sexta-feira, 10 de dezembro de 2010
Pereirão, pequeno monte na cumeada do mesmo nome
Este pequeno monte faz parte da freguesia de Martim Longo de que dista 14,5 km, por isso, a mais de 40 km da sede do concelho.
O seu acesso, tendo em consideração a sede de freguesia, faz-se através da EN 124 e tomando o primeiro entroncamento à direita, estrada construída uns anos depois do 25 de Abril de 1974, já que até aí as povoações desta parte da freguesia viviam completamente isoladas.
Passamos junto ao Monte do Silgado, depois deixamos à direita Diogo Dias, uns quilómetros andados, temos o Tremelgo, depois atravessamos o Pessegueiro, o maior monte do concelho, passamos depois próximo dos Zorrinhos de Baixo para do outro lado da estrada se situar os Zorrinhos de Cima, de seguida e do lado direito da estrada fica o desvio para a Casa Nova (do Pereirão) e logo a seguir, no mesmo plano, o monte que procuramos, o Pereirão, o último monte do concelho por este lado, já que a dois passos temos a freguesia do Ameixial, do concelho de Loulé, sendo Lourencinho o monte mais próximo.
O monte do Lourencinho (1758) então com dois vizinhos e mais onze montes da freguesia do Ameixial, sendo o mais populoso dessa época o da Corte de João Marques, pertenciam ao termo de Alcoutim, o que aconteceu até à reforma administrativa de 1836de Passos Manuel.
Nas Memórias Paroquiais de 1758, o pároco de Martim Longo, ainda que não indique o número de vizinhos, refere, separadamente, o Monte da Casa Nova e o Monte do Pereirão.
Em 1771 e anos seguintes, vinham manifestar os seus gados à Câmara de Alcoutim gentes da Corte João Marques, nomeadamente, o Capitão de Ordenanças, André Roiz Contreiras, de Revezes, Vale da Moita, Pereirinha e outros. A nível do Pereirão o registo era feito por João Guerreiro que tinha reses, ovelhas, carneiros e cabras.
Em 1850, quando se faz a divisão com a colocação de marcos, entre o concelho de Alcoutim e o de Loulé, por este lado, para comodidade dos habitantes dos “montes” de Lourencinho, Casa Nova e Pereirão, demarcou-se para ficar livre e comum para pastagem de gados, dos ditos montes, o terreno que vai da altura do Malhão, isto pela parte do concelho de Loulé e pela parte do concelho de Alcoutim, pela partilha da Herdade do Pereirão ao nascente, direito ao Barranco do Freixo, até dar ao Vascão. (1)
A Herdade do Pereirão dominava a parte rústica. É mais um exemplo de “montes” com o mesmo nome de herdades. Parece-nos que as herdades nestas condições teriam dado origem aos actuais “montes” pela fixação de proprietários, rendeiros ou trabalhadores.
De muitas dessas herdades só resta o nome, pois foram divididas através dos séculos, por vendas e partilhas.
O Pereirão tinha em 1940 vinte e oito habitantes e vinte anos depois já tinham descido para vinte e dois, números superiores ao que tinha, em igual período, a Casa Nova, (2) situação que hoje deve estar invertida. Nos dois últimos censos (1991e 2001) a sua população foi incluída no número dos “isolados” visto não ultrapassar a dezena.
Somos de opinião que o Pereirão deve ser mais antigo do que a Casa Nova, que necessita da sua referência para se poder identificar.
[Moinho do Pereirão, único que funcionava no concelho de Alcoutim. Foto JV]
Pereirão, que na nossa toponímia a nível de aglomerado populacional só se encontra aqui representado, segundo o Novo Dicionário Corográfico de Portugal de A.C. Amaral Frazão, deu origem ou foi buscar o nome, o que é mais natural, à Cumeada em que está instalado e que se desenvolve por cerca de 45 km de comprimento, planalto que na sua maior largura não chega a 4 km.
Pereirão é aumentativo de pereiro, representado no concelho na aldeia do Pereiro e em Cortes Pereiras.
O pereiro bravo, vulgar na região, foi o móvel destes topónimos de origem vegetal.
O antropónimo é muito vulgar no concelho. Existem Pereiras em todas as freguesias.
No dia 8 de Agosto de 1879 fez-se uma montaria aos lobos que causavam grandes estragos nos gados. Para o efeito a bandeira mestra foi colocada na Portela do Pereirão e foram convidados a comparecer os habitantes de S. Miguel do Pinheiro, São Pedro de Sólis e de Santa Cruz. (3)
Em 2002 são pavimentados os arruamentos (4) e no ano seguinte feito um caminho para o Monte das Mestras, da mesma freguesia. (5)
NOTAS
(1)– Acta da Sessão da C.M.A. de 14 de Fevereiro de 1850
(2)– Os montes do Nordeste Algarvio, Cristiana Bastos.
(3)– Of. Nº 134 de 24 de Julho de 1879 do Administrador do Concelho.
(4)– Alcoutim, Revista Municipal, nº9 de Dezembro de 2002, p. 11.
(5)– Alcoutim, Revista Municipal, nº 10, de Dezembro de 2003, p. 7.