[Rua Antero Cabral, antiga Rua Direita. Foto JV]
Os nomes das terras constituem quase sempre um manancial de sugestões desde as técnicas baseadas na filologia ou na história até às lendárias muitas vezes bem arquitectadas pelo povo na sua pródiga imaginação.
Desde o seu nome anteriormente ter sido Vila Nova de Serqueira e transformado, vejam lá, na altura das lutas entre liberais e absolutistas e até entrando a figura de Remechido e isto fazendo tábua rasa dos mais elementares conhecimentos históricos já atestados no tempo de D. João I, algo tem sido dito.
Polémica que sempre encontrei e que se irá manter pela vida fora é a da grafia. Martim Longo ou Martinlongo e isto para não referir uma terceira, Martilongo.
Eu sempre escrevi separado, precisamente pela explicação do topónimo. Hoje e oficialmente é como se deve escrever, segundo informação que me chegou, mas algumas entidades responsáveis continuam a escrever numa só palavra. Quem não se lembra num programa televisivo quando foi colocado o assunto a um responsável político, este ter afirmado peremptoriamente que era separado e que até devia levar um tracinho (sic). Contudo, a prática não era essa.
O primeiro elemento do nome composto parece não oferecer dúvidas. MARTIM é forma proclítica de Martinho. Estamos na presença de um antropónimo que deu origem ao topónimo.
Existem no país muitos mais exemplos, como acontece em Martim Brás (Ferreira do Zêzere), Martim Gil (Leiria), Martim Filho (Arronches), Martim Joanes (Cadaval), Martim Moleiro (Penamacor), Martim Tirado (Torre de Moncorvo), Martim Vaqueiro (Alvaiázer e Ansião), Martim Afonso (Sobral de Monte Agraço), etc.
Isoladamente, o topónimo MARTIM aparece na nossa toponímia pelo menos seis vezes e muitas mais em casos de elisão, como acontece em Martinhanes (Mértola), Martingança (Alcobaça) e Martingato (Santa Marta de Penaguião).
Verifica-se assim que o antropónimo transformado em topónimo se espalha por todo o país.
O segundo elemento do topónimo é que oferece alguma dificuldade. Segundo a tradição oral, este Martim, figura não conhecida, é visto de diversos ângulos: proprietário? Benemérito? Longo na vida ou de estatura?
Quem sabe?
José Pedro Machado (1) diz que o topónimo tem origem no nome de antigos proprietários locais, sendo já atestado em 1376.
Existe além deste outro Martim Longo no concelho de Montemor-o-Velho.
NOTA
(1)-Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa, Horizonte/Confluência, 1993.