilha roxa proveniente de enxerto na mão de zambujeiro. Tem 12 anos. Foto JV]
Em 1868 (Gerard Pery) ao considerar a serra algarvia como inculta, aponta duas excepções - os concelhos de Monchique e Alcoutim e a importância do cultivo do trigo e centeio no último, entre a Ribeira da Foupana e o Rio Vascão. (4)
Nesta freguesia foram arroteados retalhos de charneca por cultivadores que pagavam à Câmara um alqueire de trigo, centeio e milho, por cada quinze produzidos.
Apesar do abandono da terra ainda se podem ver pequenas parcelas cultivadas de cereal nas encostas mas só onde a espessura do solo o permite. (5)
O montado então existente, segundo parece, granjeou alguma fortuna aos proprietários que nos primeiros anos deste século, forneciam lenha e carvão para o comboio acabado de chegar a Vila Real. (6)
A nível desta actividade é conveniente dizer:- (...) os seus habitantes (de Vaqueiros), pela maior parte, lavram terra de renda, que desde a ribeira da Foupana até Odeleite, pertencem a poucas herdades, uma das quais vinculada. (7) Sugere o mesmo autor que seria muito útil que o administrador do morgadio e os donos de algumas herdades maiores, se determinassem a reparti-las em aforamentos, no que lucrariam mais e os pobres habitantes teriam campo para desenvolver a indústria de que dão provas. Não esquecer que o autor é um liberal que esteve preso na Torre de S. Julião da Barra pelas suas convicções políticas.
Além de outras, na freguesia referem-se a Herdade da Revelada, propriedade que foi dos condes do mesmo título, a da Finca Rodilha (parte) que pertenceu entre outros a Sebastião da Guarda Cabreira e a da Malhada, talvez a maior do concelho, com 289 ha, sendo 60 de alfarrobal, 4 de eucaliptal, 2 de pinhal e 223 de culturas diversas e inculto. (8)
Presentemente a freguesia atravessa uma fogosa florestação, principalmente de pinheiros e azinheiras que se espera venha a dar frutos.
A pouca agricultura que hoje se faz no concelho de Alcoutim, tem lugar nesta freguesia, principalmente a horticultura.
NOTAS
(1)-Portugal Antigo e Moderno (...)., A. S. B. de Pinho Leal
(2)-O Algarve Oriental - As vilas, o mar e o campo, Carminda Cavaco, 1976.
(3)-Corografia do Reino do Algarve, João Baptista da Silva Lopes, 1841
(4)-O Algarve Oriental - As vilas, o mar e o campo, Carminda Cavaco, 1976.
(5)-Portugal Meridional – Gentes, tradições, fauna e flora, John e Madge Measures, 1995.
(6)-“Caminhos e Estradas são suprema aspiração da gente de Vaqueiros”, Luís Cunha, in Jornal do Algarve de 10 de Fevereiro de 1973.
(7)-Corografia do Reino do Algarve, João Baptista da Silva Lopes, 1841
(8)-Estruturas Agrárias em Portugal, J Silva Martins