quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

A Fábrica da Igreja do Pereiro

Entidade a quem pertencem os bens ou direitos temporais destinados à conservação, reparação, ornamentação e despesas de culto de um local de culto ou templo, é a definição que nos dá o Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea – Academia das Ciências de Lisboa – Verbo, 2001.

O Livro de Contas da Fábrica da Parochial Igreja do lugar de Pereiro, nº 2, com termo de abertura e encerramento de 13 de Junho de 1767, fornece-nos alguns dados de interesse que iremos referir.

Competia ao fabriqueiro cobrar os rendimentos da igreja e efectuar o pagamento das despesas dando de tudo conta no fim do seu mandato que se iniciava por eleição, no dia de S. João Baptista (24 de Junho) e terminando em igual dia do ano seguinte.

[Ruínas da residência paroquial. Foto JV, 1989]

Eram anualmente organizadas as contas com a indicação das receitas e despesas, passando naturalmente o saldo apurado para a posse e responsabilidade do novo fabriqueiro.

Fabriqueiro equivale ao que hoje se designa por tesoureiro, e além dos recebimentos e pagamentos era o guardião dos fundos.

As contas eram Superiormente julgadas, sendo o facto lançado por averbamento no local próprio.

A proveniência destes responsáveis não se confinava à aldeia, acabando por se distribuir praticamente por todos os montes de freguesia.

A Igreja possuía uma cerca no monte dos Vicentes que em 1766/1767 e anos posteriores trazia arrendado o Cap. (de Ordenanças) Manuel Dias Vilão, pagando anualmente dois alqueires de trigo.

Do foro do Lutão pagava Manuel Martins, do mesmo monte, 360 réis anuais e do de Marim, mais volumoso (960 réis) era devedor Diogo Mestre.

[Cruz de ferro da Igreja. Foto JV, 2006] Uma receita importante da Fábrica da Igreja era o pagamento daquilo que se designava por jazigos, ou seja o pagamento da sepultura que ocorria na igreja ou no seu adro, conforme a dignidade e poder económico do defunto.

Outro foro de dois alqueires de trigo era pago por Gaspar Lourenço, dos Tacões e recebia-se igualmente a ração das terras da Silveira.

Aparecem também recebidas importâncias provenientes de juros o que pensamos tratar-se de empréstimos feitos. Pagava-os o Cap. Manuel Dias Vilão, dos Vicentes e Baltazar Soeiro Mestre de Afonso dos Vicentes que presumo tratar-se do actual monte de Afonso Vicente.

A nível de despesas, além daquelas a que o culto obriga como a cera, o azeite, o inerente à manutenção do templo e casas do Pároco e Sacristão. Cal, ladrilhos, canas e o trabalho de mestres e serventes. Em 1768-1769 as obras efectuadas na igreja foram consideráveis e nelas trabalhou o mestre pedreiro, Joaquim dos Santos.

Ao Gregório Barriga, ferreiro na aldeia, pagaram-se os pregos que fez para as obras da igreja.

A missa anual da festa do Espírito Santo constituía uma despesa certa e relativamente avultada.

Em 1774-1775 fazem-se obras consideráveis no retábulo de S. Marcos.

Em 1888 sabe-se que o Arcebispo e Bispo do Algarve tinha contemplado a Fábrica da Igreja com o subsídio de vinte e dois mil e quatrocentos réis, do Cofre da Bula da SS Cruzada e para ser empregue em paramentos e alfaias para o culto religioso. (1)

Nota

(1) – Acta da Sessão de 2 de Janeiro de 1888 da Junta de Paróquia do Pereiro.