domingo, 26 de dezembro de 2010

Galachos, Galaxos ou ainda Galaxes!



Este pequeno monte da freguesia de Vaqueiros e próximo da Ribeira de Odeleite sempre nos tem levantado dúvidas quanto à maneira de escrever e ainda mais quanto à explicação do seu topónimo, que ao conhecer-se ajudaria certamente a optar pela grafia.

Em 1758, nas Memórias Paroquiais, o pároco da freguesia que respondeu ao questionário escreveu Galachos, enquanto Silva Lopes na sua Corografia do Algarve (1841) grafou Galaxos.

A Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, Vol 21 indica Galachos. O site da Câmara Municipal de Alcoutim opta por Galaxos, (1) enquanto o da Junta de Freguesia de Vaqueiros apresenta com “X” no mapa da freguesia e com “CH” no texto! (2)

No nosso trabalho editado em 1985, (3) escrevemos Galachos.

José Pedro Machado escreveu:- top.Alcoutim - Referência a pessoas do local genericamente conhecidas pelo apel. ou pela alc. de Galacho? De galo? Nunca li ou ouvi no concelho tal nome, a não ser em relação à pequena povoação ou à que lhe fica próximo e ainda mais pequena e daí a adopção do diminutivo. Se é derivado de galo, penso que deve ser escrito com ch.

No Novo Dicionário Corográfico (...) que habitualmente consultamos, só encontrámos este Galachos, também com “ch” pelo que será único no país.

No Google Earth encontrámos Galaxes para aquilo que designamos por Galachos e Galachos para o que conhecemos por Galachinhos.

Em recentíssimo folheto propagandístico da responsabilidade da Câmara Municipal (4)
no mapa do concelho também assim aparece designado.

Como se vê, existe bastante confusão sobre o assunto.

Há uma importante família originária de Espanha, segundo penso, que se espalhou por diferentes partes do Mundo, como Portugal, Brasil e Argentina, pelo menos. No Ribatejo estiveram em Constância, Santarém, onde ainda conheci uma senhora, e Vila Franca de Xira mas não me consta que tivessem passado por terras de Alcoutim.

Tanto os Galachos como os Galachinhos situam-se muito próximo da Ribeira de Odeleite, em cujas margens o homem podia tirar o seu sustento, já que são terrenos produtivos ao contrário das serranias próximas.

[Um aspecto da povoação. Foto JV, 2010]

O monte dos Galachos situa-se a cerca de 34 km da sede do concelho e a 12 de Vaqueiros, sede da freguesia. Os Galachinhos há uns anos desabitados distam 700 metros dos Galachos, cada um na sua margem da ribeira.

As Memórias Paroquiais, que só referem o maior, atribuem-lhe 4 vizinhos, o que estava equiparado à grande maioria dos montes da freguesia, enquanto Silva Lopes em 1839 lhe atribui cinco fogos.

Até 1985 o isolamento de todos os “montes” da freguesia de Vaqueiros era praticamente total. As deslocações eram feitas a pé ou em animais de carga e sela.

À vila ia-se só para as obrigações fiscais, saindo de madrugada e chegando alta noite! Estes povos não tinham direitos, só tinham obrigações.

A escola mais próxima, a da Várzea, que presumo ter sido construída entre meados da década de 60 e da seguinte, do século passado não podia receber as crianças dos Galachos, pois no Inverno a ribeira não dava passagem e por isso frequentavam a escola do Zambujal.

Só em 1985 as coisas começam a mudar e é feita a terraplanagem e obras de arte na estrada municipal 508, no lanço da ribeira de Odeleite (Galachos) à estrada municipal 505. O alcatroamento da estrada e dos pequenos ramais foi adjudicado em Dezembro de 1991, sendo a ponte posta a concurso no ano seguinte (5) e ficando concluída em Julho de 1993. (6). Atravessamo-la. É uma ponte moderna, bem concebida, larga, com três elegantes pilares.

No monte foi inaugurado no dia 19 de Setembro de 1985 um telefone público quando ainda não beneficiava de energia eléctrica. (7)

Em 1992 foi aberto um furo para distribuição de água à população através de fontanários (8) e três anos depois viu as ruas pavimentadas. (9)

[Parque de merendas. Foto JV, 2010]

Em 2005 junto da estrada foi construído um parque de merendas à sombra de algumas árvores para o efeito plantadas. (10)

Tanto no censo populacional de 1991 como no de 2001 não encontrámos referência ao seu número de habitantes, pelo que, sendo 10 ou inferior, foram contabilizados nos isolados, contudo, em Setembro de 1999 afirma-se que tem seis fogos e dez habitantes. (11)

Perto da povoação, num pequeno cerro localiza-se um povoado com vestígios de ocupação islâmica. Recolheram-se fragmentos de telhas, cerâmica comum, bordos de pequenas panelas e vária cerâmica vidrada e de cor melada. (12)

Como se verifica, as terras férteis junto à ribeira não passaram despercebidas àquele povo.

[Ponte dos Galachos sobre a Ribeira de Odeleite. Foto JV, 2010]

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Notas

(1)– http://www.cm-alcoutim.pt
(2)— http://www.jf-vaqueiros.pt
(3)– Alcoutim, Capital do Nordeste Algarvio (Subsídios para uma monografia), p. 393
(4)– Alcoutim O Algarve Natural
(5)- Boletim Municipal nº 10, de Abril de 1992
(6)- Jornal do Algarve de 16 de Setembro de 1993.
(7)- Jornal do Algarve de 26 de Setembro de 1985.
(8)- Boletim Municipal, nº 10 de Abril de 1992.
(9)- Alcoutim - Revista da C.M.A., nº 1 de Maio/Junho de 1995.
(10)– Alcoutim, Revista Municipal nº 12, de Dezembro de 2005, p 15.
(11)– http://www.in-loco.pt
(12)– “O Algarve Oriental durante a ocupação islâmica”, Helena Catarino, in Revista do Arquivo Histórico Municipal de Loulé, nº 6, 1997/98, p. 145